Ao longo do tempo, a Divina Comédia, de Dante Alighieri, tornou-se uma referência incontornável. Até mesmo quem não faz a mínima ideia do que seja tal livro pode dar por si a evocar certas referências à obra, ainda que não lhe conheça a origem. Mas traçar um retrato para a obra e para o autor é mais do que uma ideia geral da descida aos Infernos do poeta. Neste livro, Peter S. Hawkins consegue apresentar um retrato sucinto e esclarecedor de autor e obra, completo quanto baste, mas sem se tornar exaustivo ou maçador.
Este não é propriamente um livro destinado a académicos e estudiosos, mas antes ao leitor comum que tenha vontade de descobrir Dante e a sua grande obra. É assim que o autor define o seu objectivo e, em consequência, é inevitável que, para muitas das questões, houvesse necessariamente mais para aprofundar. Ainda assim, o autor consegue traçar um retrato muito claro, e esse é o primeiro dos muitos pontos fortes deste livro. Não fica a impressão de informação em falta, mas também não há dispersão em pormenores desnecessários. Assim, a leitura consegue ser interessante tanto para quem pouco conhece de Dante como para quem já tem algumas noções. Tanto para quem já leu a Divina Comédia como para quem nunca se aproximou.
Outro aspecto bem conseguido deste livro reside no facto de o autor não se limitar a uma exposição da vida do poeta e dos factos e interpretações essenciais da obra. O que acontece é que o autor traça a sua própria análise, cruzando os factos, os elementos do poema e as suas próprias interpretações, numa abordagem sintética, mas completa, escrita num registo agradável e num sistema organizado. Desta organização importa ainda realçar um último capítulo particularmente interessante na abordagem que apresenta à presença de Dante na arte e na literatura dos séculos após a sua morte, considerando diferentes expressões artísticas e realçando a universalidade da obra do poeta.
Ainda um último ponto a referir, e algo que contribui também para que a leitura seja sempre interessante, é o tom de proximidade e de admiração que ocasionalmente transparece das palavras do autor. Centrado nos factos ou na análise - ou na conjugação de ambos - o autor consegue ainda demonstrar o seu fascínio e a sua admiração por Dante e pela sua obra e isso transparece na forma como se expressa. É fácil reconhecer-lhe o entusiasmo e isso contagia quem lê, deixando até uma certa vontade de ler (ou reler) a Divina Comédia.
Inferno e Paraíso, é, assim, uma obra que, não sendo exaustiva nos detalhes e nas referências que desenvolve, consegue construir uma abordagem completa e precisa quer à vida de Dante, quer à sua obra maior, tudo isto num registo que cativa e desperta curiosidade. Dificilmente poderia, por isso, ser mais positiva a impressão que fica deste livro. Recomendo.
Este livro não foi lançado no Brasil ainda? Só encontrei em livrarias da Europa.
ResponderEliminarPois, não sei. Não tenho grande conhecimento dos lançamentos no Brasil.
ResponderEliminar