Rudolfo tem o dom de ver a morte das pessoas. Mas não lhe serve de muito. Muitos anos antes, tentou impedir o acidente que causou a morte da mãe e dos amigos, mas falhou. Tudo o que conseguiu foi adquirir uma nova capacidade - a de ver a cor dos sentimentos de cada pessoa ao olhar-lhe para as mãos. Mas os seus dons não lhe trouxeram mais que solidão, até ao dia em que conheceu Carolina. Dona de uma luz diferente da de todos os outros, ela roubou-lhe o coração ao escolher partilhar a sua vida. Mas algo mais os une. É que Rudolfo também viu a sua própria morte e sabe que será prematura, violenta... e na mesma hora da de Carolina.
De ritmo pausado e, em grande parte, escrito em tom introspectivo, este não é propriamente um livro de leitura compulsiva. E por várias razões. Toda a história é narrada em tom de meditação, com bastante divagação a alternar com alguma descrição e sendo a presença do diálogo reduzida aos elementos essenciais. Além disso, a linha temporal nem sempre é clara, havendo avanços e recuos quer na cronologia dos acontecimentos, que, associados a ocasionais mudanças de ponto de vista entre personagens, resultam num enredo de ritmo relativamente pausado e exigente em termos de atenção.
A história é, apesar disso, bastante interessante. Primeiro, pelo elemento sobrenatural associado ao dom de Rudolfo, algo que, não sendo totalmente novo, chama a atenção, ainda assim, por algumas peculiaridades, bem como pelos bons momentos que proporciona e pela inevitável reflexão em torno da morte. Além disso, há um agradável equilíbrio entre romance e mistério que, surgindo por entre o lado mais introspectivo da narrativa, acaba por despertar momentos de maior intensidade, criando para as personagens uma história mais marcante.
Também a escrita surpreende pelos ocasionais momentos de poesia e pelo tom que é, na generalidade, agradável. Há algumas gralhas, mas pouco frequentes, felizmente, pelo que não chegam a quebrar muito o ritmo de leitura. Além disso, o tal registo introspectivo consegue também surpreender, já que é possível, nos melhores momentos, detectar uma voz própria associada às diferentes personagens.
Misterioso e envolvente, com personagens bastante interessantes e alguns momentos especialmente bons, Mil Pontos de Luz é, em suma, uma leitura agradável, ainda que não viciante, e que surpreende, principalmente, pela poesia de certas palavras e pela força de algumas situações. Gostei.
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