domingo, 18 de agosto de 2013

Vidas ao Vento (Jorge Lima)

Tudo é vaidade. Ou, pelo menos, assim parece ser na vida da família Rokh. Ricos, poderosos, influentes, Lara e Ricardo Rokh, e os seus filhos, Álvaro e Celeste, são, ainda assim, guiados por aspirações diversas, que, tendo, no fundo, sempre a vaidade presente, os guiam com firmeza na direcção de um caminho perigoso. Nem a vontade de dominar que gere a vida de Ricardo, nem os sonhos de Lara de um lugar mais novo, mais culto, nem mesmo a eterna solidão de ser diferente na mente de Celeste ou a necessidade de Álvaro se afastar das ideias dos pais estão completamente isentas dessa tal vaidade. Os seus passos, esses, avançam num percurso conturbado...
Totalmente centrado no conceito de vaidade e no que esta implica, tanto em acções como em consequências, há, inevitavelmente, uma forte componente de introspecção e reflexão filosófica neste livro. Nesta, há uma série de ideias interessantes e um conjunto de questões pertinentes, ainda que, por vezes, o discurso moralizante se torne um pouco excessivo, principalmente numa fase inicial em que os protagonistas são ainda pouco familiares. Mas há mais neste livro para além de reflexão e a história que, gradualmente, se revela por entre as várias ponderações, tem bastante de interessante.
Inicialmente, não é muito fácil sentir empatia para com as personagens. Sendo a sua vaidade o que é enfatizado, nem sempre são as ideias e atitudes mais positivas as que primeiro se destacam. Ainda assim, e entre pensamento e reflexão, as personalidades e pontos de vista das personagens vão-se revelando mais complexos, à medida que mais se reflectem em acções. Esta evolução abre caminho a um crescendo de intensidade, sendo a última parte particularmente cativante, e surpreendente na forma como encerra o enredo.
A nível de escrita, o texto flui a um ritmo relativamente pausado - devido à abundância de análises e pensamentos - mas de forma cativante. A leitura nunca deixa de ser agradável e há, na forma como a história é narrada, com alguns recuos no tempo e o recurso a diferentes pontos de vista, uma insinuação de mistério que se torna particularmente cativante. Além disso, ao dar ao narrador uma voz própria e as suas próprias opiniões, também ele é convertido em personagem, o que acaba por criar uma certa proximidade relativamente aos acontecimentos.
A soma de tudo isto é um livro que, não sendo de leitura compulsiva, não deixa de ser interessante, quer pela análise do seu tema fulcral, quer pela forma como este se reflecte na história das personagens. Uma boa leitura, portanto.

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