sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Memórias de um Amigo Imaginário (Matthew Dicks)

Budo é o amigo imaginário de Max. Para ele, o seu amigo humano não tem um problema nem uma doença. É simplesmente diferente. E, mesmo tendo uma mente mais desenvolvida que a de Max, Budo adora-o, não só porque foi Max que o criou - e criou-o tão bem que quase parece verdadeiro - mas também porque o conhece como ninguém. Mas agora Max está em perigo. Budo sabe que só existirá enquanto Max acreditar que ele existe, e isso preocupa-o, mas há, agora, algo de mais grave a acontecer. E Budo terá de pôr em risco a sua própria existência para salvar Max de uma situação que, na sua aparente inocência, o rapaz humano não consegue compreender totalmente.
Profundamente emotivo e cativante desde as primeiras frases, este é um livro que marca por muitas razões. Cativa pela história e pela forma como é contada e, por tudo o que dá ao leitor, seja a nível de emoção, seja de reflexão, é um livro que fica na memória. Há, ainda assim, particularidades que se destacam e que importa realçar neste livro em que tudo é muito bom.
Uma das coisas que primeiro sobressai é a inocência. Narrada pelo ponto de vista de Budo, o amigo imaginário, a história apresenta-nos pontos de vista que, pela inocência que reflectem, surpreendem pela singularidade do pensamento e pelo que têm de tocante. Em muitos aspectos, Budo vê o mundo como a criança que é o seu amigo humano, ainda que compreenda coisas que Max não percebe. Além disso, a sua interacção com os outros - humanos e imaginários - ao longo do enredo, é rica em momentos de descoberta, o que, por si só, dá forma a uma grande aventura e a uma bela aprendizagem.
Outro ponto muito interessante é o desenvolvimento do que caracteriza um amigo imaginário. Explorado quer nas experiências de Budo, quer naqueles que este encontra ao longo do seu caminho, a definição que o autor constrói de amigo imaginário é completa e real. É fácil imaginar Budo e os seus companheiros invisíveis, a viver num ponto de realidade diferente, mas com as mesmas preocupações e sentimentos que qualquer humano. Também aqui sobressai a inocência, mas também as grandes verdades que nascem desta perspectiva. O mundo de Budo é Max, mas é possível ver mais para além dele e ponderar questões como o medo da diferença, os perigos que podem ameaçar a vida de uma criança e até o simples percurso do crescimento e a forma como este altera a imaginação.
E, de toda esta história e das questões a ela associadas, surge a mensagem muito positiva, espelhada quer nos grandes acontecimentos, quer nos pequenos gestos, vinda de personagens verdadeiras... ou verdadeiras de uma forma diferente. A luta de Budo e de Max, e a forma como se fundem e completam, compreende gestos de heroísmo, mas também as dúvidas ante uma grande escolha. E, no fim de contas, tudo se resume à necessidade de fazer o que está certo, tão claramente desenhada na história destas personagens.
Envolvente e surpreendente pela forma como, através de uma base de inocência, consegue atingir profundidades surpreendentes, este é um livro que cativa desde as primeiras páginas e que, de surpresa em surpresa, conduz o leitor, através de uma boa história, a reflectir sobre o que realmente importa. Muito bom.

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