Tudo começou com a fogueira que consumiu os livros proibidos. Naquele tempo, Estrella era uma jovem inocente, acreditava no poder da amizade e pouco sabia de quem realmente era. Mas as perseguições estavam prestes a começar. E a propagação do ódio entre as gentes do lugar trouxe também a descoberta de uma identidade e de um primeiro amor - e uma traição que lhe custaria tudo.
Narrado na primeira pessoa e com uma história relativamente breve, este é um livro que marca principalmente por dois aspectos: o impacto emocional e o equilíbrio. O equilíbrio, porque, sendo uma história bastante curta, nunca fica a sensação de que as coisas sejam contadas de forma apressada, mas antes com a simplicidade algo inocente que se associa à personalidade e ao grau de conhecimento da protagonista. E o impacto emocional, porque, através desse mesmo olhar inocente, é possível ver, primeiro, afecto e esperança, depois dor, medo e desgosto, e tudo isto é transmitido ao leitor.
A voz de Estrella é a voz de alguém muito jovem, pouco mais que uma criança. E isso impressiona, porque o que nos é contado pela voz dela é uma história que é também de crueldade. Aqui reside, aliás, outra das forças deste livro. É que, por detrás da aparente simplicidade, surge um olhar muito perspicaz à crueldade humana, e isso reflecte-se tanto nas perseguições aos cristãos-novos como no comportamento de Catalina e no papel que esta tem a desempenhar na vida da sua amiga.
Nem todas as questões encontram uma resposta e nem todos os culpados são punidos - ou não fosse a base histórica deste livro um bom exemplo de quantas vezes sucedeu precisamente o contrário. Ainda assim, esta ambiguidade acaba por surgir nos aspectos mais adequados, dando a certos intervenientes do enredo apenas a importância que realmente merecem. Acaba por ser, no fundo, uma discreta forma de justiça poética.
Feita de simplicidade e de inocência, e, talvez por isso, com um olhar muito certeiro à capacidade dos homens para a crueldade, esta é, por isso, uma história que, apesar da sua brevidade, cativa, comove e fica na memória. Recomendo, pois.
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