Quando a mãe de Will foi diagnosticada com um cancro em fase terminal, ambos se aperceberam de que iriam passar muito tempo em salas de espera e tratamentos. Para ocupar o tempo - e talvez para falar, de uma forma diferente, das coisas verdadeiramente importantes - decidem trocar impressões sobre aquilo que estão a ler. Formam, assim, uma espécie de clube de leitura de apenas dois membros. E, através da passagem do tempo rumo ao fim da jornada, descobrem-se através das palavras e, na companhia dos livros, conseguem dizer e fazer tudo o que é preciso.
Tendo em conta a história na base deste livro, não será nenhuma surpresa que este seja um livro triste. É-o, de facto. O autor fala com bastante detalhe da doença da mãe, do que é viver esse percurso, das conversas tidas com ela e dos momentos partilhados. Isto inclui dias bons, afectos partilhados e pequenos milagres, mas inclui também todas as dificuldades ao longo do percurso. As consequências da doença e dos tratamentos, as dificuldades e as dúvidas, a simples consciência, até, da mortalidade, tudo isto está presente. Há, pois, tristeza. É inevitável. E essa tristeza sente-se também na voz do autor, na forma como, olhando o passado, conta a história dos seus últimos dias com a mãe.
Mas não há só tristeza. Há também os tais dias bons e os pequenos milagres. Há a história de uma mulher forte e de um percurso de vida que apela à reflexão sobre o que realmente importa na vida. E isto surge tanto na história dos seus últimos dias, com um retrato maravilhoso - ainda que necessariamente perturbador - dos afectos e das relações familiares, e de como estes evoluem perante a perda, mas no trabalho de uma vida dedicada aos necessitados. De tudo isto, surge uma mensagem muito positiva, e a forma como o autor a transmite, oferecendo percepções e emoções ao leitor, é também algo de muito marcante.
E depois há os livros. Uma das coisas mais interessantes de se ler um livro sobre livros é, além de encontrar pontos de vista comuns, a possibilidade de descobrir novas leituras. Também nesse aspecto este é um livro muito interessante. Muitos livros são referidos neste livro, apresentados de forma sucinta, mas de uma perspectiva próxima e com impressões pessoais, ficando, naturalmente, alguma curiosidade - ou bastante vontade - de ler alguns deles. E, quanto ao ponto de vista do autor sobre a importância dos livros e da leitura, é fácil descobrir pontos comuns, o que, desde logo, cria uma impressão de maior proximidade.
Emotivo e bastante pessoal, este não é apenas um livro sobre livros, tal como não é apenas um livro sobre a morte. É também a história de uma vida e de algumas paixões e afectos - por livros, por lugares e por pessoas. E, no fundo, é porque tudo isto se cruza e se completa, que acaba por ser, também, uma leitura memorável, este livro que é algo triste, mas muito bom.
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