Duas vozes diferentes, para dois registos diferentes, mas com pontos em comum e um tom que é tanto de quem olha para dentro como de quem observa o mundo. É isto que, acima de tudo, se retém deste livro de poesia em que dois autores, de estilos diferentes, mas com pontos comuns em temas e em imagens, se juntam numa interessante complementaridade. Porque é, no fundo, de complementaridade que se trata, já que qualquer das partes podia ser lida por si só, e formaria um livro completo, mas a soma de ambas cria um equilíbrio muito bom.
Sendo este um livro de dois autores, e em que os poemas de um e de outro estão claramente identificados, é difícil resistir a procurar diferenças e semelhanças. As diferenças são evidentes. António Costa Silva apresenta um registo mais sóbrio, mais sombrio, às vezes, também mais livre na formulação das ideias. A este registo contrapõe-se uma poesia mais leve, quase divertida por vezes, assente também no ritmo e na rima, com um toque de humor e de aprendizagem, a de Nicolau Santos. Muito diferentes, portanto. E, contudo, complementares, já que, por vezes, num deles surge a inesperada leveza, noutro a surpreendente solenidade. É fácil reconhecer identidades individuais, mas também algo de bom que resulta de surgirem em conjunto. É essa, talvez, uma das grandes forças deste livro.
Mas há também diferenças de registo dentro dos poemas de cada autor e, como seria de esperar, alguns que cativam mais que outros. No que me diz respeito, sobressaem os mais extensos e mais sérios, os que realçam um lado mais sombrio - da sociedade ou da identidade pessoal. Mas a verdade é que todos têm algo de cativante, seja numa imagem mais longamente explorada, ou na brevidade de uma ideia, da qual mais poderia dizer, mas de que o essencial fica na memória. Esta diversidade de assuntos e de registos acaba por ser também um ponto forte, já que diferentes poemas apelarão a diferentes leitores.
Diversidade e equilíbrio na complementaridade são, portanto, os aspectos que sobressaem desta leitura. De um livro que, a duas vozes e dois registos, percorre um olhar ao mundo e a si mesmo numa interessante variedade de imagens e de tons. Gostei.
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