sexta-feira, 11 de julho de 2014

A Última História de Amor (Conceição Queiroz)

Era um amor que transgredia as regras, que punha em causa os ideais do tirano que controlava o lugar. Entre Ângela, moçambicana, e Zinkke, alemão, qualquer forma de amor seria intolerável, pelo menos aos olhos de Merkel, o pai de Zinkke. E, quando o facto chegou ao seu conhecimento, foi indiferente o afecto ou as vidas envolvidas, mesmo as de duas netas inocentes. Chegou à vila com morte no pensamento e foi fogo e morte que deixou para trás. Mas Ângela sobreviveu e, com ela, também parte do seu legado. Gabriela viria a crescer para se tornar uma bela mulher. Uma mulher em busca das suas raízes... e de uma resposta capaz de a fazer florescer, mesmo enquanto a mãe se desvanece.
Apesar da relativa brevidade das suas 250 páginas, este não é propriamente um livro de leitura fácil. Primeiro, por uma forma de escrita com algumas peculiaridades, em que pensamentos e impressões das diferentes personagens se misturam com uma considerável componente descritiva. E, depois, pelo percorrer de diferentes tempos, entre presente e memória, com bastante contextualização e uma certa impressão de distância, mas, acima de tudo, com muitos elementos a assimilar.
O ritmo da narrativa é, por isso, relativamente pausado. Mas, e apesar disso, não deixa de ter muito de interessante. Basta o contexto, aliás, para que a leitura valha à pena, já que, através dos olhos das personagens, é possível ficar com uma ideia muito completa das mudanças e dos contrastes entre tempos e lugares. Mas, além disso, e apesar dos momentos mais distantes, há também situações de grande intensidade e um toque de emoção que, apesar de discreto, contribui em muito para manter a curiosidade em saber mais, tanto sobre as personagens como sobre o cenário em que se movem.
Ainda um outro ponto interessante é o contraste entre a estranheza de certos elementos do passado e a adaptação das personagens a uma vida que, sendo mais familiar para o leitor, representa para as personagens uma grande mudança. Destes contrastes, surgem temas pertinentes, capazes de questionar comportamentos e ideologias, mas mantendo sempre o foco no percurso das personagens. O resultado é um bom equilíbrio entre a perspectiva global e a história particular das protagonistas.
Esta é, pois, uma história que exige o seu tempo para assimilar todos os detalhes, uma narrativa em que o contexto assume quase tanta relevância como os acontecimentos e que, por isso, avança a um ritmo relativamente pausado. Mas, porque há muito de interessante tanto na acção como na caracterização, é também uma leitura muito interessante. Vale a pena, portanto.

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