quarta-feira, 9 de julho de 2014

O Comboio dos Órfãos (Christina Baker Kline)

1929. Vivem-se tempos de miséria e há crianças sozinhas nas ruas, depois de terem perdido os pais. São essas crianças que são recolhidas e enviadas para o interior do país, onde outras famílias as poderão acolher. Niamh Power é uma dessas crianças e o seu caminho será feito de mágoas e de perda, percorrendo famílias menos que ideais até ao encontro com a vida possível. Vida que, apesar das escolhas difíceis e das tragédias da vida, a colocará, com outro nome e já no fim da vida, diante da jovem Molly, também ela uma órfã com uma história difícil. Juntas, regressarão a uma história nunca antes contada. E encontrarão algo mais no significado das suas vidas.
Narrado em parte na primeira pessoa e oscilando entre o percurso de Niamh e o de Molly, este é um livro em que duas histórias muito semelhantes, mas divergentes em resultado do contexto em que decorrem, se conjugam num todo que é maior do que, simplesmente, a soma das duas partes. O percurso de Niamh, depois Dorothy e ainda Vivian, tem vários pontos em comum com o de Molly, mas tem também um contexto bastante mais vasto. Toda a história do comboio dos órfãos e das diferentes possibilidades enfrentadas pelas crianças que neles viajaram, associadas à perspectiva pessoal de Niamh, que narra a sua própria história, criam para a narrativa um cenário mais vasto, mais complexo. 
A história de Molly acaba por ser mais simples, em comparação. Mas as questões mais relevantes estão também presentes no seu lado do enredo, com os preconceitos e as posições de certas famílias de acolhimento, bem como o funcionamento do próprio sistema, a criarem situações tensas e difíceis. Na verdade, é neste aspecto que as semelhanças entre as duas protagonistas mais sobressaem, o que abre caminho para que as suas duas histórias se completem mutuamente.
Ainda um outro ponto interessante é que a escrita, não sendo, particularmente elaborada, acaba por reflectir na perfeição o estado emotivo das personagens, mesmo nas partes narradas na terceira pessoa. Há um tom de nostalgia na forma como a história é contada, como que pela voz de quem olhar para o passado. E uma certa proximidade, também naquilo que é deixado sem resposta, mas principalmente nos momentos mais emotivos.
Cativante desde o início e com uma história emotiva, O Comboio dos Órfãos conta, num registo relativamente simples, mas repleto de emoção, uma história de perdas e de dificuldades, mas também de superação e de redescoberta da vida. Uma história marcante, portanto, num livro muito bom.

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