Armandinho é um rapaz como todos os outros. Não gosta de arrumar o quarto, gosta de jogar à bola dentro de casa e de passar tempo com os amigos, de vez em quando faz asneiras e, por vezes, surpreende os pais - e o leitor - com perguntas difíceis e observações particularmente apuradas. É também uma personagem que, em poucas falas e ainda menos tempo, consegue, ao mesmo tempo, divertir, surpreender e fazer pensar. E é isso precisamente que torna esta personagem memorável.
A fazer lembrar, em certa medida, a incontornável Mafalda, também o Armandinho é uma criança perfeitamente normal e, ao mesmo tempo, surpreendentemente sábia. E, tal como a Mafalda, consegue, em gestos e palavras simples, realçar o que realmente importa. É por isso que, independentemente dos inevitáveis paralelismos, também esta personagem cativa e surpreende, tanto nos momentos mais sérios (ou em que diz coisas sérias a brincar) como nos que, mais centrados nos aspectos do quotidiano, se referem a coisas mais leves.
Este equilíbrio é, aliás, um outro ponto forte deste conjunto de tiras. É que, ao juntar referências a problemas mais vastos com as simples peripécias do quotidiano, cria-se um maior impacto para as grandes verdades sem que por isso se perca a leveza da normalidade - ou, pelo menos, do que de mais ou menos caricatos há no quotidiano de cada um.
Também interessante é que, apesar de haver, nalguns casos, uma relação de continuidade entre várias tiras, cada uma delas é, por si própria, um episódio individual completo, o que permite, por um lado, começar a ler em qualquer ponto e quantas tiras se quiser, sem perder o fio à meada, ou, por outro, ler o livro de fio a pavio sem qualquer sensação de monotonia.
Trata-se, portanto, de um livro que, leve e divertido, mas certeiro na forma como se refere aos assuntos sérios, proporciona uma leitura agradável e cativante, deixando ainda a curiosidade em conhecer mais das peripécias do jovem Armandinho. Muito bom.
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