sábado, 23 de maio de 2015

Quando as Folhas Caem, Por Vezes Voam (Rodrigues dos Reis)

O mundo através dos seus mistérios, numa viagem ao interior da alma que passa por várias facetas, das referências literárias às crenças individuais ou globais. Assim se poderia definir o ponto de vista que transparece deste pequeno, mas muitíssimo cativante conjunto de poemas, em que, em poucos versos, mas com todos os elementos conjugados nas medidas certas, se expressa, por vezes, todo um mundo.
Composto maioritariamente por poemas breves (salvo raras excepções) e escritos num estilo bastante livre, este é um livro difícil de descrever. Em parte porque cada poema é um todo em si mesmo, mas também por dar voz a um conjunto de impressões e emoções dificilmente definíveis em palavras. É fácil reconhecer algo de familiar em cada poema - seja um cenário, uma ideia ou estado de alma - mas há algo de tão particular na forma como esses elementos são transmitidos que a ideia que fica é mais a de uma imagem mental do que propriamente algo de descritível.
É esta estranha impressão, aliás, que torna tão cativante a poesia do autor. É que, mesmo sem saber como explicar o que se está a ler, fica sempre algo de memorável, seja uma emoção, um laivo de sentimento ou simplesmente a impressão de alguma coisa. E se isso acontece com cada poema, acontece também com o todo, que, surgindo como uma unidade comum, com um estado de alma contemplativo a servir de elo de união, evoca também essa mesma impressão: a de algo de etéreo que está mesmo ali, ao alcance dos dedos, mesmo que seja difícil de definir.
Ora, este equilíbrio entre a unidade e a totalidade associa-se a um conjunto de referências para reforçar o que acaba por ser uma identidade própria, em que todas as referências são assumidas, mas em que há algo de pessoal a emergir do conjunto. E assim, do equilíbrio entre as evocações de outros autores e um ponto de vista que é, apesar de tudo, pessoal e intransmissível, há como que o assumir de um estilo próprio e pessoal, mas que não se fecha ao mundo em redor.
O que fica, então, desta leitura é a impressão de uma poesia muito própria, em que palavras aparentemente simples dão voz a uma vastidão de ideias, num conjunto que, em simultâneo invulgar e familiar, facilmente se torna memorável. Uma boa surpresa, em suma, e um livro que recomendo. 

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