Todos pensavam que Reynaud St. Aubyn tinha sido morto pelos índios. Por isso, quando, após sete anos de cativeiro, ele aparece de repente, febril e delirante, e com um aspecto completamente selvagem, as opiniões dividem-se entre os que o julgam um impostor e os que acham que está louco. Mas a verdade é uma: Reynaud está bem vivo e voltou, mas está longe de ser o mesmo. A necessidade de sobreviver moldou-o num homem bem diferente do habitual aristocrata inglês. E Beatrice Corning, sobrinha do homem que lhe ficou com o título, pode muito bem ser a única a compreendê-lo... Se Reynaud estiver disposto a deixar-se compreender.
Sendo a alegada morte de Reynaud um dos acontecimentos centrais de toda a série, e parte dos motivos que levam outras personagens a investigar a traição de Spinner's Falls, este é, à partida, um livro de que se esperam grandes revelações. E, ainda que muitas pistas tenham sido dadas nos volumes anteriores - não sendo, por isso, difícil descobrir o culpado - este elemento de intriga é a base de alguns dos momentos mais intensos deste livro. O final, desde logo, é particularmente intenso. Mas também a história de Reynaud nos seus sete anos de cativeiro - devidos, é claro, a essa mesma traição - acaba por ser a fonte dos momentos de maior empatia.
Isto é particularmente interessante tendo em conta que Reynaud está longe de ser o tipo de personagem carismático que facilmente cativa neste tipo de livro. Se as suas circunstâncias despertam, é certo, alguma empatia, o mesmo não se pode dizer do seu comportamento. Aliás, se o passado de Reynaud está na base dos momentos mais marcantes, são também algumas das suas escolhas a definir os momentos de maior distância, nomeadamente na forma como lida com a sua relação com Beatrice.
Porque há, independentemente de tudo o resto, um romance a desenvolver-se. E a verdade é que a relação entre as personagens tem altos e baixos, no que começa por ser uma interacção difícil, mas cativante, evolui para uma sedução algo forçada (e em que as acções de Reynaud têm o seu quê de censurável) abrindo depois caminho para a redenção possível. Redenção que, felizmente, compensa esses momentos mais autoritários, também justificados em parte pelo passado do protagonista.
E ainda uma nota positiva para os momentos de emoção e para os de humor, que, mesmo nos momentos mais tensos, ou, por outro lado, nos mais distantes, conseguem estabelecer um equilíbrio que mantém acesa a vontade de saber o que acontece a seguir.
A soma de tudo isto é uma história que, apesar de algumas vulnerabilidades, consegue, ainda assim, sobressair pelos momentos bons: pela emoção dos episódios mais intensos, pela superação de um passado atormentado e por um romance que, apesar das complicações, acaba por se revelar em toda a sua força. Uma boa leitura, em suma, agradável e cativante.
Título: Coração Selvagem
Autora: Elizabeth Hoyt
Origem: Recebido para crítica
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