No dia 19 de Maio de 1954, uma camponesa foi morta a tiro por um tenente da GNR enquanto protestava por melhores condições de trabalho. O tempo e a história vieram a dar-lhe um lugar de destaque na defesa de uma ideologia, fazendo dela uma mártir. Mas ficaram sempre perguntas sem resposta e a ideia de que não se fez justiça. Este livro, vem conjugar todos os factos e apresentar a história tal como ela é, deixando em aberto aquilo que não pode ser respondido, mas traçando um retrato bastante mais claro do que realmente aconteceu.
Um dos aspectos mais cativantes deste livro é a forma sintética e imparcial, mas nunca simplista, como o autor apresenta os factos e o contexto dos acontecimentos, sem tomar partidos ou tirar conclusões não fundamentadas. O que o autor apresenta neste livro é um conjunto de factos conhecidos, de registos da época, de informações que contextualizam as circunstâncias e de dados que representam o percurso de vida dos seus protagonistas. Catarina Eufémia e o tenente João Tomás Carrajola, os dois lados do mesmo crime, são descritos neste livro com toda a seriedade, sem elaborações ou especulações, mas transmitindo, tanto quanto os factos o permitem, uma ideia bastante complexa.
Também interessante é o próprio tom do livro, acessível, mas não simplista, escrito de forma cativante e capaz de captar o interesse do leitor. Para isso contribui também o facto de, sendo a morte de Catarina o cerne deste livro, o autor não se perder em divagações acessórias. Claro que, tendo em conta o contexto da época, há muito mais - tanto a nível de informação global como de casos particulares - a conhecer e, nesse sentido, fica inevitavelmente a curiosidade em saber mais. Mas, tendo em conta que é o caso específico de Catarina que motiva este livro, faz todo o sentido que seja nela que a obra se centra. E, ao fazê-lo, a leitura torna-se bastante mais fácil de seguir, pois não se demora demasiado na inevitável complexidade de um contexto que é vastíssimo.
O que daqui resulta é um interessante equilíbrio entre os desenvolvimentos de um caso específico e a parte do contexto global que se torna relevante para a compreensão das circunstâncias. E, assim sendo, há ainda um outro aspecto que sobressai. É que, além do crime e da sua investigação, há a construção do mito, da memória que ficou para além dos anos. Ao abordar também este aspecto da história de Catarina Eufémia, o autor torna o seu livro mais completo. E, por isso, mais interessante.
A soma de tudo isto é um livro que, num registo acessível, reúne todas as informações relevantes, permitindo ao leitor ficar com uma ideia muito clara do que realmente aconteceu - e de perguntas que, na verdade, talvez nunca encontrem resposta. De leitura agradável, bastante completo e muito interessante, é, sem dúvida, um livro que vale a pena ler.
Título: O Assassino de Catarina Eufémia
Autor: Pedro Prostes da Fonseca
Origem: Recebido para crítica
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