quinta-feira, 30 de junho de 2016

Permanência (Alexandre Sete)

Tudo muda na vida. Há sonhos que se transformam em memórias, afectos que se desfazem na distância, imagens que se revelam enquanto outras se esbatem. E ideias, que, num cenário de permanente mudança, se moldam, talvez, numa nova identidade, mantendo-se ainda assim fiéis à sua natureza. De tudo isto - imagens, afectos, ideias, impressões - vive este breve conjunto de poemas.
Se há algo que, desde muito cedo, sobressai neste livro é a forma como, em cada poema, se assume desde logo uma voz própria. Não há grandes imposições à nível de estrutura ou de rima (ainda que esta surja, ocasionalmente) mas antes uma liberdade total de pensamentos. É como se cada poema fosse, acima de tudo, um conjunto de imagens e impressões que, conjugadas, se moldam num todo mais vasto. E é isto, aliás, que torna tudo tão interessante: a possibilidade de reconhecer uma identidade única numa fluidez em que quase tudo é permitido.
Ora, desta liberdade total, emerge ainda uma outra característica: o equilíbrio entre o que é a identidade individual do sujeito poético e o que de vasto e universal emerge da sua voz. É fácil reconhecer a unicidade das imagens projectadas no poema, algumas dela tão surpreendentes que se tornam, simplesmente, memoráveis. Mas é também fácil reconhecer os sentimentos por detrás das imagens. E esses, por mais peculiar que seja a forma de os exprimir, são, muitas vezes comuns, a autor e leitor. O que torna muito mais intensa a leitura destes poemas.
Ainda um outro aspecto que importa referir é o equilíbrio entre o texto e as ilustrações. É verdade que cada poema é completo em si mesmo e não precisa de mais nada para se fazer entender. Mas a presença das ilustrações ao longo do livro, simples quanto baste, mas perfeitamente ajustadas ao texto, acrescenta algo mais à experiência da leitura. Primeiro, porque torna o livro mais apelativo a nível visual. E depois porque acrescenta, até certo ponto, uma nova perspectiva aos poemas.
Com muito de bom para descobrir, apesar da brevidade, a ideia que fica deste pequeno livro é, por isso, a de uma viagem à mente de um poeta - para nela descobrir tanto a diferença como os pontos em comum. E é, pois, isto que fica na memória: um muito cativante equilíbrio entre o único e o universal. Entre o que muda... e o que permanece. Muito bom.

Título: Permanência
Autor: Alexandre Sete
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Porto Editora

Rio de Janeiro, anos 1940.
Quando Guida Gusmão, perdida num amor proibido, desaparece da casa dos pais sem deixar rasto, a irmã Eurídice prometeu ser a filha exemplar, a que nunca faria algo que trouxesse novo desgosto aos pais. E Eurídice torna-se a dona de casa perfeita, casada com Antenor, um bom marido, apesar de tudo, ou apesar do nada em que a vida de Eurídice se tornou.
A vida de Eurídice Gusmão é em muito semelhante à de inúmeras mulheres nascidas no início do século XX e educadas apenas para serem boas esposas. Mulheres como as nossas mães, avós e bisavós, invisíveis em maior ou menor grau, que não puderam protagonizar a sua própria vida.
Capaz de abordar temas como a violência, a marginalização e até a injustiça com humor, perspicácia e ironia, Marta Batalha é acima de tudo uma excelente contadora de histórias que tem como principal compromisso o prazer da leitura.

Martha Batalha, licenciada em jornalismo com especialização em literatura, trabalhou nos principais jornais do Rio de Janeiro. Depois de alguns anos a trabalhar como repórter, abriu a sua própria editora, a Desiderata. Após a publicação de alguns best-sellers, Martha Batalha vende a editora e muda-se para Nova Iorque onde prossegue os estudos e obtém a bolsa Oscar Dystel para um mestrado em edição, área em que trabalha durante algum tempo antes de se dedicar à escrita.
A Vida Invisível de Eurídice Gusmão é o seu primeiro romance.
Martha vive em Santa Monica, Califórnia, com o marido e dois filhos.

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Sem Igual (Alyson Noël)

Em Hollywood, todos - ou quase - aspiram à fama. E há uma oportunidade à espera daqueles que se atreverem a aceitar o desafio. Ira Redman está a organizar um concurso para promover os seus clubes nocturnos e, além de um muito apelativo prémio monetário, está em jogo a possibilidade de conhecer as pessoas certas e fazer os contactos necessários para dar o primeiro passo rumo à fama. Mas a concorrência é feroz e cada concorrente é movido por diferentes razões. Layla procura informação privilegiada. Aster procura os contactos que lhe permitam lançar-se como actriz. Tommy procura um caminho para o mundo da música e uma forma de enfrentar o pai que nunca o reconheceu. O único ponto que têm em comum é a necessidade de vencer. Mas, para o fazerem, precisam de entrar no caminho dos verdadeiros famosos. E as consequências serão imprevisíveis.
Uma das primeiras coisas a chamar a atenção neste livro, principalmente se já se tiver lido (como eu) parte da série Os Imortais, da mesma autora, é a óbvia diferença de registo. As personagens continuam a ser jovens e as suas aspirações continuam a estar na base do enredo, mas, talvez pelo próprio cenário em que se movem, o ambiente é notoriamente mais adulto. Nas relações, nas intrigas e na forma como competem entre si, mas principalmente na forma como lidam com os benefícios e tribulações da fama, há um conjunto de atitudes e de comportamentos a deixar uma clara impressão de maior maturidade.
Também muito interessante é que a história é muito mais vasta do que um simples romance entre personagens ou sequer do que a história das ruas rivalidades. Cada um dos protagonistas tem uma história pessoal bastante completa, uma personalidade bem definida e ligações e acontecimentos que tornam muitíssimo cativante o acompanhamento do seu percurso. Claro que é mais fácil sentir empatia com alguns deles. Mas o mais surpreendente neste aspecto é que, à medida que as sucessivas reviravoltas do enredo alteram o panorama geral, o comportamento das personagens adapta-se às circunstâncias que estão a viver, revelando uma faceta até então desconhecida - e, assim, despertando emoções diferentes.
Também a forma como a história é construída contribui em muito para manter o interesse na leitura. Percorrendo vários pontos de vista, o que permite entrar na cabeça das personagens, a autora revela ao leitor as diferentes motivações dos seus protagonistas, ao mesmo tempo que realça o impacto que cada acontecimento tem em cada um deles. E, quando o mistério se adensa e há uma grande pergunta a que responder, tudo aquilo que foi dito, insinuado ou simplesmente deixado por dizer ganha uma nova dimensão, levantando novas questões. Questões que ficam em aberto, é verdade, ou não fosse este o primeiro volume de uma série. Mas que deixam muita vontade de saber o que acontece a seguir.
Com personagens fortes e um enredo promissor, a soma de tudo isto é um livro que cativa desde a primeira página e cria grandes expectativas para a parte da história que falta contar. Intrigante, equilibrado e muito surpreendente, um início de série muitíssimo interessante. E que recomendo.

Título: Sem Igual 
Autora: Alyson Noël
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 28 de junho de 2016

Divulgação: Novidade Esfera dos Livros

Portugal tem sido cenário de diversos fenómenos envolvendo Objectos Voadores Não Identificados: na noite de 28 de Dezembro de 1964 um forte feixe luminoso irrompeu pelo cockpit do avião do tenente-coronel Carlos Marques Pereira, cegando-o.  A 2 de Novembro de 1982, pela manhã, três pilotos da Força Aérea Portuguesa descolaram da base da Ota para um voo de treino e foram surpreendidos por uma estranha “bolha de mercúrio com dois hemisférios e mais de dois metros de comprimento”. Estes são apenas dois dos vários episódios descritos no livro Avistamentos de OVNIS em Portugal, da autoria da jornalista Vanessa Fidalgo, sobre situações fascinantes em que aeronaves e outras formas de origem desconhecida sobrevoaram o nosso território.
Ao longo das páginas sucedem-se vários casos de OVNI que nos dão que pensar, principalmente porque apesar dos extraordinários avanços da ciência nas últimas décadas, continuamos sem resposta para uma das questões fundamentais da nossa existência: estaremos sozinhos no Universo?

Vanessa Fidalgo nasceu em 1978 em Lisboa. Licenciou-se em Comunicação Social pelo Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas da Universidade Técnica de Lisboa. Como colaboradora assinou artigos para as revistas Sábado, Loud Magazine, Promúsica, jornal Inside e também para o portal Diário Digital. Produziu textos publicitários e guiões para televisão. Desde 1997, é jornalista no Correio da Manhã, escrevendo actualmente para o suplemento Domingo e colaborando pontualmente com o canal CMTV. Foi na revista Domingo que, em 2010, publicou a reportagem «Ainda há histórias de casas assombradas», uma viagem pelo País real e pela internet sobre os mitos de fantasmas que de norte a sul do País continuam a dar que falar e a alimentar a imaginação popular e que viria a dar origem ao seu primeiro livro, Histórias de Um Portugal Assombrado (5ª edição). Na senda deste trabalho, seguiram-se 101 Lugares para Ter Medo em Portugal (3ª edição) e Seres Mágicos de Portugal.

segunda-feira, 27 de junho de 2016

Desejo e Preconceito (Nicole Jordan)

Maura Collyer tem um problema difícil para resolver. Para financiar o dote das filhas, a madrasta vendeu o seu garanhão preferido ao visconde Deering, um homem sem escrúpulos e disposto a tudo para conseguir o que quer.  Mas, apesar de se sentir completamente só, Maura tem aliados com que nem sequer sonha. Disposta a pôr em prática uma teoria muito sua, Katharine Wilde, a sua amiga mais chegada, quer, a todo o custo, convencer o irmão, marquês de Beaufort, a ajudar Maura, principalmente por acreditar que eles foram feitos um para o outro. E se, no princípio, Ashton aceita o desafio principalmente por nobreza de carácter e inesperada atracção carnal, não tarda a que as medidas drásticas que precisam de tomar para enfrentar Deering tornem Maura e Ashton insuportavelmente próximos...
Um dos aspectos mais interessantes neste livro - como, aliás, em vários outros do género - é a forma como a autora entrelaça uma história centrada essencialmente no romance entre os protagonistas com uma faceta familiar e também com um elemento de perigo. Normalmente, um destes dois elementos tende a estar presente, acrescentando complexidade e intriga ao enredo. Neste caso em particular, temos os dois. Ora, isto é particularmente cativante por dois motivos. Primeiro, porque a aura de mistério e de intriga acrescenta tensão a um enredo em que se sabe, à partida, que os protagonistas estão encaminhados para um final feliz. E segundo, porque os relatos da vida familiar dos protagonistas revelam outras facetas das suas personalidades, tornando-os mais completos do que se a história se limitasse ao romance.
Há, portanto, dois pontos fortes a destacar: este equilíbrio entre a parte romântica do enredo e as outras facetas que o constituem e a construção das personagens. Ash e Maura são dois protagonistas carismáticos, com um laivo de diferença que os distingue da maioria das figuras do seu meio e um conjunto de traços que os tornam, de facto, mais que adequados um para o outro. Maura, teimosa e orgulhosa, apesar das circunstâncias, é o contraponto perfeito à personalidade dominante (às vezes, demasiado) de Ash. E, além disso, a forma como lidam com as respectivas famílias e os inimigos comuns cria uma série de acontecimentos que, variando do divertido ao comovente, se conjugam num enredo sempre interessante e que culmina num final especialmente forte.
Claro que há uma contrapartida para estes desenvolvimentos secundários e é o facto de ficarem algumas perguntas sem resposta. No caso dos Wilde, isso faz todo o sentido, já que este livro é o primeiro volume dedicado a uma série que tem como protagonistas esta família. Já quanto a Maura, fica alguma curiosidade insatisfeita no que diz respeito à relação com a madrasta. Ainda assim, e tendo em conta as circunstâncias, faz um certo sentido que nem tudo fique definitivamente resolvido, deixando o que falta ao tempo - e à imaginação do leitor.
A soma de tudo isto é uma leitura cativante e que, mesmo sem surpreender na linha geral do enredo, não deixa, ainda assim, de marcar pelos pequenos inesperados. Intrigante, envolvente e com vários momentos brilhantes, uma boa história.

Autora: Nicole Jordan
Origem: Recebido para crítica

sábado, 25 de junho de 2016

A Herdeira (Kiera Cass)

Ninguém é mais poderoso do que Eadlyn Schreave. Ou, pelo menos, é nisso que ela gosta de pensar. Mas, enquanto herdeira do trono de Illéa, a verdade é que grandes responsabilidades pesam sobre os seus ombros. Durante o reinado dos pais, as castas desapareceram e o reino, tal como o conheciam, mudou. Mas nem todos estão satisfeitos e os tumultos começam a agravar-se. É precisa uma distracção que dê aos pais de Eadlyn tempo para preparar um plano. E que melhor distracção do que uma nova Selecção para a futura primeira rainha da história de Illéa?
Regressando ao mesmo ambiente dos volumes anteriores, mas muitos anos depois, A Herdeira passa a história de Maxon e America para... bem... a da sua herdeira. Illéa mudou, mas há novamente conflitos a acontecer e há agora quatro príncipes com um papel a desempenhar. E esta mudança de protagonistas tem um lado muito bom - e algumas facetas negativas a considerar, no que é, afinal, uma história tão interessante como as anteriores, mas com forças e fragilidades distintas.
Comecemos pelas forças. Se o sistema de castas era um dos pontos mais relevantes (para lá da Selecção) dos primeiros volumes desta série, não pode deixar de ser interessante ver de que forma o mundo mudou. É verdade que este é um aspecto secundário, pois, contada pela voz de Eadlyn, a história centra-se essencialmente no palácio e na nova Selecção. Ainda assim, há algumas questões relevantes. Além disso, ver de que forma evoluiu a vida das personagens anteriores é muito cativante, principalmente no que toca à solidez da relação entre Maxon e America.
Outro ponto forte é a leveza do enredo e da forma como está escrito. A verdade é que, apesar das questões por detrás da Selecção, continua a ser tudo muito simples. E isto é bom porque, mesmo não se gostando de algumas personagens, é possível continuar a querer saber mais. Há personagens carismáticas (e, curiosamente, nem sequer são as mais relevantes) e personagens quase detestáveis. E mesmo quando são estas a destacar-se no rumo dos acontecimentos, a história continua a ser envolvente e a vontade de saber o que acontece a seguir sobrepõe-se às irritações pessoais.
O que me leva às fragilidades. Se America e Maxon tinham já os seus defeitos, Eadlyn eleva-os a todo um outro nível. Mimada e imatura, com um ego tremendo e muito pouca capacidade de empatia para com os outros, não é propriamente uma protagonista com quem se possa simpatizar. Além disso, muitas destas características levam-na a contradizer-se na forma como lida com a Selecção e com a sua família. Distante e reservada, julga que o peso do mundo nos seus ombros desculpa quase tudo. E a forma como encara a sua posição leva-a até a umas quantas atitudes contraditórias.
Ora, isto retira algo à história? Sim, retira a capacidade de quem está a ler se identificar com a protagonista, sem dúvida. Mas, por outro lado, há outras personagens que compensam amplamente este aspecto. Alguns dos Seleccionados têm um potencial vastíssimo e não deixa de ser interessante ver a forma como reagem a Eadlyn. E, além disso, as aventuras e desventuras da Selecção proporcionam muitos momentos cativantes, prometendo até, talvez, um ponto de viragem no percurso comportamental da protagonista. Claro que fica muito em aberto, pois a história ainda não acaba aqui. E, por isso, fica também a expectativa de alguma espécie de redenção para Eadlyn.
Entretanto, ficam as qualidades da narrativa, que, apesar de tudo, compensam amplamente os defeitos da protagonista. E essas são as de um enredo cativante, em que as personagens mais interessantes surgem onde menos se espera e à leveza dos momentos divertidos se junta um agradável toque de emoção. Uma boa história, em suma. Gostei.

Título: A Herdeira
Autora: Kiera Cass
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 24 de junho de 2016

Os Filhos de Marx e da Coca-Cola (Jéssica Tomé)

Visões de um mundo nos seus últimos dias ou da vida em tudo o que tem de disfuncional, traçadas através de uma visão própria, mas pejada de referências. Assim se poderiam definir os poemas deste livro, que, no seu todo, retratam um olhar um tanto sombrio sobre o mundo, ao mesmo tempo que questionam e apontam possibilidades de mudança e renovação. Poemas com uma voz muito própria e que, por tudo o que insinuam e despertam, se revelam como estranhamente fascinantes.
Há dois aspectos a sobressair deste pequeno livro de poemas. O primeiro é a unidade: há uma coesão no conjunto dos poemas, quase que uma temática comum sob a forma da visão algo distópica do mundo actual. Uma visão que se identifica como individual não só pelo definir de pontos de vista muito específicos, mas principalmente pela própria voz da autora, que, encadeando ideias num ritmo peculiar, quase que projecta uma imagem visual do mundo disfuncional que pretende descrever.
O outro aspecto que se destaca é a vastidão de referências que surgem ao longo do livro, a começar desde logo pelos títulos, mas também muito presentes no corpo dos poemas. Livros, cinema, figuras históricas... Há toda uma vastidão de ligações neste pequeno livro. E a forma como a visão da autora se relaciona com todas estas referências, tornando-as, em certa medida, suas, é provavelmente o que mais cativa para a leitura destes textos.
Importa ainda referir a agradável fluidez que se sente, em grande parte, no ritmo dos poemas. É verdade que há alguns versos que soam forçados, principalmente devido às imposições da rima, e isto faz com que os que mais cativam são os que menos se prendem à necessidade de fazer as palavras rimar. Ainda assim, o ritmo envolvente nunca se perde por completo - mesmo quando um verso mais estranho parece introduzir uma quebra. E isso acontece porque as imagens - complexas, peculiares, inesperadas - se sobrepõem muitas vezes à estranheza.
E, assim, a ideia que fica é a de um livro surpreendente, retrato de uma realidade tão disfuncional como real e em que as palavras dão voz a um cenário talvez diferente, mas não tão distante assim. Muito interessante, em suma.

Título: Os Filhos de Marx e da Coca-Cola
Autora: Jéssica Tomé
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Um Novo Amanhã (Dorothy Koomson)

Quando Veronica Harper e Veronika Harper se cruzaram pela primeira vez, em plena sala de aula, souberam de imediato que iam ser melhores amigas. Além do mesmo nome, Nika e Roni partilhavam também uma mesma paixão: ambas tinham o sonho de ser bailarinas. Mas, ao longo do caminho, o sonho perdeu-se e algo de terrível as separou. Agora, passados demasiados anos, ambas se encontram num ponto de viragem. Nika, depois de uma relação abusiva e de demasiados anos na rua, quer reconstruir a sua vida de uma forma diferente. Roni, depois de anos num convento, sabe que não será capaz de encontrar a paz enquanto não resolver o que ficou no passado. E, mergulhando nas memórias que ficaram por confessar, precisam ambas de encontrar uma maneira de lidar com uma velha traição, encontrar a justiça possível... e perdoar o que puder ser perdoado.
Há algo de incrivelmente fascinante na forma como a autora conjuga neste livro um registo de aparente leveza, em que as emoções e os acontecimentos são vividos à flor da pele e as memórias ganham vida através da escrita, com a profundidade de um tema de uma vasta complexidade. Há uma história de amizade a acontecer - a de Roni e Nika enquanto crianças e a daquelas pessoas boas que cruzam os seus percursos de vida. Mas há também um lado muito mais sombrio nesta história e questões seriamente perturbadoras: abuso de menores, a vida de sem-abrigo, as relações abusivas, as teias de poder nas ruas. E as consequências de tudo isto na mente de quem o vive. E a forma como a autora conjuga estas duas facetas - a leveza da inocência e as sombras de mais que justificados demónios interiores - num livro tão intenso e envolvente é algo de absolutamente fascinante.
Para o impacto de tudo isto contribui em muito a caracterização das personagens. De Roni e Nika, principalmente, que, ao narrarem a história na primeira pessoa, se tornam, aos poucos, num livro aberto. Mas também das várias figuras que, de uma forma ou de outras, lhes definiram a vida. Há vilões incontestáveis e pessoas cuja influência negativa é menos óbvia, mas igualmente insidiosa. E heróis que não o parecem, mas que, nos gestos realmente importantes, revelam a sua verdadeira força. E um conjunto de pessoas que, longe de serem a preto e branco, se revelam em qualidades e defeitos, para dar forma a uma história tão realista que, nos momentos mais negros, chega a ser assustador.
E depois há a forma como a autora prolonga o mistério, recuando gradualmente nas memórias da protagonista e deixando as revelações para o momento em que elas são mais importantes. É verdade que estes recuos ao passado acabam por deixar algumas facetas do presente para segundo plano (nomeadamente na relação de Roni com o possível namorado e na de Nika com a irmã). Mas também o é que a história se centra essencialmente nas duas amigas. E, no que a elas diz respeito, a forma como tudo se organiza, culminando num final muitíssimo intenso, quase roça a perfeição.
Intenso e surpreendente, emotivo e perturbador, Um Novo Amanhã acaba por ser muito mais que a história de uma amizade. É um olhar ao lado mais negro da vida e, ao mesmo tempo, às possibilidades de superar os mais negros de todos os traumas. E é isso, afinal, a forma como a força da amizade se prolonga para lá das horas mais sombrias, que torna esta leitura tão fascinante. E memorável.

Título: Um Novo Amanhã
Autora: Dorothy Koomson
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Guerra e Paz

PALAVRAS HÁ MUITAS, TAL COMO DIZIA O OUTRO A RESPEITO DE CHAPÉUS. TAL COMO NO CASO DOS CHAPÉUS, DIFÍCIL É ESCOLHER UMA QUE VÁ BEM COM A OCASIÃO.
Este dicionário pode ajudar.
Num dicionário convencional, entre sulipampa e surripiar surgem páginas inteiras de palavras como suor ou superveniência. Neste, a única que aparece é supimpa. As outras, há que reconhecê-lo, não são supimpas. Logo, não existem neste dicionário. Isto torna-o muito mais elegante, naturalmente, mas também muito mais útil.
Porquê? Porque no dia-a- dia, em casa, no trabalho, na escola, no transporte público, na rede social, a vida só tem a ganhar com um uso mais liberal da palavra supimpa. Seja pela sonoridade, pelo significado ou pela contradição entre ambos, a palavra supimpa é aquela que abrilhanta o discurso de quem a usa e que alivia, mesmo que temporariamente, o ouvido de quem a escuta ou os olhos de quem a lê.

José Alfredo Neto. Nasceu em Lisboa, mais concretamente em Alcântara, em 1964. O pai, nascido em Angola de pais oriundos da Beira Baixa, era professor universitário, e a mãe, algarvia de Olhão, bióloga. Fez a escola primária no Externato Fernão Mendes Pinto, a secundária no Liceu D. Pedro V e uma licenciatura em Comunicação Social no ISCSP, da então chamada Universidade Técnica de Lisboa, à época na Rua da Junqueira. Depois deu em publicitário. É casado, tem uma filha e continua a viver em Lisboa.

Divulgação: Novidades Topseller

A vida de Brett parece um sonho: tem um namorado irresistivelmente bonito, um loft espaçoso, um trabalho muito bem pago, e um grupo de amigas divertidas. Até que a sua mãe morre e deixa no testamento uma condição: para receber a sua parte da herança, Brett deve completar, em apenas um ano, uma lista de desejos e tarefas que escrevera quando era uma ingénua menina de catorze anos.

• Ter um filho, talvez dois • Arranjar um cão • Ir a Paris • Ser amiga da Carrie para sempre! • Ajudar os pobres • Comprar um cavalo • Apaixonar-me • Actuar ao vivo num palco supergrande • Ter uma boa relação com o meu pai • Ser uma grande professora!...

Brett, contudo, já tem 34 anos. Com relutância, ela embarca numa jornada emocionante para cumprir os seus sonhos de menina, acabando por repensar a sua vida e descobrir a felicidade.

Lori Nelson Spielman trabalhou durante muitos anos como terapeuta da fala, e actualmente é professora de ensino à distância.
Natural do estado de Michigan, nos EUA, Lori vive com o seu marido e um gato. Um Ano para Ser Feliz, bestseller internacional publicado em mais de 30 países, é o seu primeiro romance.

A história de um pai que redescobre a vida através dos olhos do filho.
Durante anos, o guitarrista Quinn Porter tem vivido em digressões, concerto atrás de concerto, ausente da vida da ex-mulher Belle e do filho de ambos, que vive obcecado pelos recordes do Guiness. Um acontecimento trágico na vida de Quinn vai levá-lo ao encontro de Ona, uma viúva de 104 anos que o filho costuma visitar.
Durante sete sábados, Quinn cuida do jardim de Ona. Entre outros segredos, descobre que o filho tentou convencer Ona a candidatar-se ao recorde de condutora mais velha do mundo. Na tentativa de compreender melhor o filho, Quinn forja uma amizade com Ona e descobre um rapaz afectuoso que nunca conheceu, aprendendo assim a olhar para toda a sua vida de uma outra forma.
Um Rapaz Muito Especial é um romance onde a dor aparentemente irreparável encontra uma reconfortante ligação num gesto de devoção humana.

Monica Wood é uma autora norte-americana bestseller e vencedora de inúmeros prémios literários. As suas obras são presença assídua em publicações como O, The Oprah Magazine, New York Times, Martha Stewart Living, entre outras, e têm recebido elogios de críticos e escritores americanos. Um Rapaz Muito Especial é o seu mais recente êxito e já foi publicado em 18 países.
Nasceu no estado do Maine, na costa nordeste dos EUA, onde ainda vive com o marido, no seio de uma família católica de origem irlandesa. Trabalhou como conselheira numa casa de repouso antes de se dedicar inteiramente à escrita. É também cantora e costuma viajar pela região em digressões de jazz, country, pop e gospel.

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Masha e o Urso - Como Tudo Começou (O. Kuzovkov)

Masha é uma menina endiabrada. Tanto que os animais da quinta não têm propriamente vontade de brincar com ela. Mas uma borboleta que lhe surge acidentalmente no caminho está prestes a levá-la ao encontro de um novo amigo: o Urso. Ele está habituado a uma vida calma e sem problemas. Mas Masha quer um companheiro de brincadeiras e já decidiu que vai ser o Urso. Quer ele queira, quer não.
Uma das coisas mais interessantes de se ler livros infantis quando já se passou da idade do seu público alvo é a possibilidade de encontrar numa história simples uma porta de regresso para tempos mais inocentes. E, por isso, é sempre cativante passar um bocado a ler uma história em que animais e crianças interagem, em que grande parte das intenções são boas e há sempre um final feliz ao virar da esquina. 
Este livro não é excepção. Curto e simples, como seria de esperar neste género de livro, leva-nos numa viagem às origens de uma amizade. E fá-lo de uma forma divertida e ternurenta, realçando, por um lado, os aspectos mais engraçados da história (Masha a saltar na cama do Urso, a fazer lembrar um pouco a história da Caracolinhos Dourados, por exemplo), mas também uma mensagem de amizade apesar das (bastante óbvias) diferenças.
É também um livro bonito, o que se torna particularmente relevante por ser um livro infantil. As ilustrações são bonitas, bem como o fundo do texto, o que torna o livro visualmente apelativo. Além disso, texto e imagem complementam-se na perfeição, o que contribui também para tornar a história mais cativante.
Sim, é uma história para crianças. E sim, provavelmente será especialmente cativante para o público a que se destina. Mas a verdade é que, mesmo para quem - como eu - já passou dessa idade há uns bons anos, há algo de estranhamente agradável em regressar a estas histórias leves e cheias de ternura. E, às vezes, isso é mais do que suficiente para fazer com que a leitura valha a pena.

Título: Masha e o Urso - Como Tudo Começou
Autor: O. Kuzovkov
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 21 de junho de 2016

Irmãs (Claire Douglas)

Ainda a recuperar da morte da irmã gémea e carregando consigo o peso da culpa pelo acidente, Abi está decidida a reconstruir a sua vida em Bath. Mas os seus traumas estão longe de superados e a verdade é que continua a ver Lucy em toda a parte. É, aliás, uma clara semelhança com a gémea morta a atrair Abi para Beatrice Price. Além do aspecto físico, Bea tem a mesma personalidade cativante e aberta de Lucy e Abi está convencida de que Beatrice pode muito bem ser a amiga de que precisa. Até porque Bea também tem um irmão gémeo, por isso quem a poderá entender melhor? Ao mudar-se para a casa dos Price, Abi leva consigo grandes esperanças. Mas estas cedo se transformam em algo mais negro, quando, à medida que os comportamentos mais peculiares dos gémeos se vão revelando, também outros acontecimentos estranhos começam a suceder...
Um dos aspectos mais fascinantes neste livro e provavelmente a sua grande força é a forma como a autora projecta sobre a história uma aura de mistério e de opressão, mantendo-a viva do início ao fim. Primeiro, através dos traumas de Abi, da explicação para as suas circunstâncias e das possibilidades que isto levanta quanto à veracidade do que está a viver. Depois, através dos vários acontecimentos estranhos e dos traços mais inesperados no comportamento de Abi, dos gémeos e até mesmo de algumas personagens secundárias. E, por fim, num final com tanto de intenso como de inesperado, que, pondo um fim a grande parte do mistério, deixa ainda assim um toque de dúvida na imaginação do leitor.
Tudo isto se conjuga para dar forma a uma história com tanto de disfuncional como de cativante - ou talvez cativante pelo que tem de disfuncional. Não há uma única personagem perfeita, tendo todas as figuras relevantes algum segredo, trauma ou demónio interior. E tudo, da forma como interagem ao que deixam por dizer, reforça a dimensão da estranheza que define essas interacções. Ora, isto é interessante, desde logo, porque cria um ambiente invulgar. Mas também, e principalmente, porque, numa história em que quase ninguém é exactamente o que parece ser, quase todas as possibilidades são plausíveis. E, assim, a explicação para o que está a acontecer - e a identidade do responsável - vai permanecendo um mistério.
Até a escrita contribui para o realçar desta aura de mistério. Ao alternar entre o ponto de vista de Abi e uma narração na terceira pessoa centrada nos gémeos, a autora põe em evidência diferentes perspectivas, salientando, por um lado, a fragilidade da mente de Abi e, por outro, a estranheza que define a relação entre Bea e Ben. Tudo isto intriga. Tudo isto surpreende. E assim, das primeiras páginas à revelação final, sente-se sempre a impressão de que qualquer resposta é possível, o que contribui também para reforçar a intensidade do final.
Intenso. Intrigante. Surpreendente. Com personagens tão estranhas e fascinantes como a própria narrativa em que se movem. E muito, muitíssimo interessante. Haveria, talvez, mais a dizer sobre esta tão enigmática e disfuncional história. Mas o resto... O resto vale a pena descobri-lo nas páginas deste livro. Que não posso deixar de recomendar.

Título: Irmãs
Autora: Claire Douglas
Origem: Recebido para crítica

domingo, 19 de junho de 2016

How to Find Your (First) Husband (Rosie Blake)

Quando tinha oito anos, Isobel Graves casou-se – no recreio – com o melhor amigo, Andrew Parker. Alguns meses depois, os pais deles mudaram-se e Isobel e Andrew perderam o contacto. Agora, vinte anos passados, Isobel está a viver em Los Angeles e a aguentar trabalhos frustrantes enquanto espera pela sua oportunidade na televisão. Não esqueceu Andrew, contudo. E, quando o agente a larga e ela dá por si sem nada a não ser esses mesmos trabalhos, Isobel decide lançar-se numa missão. Encontrará o seu marido de infância e tornará real a sua fantasia de um felizes para sempre. Mesmo que tenha de atravessar o mundo para o conseguir.
Um dos aspectos mais interessantes deste livro é o facto de a sua ideia base ser, na verdade, bastante simples – uma mulher em busca do seu verdadeiro amor. Mas é também muito divertida. Isobel é uma pessoa um tanto estranha e a sua necessidade de realizar o seu sonho leva-a a uma série de situações engraçadas ao longo da sua jornada. Sim, as coisas tornam-se um pouco rebuscadas, às vezes. Mas também isso faz parte da diversão. A estranheza de Isobel faz parte do que a define. E as suas aventuras podem ser um pouco exageradas, mas sempre com um objectivo.
Nem todas as personagens são tão interessantes como Isobel. Andrew, em particular, está muito longe de ser o príncipe imaginado pela protagonista. E a presença de outros possíveis interesses amorosos cria uma interessante tensão entre personagens. Mas também enfatiza as suas fraquezas – a indecisão de Isobel, a monotonia de Andrew.
A história é bastante envolvente, ainda assim. Há muitos momentos divertidos e alguns emotivos. E também outras personagens que, com uma presença mais discreta – se tal palavra se pode aplicar a uma personagem como Mel – acrescentam mais vida à história, tornando-a mais engraçada.
A soma de tudo é uma leitura leve e divertida, com personagens muito peculiares e uma história que, apesar de um pouco previsível, é, ainda assim, bastante divertida. Uma boa história, portanto.

Título: How to Find Your (First) Husband
Autora: Rosie Blake
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Divulgação: novo livro da colecção Vampiro

Depois do sucesso de Os Crimes do Bispo e Vivenda Calamidade, chega às livrarias a 23 de Junho o terceiro livro da renovada colecção de policiais da Livros do Brasil: O Falcão de Malta, de Dashiell Hammett. Publicado pela primeira vez em Portugal em 1950, este foi o título com o qual a Vampiro apresentou aos leitores portugueses Dashiell Hammett, um dos principais nomes da história da literatura policial, e continua a ser até hoje o mais famoso da sua obra. O Falcão de Malta foi várias vezes adaptado ao cinema, nomeadamente por John Huston em 1941, com Humphrey Bogart a interpretar o papel do carismático detective Sam Spade.
Neste livro, uma misteriosa Miss Wonderly contrata a dupla de detectives privados Sam Spade e Miles Archer para encontrarem a sua irmã desaparecida. Mas quando Archer é assassinado, a prioridade para Spade passa a ser descobrir o culpado. Miss Wonderly revela-se afinal a bela e traiçoeira Brigid O’Shaughnessy e a verdadeira perseguição faz-se por uma relíquia medieval em ouro e diamantes de valor incalculável – a estatueta de um falcão.

Dashiell Hammett nasceu em 1894, em Maryland, EUA. Começou a trabalhar aos catorze anos para ajudar a sustentar a família e em 1915, tinha então vinte e um anos, foi contratado pela Agência de Detectives Pinkerton. Este período serviu-lhe de inspiração para a escrita de policiais. A sua carreira literária iniciou-se com a publicação de contos na revista Black Mask, protagonizados desde logo pelo investigador Continental Op, um verdadeiro «duro» com vinte anos de experiência, que seria o herói do seu livro de estreia, Colheita Sangrenta, lançado em 1929. O Falcão de Malta, publicado em 1930, é a primeira obra onde surge outra das suas personagens marcantes, o detective Sam Spade, e continua a ser até hoje o seu livro mais famoso, tendo sido frequentemente transposto para o cinema. Completam a obra essencial de Hammett os títulos A Maldição dos Dain (1929), A Chave de Cristal (1931) e O Homem Sombra (1934).
Juntamente com Raymond Chandler, Dashiell Hammett introduziu o realismo nas histórias de detectives e é considerado o pai do género hard-boiled. Faleceu em Nova Iorque a 10 de Janeiro de 1961.

Divulgação: Novidade Topseller

A paixão entre Ethan e Brynne é explosiva, mas os segredos que escondem um do outro são negros e assustadores, com poder suficiente para destruírem a sua tentativa de uma vida em conjunto.
Quando Ethan quebra a confiança de Brynne e ela o deixa, ele tudo fará para voltar a possuir o coração da mulher que ama.
Com Brynne a receber ameaças anónimas Ethan tem de lutar contra o tempo para proteger a sua linda americana do perigo e ainda reconquistá-la. E ele está disposto a apostar tudo por ela.
Uma história ardente sobre o que acontece quando duas pessoas se rendem a um amor tão grande que consegue sarar as feridas do passado.

Raine Miller é uma autora norte-americana bestseller do New York Times e do US Today que já conta com vários romances publicados. Em Agosto de 2012 lançou o presente livro, primeiro volume da série O Caso Blackstone, uma mistura explosiva de erotismo, sexo, controlo e mistério. Um mês depois era já uma autora bestseller da Amazon, tendo alcançado os primeiros lugares nos rankings de romance erótico.

quinta-feira, 16 de junho de 2016

Caos - O Manual de Acidentes e Erros (Keri Smith)

Aspirar à perfeição - à organização perfeita, às melhores e mais belas das ideias, tudo sem sair da linha, sem armar confusão, sem sujar, sem estragar. É esse o objectivo, não é? Mas e se não for? Nem sempre a criatividade exige perfeição - muito pelo contrário. E essa a ideia na base deste livro: usar um pouco de tudo, dos materiais mais artísticos à pura e simples sujidade e, a partir deles, criar. Sem regras, sem preocupações de beleza e harmonia. Criar, simplesmente.
Em tudo semelhante ao anterior Destrói Este Diário, este é um livro mais centrado no fazer do que propriamente na leitura. Aliás, excluindo as primeiras páginas da introdução, tudo o resto é um conjunto de desafios mais ou menos improváveis, mas todos eles bastante criativos, de incentivo à experimentação. Porque é esse o conceito que a autora apresenta para os seus "acidentes e erros": experiências. Improvisações. Criatividade, em suma.
E, porque é criatividade a palavra de ordem, também o livro é, em tudo, diferente. Os exercícios são peculiares, claro, e a ideia de sujar as páginas de um livro, por exemplo, pode ser difícil de ponderar - principalmente para um bibliófilo. Mas há dois aspectos interessantes a contrapor a esta ideia. Primeiro: quase todos os exercícios podem facilmente ser feitos numa folha em branco (e não necessariamente nas páginas do livro). E segundo: o aspecto visual de livro, quase próximo ao de um diário ou caderno de notas, é também um apelo à criatividade. É como se a própria configuração do livro convidasse a seguir os seus desafios.
Sim, é um apelo ao caos, de certa forma. Mas a um caos inofensivo e que estimula novas ideias. E é precisamente isso que fica na memória, ao realizar - ou simplesmente considerar - este conjunto de exercícios: a ideia de que uma certa medida de caos criativo pode também ser algo de muito bom. E é essa mensagem simples, associada a um livro diferente e criativo, que torna tudo isto tão interessante.

Título: Caos - O Manual de Acidentes e Erros
Autora: Keri Smith
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Elsinore

Ao destruir o seu carro num acidente, assistindo à morte do condutor do outro veículo diante dos seus olhos, James Ballard, o narrador deste livro, descobre o fascínio pela confusão e caos do metal e de superfícies amolgadas, resultantes do impacto entre carros. 
É a visão do seu amigo e visionário Robert Vaughan, homem que conduz uma espécie de irmandade de adoradores obcecados com as possibilidades eróticas dos desastres de viação, que Ballard partilha connosco: o derradeiro acidente, uma colisão frontal, um vórtice de sangue, sémen e líquido refrigerante - retrato singular da dependência crescente da tecnologia como intermediária das relações humanas, em que o erótico, o mecânico e o macabro se confundem.
Publicado originalmente em 1973, Crash continua a ser um dos romances mais chocantes do século XX, tendo sido adaptado para cinema, sob o mesmo título e com igual controvérsia, por David Cronenberg. Crash é o segundo livro de J. G. Ballard editado pela Elsinore, chancela do Grupo 20l20, depois do elogiado Arranha-Céus.

J. G. Ballard: Filho de pais ingleses, nasceu em 1930 em Xangai, na China, para onde o pai tinha ido trabalhar, e morreu em 2009. Na sequência do ataque a Pearl Harbor, ele e a família foram colocados num campo de prisioneiros civis. Regressou a Inglaterra com a mãe e os irmãos em 1946.Após dois anos em Cambridge, onde estudou Medicina sem concluir o curso, Ballard escreveu para publicidade e foi porteiro em Covent Garden antes de partir para o Canadá como piloto da Força Áerea britânica.
Começou a escrever contos na década de 1950 e estreou-se na ficção mais longa em 1962: The Drowned World é o primeiro romance de uma das mais sólidas carreiras da ficção contemporânea.
Celebrizou-se pela sua autobiografia Império do Sol (adaptada ao cinema por Steven Spielberg), mas é em romances como Crash e Arranha-Céus (adaptados também à Sétima Arte por David Crononeberg e Ben Wheatley respectivamente) que se encontram os seus temas obsessivos: os efeitos psicológicos da cidade e da tecnologia na alienação do ser humano.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

Anexos (Rainbow Rowell)

Na redacção do The Courier, todos sabem que os e-mails são monitorizados e que, por isso, só devem usar o e-mail do trabalho para assuntos profissionais. Mas Beth e Jennifer não estão preocupadas com isso e não têm problemas em trocar mensagens pessoais durante o dia. Não as preocupa que haja alguém a ler o que escrevem. Mas a verdade é que há mesmo. O único trabalho de Lincoln é precisamente fazer essa monitorização e, por mais que isso lhe desagrade, a verdade é que não tem em vista nenhuma opção melhor. O problema surge quando, ao cruzar-se com as conversas de Beth com Jennifer, começa a sentir interesse pela vida delas. Interesse e, no caso de Beth, algo mais.
Romance um tanto improvável, mas bastante enternecedor, este é um livro que cativa, em primeiro lugar, pela estranha inocência que parece percorrer toda a história. A história passa-se em 1999, em pleno pânico do bug do milénio e num cenário em que os meandros da internet são algo de bastante novo. Talvez por isso seja, ao mesmo tempo, tão estranho e cativante a forma como as personagens lidam com a questão da comunicação por e-mail. Por um lado, Lincoln está a ler as conversas de outras pessoas e há um lado eticamente questionável em tudo isso. Mas, por outro, tudo parece ser feito com a melhor das intenções - pelo menos da sua parte. E quanto a Jennifer e Beth, a naturalidade com que discutem tudo e mais alguma coisa através do e-mail do trabalho reforça também essa tão estranha - e envolvente - sensação de inocência.
Tanto o enredo como a forma como a história está escrita transmitem uma sensação de leveza. O enredo, porque tem todo aquele ambiente de comédia romântica, feita de esperanças e de mal entendidos e em que se espera sempre que tudo acabe por correr pelo melhor. A escrita, porque os capítulos curtos, a escrita directa e o tom muito peculiar das conversas entre Beth e Jennifer criam um ambiente divertido quanto baste, mas com as medidas certas de intensidade e de emoção.
No fundo, acaba por ser uma história simples, ainda que improvável. Mas há ainda um outro aspecto curioso. É que, apesar de haver um romance a desabrochar, a ligação entre os protagonistas nem sempre parece ser o ponto central da história. Cada um deles tem uma vida pessoal a resolver, mudanças que precisam de acontecer e personalidades e valores próprios que transparecem em todos os momentos. Isto acaba por ser especialmente interessante pois acrescenta uma nova complexidade ao que é, no essencial, um romance fofinho, mostrando as personagens e a história que têm para viver de uma forma terna e algo inocente, mas não demasiado idealizada.
A soma de tudo isto é, pois, um livro leve e divertido, em que o caricato se junta ao enternecedor para dar origem a uma boa história. Cativante, surpreendente e muito agradável de ler, uma história que vale a pena descobrir. Recomendo.

Título: Anexos
Autora: Rainbow Rowell
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 14 de junho de 2016

Divulgação: Novidade Presença

Rafael Loureiro
Colecção: Via Láctea nº 135
Tema: Ficção e Literatura
ISBN: 978-972-23-5839-2
Páginas: 352

Em 2111, o mundo vive enclausurado numa nuvem de poluição. Portugal não foge à regra. As pessoas debatem-se nas ruas da capital por ar puro e dignidade. Os Tecnal, soldados com implantes mecânicos, foram proscritos pela sociedade estratificada, mas uns quantos sobreviveram, perseguidos por uma polícia especial e dependentes de uma droga potente. Filipe, agente desta força policial, está dividido entre seguir a lei ou o instinto. Embrenhado naquele submundo, cedo descobre que os Tecnal podem ser a chave para uma verdade maior. A ele juntam-se personagens surpreendentes e fortes, perdidas na ambiguidade da sua própria condição.

Rafael Loureiro é professor de Educação Física, Mestre e praticante de artes marciais. Desde cedo manifestou o gosto pela escrita, através da poesia e mais tarde dos contos. A trilogia Nocturnus, publicada pela Presença, tornou-o um autor de culto dentro do género fantástico. Volta agora com este novo livro que estreia um universo distópico, uma ramificação independente da sua trilogia.

Para mais informações consulte o site da Editorial Presença aqui.

domingo, 12 de junho de 2016

Himalaias (Michael Palin)

Das montanhas mais remotas à vastidão das águas. Do Paquistão ao Bangladesh, passando por Índia, Nepal, China, Tibete e Butão, percorrendo toda a diversidade de lugares, culturas e gentes que se estende ao longo do Himalaias. Ao longo de meses, Michael Palin e a sua equipa embarcaram nessa aventura para produzir mais um documentário. E da longa viagem e de todas as experiências vividas surgiu também este livro.
Relato de uma viagem e da experiência pessoal do autor ao fazê-lo, uma das primeiras coisas a cativar para este livro é precisamente o facto de o autor manter sempre na sua escrita o registo de uma vivência pessoal. Fala dos lugares, de sistemas políticos, religiosos e culturais, das pessoas com que se cruza ao longo do caminho e da forma como vivem. Mas fá-lo sempre tendo em vista as impressões que lhe causam e as experiências por que passa. E, assim, a impressão que fica deste livro está muito longe de ser a de um guia de viagem (até porque não parece ser, de todo, esse o objectivo), mas antes o relato de uma viagem pessoal.
Ora, além das experiências pessoais (com todas as emoções e descobertas que lhe estão associadas) há também um outro traço característico a cativar para esta leitura: o humor. Não é algo que seja absolutamente necessário, nem de presença dominante, mas antes um traço que parece surgir com naturalidade da escrita do autor. Às vezes, uma só frase basta para conseguir o efeito. Mas a verdade é que há uma sensação geral de leveza - mesmo nos momentos mais tensos - que tem origem nesta forma de o autor contar as coisas: realçando o impacto das coisas com as medidas certas de sobriedade e humor.
Claro que ficam sempre perguntas em aberto, principalmente no que toca aos pormenores dos lugares. Mas, mais uma vez, não parece que o objectivo deste livro seja servir de guia de viagem. E, quanto às percepções do autor sobre os sítios por onde passou, as pessoas ganham tanta importância como os lugares propriamente ditos. E, num livro que é, acima de tudo, um diário de viagem, estas percepções pessoais acabam por ser muito mais interessantes que os pormenores descritivos.
Relato de uma longa viagem e de uma vasta aprendizagem, trata-se, pois, de um livro em que a experiência pessoal do autor se transforma numa interessante aventura para os leitores. Cativante, surpreendentemente leve e com muito para ensinar, uma boa leitura.

Título: Himalaias
Autor: Michael Palin
Origem: Recebido para crítica

sábado, 11 de junho de 2016

As Raparigas Esquecidas (Sara Blædel)

Quando o corpo de uma mulher é encontrado numa floresta, ninguém sabe muito bem o que fazer para a identificar. Apesar da cicatriz que lhe marca o rosto, não há ninguém com aquela descrição que tenha sido dada como desaparecida e ninguém parece andar à procura da morta. Ainda assim, continua a ser preciso descobrir quem ela é. O caso é, pois, entregue a Louise Rick, chefe do recém-formado Departamento de Pessoas Desaparecidas, que, sem outra alternativa viável, decide publicar uma fotografia da mulher. E é dessa fotografia que surge a primeira pista - e o início de um caminho cheio de segredos sombrios...
Centrado essencialmente no caso da mulher desconhecida e partindo desse mesmo caso para tecer um vasto conjunto de ramificações, este é um livro em que uma das primeiras características a sobressair é a forma como o mistério central se cruza com os vários pontos em comum que o caso tem com a vida da protagonista. Para investigar este caso, Louise Rick tem de se cruzar com várias pessoas do seu passado e inclusive de desenterrar feridas antigas. E é daqui que surge a grande força desta história, pois a vida pessoal da protagonista vai-se revelando aos poucos com o evoluir da investigação, criando-se assim um delicado equilíbrio entre o pessoal e o profissional.
Deste caminho de revelações surge um outro traço cativante: é que a distância inicial que se sente para com as personagens vai-se atenuando à medida que estas se dão a conhecer. Louise é uma pessoa reservada e a forma como interage com os colegas mostra bem isso. Mas, à medida que o mistério se adensa, surgem não só os motivos da sua reserva, mas também uma evolução nos seus comportamentos. Ora, isto acrescenta ao enredo um lado mais pessoal, tornando a história cada vez mais envolvente, ao mesmo tempo que insinua grandes possibilidades para os volumes seguintes desta série.
Quanto ao mistério propriamente dito, surpreendente é uma boa palavra para o descrever. Não porque não se criem algumas suspeitas fundamentadas logo de início, mas precisamente porque essas suspeitas acabam por abrir caminho a uma resposta final inesperada. Além disso, há algo de muito perturbador na ideia de um local como Eliselund e do que lá poderia ter sido feito. 
A impressão que fica é, por isso, a de um livro que parte de uma certa distância para depois se entranhar, aos poucos, na mente de quem o lê. Intrigante desde o início, cresce em intensidade a cada nova revelação. E, mesmo sem dar todas as respostas, culmina num final cheio de força e que promete muito de bom para o que virá a seguir. Uma boa história, portanto. E uma boa leitura.

Título: As Raparigas Esquecidas
Autora: Sara Blædel
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 9 de junho de 2016

Divulgação: Novidade Topseller

Uma casa com vista para o mar e um segredo mortal que teima em não ficar enterrado.
O n.º 7 da Ocean Drive é uma propriedade multimilionária nos Hamptons, com vista para o mar, onde o dinheiro e o estatuto social não conhecem limites. Mas a sua fachada em magnífico estilo gótico esconde um passado terrível: a casa foi palco de uma série de homicídios sádicos e brutais que nunca foram resolvidos. Conhecida como «A Casa da Morte», encontra-se agora abandonada, e os habitantes locais preferem passar à distância.
Um casal assassinado e segredos chocantes revelados.
Quando um homem influente e poderoso e a sua amante são encontrados mortos naquela propriedade, a violência do local do crime choca a detective Jenna Murphy. E o que a princípio parece ser um caso simples acaba por revelar tantos segredos chocantes como a própria Casa da Morte.
Só há uma escolha possível: a verdade ou a morte.
À medida que mais cadáveres vão surgindo, Jenna descobre que os segredos que a Casa da Morte encerra remontam ao seu próprio passado. E antes que a fatídica casa faça mais uma vítima, a detective percebe que terá de arriscar a própria vida para descobrir a verdade.
A Casa da Morte é um thriller arrepiante e de leitura compulsiva sobre homicídio e vingança, que não vai deixar o leitor indiferente ao estilo inconfundível de James Patterson, o autor n.º 1 em todo o mundo.

James Patterson já criou mais personagens inesquecíveis do que qualquer outro escritor da actualidade. É o autor dos policiais Alex Cross, os mais populares dos últimos vinte e cinco anos dentro do seu género. Entre os seus maiores bestsellers estão também as colecções Private: Agência Internacional de Investigação, The Women's Murder Club (O Clube das Investigadoras) e NYPD Red.
James Patterson é o autor que mais livros teve até hoje no topo da lista de bestsellers do New York Times, segundo o Guinness World Records. Desde que o seu primeiro romance venceu o Edgar Award, em 1977, os seus livros já venderam mais de 325 milhões de exemplares.
Patterson escreve também livros para leitores jovens e jovens adultos, entre os quais estão as séries Confissões, Maximum Ride, Escola, Eu Cómico e Jacky Ha-Ha. Em Portugal, James Patterson é publicado pela Topseller (adulto e jovem adulto) e pela Booksmile (juvenil).

quarta-feira, 8 de junho de 2016

Génesis - Um Novo Começo (Tom Fox)

Gabriella Fierro sabe que o chefe não gosta dela e, por isso, está habituada a ficar com os casos mais insignificantes. Como parece ser o que acaba de receber. Pequenos desvios nas contas de uma paróquia motivaram uma queixa por parte de alguns paroquianos e cabe a Gabriella investigar. O que não está à espera é de encontrar uma pista para algo bem mais perigoso - e um velho conhecido a seguir essa mesma pista. Há algo de tenebroso a ser preparado no seio da Igreja. E os mentores dessa conspiração não estão dispostos a permitir pontas soltas...
Uma das coisas mais interessantes deste livro é que, apesar de ser bastante curto e de poder funcionar como prequela para Dominus, o romance que se segue, há nesta breve leitura uma história com princípio, meio e fim. Há pontas soltas, sim, e ideias que funcionam como ponto de partida para a história que está para vir. Mas há um caso e a resolução desse caso e, por isso, e apesar da muita curiosidade que cria para o que virá depois, não fica nenhuma impressão de curiosidade insatisfeita. É uma história completa. Com ligações claras a futuras aventuras, mas completa, ainda assim.
Também interessante é a forma como o autor percorre várias perspectivas sem nunca perder de vista o cerne da história. Gabriella, Alexander e até alguns dos principais construtores da intriga na base desta história são-nos apresentados de uma forma que mostra tanto as suas acções como a forma como pensam. E, ao saltar entre pontos de vista, e até na linha temporal do enredo, a aura de mistério da narrativa torna-se mais intensa. Com a contrapartida de algumas repetições, é verdade, mas, ainda assim, a um ritmo sempre cativante.
Haveria mais a dizer? Certamente. Sobre os acontecimentos, sobre as personagens e, principalmente, sobre as motivações na base de tudo. Mas, sendo este o ponto de partida para outras histórias envolvendo os mesmos protagonistas, é apenas natural que fiquem perguntas em aberto. Perguntas essas que têm, aliás, a vantagem de criar (boas) expectativas para o livro seguinte.
A impressão que fica é, por isso, a de um interessante ponto de partida para o que promete ser uma aventura mais vasta. Intenso, intrigante e forte tanto no enredo como nas personagens, uma estreia muito promissora. 

Título: Génesis - Um Novo Começo
Autor: Tom Fox
Origem: Oferta da editora

Divulgação: Novidade Presença

Maestra
L. S. Hilton
Título Original: Maestra
Tradução: Jorge Freire
Páginas: 304
Colecção: Grandes Narrativas Nº 636
PREÇO SEM IVA: 16,51€ / PREÇO COM IVA: 17,50€
ISBN: 978-972- 23-5842- 2

Durante o dia, Judith Rashleigh trabalha numa prestigiada leiloeira de Londres. Ambiciona uma carreira no mundo da arte e, apesar das origens humildes, tornou-se uma mulher sofisticada. Para fazer face às despesas, aceita trabalhar durante a noite como acompanhante num dos bares da capital.
Mas depressa o sonho de uma vida luxuosa se desmorona. Desesperada, acompanha um dos clientes do bar numa viagem. Após um acontecimento que marca o seu destino, Judith envereda por um caminho violento e tortuoso.
Assistimos à ascensão de uma mulher à margem da lei e da moral, segura do seu rumo. Mais do que possível, será a redenção desejável?

L. S. Hilton cresceu em Inglaterra e viveu em Key West, Nova Iorque, Paris e Milão. Depois de se ter licenciado em Oxford, estudou História da Arte.
Trabalhou como jornalista, crítica de arte e locutora de rádio. Vive em Londres.



Para mais informações consulte o site da Editorial Presença aqui.

Divulgação: Novidade Topseller

Spindle Cove é uma pacata vila costeira, só para donzelas.
As raparigas bem-nascidas, influenciáveis e que correm riscos de serem seduzidas pelos cavalheiros errados são enviadas pelas famílias para Spindle Cove. Aqui elas deverão «curar-se» com os bons ares marítimos, desenvolver os seus talentos e viver vidas tranquilas. Susanna Finch é a anfitriã da vila e guardiã deste verdadeiro refúgio, livre de homens e de tentações.
Mas, com a chegada de um homem…
Afastado da frente da guerra contra Napoleão após sofrer um ferimento, o tenente-coronel Victor Bramwell quer agora recuperar o comando do seu regimento. O seu plano leva-o a Spindle Cove, onde, ao contrário do que esperava, acaba por receber um título de conde, um castelo e a responsabilidade de criar uma milícia para defender a vila.
A guerra dos sexos vai começar.
Susanna teme que a presença de uma milícia na vila desencaminhe as donzelas. Mas o tenente-coronel tem de cumprir a sua missão para poder voltar para a guerra. Nasce, assim, uma autêntica guerra dos sexos entre os dois. Com a atração crescente que sentem um pelo outro, serão eles capazes de manter os seus planos? Ou irão declarar-se vencidos pelo amor?

Tessa Dare é uma autora norte-americana, bestseller do New York Times e do USA Today, que já conta com vários romances históricos publicados. Os seus livros foram alvo de vários elogios e prémios, incluindo o Prémio RITA para Melhor Romance Histórico, atribuído em 2015 pela Associação Americana de Escritores de Romance, e prémios da Amazon e das revistas Kirkus e RT Book Reviews.
A revista Booklist nomeou-a «uma das novas estrelas do romance histórico» e os seus livros já foram traduzidos para 12 línguas. Bibliotecária de formação e amante de livros, Tessa Dare vive na Califórnia com o marido e os dois filhos. 

terça-feira, 7 de junho de 2016

Divulgação: Novidades Planeta

Para Blackthorn e Grim, o regresso à vida tranquila na pequena quinta à beira da Floresta dos Sonhos nunca poderia durar muito. Escassas semanas passaram desde que o mistério do Lago dos Sonhos foi resolvido e já um novo desafio paira no horizonte.
O príncipe de Dalriada recebeu um pedido de ajuda da parte de Geiléis, a Senhora de Bann, cujas terras medram sob a força de uma estranha maldição.
Uma criatura sem nome instalou-se na velha torre que se ergue numa ilha do rio Bann e, do nascer ao pôr-do-sol, os seus gritos incessantes impedem o gado de crescer, secam os campos e a vontade dos homens e instalam a semente da loucura nos espíritos mais sãos.
Cercada de espinhos venenosos, a misteriosa torre encerra um segredo secular. Caberá a Blackthorn e Grim mergulharem nas trevas de um amor impossível e libertarem o povo de Bann do coração tempestuoso de uma rainha do Povo Encantado.
Pelo meio, a curandeira e o seu companheiro terão de enfrentar o silêncio de quem sabe e atravessar uma teia de mentiras urdida ao longo de vários séculos.
Quem será o estranho habitante da Torre de Espinhos? Um homem, um monstro? Uma força destruidora ou apenas uma vítima? No fim, o amor será a única redenção.

Quando a vida corre mal, alguém precisa de ter a força necessária para a levar para a frente. Sophie Scaife está nesta posição.
Para Sophie e o marido, o bilionário Neil Elwood, o casamento e os jogos picantes de dominação e submissão surgem com naturalidade. Descobrir formas de reacender o romance e introduzir uma antiga paixão faz com que o seu ardor se incendeie.
Entretanto, Neil tem um novo projecto: um ambicioso empreendimento filantrópico. Mas na esteira do seu maior triunfo ocorre uma mudança na vida de ambos para que não estão preparados.
Durante a noite, Sophie encontra-se com uma nova realidade, muito diferente da vida que planeara. Como as emoções são fortes, ela esforça-se para conciliar esta nova fase da vida, enquanto o marido entra num período conturbado. Um homem que ela ama de mais para o deixar ir sem luta...

quinta-feira, 2 de junho de 2016

Estou Aqui Agora (The Mindfulness Project)

Mindfulness. O termo pode dar a entender algo de complexo e transcendente, mas tudo se resume a uma ideia tão simples como a de concentrar pensamentos no presente e sentir o que o agora nos traz, em vez das preocupações do passado e do futuro. Mas será mesmo assim tão simples? Bem, a teoria sim. A prática, nem tanto. E é para orientar essa mesma prática que surge este livro que, através de exercícios simples e criativos, abre caminho a uma percepção mais centrada no presente. Mesmo sabendo que passado e futuro nunca são assim tão fáceis de ignorar.
Um dos aspectos mais interessantes deste livro é que, enquanto livro de auto-ajuda, se o podemos considerar como tal, está muito longe das fórmulas habituais. Sim, tem os conceitos base e as linhas orientadoras do mindfulness, como seria de esperar, mas resume-as em muito poucas páginas, dando mais destaque aos exercícios práticos do que propriamente a teorias e ideais. Isto é interessante, em primeiro lugar, porque, ao resumir ao essencial, fica-se com uma ideia simples e clara dos conceitos. E também porque deixa que os exercícios falem por si, despertando criatividade e sensações sem motivos e explicações por trás.
É essa criatividade, aliás, o que realmente cativa neste livro. Porque, se alguns exercícios podem já ser sobejamente conhecidos (como o do pensar "fora da caixa"), a verdade é que todos, do mais simples ao mais estranho, têm algo de interessante a descobrir. Além disso, ao ser estruturado como um guia/diário, o livro funciona quase como que um convite a partir à descoberta. E, sim, se estiverem dispostos a escrever/riscar/cortar no livro, o resultado será provavelmente algo de muito pessoal e criativo.
É verdade que alguns dos exercícios não são nada de muito novo - podem até ser algo tão simples como uma sopa de letras. Mas é interessante reparar que, no tempo que se dedica aos exercícios, é no presente que o pensamento está focado (nalguns casos mais que noutros, é certo). E, sendo esse foco no presente o que está na base da ideia de mindfulness, é inevitável uma certa sensação de missão cumprida.
A impressão que fica é, portanto, a de um livro diferente, em que, mais que os conceitos, conta a forma como são postos em prática. E também a de um conjunto de exercícios de criatividade que, feitos sequencialmente ou por outra ordem qualquer, funcionam, sem dúvida alguma, como um interessante desafio e uma boa forma de descontracção. Muito interessante. 

Título: Estou Aqui Agora
Autores: The Mindfulness Project
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 1 de junho de 2016

O Último Segredo do Templo (Paul Sussman)

Luxor. Quando o corpo de um homem é encontrado no deserto, Yusuf Khalifa repara, desde logo, nalguns aspectos invulgares. O morto, Piet Jansen, além de ser assumidamente anti-semita, esteve relacionado com a morte de uma israelita, alguns anos antes - apesar de ter sido outro a ser condenado pelo crime. Para Yusuf, a história desse  caso nunca bateu certo e a morte de Jansen trouxe novas pistas, que não pode agora ignorar. Por isso, contra a vontade dos seus superiores, decide reabrir o caso e seguir as pistas que, na altura, ficaram por explorar. Entretanto, em pleno conflito israelo-palestiniano, uma jornalista recebe uma carta misteriosa, também ela com uma pista para um antigo segredo. Há algo escondido num passado distante - algo que pode mudar o rumo de toda a guerra.
História de intrigas, conspirações e de mistérios para resolver, tendo como base central a existência de um artefacto antigo de elevado simbolismo, este é um livro do qual seria fácil, à partida, adivinhar a fórmula: um encadeamento de pistas que levam a uma descoberta história, que, devido ao seu potencial poder, desperta o interesse de várias facções poderosas. É esta, de facto, a fórmula. Mas, se a linha essencial é fácil de adivinhar, há, ainda assim, um conjunto de aspectos que o diferenciam, tornando-o mais complexo, mais profundo... e, em certa medida, mais surpreendente.
Um dos primeiros aspectos inesperados neste livro é o ritmo surpreendentemente pausado, talvez por percorrer várias perspectivas diferentes. Há várias pistas a acompanhar e várias linhas diferentes a seguir. E, nalguns casos, a relação entre esta elaborada teia de mistérios só se revela numa fase já avançada do enredo. Assim, o que acontece é que há vários percursos e possibilidades a surgir ao longo do enredo, o que exige mais tempo e mais concentração, compensando-os com um maior impacto nas revelações posteriores.
Mas a complexidade não se cinge à teia de intrigas. O próprio contexto das pistas que as personagens seguem - envolvendo épocas e elementos tão diversos como as escavações arqueológicas nazis, a cruzada contra os cátaros, o segredo de um objecto passado de geração em geração e uns quantos achados arqueológicos egípcios - é também, um factor fulcral neste entretecer de complexidades que abre caminho às grandes revelações. E a forma como este contexto é apresentado, de forma gradual, mas sem deixar de fora nenhum dos elementos essenciais, é provavelmente um dos aspectos mais fascinantes deste livro.
Claro que, havendo interesses em colisão, é inevitável alguma espécie de conflito final. E, neste aspecto, é especialmente cativante a passagem do ritmo pausado da fase inicial, em que dominam os mistérios e as perguntas, para um final de grande intensidade, em que o perigo é uma constante e a acção impressiona tanto como as revelações que lhe estão associadas. Tudo isto num final em que todas as grandes respostas são apresentadas - mas fica uma pequena pergunta em aberto, como que deixando à imaginação do leitor a possibilidade (ou não) da esperança.
A impressão que fica, portanto, é a de um livro mais pausado que o expectável dentro do género, mas também mais complexo, mais fundamentado... e, por isso, mais interessante. Pode não ser uma leitura compulsiva, é verdade, mas nunca deixa de cativar. E isso, associado a toda a informação interessante e ao impacto inesperado do final, é mais do que o suficiente para fazer deste O Último Segredo do Tempo uma boa leitura.

Título: O Último Segredo do Templo
Autor: Paul Sussman
Origem: Recebido para crítica