Desde que a sua melhor amiga morreu afogada que Suzy deixou de falar. Por mais que tente e que procure entre todas as coisas que sabe (e sabe bastantes), não consegue encontrar uma explicação para aquilo que aconteceu e muito menos pode aceitar que a última imagem que guarda da sua amiga seja uma tão triste - e causada por si. Mas tudo muda quando, às escondidas, entra numa exposição de medusas e descobre a temível Irukandji. Então, começa a suspeitar que a morte da sua amiga pode ter uma verdadeira explicação. Decide, por isso, ir à procura de respostas. E se a única pessoa que a pode ajudar for um especialista do outro lado do mundo, então só tem de arranjar uma maneira de viajar até lá.
Vocacionado para um público jovem e centrado, em grande parte, nos dilemas de crescimento, este é um livro que tem como principal ponto forte a forma como retrata a passagem da adolescência e a forma como essas mudanças podem abalar uma amizade. Suzy e Franny eram amigas de infância, mas, com o passar dos anos e o contacto, com pessoas novas, algo mudou. Isto reflecte-se na forma como lidam uma com a outra (isto é, aliás, um dos aspectos fundamentais desta história), mas também nos níveis de socialização escolar. As mudanças na amizade de Franny e Suzy são relevantes, mas também o são os comportamentos dos outros colegas. E a forma como a autora retrata esta realidade, vista pelos olhos da protagonista, mas de forma muito completa, é algo de muito interessante, pois é muito fácil de reconhecer.
Há também uma passagem da inocência a uma percepção mais realista do mundo. A missão de Suzy de encontrar uma explicação, escolhendo especialistas, programando um trabalho capaz de fazer os colegas compreender, pondo a hipótese de atravessar meio mundo sozinha para encontrar essas respostas, é um bom reflexo disso, pois passa do achar que tudo é possível aos muitos obstáculos da realidade. E, além disso, há também as questões da perda e do luto que, vividas por Suzy e, através dela, transmitidas ao leitor, levantam muitas questões relevantes para mentes jovens e não só.
Ora, tudo isto é explorado numa história envolvente e surpreendentemente leve, tendo em conta os temas. Para isso, contribui a escrita relativamente simples, que se ajusta na perfeição à voz da protagonista, mas também os pequenos momentos divertidos que vão surgindo. Justin, em particular, é uma personagem que, apesar de discreta, contribui em muito para reforçar esta leveza.
Ficam algumas perguntas sem resposta. Sobre Jamie, sobre o ponto de vista de Franny sobre o que aconteceu entre ela e Suzy, sobre o que poderia ter acontecido. Mas, se é verdade que estas questões em aberto deixam uma certa curiosidade insatisfeita, também o é que fazem todo o sentido. Na vida, nunca temos todas as respostas. E o que poderia ter sido... bem, nunca se sabe ao certo, pois não?
Há, pois, em tudo isto algo de belo, algo de terno e de revelador. E, ao acompanhar a viagem de Suzy através do seu próprio percurso de crescimento, vemos o mundo por olhos mais inocentes... e crescemos um pouco mais, também. É isso, então, o que fica dessa história. E basta para que valha a pena lê-la.
Título: No Rasto das Medusas
Autora: Ali Benjamin
Origem: Recebido para crítica
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