Greta saiu com o marido e a filha para um passeio no lago e, enquanto ela ficava no barco, Alex e Smilla foram explorar a ilha. Mas o tempo passou e eles não voltaram. Agora, sozinha no barco, Greta sabe que tem de os procurar, ainda que um pressentimento lhe diga que eles não vão voltar tão cedo. Procura por toda a ilha, volta a casa para ver se estão lá, mas não encontra ninguém. A única solução é ir à polícia e comunicar o desaparecimento, mas, quando o faz, a resposta que obtém é surpreendente: Greta não é casada nem tem filhos. O que tem são muitos segredos e um passado capaz de lhe toldar o pensamento. E a verdade, essa, pode trazer consequências terríveis.
Narrado essencialmente pela voz da protagonista e com um enredo onde nada (nem ninguém) é o que parece, este é um livro que tem como ponto forte a capacidade de manipular a percepção do leitor. Greta está muito longe de ser uma narradora fiável e a forma como conta a sua história, mudando-a segundo as percepções que tem a cada momento, faz com que tudo na narrativa seja uma grande incógnita, desde quem são realmente os desaparecidos ao verdadeiro papel de Greta em toda a situação. Ora, isto confere ao enredo uma muito intrigante aura de mistério, que cresce em intensidade à medida que a verdadeira complexidade do estado mental de Greta se vai revelando e que, de suspeita em suspeita e de possibilidade em possibilidade, prende desde muito cedo e não larga até ao fim.
Se o grande ponto forte é o percurso, o ponto fraco é provavelmente a conclusão, já que, tendo em conta a teia traçada pelos pensamentos e percepções de Greta, a fase final acaba por ser um pouco abrupta. E, ainda que a resolução faça sentido e que o que fica em aberto aponte para as possibilidades certas, fica a sensação de que mais haveria a explorar sobre a tal componente psicológica que tão impressionante foi ao longo do caminho - até porque, para além de Greta, há algumas figuras secundárias bastante relevantes para o enredo, e das quais teria sido interessante saber mais.
Há, ainda assim, outro aspecto que importa destacar: a construção das personagens. Ainda que o que fica por dizer deixe a impressão de que haveria ainda mais a desenvolver (principalmente no que a Alex diz respeito), há algo de impressionante na forma como a autora tece a teia das relações entre os vários intervenientes, realçando-lhes as vulnerabilidades que tornam tolerável o inadmissível. Há na história de Greta e de Alex uma grande e relevante questão a ponderar sobre as relações de poder e as consequências da submissão. E é essa faceta do enredo o que realmente marca nesta história.
Intenso, intrigante e misterioso, trata-se, pois, de um livro que cativa desde muito cedo. E que, apesar de um final que sabe a pouco, consegue, com as suas muitas revelações, ficar na memória de uma forma inesperada. Basta isso para fazer desta história uma leitura interessante. Basta isso para que a leitura valha a pena.
Título: Desaparecidos
Autora: Caroline Eriksson
Origem: Recebido para crítica
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