quinta-feira, 22 de novembro de 2018

A Sereia de Brighton (Dorothy Koomson)

Quando, após uma saída sem autorização, Nell e a sua amiga Jude encontraram um cadáver na praia e, depois de denunciarem o caso à polícia, passaram por uma experiência traumática, estavam longe de imaginar o que se seguiria: o desaparecimento de Jude e uma perseguição à família de Nell por parte de um polícia particularmente preconceituoso. Agora, vinte e cinco anos passados, o fantasma da Sereia de Brighton continua a pairar sobre a vida de Nell e todas as suas acções. Por isso, ela está decidida a descobrir finalmente o que aconteceu. Só que as respostas são complexas, principalmente quando se trabalha sozinha - ou com aliados indesejáveis. E, quando Nell começa a aproximar-se da verdade, novos perigos começam também a surgir... vindos de onde menos espera.
Alternando entre períodos diferentes e acompanhando, essencialmente, duas perspectivas também muito distintas, este é um livro que, apesar de relativamente extenso, facilmente cativa. Primeiro, pela aura de mistério que nasce logo desde os primeiros capítulos. E depois, e principalmente, pelas muitas emoções fortes que a história desperta.
É fácil simpatizar com Nell desde o início, com a descoberta do cadáver e todos os subsequentes traumas da sua vida a fazerem sobressair um caminho árduo e difícil. E o mesmo se aplica a Macy, embora com reacções totalmente distintas. Este é, aliás, um bom ponto de partida para destacar uma das principais qualidades desta história: a construção de um enredo em que nenhuma das personagens é perfeita e todas (ou quase) são passíveis de suspeita, mas em que muitas delas têm grandes qualidades redentoras e uma bondade intrínseca que se torna mais impressionante por nascer também de imperfeições. 
Claro que há também vilões: afinal, há cadáveres abandonados que precisam de explicação. Mas também daqui surge algo de impressionante: por um lado, os responsáveis dos crimes são totalmente inesperados, sendo que aquilo que parecia ser a natureza dessas personagens é afinal uma ilusão. Por outro, o sempre presente John Pope, com os seus preconceitos e comportamento abusivo, está do que deveria ser o lado certo - mas nem isso o redime face aos seus comportamentos. 
Importa ainda destacar um outro aspecto. Tendo na base uma série de crimes, é apenas natural que grande parte do enredo gire em torno do mistério. Mas a verdade é que há muito mais à volta disso: questões de racismo e de preconceito, grandes segredos capazes de condicionar uma vida, problemas de ansiedade também eles capazes de abalar tudo e ainda a sempre complicada - e profundamente afectuosa - relação entre irmãs. Tudo entrelaçado de forma equilibrada, cativante e cheia de emoção.
Tudo somado, fica a melhor das impressões: a de uma história envolvente e equilibrada, com um grande mistério por base e um enredo que é muito mais do que a mera resolução de um caso. Intenso, emotivo e cheio de surpresas, uma história de fantasmas que perduram - e de amor fraternal para lá das dificuldades. Muito bom. 

Autora: Dorothy Koomson
Origem: Recebido para crítica

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