Enviado para Gideon Falls para substituir o seu recentemente falecido antecessor, o padre Fred está longe de imaginar o quão necessária é a sua presença ali. Leva consigo um passado conturbado, daí que, quando as mortes começam a acontecer, torna-se imediatamente o principal suspeito. Mas não é de crimes normais que se trata. Há uma lenda em Gideon Falls que fala num misterioso celeiro negro, que aparece e desaparece deixando no seu rasto sinais contraditórios e crimes sem explicação. E é essa mesma lenda que paira sobre Norton Sinclair, um jovem aparentemente perturbado que procura no lixo a forma de lidar com a presença maligna do celeiro que lhe assombra os sonhos...
Há uma fascinante sensação de familiaridade na premissa de um mito urbano - ou, neste caso, rural - em que poucos acreditam realmente, mas que é a única explicação possível para o que permanece inexplicável. Há lendas assim espalhadas por diferentes locais. E é essa sensação de familiaridade que torna tão fácil mergulhar de cabeça nesta história e sentir a quase palpável de mistério e de possibilidade que rodeia Gideon Falls e o seu misterioso celeiro negro. Além de gerar uma curiosidade quase imediata - que vai do misterioso comportamento de Norton às possíveis explicações para a existência e aparições do celeiro -, gera uma forte empatia devido à vulnerabilidade e ao passado difícil dos protagonistas. Some-se a isto o impacto de uma manifestação que poucos vêem e ainda menos acreditam e o resultado é verdadeiramente intrigante.
É uma história de horror, do tipo de horror inominável que existe e se manifesta, mas que não se consegue explicar, pelo menos ainda. E é particularmente impressionante que esta inexplicabilidade se manifeste tão bem em termos de elementos visuais. Tudo neste livro é diferente, desde a estrutura das páginas (bem longe dos quadros organizadinhos e lineares) ao próprio traçado dos fundos (com destaque especial para os desenhos infantis de Norton), passando pela visão algo esbatida e fantasmal do celeiro e sem esquecer a fascinante bizarria dos momentos dedicados ao que vai na cabeça das personagens. Mais do que ler sobre um lugar bizarro, é quase como entrar nele, e embora nem toda a história se passe dentro do celeiro negro, a sensação que fica ao longo de toda a leitura é a de que, de certa forma, estamos lá sempre.
Sendo o primeiro volume de uma série, escusado será dizer que são muitas as perguntas e possibilidades que ficam em aberto, mas também aqui há um elemento que sobressai. É que este primeiro volume culmina numa grande revelação, do tipo que, longe de dar todas as respostas, encerra, ainda assim, uma fase, abrindo portas para um novo estádio do percurso. Dificilmente poderia fechar de forma mais adequada, com um pico de intensidade, escolhas importantes e uma porta aberta para os novos desenvolvimentos que estão por vir.
Dificilmente se poderia pedir um melhor ponto de partida para esta série cheia de mitos, enigmas e inexplicáveis. Personagens fortes e complexas, uma história cheia de possibilidades e o tipo de arte que transpõe perfeitamente o que se passa com as personagens para a mente do leitor. Uma palavra para descrever este primeiro livro? Brilhante. Sem dúvida alguma.
Autores: Jeff Lemire, Andrea Sorrentino e Dave Stewart
Origem: Recebido para crítica
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