Subitamente elevada de uma vida de maus-tratos e pobreza à possibilidade de uma educação decente e uma existência tranquila, Elizabeth Lavenza decide ser exactamente aquilo que dela é esperado: uma companheira e um factor tranquilizador para o jovem e perturbado Victor Frankenstein. E, ao longo dos anos, Elizabeth aprende a ser perfeita no seu papel, a fazer seja o que for - ou a fingir não ver seja o que for - para bem da sua própria segurança. Mas Victor esconde trevas mais profundas do que a própria Elizabeth imagina. E o dia em que decide ir à sua procura após um longo silêncio é o dia em que o perigo se torna palpável. E a verdade impossível de evitar.
Frankenstein é um clássico e, como tal, dispensa apresentações. O que significa que o primeiro aspecto a destacar acerca deste livro será inevitavelmente a forma como se relaciona com a sua fonte de inspiração. Trata-se de uma reconstrução, que, vista pelo olhar de Elizabeth, traça imagens muito distintas para os principais intervenientes. Mas, mais do que isso, trata-se de uma história que, embora partindo das linhas essenciais da obra que lhe serve de base, acaba por ganhar uma identidade própria e um impacto só seu.
Outro aspecto também especialmente marcante é que, não só a visão da história é diferente, como vai sofrendo alterações com o desenrolar dos acontecimentos. Não só em comparação com a história original, mas sobretudo com o que julgamos saber. Victor e Elizabeth têm uma relação profunda, para o bem e para o mal. E, ao contar a história pela voz de Elizabeth, a autora envolve todos os acontecimentos na perspectiva muito parcial - e moldada pelos sentimentos que a movem - da protagonista. O resultado é um conjunto de surpresas que, tão inesperadas para quem lê como para quem conta a história, ganham mais força emocional. Além disso, o papel das diferentes personagens vai também sofrendo alterações, não só à luz dos segredos de Elizabeth, mas também da diferença entre a realidade e o que ela julga saber.
E importa ainda olhar um pouco para a escrita, realçando os discursos mais elaborados - que reforçam o paralelismo com o Frankenstein original - e o seu contraste com a força das emoções que, descritas de forma tão directa e tão próxima do coração de Elizabeth, tornam mais palpável a sombria intensidade de cada momento. Até porque sombras não faltam neste livro - e o título dificilmente poderia ser mais adequado.
Sombrio, envolvente e de uma profunda emotividade, eis um livro que recria na perfeição o ambiente da história que lhe serviu de base, para depois o transformar em algo diferente, mas igualmente intenso e cheio de vida. Fascinante em todos os seus aspectos - e sobretudo na complexidade da protagonista - uma leitura memorável em todas as suas facetas.
Autora: Kiersten White
Origem: Aquisição pessoal
Olá Carla,
ResponderEliminarNão conhecia o livro mas gostei da sua resenha. Ainda não li o original e tenho vontade. E sua resenha me deixou curiosa sobre esse livro também.
Beijo!
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