segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Linguagens Impossíveis (Timothy Hagelstein)

Para os sentimentos e visões que o mundo inspira, ou que dele transparecem, existem múltiplas linguagens. Palavra, gesto e visão podem abrir espaço a formas distintas de expressar uma emoção. E é um pouco de todas estas linguagens, transpostas para uma poesia simultaneamente intimista e quase visual, que dá forma a estas linguagens impossíveis. Linguagens de amor e de sombra, tão contemplativas quanto pessoais.
Provavelmente o aspecto mais marcante desta antologia está na forma como cada poema consegue ser, ao mesmo tempo, simples e profundo. Simples com os seus versos curtos, a estrutura relativamente fluida e um formular de palavras que flui com a naturalidade de um diálogo. Profundo nos pensamentos, na introspecção sobre as emoções e na forma como traça um retrato pessoal dos cenários - interiores e exteriores - que percorre.
Outro aspecto interessante é que, tratando-se de uma edição bilingue, é possível - a quem entender francês - assimilar os ritmos e as cadências em ambas as versões. Isto é particularmente cativante tendo em conta que é a cadência das palavras que confere aos poemas a sua fluidez. E, assim sendo, comparar original e tradução, mesmo quando os conhecimentos de francês são limitados como os meus, permite uma nova percepção do ritmo e do facto de que, mesmo quando as rimas são inevitavelmente alteradas, a naturalidade e envolvência mantêm-se.
E importa ainda mencionar a muito cativante sensação de proximidade que se vai gerando ao longo da leitura destes poemas, tanto nos mais voltados para o interior como nos mais descritivos e centrados em lugares visitados e experiências vividas. Haverá, naturalmente, alguns mais marcantes do que outros, mas todos parecem pertencer e é também isso que torna este volume tão interessante.
Podem ser Linguagens Impossíveis, mas facilmente se entendem e entranham. E, com o seu equilíbrio entre o simples e o profundo, entre mundos interiores e exteriores, deixa a sua marca quase sem se dar por isso, bem como a vontade de regressar - várias vezes - aos mais marcantes destes poemas. Um bom livro, em suma, fluido e envolvente. E muito belo, também.

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