quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Descender, Vol. 6: A Guerra das Máquinas (Jeff Lemire e Dustin Nguyen)

O fim está próximo. Máquinas e humanos estão finalmente frente a frente no que só pode ser uma batalha devastadora. Mas há um olhar a assistir a tudo, um olhar que significa destruição implacável. TIM-21 e os seus companheiros chegaram finalmente ao local onde poderão encontrar respostas, que só podem vir de um passado muito distante. Mas não bastam os avisos e os apelos quando a catástrofe é iminente. E o coração de uma máquina humana pode não bastar para conceder misericórdia a um mundo movido a destruição...

Último volume desta série, ainda que não da história deste mundo, a primeira coisa a sobressair deste A Guerra das Máquinas é a certeza do fim. E é pelo fim que começo, porque desde as primeiras páginas que tudo se encaminha para uma promessa de devastação, mas tudo converge para uma tão poderosa mistura de esperança e pressentimento que é impossível não sentir o impacto do final. As respostas do passado prometem a possibilidade de extermínio. A existência de TIM-21 promete uma possível redenção. E todo o caminho até ao final é um delicado equilíbrio entre o provável e o possível, e a ligeira esperança que permanece entre caos e traição... até ao fim.
Desde o início que a alma desta série, e a sua grande força emocional, tem estado no equilíbrio entre implacabilidade e ternura, encarnada na comovente melancolia de TIM-21. Esse sentimento intensifica-se de forma quase indescritível neste volume final, com a inocência deste tão singular protagonista a transformar-se em algo mais profundo face à iminência da catástrofe. É TIM-21, mais sozinho do que nunca, ainda que constantemente acompanhado, a imagem que fica na memória ao terminar este livro. Mais do que a possível morte do universo, a destruição da inocência. É... avassalador.
E há a arte, que, chegados a este ponto, já se tornou mais do que familiar, com as suas cores tão características e, sobretudo, a expressividade das personagens. Mas é também impressionante como, num cenário que se tornou já conhecido, continua a haver espaço para novas visões, quer nas imagens vindas do passado distante, quer na forma dada à transmissão das memórias de TIM-21. Também as imagens ficam na memória, pois também elas reflectem, com precisão implacável, o que assola este mundo e as suas personagens.
E assim termina este universo... ou esta parte dele. Com o estrondo de uma revelação incrível, mas sobretudo com a marca emotiva que fica ao deixar para trás estas personagens que se tornaram tão queridas. Belíssimo, empolgante e emocionalmente devastador, pode ser, a espaços, de partir o coração... Mas é também um final perfeito para esta longa e inesquecível jornada.

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