Há quem diga que o silêncio é de ouro, mas pode ser muitas outras coisas. Pode ser vazio ou descoberta, morte ou renascimento, introspecção ou simples apatia. E há um pouco de todos estes silêncios neste conjunto de histórias, do silêncio de quem não sabe o que dizer ao silêncio de quem morre, passando ainda ao silêncio de uma voz que se faz ouvir sem palavras. Cada história tem as suas próprias singularidades - e é essa a maior qualidade deste livro.
Antologia de diferentes histórias e estilos convergentes em torno de um tema comum, é na diversidade que este livro tem a sua maior força. As histórias abrangem todo o tipo de cenários, do mais estranho dos rituais a um lugar de regras próprias, passando pelo simples reatar e quebra de uma relação. Abrangem também todo o tipo de estruturas. Há as que não têm qualquer diálogo e em que os acontecimentos se expressam exclusivamente através da arte, outras em que o texto introspectivo complementa os cenários e outras ainda em que texto e arte assumem a mesma extravagância para dar forma a uma história leve e divertida. E há ainda a diversidade na arte, pois cada autor tem o seu estilo e as suas particularidades, sendo que alguns se destacam pela simplicidade, outros pela vastidão de detalhes e outros ainda pelos jogos de sombra e luz.
No centro de todas estas histórias, está uma vastidão de silêncios. Se há, como é natural, histórias que deixam uma marca mais intensa do que outras, também é verdade que o tema comum reforça a coesão. Cada história é um todo, mais ou menos marcante, mas todas parecem pertencer. E assim o que acontece é que até as histórias que têm menos impacto (sendo certo que o impacto varia consoante as impressões e preferências de quem as lê) acabam por ocupar um lugarzinho na memória.
Um último ponto que importa destacar, apesar de discreto, são os textos introdutórios. O primeiro debruça-se sobre o tema, preparando o ambiente para as histórias que se seguirão. O segundo realça o conceito subjacente a estas antologias e a experiência de trabalhar num estúdio, o que acaba por despertar também como que uma nostalgia em segunda mão. Ambos contribuem para despertar curiosidade e também para realçar a já referida sensação de coesão que une todas as histórias. Além, claro, de desvendarem um bocadinho das mentes por trás das histórias.
O que fica ao terminar esta leitura é, pois, a impressão de um conjunto de particularidades, em que cada história é um todo completo que, unido aos outros, forma algo maior. Feito de histórias relativamente breves, mas todas com o seu quê de fascinante, proporciona bons momentos de leitura, despertando, ao mesmo tempo, a vontade de conhecer mais do trabalho destes autores. E cativa do início ao fim, claro. Que é o que se pede a um bom livro, certo?
Título: Silêncio
Autores: The Lisbon Studio
Origem: Recebido para crítica
Sem comentários:
Enviar um comentário