Ao longo da história, não faltaram movimentos de protesto e de luta, conflitos ideológicos e guerras movidas a interesse. Não faltaram estados a impor obediência e vozes que se ergueram contra a opressão. E a resistência pode ser ou não pacífica, mas, se há quem diga que violência gera violência, que outras formas existem de resistir? Bem, este breve livro, que, apesar de escrito no século XIX e com um contexto histórico muito distinto, não deixa, ainda assim, de ser bastante actual, explora esta questão, reflectindo a luta pessoal do autor e, através dela, levantando várias questões pertinentes.
Sendo certo que o aspecto mais importante de um livro é sempre o conteúdo, importa, neste caso, salientar o aspecto visual. Ovelhas e rebanhos têm sido termos recorrentes nos últimos tempos, por vezes associados a discursos negacionistas, e a presença destes animaizinhos na capa (e no interior também) contribui para despertar a curiosidade para uma perspectiva diferente - e mais lúcida - da (des)obediência face ao que se entende como uma injustiça. Porque é disso que trata a resistência de Thoreau e, vista no seu contexto, é fácil compreender as suas motivações. Quanto ao material para reflexão, esse prolonga-se até ao nosso próprio tempo.
Claro que, sendo uma luta motivada por uma causa específica, existe sempre a limitação do contexto. Para a ultrapassar, contudo, abundam as notas explicativas, que permitem entender melhor essas especificidades e também fazer comparações com o nosso mundo actual. E, se os porquês são específicos, já as ideias gerais são muito mais abrangentes. E é isso que faz com que esta pequena leitura tenha também o seu quê de intemporal.
Uma última referência para dizer que algo que não falta nas oitenta páginas deste Desobediência Civil são frases memoráveis, sendo muitas delas destacadas ao longo do livro. Isto contribui não só para o impacto visual, mas sobretudo para facilitar a absorção das ideias mais pertinentes. O que, num livro como este, é algo particularmente positivo.
Tudo somado, fica a impressão de uma leitura de contrastes: vem do passado, mas é muito actual; é muito breve, mas não lhe falta profundidade; lê-se num instante, mas fica no pensamento durante muito tempo. E não é a data que importa, mas sim a pertinência. E, nesse aspecto, vale muito a pena ler este pequeno livro.
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