quarta-feira, 5 de maio de 2021

Stumptown - Volume Três (Greg Rucka, Justin Greenwood e Ryan Hill)

Por uma vez na vida, Dex Parios parece estar livre de confusões - ou pelo menos de confusões que exijam a sua atenção imediata - e só quer aproveitar um bocadinho a vida, assistindo a um jogo de futebol com o irmão e com um bom amigo. Mas o que começa por ser um momento bem passado entre cânticos e festejos cedo segue um caminho mais sombrio, quando Mercury, o amigo de Dex, é brutalmente espancado e deixado à beira da morte. A vida de detective privada implica investigar para quem lhe paga, mas desta vez Dex torna-se a sua própria cliente. Não vai parar até descobrir quem foi que agrediu o amigo. E quando os encontrar... não planeia ser meiga.
Um dos aspectos mais interessantes desta série é que, embora tendo os seus pontos em comum com outras histórias de detectives privados, é muito mais ambígua e humana do que a maioria. Não é a típica história em que o detective puxa das suas capacidades superiores para desvendar uma trama intrincada e, após um derradeiro conflito com os bandidos, se afasta misteriosamente rumo ao próximo caso. Bem... tem um pouco disso, mas de forma menos óbvia, mais complexa, mais falível. Dex Parios está longe de ser perfeita, e isso torna tudo bem mais interessante. Tem um passado que a torna vulnerável, o que a torna também mais próxima. E quanto a confrontos com os bandidos... bem, têm sempre o seu quê de desconcertante, o que acaba para contribuir também para o factor surpresa.
Quanto a este caso específico, sobressai sobretudo o aspecto pessoal: a ligação de Dex ao desporto, as suas sempre complicadas relações e um passado misterioso que, pouco a pouco, começa a manifestar-se. E são tantas as revelações que, a determinada altura, fica mesmo a sensação de que alguns aspectos podiam ser mais expandidos, nomeadamente quanto às pistas do caso, que às vezes surgem de forma algo abrupta. Não deixa, ainda assim, de fazer um certo sentido este ritmo mais apressado - até porque, neste volume, a vida de Dex parece uma corrida constante.
Em termos visuais, sobressaem dois aspectos. Primeiro, a entrada em cena de Justin Greenwood, que traz um traço muito diferente e uma Dex com expressões bastante distintas da dos volumes anteriores, mas, ainda assim, perfeitamente reconhecível. E, em segundo lugar, todo o ambiente em torno do estádio, que, com os seus pormenores e a forma quase sinestésica de transpor para a página os cânticos dos adeptos, evoca na perfeição a sensação de se entrar num mundo à parte.
Tudo somado, fica a impressão de um livro visualmente singular, com um enredo intenso, ainda que ligeiramente apressado, e um núcleo de personagens que nunca deixam de surpreender nos mais inesperados aspectos. Cativante, intensa e ligeiramente desconcertante, mais uma bela aventura para acrescentar ao historial de Dex Parios.

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