Quando tudo na vida muda subitamente e o próprio mundo parece ter-se tornado imprevisível, o ser humano tem de se adaptar e de encontrar uma forma de dar sentido às coisas. A mente rege-se, até certo ponto, por necessidades - segurança, socialização, realização - e a pandemia que vivemos veio alterar equilíbrios em todos estes aspectos. Eis, pois, o ponto de partida para este pequeno mas muito interessante livro, que reflecte não só sobre as mudanças que a COVID-19 trouxe ao nosso mundo, mas sobretudo sobre a forma como a mente humana reage à crise, procurando formas de se adaptar.
Embora tenha como ponto de partida as alterações provocadas pelo vírus na sociedade e na resposta às necessidades humanas, não é unicamente a esta situação que o livro se dedica. Pode partir desta crise específica, mas traça uma visão da reacção humana a todos os tipos de crises. E é surpreendentemente leve, talvez devido à brevidade, para uma visão que abrange tantas perspectivas: filosófica, psicológica, fisiológica e, claro, social. Tudo com um conjunto de conceitos muito simples - mas muito abrangentes - como base: resiliência, adaptação, sentido.
Outro aspecto curioso neste livro é que acaba por ser a abordagem à pandemia que mais sentimentos ambíguos deixa, não na visão de como as pessoas se adaptaram a ela, que é bastante certeira, mas no que parece ser uma comparação algo ambígua em termos de medidas entre diferentes países. É claramente secundário, até porque todo o registo do livro parece dedicar-se mais ao percurso de adaptação pessoal, mas é impossível não ficar com a sensação de que a comparação entre países como a Coreia do Sul e França acaba por ser um pouco vaga.
Voltando à adaptação pessoal, sobressai ainda um último aspecto: é que, embora a pandemia seja a premissa perfeita, com confinamentos, distanciamentos e a necessidade de definir alternativas de contactos a serem o exemplo perfeito da necessidade de descobrir novas vias de adaptação, grande parte desta visão pode ser aplicada a crises bem menos globais, e até mesmo pessoais, como o isolamento em resultado de uma perda ou a necessidade de reagir a uma crise que virou do avesso as circunstâncias da vida de alguém.
Não é um livro de soluções fáceis - até porque não existem soluções fáceis. É, sim, uma boa reflexão sobre a importância da resiliência em tempos de crise e da capacidade de o ser humano se adaptar para responder às suas necessidades. Interessante no tema, cativante na escrita e também muito actual, uma leitura rápida, mas que não se esgota ao virar da última página.
Sem comentários:
Enviar um comentário