Enviado a um castelo na Transilvânia para tratar de assuntos burocráticos, Jonathan Harker não tarda a ver-se confrontado com circunstâncias inexplicáveis e aprisionado pelo que parecia ser apenas um cliente excêntrico, mas se revelou verdadeiramente monstruoso. Inicialmente apenas peculiar, o conde Drácula é muito mais do que isso. E tem planos - planos para partir para Londres, onde adquiriu várias propriedades e onde espera construir um novo terreno de caça. Mas Jonathan não é tão indefeso como parece. E nem todos são tão ignorantes da natureza do monstro como o conde parece julgar... principalmente os que têm motivos pessoais para o enfrentar.
Parte do que faz de um livro um clássico é a sua intemporalidade, a forma como resiste à passagem do tempo e ganha nova vida a cada nova leitura e interpretação. Ora isto aplica-se também à sua adaptação a novos formatos. E, no caso desta adaptação específica, a primeira coisa que importa referir é que essa intemporalidade é transposta para algo em que tudo é beleza.
Claro que, ao olhar para uma adaptação, uma das questões que inevitavelmente surgem é a da fidelidade ao original e a do equilíbrio com o que a diferencia. Bem, o equilíbrio é praticamente perfeito. Em termos de linha do enredo, segue com precisão a história que lhe serviu de base, ao ponto de quase ser possível ouvir a voz do original, sobretudo nos momentos de maior tensão. E o aspeto visual - onde, mais uma vez, tudo é beleza - significa que há também algo de novo, de único, a contrapor a esta inevitável familiaridade para quem já leu o romance de Bram Stoker.
E, continuando no aspeto visual, porque a verdade é que as imagens ficam presas na retina, há um aspeto particularmente marcante. Os vastos cenários, a expressividade dos rostos (e, tendo em conta certas personagens, esta expressividade é particularmente intensa) e a forma como os próprios jogos de sombras realçam o ambiente soturno do enredo transmitem na perfeição a natureza gótica da história. Mas é também nos pequenos pormenores que esta presença mais se sente: rosas e ossos, presenças fantasmagóricas, como que saídas da memória, asas e nevoeiros, elementos evocativos que fazem de cada imagem mais do que uma simples representação de um enredo. Há uma história, mas quase se poderia dizer que há também imagens que são um todo em si mesmas. E também isso é beleza. Também isso é impressionante.
Fiel às origens, mas também singular; cheio de sombras, mas também do esplendor do seu próprio brilho (porque é brilhante de facto); e capaz de acrescentar algo de novo a uma história mais que conhecida e intemporal. Assim é este Drácula, tão sombrio e perturbador com o original, mas de uma beleza profunda... e inesquecível.
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