quinta-feira, 12 de agosto de 2021

Enquanto a Lua Muda (Sofia Serrano)

Camila, Aurora, Francisca e Margarida. Quatro mulheres, quatro histórias diferentes. Quatro vidas ligadas de forma inesperada. Camila, com a sua vocação de sempre para parteira, que a levará por caminhos inesperados e nem sempre lineares. Margarida, destinada desde pequena à medicina, mas com obstáculos a superar. Aurora, a jovem humilde com sonhos de amor e realidades horríveis. E Francisca, capaz de tudo para conseguir o que quer. Dificilmente podiam ser mais diferentes, mas têm algo em comum. E, atraídas para uma convergência pelas voltas da vida - e da Lua - guardam cada uma os seus segredos e as suas aspirações.
Dividida entre quatro pontos de vista e quatro personalidades muito diferentes, esta é uma história que surpreende, em primeiro lugar, pelo equilíbrio entre leveza e complexidade. Oscila entre diferentes períodos temporais, entre as perspetivas de várias personagens, entre meandros que se vão tornando cada vez mais ambíguos, mas nunca perde a fluidez e a envolvência. E é essa, aliás, a maior força desta história: a capacidade de cativar sempre, mesmo quando as escolhas das personagens são questionáveis, mesmo quando as opções tomadas as levam da proximidade à distância.
Outro ponto a destacar neste livro é que, da já referida ambiguidade, resulta bastante matéria para reflexão, pois, embora haja linhas relativamente claras, as motivações e circunstâncias fazem com que as escolhas não sejam assim tão fáceis de julgar. Além disso, e apesar da também já referida leveza, não faltam temas sérios ao longo desta história, desde a violência doméstica ao tráfico de crianças, passando pela luta contra a doença e os preconceitos entre classes sociais.
Finalmente, destaca-se um final equilibrado para um enredo onde nem sempre é fácil gostar das personagens. Equilibrado porque deixa o suficiente em aberto para cada leitor imaginar o futuro que lhe parecer mais justo e equilibrado também porque dá soluções com sentido para todas as personagens. Com sentido, mas não perfeitas, como não poderiam ser, tendo em conta as imperfeições da própria vida.
Envolvente e emocionante, leve, mas cheio de questões complexas, e com um conjunto de personagens e acontecimentos capazes de despertar emoção mesmo nos seus momentos mais ambíguos, trata-se, em suma, de uma boa história, e de uma leitura que prende da primeira à última página.

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