A morte do avô de Rintaro deixou-o desligado da vida, e ainda mais isolado do mundo. A sua melhor companhia sempre foram os livros, e é neles que agora procura refúgio enquanto espera que alguém dê rumo à sua vida. Mas as respostas virão de onde menos espera, na forma de um gato falante com várias missões para lhe atribuir. Tudo em prol do seu amor maior, naturalmente - os livros.
O aspeto que mais sobressai desta leitura é inquestionavelmente o delicado equilíbrio entre o improvável e o familiar. Temos um gato falante, livros que caem do céu como neve, portas secretas, labirintos e até um livro com dois mil anos a ganhar vida. E, subjacentes a estas ideias, temos um conjunto de coisas com que qualquer leitor se poderá identificar e que convergem numa só: o amor aos livros.
Também interessante, tendo em conta todos estes elementos, é a relativa brevidade do livro. Há mesmo alguns momentos, no início, em que tudo parece ser um pouco apressado. Com o progredir da história, contudo, esta concisão ganha um novo sentido, pois reflete não só o poder universal dos livros, mas principalmente os diferentes fios que puxam cada leitor. E que, sendo diferentes, têm necessariamente de ser mais intuídos do que descritos.
Finalmente, importa salientar o impacto emocional inesperado. Não é um livro de grande dramatismo, e até os momentos mais intensos parecem ter uma certa calma a envolvê-los. Mas é uma serenidade que faz sentido, e que abrange também momentos de surpreendente ternura e de crescimento pessoal.
Relativamente breve, mas muito cativante e cheio de empatia, trata-se, pois, de um livro sobre livros que ecoará no coração de quantos adoram ler. E de uma história curiosa sobre o crescimento interior de um protagonista que nem sempre é fácil de entender, mas com quem é muito fácil simpatizar.