segunda-feira, 30 de maio de 2022

O Gato que Salvava Livros (Sosuke Natsukawa)

A morte do avô de Rintaro deixou-o desligado da vida, e ainda mais isolado do mundo. A sua melhor companhia sempre foram os livros, e é neles que agora procura refúgio enquanto espera que alguém dê rumo à sua vida. Mas as respostas virão de onde menos espera, na forma de um gato falante com várias missões para lhe atribuir. Tudo em prol do seu amor maior, naturalmente - os livros.
O aspeto que mais sobressai desta leitura é inquestionavelmente o delicado equilíbrio entre o improvável e o familiar. Temos um gato falante, livros que caem do céu como neve, portas secretas, labirintos e até um livro com dois mil anos a ganhar vida. E, subjacentes a estas ideias, temos um conjunto de coisas com que qualquer leitor se poderá identificar e que convergem numa só: o amor aos livros.
Também interessante, tendo em conta todos estes elementos, é a relativa brevidade do livro. Há mesmo alguns momentos, no início, em que tudo parece ser um pouco apressado. Com o progredir da história, contudo, esta concisão ganha um novo sentido, pois reflete não só o poder universal dos livros, mas principalmente os diferentes fios que puxam cada leitor. E que, sendo diferentes, têm necessariamente de ser mais intuídos do que descritos.
Finalmente, importa salientar o impacto emocional inesperado. Não é um livro de grande dramatismo, e até os momentos mais intensos parecem ter uma certa calma a envolvê-los. Mas é uma serenidade que faz sentido, e que abrange também momentos de surpreendente ternura e de crescimento pessoal.
Relativamente breve, mas muito cativante e cheio de empatia, trata-se, pois, de um livro sobre livros que ecoará no coração de quantos adoram ler. E de uma história curiosa sobre o crescimento interior de um protagonista que nem sempre é fácil de entender, mas com quem é muito fácil simpatizar.

quarta-feira, 25 de maio de 2022

Revelação de Capa - Amor de Pechisbeque


 
Como é que alguém se apaixona? Abrindo os olhos.

Quando alguém termina um relacionamento amoroso, a vida parece um verdadeiro fim do mundo. O desnorte nos sentimentos baralha-nos em tudo o resto, desde a simples ocupação dos tempos livres com os amigos, à própria estabilidade pessoal e familiar. Amor de Pechisbeque é um romance escrito à flor da pele, que nos faz descobrir vírgulas onde só vemos pontos finais.

terça-feira, 24 de maio de 2022

Uma Mulher Aparentemente Viva (Cláudia R. Sampaio)

A mulher acorda... e o mundo que vê entrelaça-se entre futuros e passados de uma mente quase labiríntica. Parte numa viagem à mente para descobrir a solidão e encontra-se, transforma-se... a si e ao que contempla. E é a história dessa mulher, nos seus improváveis contornos, que molda a forma desta poesia.
Geralmente, ao ler um livro de poesia, espera-se uma certa medida de coesão, havendo também, contudo, uma certa independência entre os poemas. Neste caso, essa coesão é mais profunda e indivisível, pois não só existe uma protagonista definida, como também uma certa linha sequencial, o que implica um todo mais vasto, maior do que a soma das partes, e que gera um impacto global maior do que o de qualquer leitura parcial.
É um livro de poesia, mas que parece ter uma história para contar, ainda que de forma muito singular. E isso significa ecos e repetições na forma, ideias que se vão multiplicando ao longo do livro. Por outro lado, as imagens evocadas vão do contemplativo ao quotidiano, evocando uma espécie de espiritualidade peculiar enraizada na solidão em pleno mundo material. Ora, esta conjugação suscita um certo desconcerto, mas que faz também um estranho sentido.
Há também como que uma reflexão subjacente, mas impossíveis de descrever, pois surge mais de impressões do que pensamentos elaborados. Também isto tem um efeito desconcertante, pois o despertar da mulher é também uma viagem em comunhão com o leitor. Mas também esta perplexidade dá lugar a momentos de fascínio.
História em forma de poema, ou poema esculpido em história, trata-se, em suma, de um livro singular, mistura de contemplação e de realidade, de ritmos e de impressões indescritíveis, enigmático, mas muito cativante. Uma forma especial de vida, digamos assim. 

domingo, 22 de maio de 2022

O Fim dos Homens (Christina Sweeney-Baird)

Tudo começa com um caso do que parece ser uma doença incómoda mas não grave, como uma gripe ou algo similar. Mas os verdadeiros contornos do caso não tardam a revelar-se sob a forma de uma doença fulminante e mortal. Inicialmente, os primeiros casos são ignorados, o que permite uma propagação descontrolada da doença. E é então que tudo se torna claro: há uma nova peste a espalhar-se pelo mundo. E afeta exclusivamente os homens.
Parte do poderosíssimo impacto deste livro resulta dos inevitáveis paralelismos com a realidade recente. Não, não são muitas as semelhanças entre esta peste e a recente pandemia, mas coisas como a necessidade de tomar medidas impopulares, o abalo na vida das pessoas, as perdas e transformações e a diversidade de reações criam, de certa forma, um laço entre ficção e realidade. Além, claro, de suscitarem a inevitável questão de como reagiria o mundo perante uma pandemia de repercussões muito mais graves.
Outra das grandes forças deste livro está na multiplicidade de pontos de vista. Ao contar a evolução da doença e as consequentes reações através da perspetiva de várias personagens, a autora constrói um enredo muito mais completo e intenso, abrangendo momentos de grande tensão e outros de desespero, episódios dramáticos, tragédias e rasgos de esperança, pequenos rasgos de alegria e muito sacrifício e superação.
O que me leva a outro dos grandes prodígios desta história: a capacidade de refletir todas as facetas. Não é uma história de heróis perfeitos nem de união absoluta e perfeita na busca por uma resolução. É uma história de seres humanos, corajosos e cobardes, abnegados e egoístas, lutadores e pessimistas, esperançosos e desesperados. E estas características coexistem, por vezes, na mesma personagem, o que implica uma história de personalidades complexas, falíveis e nem sempre compreensíveis perante a maior das adversidades. Humanas, em suma.
E, claro, importa salientar que não é uma história de resoluções fáceis. Não o poderia ser, atendendo às circunstâncias. Mas é também isso que a torna tão real, o facto de tudo ser complexo e multifacetado, revelando o melhor e o pior das personagens e colocando-as perante escolhas inevitáveis de modo a refletir quem são e a refletir sobre o que se faz depois do impensável.
Intensa, angustiante, avassaladora, eis, pois, uma história passada no futuro, mas com laços de proximidade. E um livro que, através das suas circunstâncias dolorosas e das suas personagens multifacetadas, cativa, surpreende, abala e enternece, sempre nas medidas certas. Maravilhoso, em suma. E inesquecível.  

sexta-feira, 20 de maio de 2022

O Combate Quotidiano - Volume Dois (Manu Larcenet)

A vida continua depois da perda. As barreiras do quotidiano continuam a surgir, mesmo quando tudo parece ter estagnado. E cada novo sucesso parece vir acompanhado de novas dificuldades e desafios. Marco tem de aprender a lidar com os seus medos e angústias. De descobrir formas de lidar com as mudanças do mundo. E de aceitar os inesperados com que a vida lhe atira...
Parte da beleza deste livro, tal como do anterior, na verdade, é a forma como reflete, através de percursos pessoais, problemas comuns a muitos seres humanos. A perda de um ente querido e a consequente solidão, as aspirações que não são partilhadas pelos dois membros do casal, a perda de um trabalho que se tornou identidade, os preconceitos e a necessária superação... é efetivamente um combate quotidiano o que esta história descreve. E é por refletir facetas do quotidiano de muitos que a história é tão cativante, mesmo nos elementos que deixa em aberto.
Também a nível visual há poderosos contrastes a realçar estas pequenas grandes lutas. Cenários luminosos e sombrios refletem o equilíbrio entre tristezas e alegrias. Os objetos que acompanham as partes mais introspetivas realçam o simbolismo das coisas que não são só coisas. E a expressividade nos rostos de traço relativamente simples enfatiza a melancolia desta história de vidas mais ou menos normais.
Ainda um último ponto a salientar tem a ver com o facto de as personagens não serem perfeitas. Sejam fantasmas do passado, indecisões presentes, mudanças impossíveis de aceitar ou meras explosões de mau feitio, todas as personagens tem o seu lado menos perfeito, o que as torna mais humanas e mais marcantes nas suas pequenas epifanias pessoais.
É uma história singular, mas feita de toda uma vastidão de questões importantes. Aparentemente simples, mas capaz de refletir a complexidade do mundo. E intensa no seu equilíbrio entre desolação e esperança, entre exasperação e ternura. Entre os desafios e as pequenas luzes do quotidiano da vida.

quinta-feira, 19 de maio de 2022

Paraíso (Pedro Eiras)

O caminho começou no Inferno e foi progredindo. Agora, abrem-se as portas do Paraíso. Mas nada é, também aqui, como esperado. Longe da rutilante glória da paz perfeita e da absoluta impassibilidade, este é um paraíso de fúria salvífica, de interrogação aos dogmas do mundo, de contemplação dos mártires da bondade e de abertura aos desenquadrados da vida. Um paraíso mais ambíguo, e povoado até de matizes sombrios, mas por isso mesmo mais glorioso.
Conclusão de um tríptico que, qual Divina Comédia, nos levou já a Inferno e Purgatório, este último livro é como que o culminar do caminho. Contempla um Paraíso de imperfeitos, tudo questionando. E, através de imagens verdadeiramente notáveis, evoca quotidiano e espiritual, fé e ausência dela, almas de bondade e crueldades absurdas.
Existe uma evidente coesão entre as três partes da viagem, mas este livro chega ainda mais longe. Se, na fase inicial, é possível distinguir os poemas como unidades independentes, a partir de um certo ponto, e embora continue a haver divisões, torna-se clara a unidade de um apelo que, em tom de exortação e de quase profecia, transmite um crescendo de intensidade que funciona como uma espécie de exaltação.
E, claro, muito à semelhança dos livros anteriores, também aqui não há grandes imposições em termos de regras estruturas, o que significa que as palavras - e as imagens por elas evocadas - fluem com uma liberdade avassaladora.
Chegamos ao fim do caminho, e o Paraíso está longe de ser o das promessas. Já o que este livro prometia é amplamente superado, com o seu equilíbrio de luz e sombra, a sua voz única e cativante e a capacidade de tornar naturais as mais inesperadas imagens. Não é o Paraíso esperado, não. Mas é certamente glorioso.

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Diário de Uma Miúda como Tu - A Sério ?! (Maria Inês Almeida e Manel Cruz)

A Francisca está a entrar na adolescência, o que significa mudanças de humor, novos interesses e algumas distrações. No essencial, contudo, continua igual a si mesma, com os seus interesses e frustrações, os seus altos e baixos e as suas aventuras ao longo de um quotidiano normal. É uma miúda como qualquer outra... mas quem disse que era simples?
Parte do que torna estes livros cativante, mesmo para quem já não faz parte do seu público principal, é a forma como acompanham o crescimento da protagonista, não só nas suas aventuras mais caricatas, mas também na forma como lida com os obstáculos da vida. São histórias simples e descontraídas, assentes sobretudo nos dilemas da vida normal, mas não deixam de ter muitos momentos divertidos e algumas surpresas ao longo do caminho.
Outro ponto interessante são as mensagens subjacentes. Uma delas prende-se, naturalmente, com a questão do ambiente, que é uma das preocupações da protagonista, marcando por isso presença em todos os livros. Mas há também uma ideia subjacente à absoluta normalidade da Francisca. Não é uma miúda perfeita com notas perfeitas e comportamentos imaculados. É uma miúda normal, com as suas particularidades e vulnerabilidades, que são também o que a torna tão fácil de  compreender.
Finalmente, importa referir, como sempre, o aspeto visual, que, de forma simples mas criativa, confere a estes livros o aspeto de verdadeiros diários, tornando a leitura mais imersiva e envolvente.
Uma história simples sobre os desafios do crescimento de uma adolescente perfeitamente normal, mas também singular na sua normalidade, com novos desenvolvimentos, mas com a mesma leveza e capacidade de cativar. Assim é, em suma, este novo diário da Francisca - uma boa leitura, como sempre. 

sexta-feira, 13 de maio de 2022

Pensar Mais de Cinco Minutos Prejudica a Saúde (Marta Cabeza Villanueva)

Pensar pode significar analisar profundamente uma situação em busca de respostas, procurar novas aprendizagens, descobrir soluções para grandes desafios. Mas pode também significar dar rédea livre aos medos, deixá-los crescer ao ponto da paralisia. E é sobre o equilíbrio entre pensamento e quietude que este pequeno livro se debruça.
Facilmente se poderia dividir este livro em duas partes, uma introspetiva e outra espiritual. Assentes ambas numa experiência pessoal, que confere ao texto um registo mais próximo, a parte introspetiva olha  para o papel dos pensamentos, dos medos, das intuições e das emoções na construção de uma vida mais serena. Já a espiritual vem no seguimento da anterior, avançando, porém, para uma perceção que exige uma certa medida de fé.
Em ambas as facetas existem posições de fácil compreensão e outras que suscitam alguns sentimentos ambíguos, nomeadamente no que diz respeito à saúde física. Ainda assim, e ambiguidades à parte, é sempre possível retirar do texto pontos de identificação. Pensar demasiado, ao ponto de a questão se tornar dúvida e depois medo é algo que acontece a todos. E há nesta visão várias considerações positivas que não exigem concordância plena para serem úteis.
Ainda um último ponto a mencionar tem a ver com o aspeto visual. As ilustrações são simples, mas complementam perfeitamente o texto, dando-lhe uma etérea aura de magia que faz todo o sentido num livro sobre intuições e convicções espirituais.
Terá um impacto diferente consoante as crenças e convicções de quem o ler, mas não deixará de ser uma boa reflexão sobre os efeitos de pensar demasiado e de deixar os medos mo comando. E basta isso para fazer com que valha a pena conhecer este pequeno livro. 

terça-feira, 10 de maio de 2022

A Arte da Guerra (Sun Tzu)

As guerras do passado e as guerras do presente dificilmente poderiam ser mais diferentes, pelo menos do ponto de vista tecnológico. Ainda assim, reduzidas ao mais essencial - métodos, planos, manobras, objetivos - são também bastante evidentes as semelhanças. E prova disso é este livro milenar, cujas leis e conselhos remontam a tempos antigos, mas podem perfeitamente ser identificados na atualidade. Na guerra e não só. 
Há livros que são tão conhecidos que dispensam apresentações, e este é certamente um deles. E, ainda assim, mesmo para quem já leu outras adaptações da obra, não deixa de ter o seu lado revelador. Primeiro, pelo tom imperioso, que lembra a cada palavra que é de uma lei estratégica que se fala. Depois, pela abrangência e intemporalidade da visão, que está longe de ser aplicável apenas à guerra. E finalmente pela precisão e concisão das ideias, resumindo ao seu cerne essencial o que aparenta ser complexo.
Tendo em conta a estrutura do livro, que se debruça sobre as várias facetas da lei da guerra, é inevitável alguma repetição, pois a mesma questão surge em vários contextos. Ainda assim, sendo um livro tão conciso e imperativo, essas repetições não parecem forçadas ou maçadoras, principalmente vendo o livro como o que ele é no seu âmago: um manual para a guerra, onde é crucial que tudo seja claro. 
Finalmente, importa destacar nesta edição específica o aspeto visual, que, além de tornar o livro mais bonito, acrescenta elementos que nos transportam para o período em que terá sido escrito, e também a introdução, que, embora muito breve, abre caminho a uma leitura mais esclarecedora.
Intemporal na sua visão estratégica, abrangente apesar da concisão e aplicável a muito mais do que apenas a ação militar, trata-se, em suma, de uma leitura muito interessante. E perfeitamente atual.

sábado, 7 de maio de 2022

Enfermaria (Ana Paula Jardim)

Dificilmente a primeira imagem a surgir no pensamento ao pensar em poesia seria a de um hospital. E, no entanto, poucos locais contêm tantas histórias, tantas transformações, tantos ciclos de vida e morte, tanta emoção. E todos estes elementos compõem, de certo modo, uma forma de poesia muito singular, simultaneamente pessoal e aberta, enraizada do real, mas estendendo ramos para o sagrado, e capaz de se entranhar no pensamento com a sua proximidade indefinível. Assim é a poesia deste livro.
Ao tentar caracterizar um poema ou conjunto de poemas, contemplam-se geralmente dois aspetos: forma e conteúdo. E são aspetos que tenderão a convergir para um todo equilibrado. Neste caso, o equilíbrio é tão coeso que a linha entre as duas facetas quase se esbate, tal é a precisão com que a palavra se ajusta ao que tem para evocar.
Olhemos, ainda assim, para estas duas partes, pois ambas têm aspetos a destacar. Da forma, sobressai uma estrutura muito livre, sem normas rígidas de rima ou métrica, mas em que o ritmo resultante da cadência das palavras assume uma fluidez quase hipnótica. São, aliás, do tipo de poemas que soam especialmente bem lidos em voz alta, pois assumem, por vezes, um tom de quase profecia.
Do conteúdo, destacam-se os equilíbrios e contrastes, o entrelaçar do ambiente estéril da enfermaria com a profusão de memórias e emoções que aí habitam, da implacabilidade do ciclo da vida com as perceções do sagrado, da presença num local de vida e morte de outras vidas passadas e futuras. Há algo que ecoa na alma de forma quase inconsciente, com esta fusão de imagens singulares e estranhamente familiares.
E o que fica então deste livro é uma contemplação da vida no seu mais frágil e persistente, construída com uma voz única e fascinante cujos ecos ficam na memória bem depois de terminada a leitura. Breve, mas muito belo, um livro inesquecível. 

sexta-feira, 6 de maio de 2022

Outcast, Vol. 6: A Escuridão Cresce | A Fusão (Robert Kirkman e Paul Azaceta)

O fim está próximo e o impasse que parece ter-se instalado não tardará a quebrar, em virtude da ação de ambos os lados. Mas a dúvida e o cansaço parecem ter-se apoderado de todos e nem Kyle Barnes nem os que o rodeiam sabem como enfrentar o fim iminente. Uma coisa é certa, ainda assim: deixou de ser possível continuar a fugir. E nada ficará igual quando o derradeiro confronto se materializar finalmente.
Parte do que tornou esta série tão intensa foi, desde o início, a sua singular forma de luta entre o bem e o mal. E essa luta foi crescendo de intensidade de volume para volume. Agora, chegados ao fim da história, tudo atinge o seu crescendo final, carregado de movimento, de ação, de surpresas e de uma poderosa capacidade de emocionar.
Também o aspeto visual foi especialmente importante, e atinge uma nova dimensão nesta etapa final. O contraste entre luz e trevas chega a atingir momentos ofuscantes. Os momentos de maior impacto estão cheios de movimento e de expressão. Os rostos retratam na perfeição as emoções das personagens e o horror dos elementos menos humanos. E os pequenos pormenores destacados ao longo do livro salientam a complexidade do todo.
Olhando para o enredo propriamente dito, destacam-se três pontos: o final perfeitamente adequado, que dá resposta a todos os pontos essenciais, mas deixa o suficiente à imaginação do leitor; a forma como as repercussões do passado não desaparecem depois de tudo concluído, o que torna tudo mais real, pois tudo na vida tem consequências; e o desenvolvimento do aspeto sobrenatural, que é simultaneamente universal e singular na sua abordagem ao eterno conflito entre o bem e o mal.
Tudo se resume, portanto, a um final que atinge e supera as altas expetativas geradas ao longo da viagem. E que deixa ao mesmo tempo uma certa saudade e uma poderosa sensação de missão cumprida. Como deve ser, naturalmente. 

terça-feira, 3 de maio de 2022

Divulgação: Novidades Saída de Emergência

Este não é um diário comum. Pode utilizá-lo todos os dias. Ou não. Também pode deixá-lo por uns tempos e depois regressar a ele. Ou não.
No estilo a que já nos habituou, Mark Manson apresenta o diário que nos vai ajudar a pensar sobre temas profundos com base em A Arte Subtil de Saber Dizer Que Se F*da.
Os conselhos de Manson são complementados com exercícios que nos vão fazer rir e refletir sobre o que é realmente importante.
Com a sua irreverência única, Manson ajuda-nos a encontrar respostas simples para questões que são aparentemente complexas. Com espaço para as próprias reflexões, este diário permite-nos ver os momentos-chave da vida como as oportunidades de crescimento que eles realmente são.

As fronteiras de Huaxia são defendidas por máquinas de guerra gigantescas movidas pela energia vital de um piloto e da sua concubina. Os combates são violentos e, se os homens sobrevivem, as mulheres são quase sempre sacrificadas. Apesar de saber o futuro trágico que a espera, Zetian alista-se no exército com apenas um objetivo: a vingança.
Graças à sua força psíquica excecional, Zetian sai vitoriosa do confronto e torna-se na Viúva de Ferro, juntando-se à elite de pilotos e fazendo par com Li Shimin, o piloto mais perigoso e controverso de Huaxia.
Agora que sabe do que é capaz, Zetian vai utilizar todas as armas para permanecer viva e lutar contra o sistema patriarcal que governa a sociedade e que despreza a vida das mulheres...

Nos anos que se seguem à coroação de Arthur, a rainha Gwenhwyfar continua as manipulações para assegurar a lealdade do seu marido à igreja cristã, enquanto a sacerdotisa Viviane decide confrontar Arthur pela traição contra Avalon.
Nos bastidores, Morgaine planeia o casamento de Lancelet, que ameaça sucumbir ao desespero pelo triângulo amoroso em que se vê envolvido. Quando a rainha Gwenhwyfar descobre esse plano, jura vingança. Morgaine dedica-se a fortalecer a causa de Avalon enquanto as sacerdotisas tudo farão para resgatar a alma da Grã-Bretanha contra a maré insurgente da Cristandade. Mas que efeitos terá a chegada do jovem Gwydion, filho de Morgaine e Arthur? Irá correr em auxílio do rei ou libertar o caos?

Mary Russell, a brilhante aprendiza de Sherlock Holmes, está prestes a receber uma herança considerável. Finalmente independente, apaixonada pelo divino e pelo trabalho de investigação, o seu mistério mais desconcertante parece agora envolver Holmes e o surgimento de uma afeição profunda pelo aposentado detetive.
Mas as atenções de Russell estão igualmente focadas no Novo Templo em Deus e na sua líder, Margery Childe, uma carismática sufragista e mística, que aparentemente vive muito acima das suas posses. Quando quatro sufragistas do Templo morrem pouco depois de terem alterado os seus testamentos, Russell e Holmes iniciam uma discreta investigação que levará a jovem a enfrentar um perigo maior do que alguma vez imaginou.

Numa grande mansão inglesa, uma mulher seduz uma das figuras mais poderosas e influentes do país – uma manobra cuidadosamente planeada com um objetivo mortal…
De férias em França, Tom Wilde resgata um antigo aluno do campo de detenção de Le Vernet, ao mesmo tempo que os tanques alemães se aproximam da fronteira com a Polónia. Entretanto, o paquete Athenia, com vários americanos a bordo, é atacado no Atlântico. Goebbels defende que o responsável é Churchill, numa jogada preparada para incriminar a Alemanha e atrair a América para a guerra.
Enquanto as várias peças de uma conspiração internacional estão em movimento, Tom Wilde enfrenta um grande perigo pessoal. Quem é Marcus Marfield? E onde reside a sua lealdade?

Segundos depois de levar o cálice aos lábios durante a celebração de um funeral, o padre Miguel Flores morre no altar assassinado pelo sangue de Cristo. A tenente Eve Dallas confirma que o vinho consagrado continha cianeto suficiente para derrubar um rinoceronte. Quem mataria um padre de forma tão súbita e horrível? E quem poderia ter acesso privilegiado ao vinho da comunhão?
A autópsia revela detalhes surpreendentes que sugerem que o «padre Flores» não era quem parecia. Enquanto reúne as pistas que sugerem roubo de identidade, ligações a gangues e um ato profundamente pessoal de vingança, Eve espera apanhar quem cometeu este ato profano. Contudo, a descoberta de um segredo obscuro poderá trazer de volta os demónios de Eve e deitar por terra toda a investigação…

Estará a História desatualizada?
A resposta a esta questão é sim, se considerarmos a História como conhecimento histórico, como resultado do estudo e da investigação sobre o passado. A análise de novas fontes, perspetivas e abordagens permite redefinir o conhecimento que temos, apesar de muitos mitos e ideias da História de Portugal continuarem a ser repetidos e permanecerem no imaginário popular.
Neste sentido, o objetivo deste livro é o de atualizar muitas destas ideias, desmontando, dentro do possível, alguns destes mitos. Tomando por base 29 temas da História de Portugal, desde Viriato até ao legado da memória do império colonial, 28 autores procuraram redefinir aquilo que sabemos sobre estes assuntos. Um livro para quem quer perceber os vários aspetos de uma História longa e complexa, e não tanto os muitos e longos debates académicos que existem sobre cada assunto.

A 25 de maio de 1977, um filme de ficção científica com um orçamento elevado e problemas de produção estreou em apenas 32 cinemas americanos. Idealizado, escrito e realizado pelo, até então, pouco conhecido George Lucas, Star Wars bateu recordes de bilheteira e deu início a uma nova forma de produzir, vender e comercializar filmes.
Lucas foi igualmente responsável por outro blockbuster – Indiana Jones –, transformando completamente o universo dos efeitos especiais e sonoros. A sua ambição e visão inovadora estiveram na origem de empresas revolucionárias como a Pixar e a Lucasfilm.
Brian Jay Jones conta detalhadamente a incrível trajetória do homem que criou Darth Vader, Han Solo e Indiana Jones. Em George Lucas: Uma Vida, os colegas, familiares e concorrentes de Lucas oferecem um olhar fascinante sobre a vida do cineasta, dos seus sucessos e fracassos profissionais e sobre a criação de um império cinematográfico independente com uma influência incomparável.

Laura pode ter deixado subitamente Shane Dominic há mais de uma década, mas ele nunca a esqueceu ou deixou de se questionar sobre as razões da separação. Até que o homicídio de um líder criminoso coloca Laura novamente no seu caminho e dá a Shane uma oportunidade única para descobrir o que aconteceu – nem que para isso tenha de utilizar os meios mais ardilosos para descobrir a verdade.
Os sentimentos de Laura podem ainda ser profundos, mas ela nunca revelará os seus segredos – uma promessa desesperada que fica comprometida quando Shane a mantém refém numa cabana isolada e a submete aos seus caprichos eróticos. À medida que as defesas de Laura cedem, ela não tem escolha senão confiar a Shane uma verdade chocante que os vai expor a um perigo explosivo.

Durante a Pax Romana, as viagens e o turismo conheceram um estrondoso desenvolvimento no Império Romano. Esta estabilidade permitia deslocações nas suas várias formas: por terra e mar; em representação oficial, em estudo ou em turismo; de oficiais, de ricos proprietários, de artistas e artesãos, de enfermos. As cidades adquiriram um novo nível de cosmopolitismo e a religião acolheu novas influências.
Viajando através dos grandes centros culturais, passando pelos antigos monumentos e pelas províncias mais afastadas, Falx explora o vasto Império Romano numa jornada que permite ao leitor mais sedentário experienciar com vívido detalhe a vida no Império.

A paz na Europa tem sido historicamente efémera. Desde o século XVIII, a discussão intelectual e política em busca de uma paz duradora incluía uma ideia de unificação.
Através de filósofos como Rousseau e Kant, e de estadistas como o Czar Alexandre I, Woodrow Wilson, Winston Churchill, Robert Schuman e Mikhail Gorbachev, Stella Ghervas apresenta‑nos cinco conflitos‑chave nessa busca por sistemas de paz na Europa: a Guerra da Sucessão Espanhola, as guerras napoleónicas, as duas guerras mundiais e a Guerra Fria. Cada momento gerou um renovado «espírito» de paz entre as forças vivas, procurando construir mecanismos e instituições capazes de prevenir guerras futuras.
Procurando uma continuidade desde os ideais do Iluminismo, passando pelo Concerto das Nações do século XIX, até às instituições da União Europeia, este livro apresenta a paz como o valor que marcou uma ideia de Europa unificada muito antes de a União Europeia nascer.

James Cordier é um mestre do disfarce, um ladrão brilhante e um amante de primeira classe. A sua derradeira missão é resgatar um pacote de cartas incriminatórias que estão na posse de uma mulher caída em desgraça. Só depois poderá regressar a Londres e deixar para trás uma vida de intrigas.
Desprezada pela sociedade depois de um divórcio escandaloso, Francesca Bonnard é a mais famosa cortesã de Veneza. Bela, inteligente e educada, ela é versada nas artes da sedução, e os homens são apenas meios para chegar a um fim. E o próximo candidato está à distância de um passeio de gôndola…
Contudo, James não é o único à procura das cartas. E tudo se complica quando a química explosiva dá lugar a um duelo de sedução. No entanto, arriscar tudo pode valer a pena para alcançar o verdadeiro amor.

O tempo é de turbulência política à medida que o rei Eduardo começa a perder o controlo sobre os seus sucessores e apoiantes. Há dois herdeiros e dúvidas sobre a frágil união dos reinos do Wessex e da Mércia. Apesar das tentativas para o comprometer na luta política, Uhtred de Bebbanburg só está interessado na sua amada Nortúmbria – e na sua independência em relação ao Sul.
Contudo, um juramento é um compromisso quase sagrado, e tal promessa foi trocada entre Uhtred e Æthelstan, agora um potencial rei. Uhtred tentou ignorar as exigências do juramento e permanecer na sua fortaleza no Norte, mas um ataque e um inesperado pedido de ajuda levam-no até ao Sul, para a batalha pelo reino… e pelo destino de Inglaterra.

O Segredo do Bem-Estar Instantâneo (Dra. Olivia Remes)

Atingir um estado de bem-estar na vida é um objetivo praticamente universal, mas nem sempre é fácil concretizá-lo e muito menos mantê-lo. Das pequenas preocupações aos grandes traumas, passando por perdas, separações e inseguranças, são muitos os caminhos que conduzem à ansiedade. Ainda assim, há formas de contrariar essas tendências, e é sobre elas que este livro se debruça, numa visão sucinta mas interessante da ciência das emoções.
O primeiro aspeto a salientar neste livro será inevitavelmente a organização. Dividido em dez temas, parte do aparentemente mais ligeiro e vai avançando para questões de impacto mais profundo, o que permite uma perspetiva de evolução gradual. E, ainda assim, com a sua estrutura comum aplicada à diferentes facetas, cada secção é um todo independente, respondendo a uma pergunta específica.
Sendo um livro relativamente breve, é expectável a sua concisão. E dividido entre a ação básica, as bases científicas e algumas estratégias, consegue, apesar de abranger o essencial, deixar uma certa curiosidade em aprofundar o assunto. Neste sentido, o livro acaba por ser também um bom ponto de partida da perspetiva científica, pois sao inúmeras as referências citadas ao longo do texto.
Claro que, numa abordagem tão breve, poderá ficar porventura a sensação de uma visão demasiado fácil. Mas, olhando bem, talvez não seja bem assim, pois as estratégias podem parecer simples, mas fazem sentido sobretudo de uma perspetiva maior. E, assim sendo, este é, mais uma vez, apenas o ponto de partida.
O que fica, então, desta leitura é a impressão de uma visão sucinta, mas muito clara, sobre os entraves que podem surgir ao bem-estar e como lidar com eles. Sem soluções perfeitas, mas com uma boa base para reflexão e crescimento num caminho que cabe a cada um percorrer. 

domingo, 1 de maio de 2022

Verdade ou Consequência (M. J. Arlidge)

A violência parece estar a intensificar-se na cidade, com uma vaga de crimes brutais e sem aparente explicação. E, à medida que os casos se acumulam, a reputação da polícia vai também sendo fragilizada. Helen Grace tem em mãos toda uma sucessão de casos desconcertantes, além de uma perigosa divisão interna provocada pelo seu outrora amante e agora inimigo. A tensão é sufocante. Mas, com o intensificar da violência, começam também a surgir elos de ligação. E o que pareciam ser casos isolados são, na realidade, fios de uma teia complexa.
Parte da grande força desta série - e escusado será dizer que este livro não é exceção - é a inesgotável capacidade de surpreender. Desde as circunstâncias iniciais dos casos aos desenvolvimentos a nível de relações internas, e sem esquecer, naturalmente, a progressão das pistas, tudo é inesperado e impressionante, abrindo caminho a um crescendo de intensidade que faz com que seja praticamente impossível não querer saber o que acontece a seguir.
Outra das grandes qualidades, e também recorrente nesta série, é a construção das personagens. Já são habituais as personagens que é fácil adorar, e outras que adoramos odiar. E Helen Grace é Helen Grace, em toda a sua imperscrutável glória. Mas é também impressionante como cada livro traz à tona novas facetas, novos elos de ligação e novos obstáculos a superar. Tanto nas personagens já conhecidas como nas novas, há sempre desenvolvimentos intensos e uma complexidade subjacente que torna os comportamentos imprevisíveis.
Quando ao caso específico deste livro, importa destacar dois elementos. Primeiro, o equilíbrio entre complexidade e intensidade, que mantém o mistério vivo até ao fim e serve também de base a vários momentos de ação fulgurante. E depois que, ainda que, como é característico desta série o caso tenha uma linha central independente, a história global está longe de estar terminada, o que deixa uma vontade bastante irresistível de ler o próximo volume o mais rapidamente possível.
Intenso e viciante, com um equilíbrio perfeito entre tensões familiares e novos desafios e a imprevisibilidade que tão bem define as bases desta série, eis pois mais um volume que atinge e supera as expectativas. E que cativa do início ao seu poderosíssimo fim. Brilhante, como habitual.