Anton, Liv, Max e Martina são melhores amigos desde que se lembram. Têm também uma vida de privilégio, como fica bem claro a partir da grande festa de passagem de ano que estão prestes a partilhar - só os quatro, porque é assim que preferem. Por detrás dos comportamentos infantis, das provocações e dos preconceitos, escondem-se, contudo, alguns segredos mais tenebrosos. E, à medida que a noite avança e as verdades começam a surgir, começa também gradualmente a formar-se um plano. Porque os seus maiores inimigos são os que estão mais próximos. E os quatro amigos não se importariam nada de se livrar deles.
É inevitável não começar por referir um aspeto bastante evidente deste livro, mas que define também os seus limites: é bastante breve. E, por ser bastante breve, o desenvolvimento do enredo e, sobretudo, das personagens, acaba por ser bastante conciso. Tudo gira em torno dos quatro amigos e dos seus traumas, e é aí que estão os momentos mais marcantes, ainda que também as maiores ambiguidades. Já quanto ao grande acontecimento no cerne de tudo: é breve. E tem o seu impacto, ainda assim, mas talvez pudesse ter sido explorado mais a fundo.
Dito isto, e apesar do registo bastante mais breve do que o habitual para a autora, não deixa de ser uma leitura cativante. E por várias razões. Primeiro, a escrita fluida e a oscilação entre diferentes pontos de vista criam uma envolvência pontuada por momentos de surpreendente tensão. Depois, o equilíbrio entre as diferentes personalidade significa que as relações não deixam de ter a sua complexidade, apesar da concisão. E, além disso, há várias surpresas ao longo do percurso que tornam inevitável a curiosidade em querer saber o que acontece a seguir.
Finalmente, sobressai um último ponto. É que, embora ambíguas (no mínimo) quanto à sua moralidade, as histórias dos quatro amigos não deixam de projetar uma reflexão interessante sobre certas facetas da sociedade: os vícios, a violência, os segredos, a infidelidade... enfim, as inúmeras coisas que se podem esconder atrás de portas fechadas. E o facto de as personagens não serem perfeitas projeta uma visão interessante: uma vítima não tem de ser perfeita para ser vítima.
Tudo se resume, portanto, a uma impressão bastante simples: a de uma história que podia certamente ter sido mais longa, mas que, mesmo na sua brevidade, não deixa de ter vários pontos de interesse. E de proporcionar bons momentos de leitura, independentemente do que fica sem resposta.
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