segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Terra (Eloy Moreno)

O homem mais rico do mundo - e um dos mais odiados - está gravemente doente e a morte é certa, mas não quer partir sem uma derradeira demonstração do seu poder. E fá-lo não só com um discurso arrasador ao seu vastíssimo público, mas deixando um último desafio aos filhos. Dedicou a vida a enriquecer a qualquer preço. Mas agora o caminho da verdade está próximo. E pode ser devastador. 
Provavelmente a maior qualidade deste livro está na evidente relevância dos temas, com as alterações climáticas em primeiro plano, mas abordando também questões como a dinâmica das redes sociais, a capacidade de influenciar da televisão e a desigualdade de circunstâncias gerada pela riqueza. Não falta, pois, matéria para reflexão e basta isso para que a leitura valha a pena. 
Outro ponto forte está na capacidade de transpor todas estas questões para uma narrativa fluida, cativante e até surpreendentemente leve. Os capítulos curtos e a oscilação entre momentos e perspetivas conferem ao enredo uma intensidade viciante, o que, somado à sucessão de surpresas, prende do início ao fim. 
Quanto à construção das personagens, fica uma ligeira ambiguidade, resultante não só de alguns pontos que ficam em aberto do passado, mas também do facto de nenhuma delas ser do género que desperta empatia absoluta. Sendo certo que faz sentido que assim seja, atendendo às circunstâncias da história e à mensagem subjacente. 
Intenso e viciante, suficientemente ambíguo para recordar as imperfeições da humanidade e carregadinho de matéria importante para ponderar, trata-se, pois, de um livro simultaneamente leve e profundo, complexo quando baste, mas surpreendentemente leve de se ler. E tudo isto converge, enfim, em algo muito simples: uma boa história e uma leitura marcante.

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