terça-feira, 31 de julho de 2012

A Saga de Alex 9 (Bruno Martins Soares)

Enviada para o espaço com uma missão de contornos misteriosos, Alex 9 tem como maior trunfo a sua perícia nas artes do combate, resultado do treino administrado pela corporação que a adoptou. Mas há demasiadas coisas que Alex não compreende e não tarda até que as coisas comecem a correr mal. Sem saber exactamente o que aconteceu, Alex dá por si num outro planeta, com características muito semelhantes às da Terra, mas com povos e um estado de evolução muito diferentes. E em guerra. Assim, Alex vê-se envolvida nos conflitos da Segunda Terra, um mundo em que o tempo parece aproximar-se à época medieval, mas onde há sinais de um conhecimento que não deveria existir naquele cenário. E, ao mesmo tempo que, no seu mundo de origem, outras forças em guerra parecem determinadas em interferir na sua missão, Alex descobre-se no centro de uma profecia e de um destino que mal consegue vislumbrar.
Ainda que os dois primeiros volumes tenham já sido publicados em livros separados, nada se perde ao ler toda a saga de seguida. Muito pelo contrário. Sendo este um mundo tão vasto em pormenores e com um tantas personagens para descobrir, há toda uma série de pormenores e pequenas pistas a (re)assimilar, permitindo ter mais presente o passado ao chegar ao volume final e às novas revelações. Assim, mesmo para quem já leu os volumes anteriores, vale a pena reler e acompanhar, desde o início, as aventuras de Alex 9. Até porque há muito de bom para descobrir nesta saga.
Apesar de apresentar um mundo complexo e rico em pormenores, sendo de realçar neste aspecto a forma como o autor encaixa no seu cenário aspectos característicos de diferentes culturas, a história nunca perde envolvência. As descrições são apresentadas de forma gradual, encaixadas numa história onde a acção é uma constante e o percurso de crescimento das personagens é marcado por um ritmo intenso de acontecimentos. Sem pausas, sem momentos mortos, há sempre algo interessante a acontecer, e é isso, principalmente, que alimenta a curiosidade em saber mais.
A este ritmo compulsivo e ao mundo (ou mundos) cuidadosamente construído, junta-se um conjunto de personagens carismáticas. Dos protagonistas, destaca-se a força, aliada a uma interessante filosofia de vida e a uma personalidade carismática. Dos que os rodeiam, marcam as relações que vão sendo reveladas, bem como o papel inesperadamente importante em alguns dos grandes eventos.  Tudo isto com a acção como foco essencial, mas sem perder de vista as características de personalidade que despertam empatia e a forma como as personagens encaixam no cenário em que se encontram.
Conjuga-se, assim, toda uma série de elementos muito diferentes, para dar forma a uma história surpreendente e que é desenvolvida num equilíbrio quase perfeito entre todos esses aspectos. O resultado é um enredo viciante e cheio de acção, complexo, mas sempre envolvente e com um vasto e surpreendente mundo para descobrir. 
Cativante em todos os aspectos, com um núcleo de personagens tão fascinante como o mundo em que se movem, A Saga de Alex 9 desenvolve, a um ritmo impressionante e com as medidas certas de acção, mistério e emoção, uma história que, culminando num final intenso e surpreendente, transcende, em muito, o percurso da sua protagonista. A impressão global é, pois, a mais positiva. Recomendo.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

A Sereia (Carolyn Turgeon)

Tudo indica que a guerra esteja iminente entre os reinos do Norte e do Sul. Foi essa a razão que levou o rei do Norte a enviar a sua filha Margrethe para um convento, onde o anonimato lhe permitisse ficar segura. Mas a tranquilidade dos dias da princesa é abalada na noite em que uma sereia emerge das águas com um homem ferido nos braços. Passam apenas alguns instantes antes que a sereia desapareça, mas bastam para Margrethe se convença de que aquele homem ali deixado e a ordem da sereia para que o salve têm uma razão de ser. E mais certezas ganha quando descobre a identidade do estranho. Mas, enquanto Margrethe se lança no seu plano para impedir a guerra, movida tanto pelo desejo de paz como pela vontade do seu coração, também a sereia sacrifica parte de si pelo belo estranho. Pois a razão do salvamento não era bem a que Margrethe imaginava... e nem só o seu coração anseia pelo desconhecido.
Sendo este livro, na sua essência, uma recriação do conto A Pequena Sereia, não é nenhuma surpresa que os principais acontecimentos da história não sejam propriamente difíceis de prever. Ainda assim, a autora consegue criar uma versão própria da história. Envolvente, com uma escrita fluída e agradável e uma descrição particularmente cativante do ambiente, a história é contada de forma directa, sem grandes elaborações, mas com o toque certo de magia e uma boa dose de emoção.
Contada dos pontos de vista da princesa e da sereia, a narrativa centra-se, em grande medida, nestas duas personagens. Assim, a nível de caracterização de personalidades e até das relações criadas entre personagens, grande parte do enredo gira em torno de Lenia e Margrethe. Assim, cria-se uma certa proximidade com estas duas personagens, já que as suas motivações e experiências complementam a sua natureza para criar uma boa relação de empatia. Há, contudo, uma contrapartida: personagens que são, também, relevantes para o enredo, como é o caso do príncipe Christopher, acabam por ser desenvolvidas apenas através do que as duas mulheres vêem, deixando muito por dizer sobre as suas próprias vivências e personalidades.
Há, também, um grande potencial a nível de mundo e que acaba por ser desenvolvido de forma muito abreviada. A história funciona bem, na sua simplicidade, e a leitura nunca deixa de ser envolvente, mas há uma base interessante no mundo das sereias e nos conflitos entre os dois reinos, que acaba por funcionar como um elemento muito secundário na história, apesar de ter potencial para um desenvolvimento bastante mais vasto.
Esta é, portanto, uma história muito simples, em que o mundo apresentado e as suas muitas potencialidades são simplesmente a base para uma história que vive essencialmente das suas protagonistas. Mas, mesmo assim, e apesar da curiosidade que fica em saber mais sobre o ambiente e as personagens deixadas por desenvolver, A Sereia revela-se, na leveza da sua história, como uma leitura envolvente, com duas protagonistas cativantes e alguns momentos enternecedores. Gostei de ler.

domingo, 29 de julho de 2012

Uma Carta Inesperada (Barbara Taylor Bradford)

No dia em que Justine Nolan abre uma carta dirigida à mãe e enviada de Istambul, a sua vida muda. A carta é curta, simples. Vem sem remetente e o nome da mulher que a assina é-lhe completamente desconhecido. Mas traz uma revelação devastadora: a avó, que, segundo a mãe, morrera anos antes num acidente de viação, está afinal viva e bem, mesmo que a sofrer pela separação que a filha lhe impôs. Justine e o irmão não têm dificuldades em acreditar no que lêem. Mas, mais que a vontade de confrontar a mãe, importa descobrir onde se encontra a avó e, por isso, Justine parte para Istambul em busca de respostas. Mas encontrar Gabriele é apenas o início das revelações...
Com uma escrita directa e envolvente, sem grandes divagações ou elaborações, esta é uma história que vive, em grande medida, dos mistérios na vida das suas personagens. É este mistério que, desde as primeiras páginas desperta curiosidade, que dá envolvência à narrativa e que torna as personagens interessantes, com a sua busca e o que os move. Além disso, há vários aspectos, no decorrer da narrativa, que surpreendem pelo potencial que revelam, destacando-se, como não podia deixar de ser, a grande revelação de Gabriele e da sua história em plena Segunda Guerra Mundial.
Um outro aspecto bem conseguido é a caracterização de Istambul. Construído de forma gradual, tal como a descoberta que Justine faz da cidade enquanto a percorre em busca da avó, o retrato da cidade é feito de forma cativante e tentando transmitir o máximo da sua beleza, o que cria a agradável sensação que acompanha a descoberta - mesmo que à distância - de um lugar diferente. Esta beleza contrasta, também, com o lado mais sombrio, que será revelado com o passado de Gabriele.
Também a nível de personagens, há várias figuras cativantes e de grande potencial. É, naturalmente, o romance entre Michael e Justine que se destaca, mas, mais que a história da sua relação, são os seus percursos individuais que os tornam cativante: Michael pela sua ocupação misteriosa, Justine pela persistência na sua busca. E a estes juntam-se outras figuras secundárias, mas igualmente relevantes, como Anita, com a sua amizade e a paixão pela cidade que a acolheu, ou Joanne com o companheirismo e a devoção oferecidas a Richard.
Há, portanto, um vasto potencial nesta história, quer a nível de temas, quer a nível das personagens que intervêm na narrativa. Fica, contudo, a impressão de que esse potencial não foi completamente explorado, sendo alguns dos elementos explorados de forma demasiado apressada. Isto evidencia-se, em particular, na forma como Richard e Justine tiram conclusões a partir de um conhecimento reduzido. Mesmo que a sua posição se venha a revelar acertada, a sua facilidade em julgar e tomar partidos faz com que uma figura também com muito potencial - a mãe de ambos - acabe por ser caracterizada apenas de forma distante, sendo mostradas as suas más acções e pouco mais. Juntem-se a isto alguns momentos em que fica a sensação de que mais haveria a dizer, e a impressão que fica é a de que, apesar de interessante tal como é, esta história podia ter sido muito mais.
Trata-se, assim, de uma leitura cativante, com uma boa história e vários momentos marcantes. Apesar de perder um pouco pela abordagem apressada a alguns dos mistérios e experiências das personagens, Uma Carta Inesperada apresenta, ainda assim, uma história envolvente, com alguns momentos surpreendentes e, somando todos os seus elementos, uma leitura agradável. Gostei, portanto.

sábado, 28 de julho de 2012

O Transplantado e o Fim|gimento (José Baptista Coelho)

Do ser e da vontade, de afectos e sentimentos, mas também de uma visão sobre o mundo e das reflexões por esta evocadas, trata este conjunto de poemas, em que, na maioria dos casos, a forma se molda ao conteúdo, num estilo relativamente livre (apesar de algumas limitações nos poemas em que o autor opta pela rima) e com uma construção muito própria de imagens e de emoções. As palavras fluem com naturalidade, de forma quase simples, por vezes, enquanto que, noutros casos, se conjugam numa construção mais elaborada, para criar uma imagem global mais complexa. Em qualquer dos casos, a mensagem sobrepõe-se aos recursos estilísticos, que estão presentes em força, mas que nunca tornam a escrita demasiado confusa. O conteúdo nunca se perde nas complexidades da forma.
A nível de temas, há uma relativa diversidade, mas quase sempre centrada num mesmo (ou similar) sujeito poético. O "eu" desempenha um papel fundamental nas imagens e nas emoções expressas em cada poema, quer na expressão de um crescimento ou percurso de aprendizagem para esse mesmo sujeito poético, quer na interacção com um interlocutor por identificar, mas com uma presença inexorável nas experiências que se reflectem nos poemas.
À expressão de afectos presente nesta poesia junta-se ainda a visão pessoal de um indivíduo perante o mundo. Nesta, evidenciada pelos obstáculos referidos com relativa ambiguidade, cria-se um contraste de perspectivas. Alguns dos poemas reflectem esperanças, contemplações, enquanto que outros parecem evocar a imagem de um lado mais sombrio para a vida. A este contraste juntam-se os estruturais: os poemas mais simples contrastam com os de imagens mais elaboradas; as limitações impostas pela rima opõem-se à maior liberdade dos que não a têm; a intensidade dos textos mais breves contrasta com o tom mais vago e contemplativo dos poemas mais longos.
O que fica desta leitura é, assim, a percepção de um conjunto envolvente, com um estilo de escrita cativante e fluído, mesmo nos poemas de maior elaboração na linguagem, e em que alguns poemas se destacam pela intensidade que os torna verdadeiramente marcantes. Gostei, portanto.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Ben-Hur (Lew Wallace)

Judah Ben-Hur, o filho de um príncipe de Jerusalém, vive na prosperidade que a sua posição lhe confere apesar da autoridade romana. Mas tudo muda no dia em que, ao debruçar-se para assistir ao cortejo, o jovem derruba uma telha que atinge o novo governador romano. Não passa de um acidente, é certo, mas os romanos vêem as coisas de outra forma, principalmente a partir do momento em que Messala, em tempos um amigo, mas agora obcecado pela superioridade da sua raça, é o primeiro a proferir acusações. Judah é condenado a servir como escravo nas galés e a sua família é aprisionada. As últimas palavras do jovem judeu são, por isso, de vingança e, quando as intrigas do destino o arrancam, por fim, à pena a que foi destinado, é a queda de Messala que, juntamente com a busca da sua família, tomam o domínio dos seus pensamentos. Mas há mais a acontecer, naquele tempo, e espalham-se novas de uma criança - que se tornará homem - e que está destinado a ser o Rei dos Judeus.
Ainda que, se for necessário nomear um protagonista para este livro, ele seja, inevitavelmente, Ben-Hur, também é certo que este livro está longe de se concentrar apenas na sua história. Na verdade, há duas linhas narrativas que, por vezes se tocam, e cujas relações se tornam mais evidentes com o evoluir do enredo, mas que começam por funcionar de forma quase independente. Os primeiros capítulos são, até, dedicados a essa narrativa, aparentemente secundária, que é a da chegada do Messias, centrando-se na caminhada dos magos do Oriente em busca do bebé que há-de ser Rei dos Judeus.
Para estas duas histórias tão diferentes, apesar dos seus muitos pontos em comum, há também ritmos diferentes. Todo o livro se caracteriza por um ritmo relativamente pausado e com uma extensa componente descritiva, mas estes aspectos são muito mais evidentes nos capítulos dedicados a Cristo que na parte da história que diz respeito a Ben-Hur e Messala. É nesta, aliás, que se encontra a maioria dos momentos mais marcantes (com a natural excepção dos acontecimentos finais, que dizem respeito a ambas as linhas de acontecimentos), os grandes pontos de viragem e as acções mais relevantes. Isto deve-se tanto à perspectiva mais pessoal dos acontecimentos, respeitantes a um núcleo mais reduzido de personagens e, por isso, mais próximos, como à caracterização mais completa da personalidade e do valor do protagonista.
Se, durante grande parte do enredo, as figuras principais de ambas as histórias mal se cruzam, já a fase final torna as ligações inevitáveis. Isto faz com que, por um lado, a história cresça em intensidade, até porque a descrição dos acontecimentos de Gólgota é particularmente impressionante, mas, por outro, leva a que a resolução de algumas questões surja de forma algo vaga. O que aconteceu, por fim, a Messala e a Iras e os passos que levaram, no fim, à forma de vida que é apresentada, nas últimas páginas, para Ben-Hur e a sua nova família, são aspectos descritos de forma demasiado sucinta, o que deixa a sensação de algumas perguntas sem resposta.
Dificilmente se poderá considerar este livro como uma leitura compulsiva, já que o ritmo pausado, as longas descrições e alguma dispersão nos acontecimentos das duas histórias que o constituem, exigem bastante atenção para acompanhar o passo dos eventos. Trata-se, ainda assim, de uma história complexa e cativante, com momentos realmente impressionantes e uma caracterização bastante precisa para a época e o ambiente apresentados. Uma obra interessante e uma boa leitura.

Novidade Bertrand


Na década de 80, um B-52 norte-americano despenha-se nas montanhas da fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão. Quase trinta anos mais tarde, uma verdade terrível será revelada. 
Jonathan Ransom regressa na qualidade de médico engenhoso que se vê lançado num mundo obscuro de agentes duplos e triplos, onde não se pode confiar em absolutamente ninguém. Para se manter vivo, Ransom tem de desvendar o mistério que envolve a sua mulher – uma espia enigmática e letal que segue as suas próprias regras – e descobrir a quem ela é realmente leal. 
Um romance magistral que faz jus à reputação de Christopher Reich de ser um dos mais admirados escritores de thrillers de espionagem da actualidade. 

Christopher Reich é o autor dos  best-sellers«Regras da Vingança», e «Regras do Fingimento». 
Ganhou o  International Thriller Writers Award for Best Novel em 2006. Vive no Sul da Califórnia com a mulher e as filhas. 

quinta-feira, 26 de julho de 2012

Milagre de Amor (Eloisa James)

Alguns beijos, uma indisposição e um vestido com um corte mais amplo bastaram para comprometer a reputação de Linnet Berry Thrynne. Agora, todos pensam que ela espera um bebé do príncipe Augustus, e a hipótese de que este case com ela nem sequer se considera. Assim, a melhor hipótese de salvar a reputação parece ser aceitar um casamento com o conde de Marchant. Mas acontece que Piers Yelverton também tem uma fama complicada. Apesar de ser um médico brilhante, Piers é dono de um temperamento, no mínimo, irascível, e uma antiga lesão parece tê-lo tornado... incapaz. Assim, a perspectiva de uma esposa já grávida parece ser a solução para os problemas de todos. O problema é que Piers não concorda com esse ponto de vista...
Tendo na evolução do romance entre os protagonistas o ponto central da narrativa, não é de surpreender que o mais cativante neste livro sejam as personagens. Ambos com temperamentos fortes e com um passado que, ainda que de formas diferentes, deixou as suas marcas, Linnet e Piers têm em comum mais do que seria de esperar. E isso evidencia-se desde as primeiras páginas, com a forma veemente como Linnet responde perante a família quando as acusações são feitas e o passado é trazido à memória, e com os métodos usados por Piers para lidar com os seus pacientes e com os outros médicos. Na verdade, a evolução de Piers é particularmente cativante, já que, com assumidas influências do protagonista da série House M.D., as semelhanças são inicialmente evidentes, mas o carácter do protagonista evolui, com o desenvolvimento do enredo, para uma identidade própria.
Se as personalidades individuais dos protagonistas são, por si só, cativantes, o resultado da interacção entre ambos revela o melhor dos seus temperamentos. Igualmente teimosos, com o mesmo invulgar sentido de humor e com pontos de vista mais semelhantes do que qualquer um deles gostaria de admitir, Piers e Linnet completam-se na perfeição e a forma como a sua relação cresce, de forma gradual e com alguma relutância envolvida, torna-se mais cativante pela naturalidade com que o afecto surge, sem paixões avassaladoras, mas com um afecto crescente, que se releva na sua máxima intensidade quando a situação se torna de vida ou morte.
Mas o enredo não se resume ao romance entre Piers e Linnet e há dois elementos que se destacam. Todas as circunstâncias relativas à epidemia de escarlatina - acontecimento dominante na fase final da narrativa - permitem um desenvolvimento bastante interessante dos conhecimentos e dos meios à disposição dos médicos da época. E a história do reencontro entre o pai e a mãe de Piers, com todas as mágoas e sentimentos contidos durante demasiados anos, proporciona uma emotividade diferente, já que o afecto deste segundo casal é, em muitos aspectos, diferente da mais veemente e impulsiva paixão entre os protagonistas.
De leitura viciante, com uma história cativante e um ambiente bem construído, personagens carismáticas e as medidas adequadas de tensão, humor e emoção, Milagre de Amor proporciona uma leitura cativante, enternecedora, por vezes, e surpreendente em vários aspectos. Uma óptima surpresa.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Contos do Nosso Tempo

Diferentes temas e estilos de escrita caracterizam esta antologia em que o único elo comum é o formato dos textos. Contos, longos ou breves, mais ou menos abstractos, com formas de escrita mais simples ou mais poéticas, são o que constitui este livro que abre com um Prefácio, em que o organizador, Miguel Almeida, reflecte sobre o que define o conto e quais são, afinal, os objectivos desta antologia.
São muitos os autores presentes nesta antologia que abre em beleza. Laura Pérola, de Álvaro Gomes, história de uma mulher que visita a sua possível filha adoptiva, apresenta uma narrativa terna e envolvente, escrita de forma quase poética e com um toque de crítica social. Marca principalmente pela beleza da escrita e pela forma como, sem perder de vista o lado pessoal e emotivo, aborda várias questões pertinentes.
Ana Fonseca da Luz participa nesta antologia com dois contos. Só Nós Três é que Sabemos relata o primeiro dia de um casal recém-divorciado, de forma simples, mas cativante e com um final surpreendente. Já em A Minha Tia Graça a história é a de uma criança que admira uma mulher independente. O ritmo é pausado e o conto é bastante descritivo, mas a escrita é envolvente neste interessante conto sobre liberdade e solidão.
Domingo Mergulhado na tua Boca, de Ana Maria Domingues, mistura amor e sensualidade numa história que, apesar de um pouco confusa, surpreende pela escrita poética e pelas imagens peculiares que evoca. Longo, torna-se, contudo, algo disperso, perdendo de vista os acontecimentos concretos.
Seguem-se dois contos de António J. de Oliveira. Resquícios de Humanidade!... trata da passagem do tempo na terra e nos homens. Introspectivo, mas com um toque de crítica à sociedade actual, torna-se um pouco amargo nos pontos de vista do protagonista e da visão que a idade lhe deixou sobre a vida. A Construção do Sentimento, por sua vez, é a história de um nascimento peculiar e da passagem do tempo. Envolvente, apesar de se dispersar um pouco em divagações, marca principalmente pelo final enternecedor.
Conto das Flores, de Carlos Almeida, apresenta a história de um dia em que choveram flores, numa mistura de situações de rotina e pontos de viragem, com algo de reflexão sobre a vida e a passagem do tempo. Cruzando diferentes vidas numa história envolvente, ainda que um pouco divagativa, surpreende também a forma como, no final, todas as partes estão, de alguma forma, relacionadas.
Em Etopeia, Carlos Vilela conta a história de um escravo tornado descobridor. O enredo e a contextualização são interessantes, ainda que a escrita, explorada numa tentativa de se assemelhar em tom à expressão da época em que decorre a narrativa, deixe uma sensação de distância e estranheza.
Segue-se Mundo Subterrâneo, de Catarina Coelho, história de uma fada que cai para um mundo sombrio. Em parte conto de fadas, trata-se, ao mesmo tempo, de uma envolvente história de crescimento e de uma bela e vasta metáfora para o ciclo de dor e recuperação que marca muitas das mudanças na vida.
Também Cecília Vilas Boas participa nesta antologia com dois contos. A Pérola, uma simples mas cativante viagem ao imaginário, marca pela inocência que evoca, mas perde um pouco pelos diálogos algo forçados. E Cartas de Amor, história de um amor de juventude recordado, apresenta também uma história cativante, mas o ritmo apressado dos acontecimentos deixa a sensação de qualquer coisa em falta.
Visão Incerta do Sonho, de Cristina Correia, trata da vida enquanto percurso de mudança, numa história cativante e com alguns momentos comoventes, ainda que um pouco apressada na resolução de algumas situações.
Um dos melhores contos deste livro é A Mulher que Não Queria Parar de Viver, de Daniela Pereira. História de uma mulher que recebe más notícias na sequência de um exame, trata-se de um conto envolvente, comovente no contraste entre a vontade de viver da protagonista e a inevitabilidade dos factos, e construído com uma escrita fluída e cativante. Emotivo e, ao mesmo tempo, curioso com a sua reviravolta inesperada, um conto belo e marcante.
Das inconveniências da vida no paraíso trata As (In)conveniências de Deus, de Emílio Miranda. Um pouco confuso, mas com uma premissa muito interessante, esta é uma caricata e surpreendente história sobre o apocalipse, visto de uma perspectiva diferente. Já em O Espanta-Pardais, de Humberto "Jimmy David" Oliveira, uma mulher regressa à sua terra natal para se encontrar com a matéria dos seus pesadelos, num conto pausado e descritivo, com um tom um pouco distante, mas misterioso, cativante e surpreendente.
Seguem-se quatro contos de João Carlos Silva. O Homem que Tinha Medo dos Sonhos trata de um homem e do seu controlo sobre si mesmo. Pausado, mas envolvente no rumo dos acontecimentos, uma interessante reflexão sobre possíveis excessos de racionalidade. Fumar ou Não Fumar, Eis a Questão: Um Monólogo "Filosófico" tem como bases um cigarro e a necessidade de um pensamento profundo, numa história muito breve, mas cativante pela peculiaridade da situação que apresenta. Interessante ainda a ambiguidade em torno do que é um "pensamento profundo". Inferno, por sua vez, apresenta uma visão de pesadelo e uma cidade infinita, num conto curto, mas detalhado nas descrições e com um bem conseguido crescendo de intensidade. Por último, Branco trata da luta contra o vazio, num conto muito curto, mas intenso, que apresenta uma precisa representação da necessidade humana de encontrar um sentido.
O conto que se segue é de João Pedro Duarte. A Balada Irlandesa trata da vida depois de um divórcio e da necessária mudança de rumo, numa história de emoções, simples, mas envolvente e emotiva e que encerra de forma surpreendente.
Maria Eugénia Ponte participa também com dois contos. Amor sem Tempo, um simples e curto conto sobre as dificuldades da vida de um casal, apresenta uma ideia interessante, mas falta-lhe algum desenvolvimento, já que muito é deixado por explicar e as coisas acontecem demasiado depressa. Eu Não Pedi para Nascer é a história de uma gravidez indesejada vista pelo bebé em formação. Também aqui a ideia é interessante, mas demasiado simples, tendo em conta o tema. Fica a impressão de que demasiado é deixado por aprofundar, quer em pensamentos, quer em acções.
Alteridades Traídas: O Caos da Página em Branco, de Maria Helena Almeida Lopes, fala da falta de palavras e de um encontro com a morte. Um pouco confuso, com um ambiente quase abstracto e uma escrita bastante elaborada, apresenta, ainda assim, uma ideia interessante.
Segue-se Lisistrata de Fazer por Casa, de Miguel Almeida. Ora caricata, ora introspectiva, esta é um a história de incompreensão entre um casal e de uma greve de sexo. Cativante, de leitura agradável, perde por ser um pouco repetitivo.
Nanda Rocha participa nesta antologia com três contos. Parabéns, Cristina trata do crescimento, dos erros e das tribulações da vida, numa história simples, mas cativante e com alguns momentos enternecedores. O Lamento da Formiga, história de uma formiga que não se sente bem na colónia a que pertence, apresenta uma breve reflexão sobre a importância do ambiente circundante para o bem estar de cada um. E Um Encontro Ocasional fala dos enganos das ligações virtuais, num conto curioso, com uma ideia interessante, mas que peca pela brevidade, já que tudo acontece demasiado depressa.
Seguem-se dois contos de Rúben de Brito. O Tesouro do Capitão relata a busca, destinada a fracassar, por um tesouro. Com um bom início e uma ideia cativante, a história torna-se, por vezes, confusa e o tom distante faz com que, apesar dos acontecimentos trágicos, nenhuma personagem desperte empatia. A Bela Adormecida apresenta uma nova versão do conto infantil que dá nome à história. Muito descritiva, mas cativante, aproxima-se, por vezes, demasiado das versões já conhecidas, mas surpreende pelo final.
As participações dos dois últimos autores são também as mais vastas em número de contos. Sérgio Sá Marques apresenta sete pequenos contos. A Porta da Avenida relata, de forma breve, mas agradável, apesar da ambiguidade nas reflexões dos protagonistas, um encontro entre amigos. A Rota dos Ovos fala de uma saída para ir às compras, num curto e cativante episódio sobre o medo de ambientes estranhos. Deixa-os Pousar, apresenta dois irmãos a espantar pardais e a história, breve e envolvente, de uma relação complicada, mas que representa bem os atritos entre irmãos. Fábula da Casa da Selva é uma fábula sobre os meandros da selva política, caricata, mas cativante no sistema que apresenta. Também Luta no Poleiro segue o mesmo rumo, sendo também uma curta e interessante fábula sobre a luta sobre o poder. Mistério, por sua vez, apresenta uma criança e um mendigo como base para uma reflexão sobre as desigualdades e a forma como a inocência contempla os mistérios. Um conto com uma mensagem marcante, apesar de algo divagativo. Por último, Supremo Alívio, apresenta uma divagação em torno de uma falésia e das necessidades fisiológicas de um cão, num relato curioso, mas em que predomina a estranheza.
Seguem-se, por fim, nove curtos contos de Vítor Fernandes: Sacana, breve, simples e envolvente história de um cão observador; Há Bué, algo confusa, mas surpreendente história de uma revolução entre um casal; Manias, caricato, mas cativante e bem construído retrato de um indivíduo peculiar; Pois!, onde outra personalidade peculiar protagoniza uma história envolvente e surpreendente; Partilha, curta e interessante história de uma mulher à procura de um homem e de um acordo invulgar; Rios, ainda outro episódio caricato, mas estranhamente envolvente; O Cão e o Narrador, um pouco apressada, mas interessante nas peculiaridades, a história de um homem que tinha medo de cães; Time Report, relato de duas vidas diferentes, algo confuso, mas interessante pelo contraste que evoca; e Cão-Guia, curta, mas cativante, história de conversas de inspirações e rotinas.

Fica, desta leitura, uma impressão final algo ambígua. Há contos realmente marcantes, enquanto outros deixam a sensação de que mais haveria para explorar sobre os assuntos abordados. O balanço é, ainda assim, positivo, já que são bastantes as histórias envolventes e há algumas que ficam na memória. Foi, por isso, e apesar dos contos que menos cativaram, uma leitura que apreciei.

Novidade Quetzal


Três jovens propõem-se recuperar uma velha casa de uma aldeia  abandonada, algures nos Fiordes Ocidentais islandeses. Mas não imaginam o cataclismo que este inofensivo trabalho  vai desencadear. Na outra margem do fiorde, um psiquiatra investiga o suicídio misterioso de uma mulher mais velha que poderá estar ligado ao desaparecimento do seu próprio filho.
Estas duas intrigas vão convergir para uma história de um enorme suspense que os críticos têm considerado tratar-se da melhor que até agora saiu da pena de Yrsa Sigurdardóttir – Lembro-me de Ti foi galardoado com o Prémio de Ficção Policial Nórdica de 2011, e os direitos de adaptação ao cinema comprados pelo produtor islandês radicado em Hollywood Sigurjón Sighvatsson (Wild at Heart e The Killer Elite, entre dezenas de outros). 
Um thriller policial arrebatador, uma leitura saborosamente arrepiante. 

Yrsa Sigurdardóttir é a maior escritora de literatura policial da Islândia. Considerada a resposta islandesa a Stieg Larsson, Yrsa tem sido um fenómeno de sucesso no seu país  de origem e no estrangeiro: dezenas de milhares de livros vendidos, traduções em trinta e cinco países, adaptações ao cinema em preparação. A seguir a Cinza e Poeira, a Quetzal continua a publicar as obras de Sigurdardóttir com Lembro-me de Ti.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Felizes para Sempre (Patricia Scanlan)

Passada a agitação do casamento, todos esperam que as suas vidas retomassem uma tranquila normalidade. Mas isso está longe de acontecer. Debbie e Bryan têm de lidar com uma dívida considerável, e ambos têm pontos de vista bastante diferentes sobre a situação. Aimee está grávida de um bebé indesejado e o seu plano para lidar com o assunto não está de acordo com a vontade do marido. Connie tem pela frente umas férias fantásticas, um novo emprego e um homem fascinante, mas o ex-marido persiste em contar com ela para tudo. E as histórias de todas estas personagens cruzam-se com as dos que os rodeiam, revelando novas vidas igualmente agitadas...
Dando sequência aos acontecimentos de Tudo se Perdoa por Amor, este livro mantém o mesmo tom leve e agradável que torna a leitura envolvente, ao mesmo tempo que apresenta novas personagens e coloca novos problemas perante as já conhecidas. Há, ainda assim, um elemento que logo diferencia o rumo da história. Enquanto que, no livro anterior, o casamento de Debbie surgia como o grande acontecimento por ocorrer e a razão de muitas expectativas, neste livro não há um grande evento em perspectiva, mas antes a evolução das vidas das muitas personagens que povoam a história, com os seus pequenos dramas e as inevitáveis mudanças que surgem de cada situação problemática.
E são precisamente as mudanças o que mais surpreende neste livro. A história (ou as histórias) centram-se essencialmente nos pequenos dramas da vida pessoal, desde as atribulações da vida a dois aos problemas de trabalho e aos atritos familiares, mas é na forma como as personagens crescem, quer pelas descobertas resultantes dos problemas, quer pela nova perspectiva dada por uma visão mais ampla dos respectivos passados e vidas familiares, que se encontram os momentos mais cativantes do livro. Personagens que no primeiro livro eram basicamente detestáveis mostram agora um lado mais afável e, por vezes, uma razão para o comportamento ríspido ou insensível (que é, afinal, um mecanismo de defesa), ao mesmo tempo que novas figuras surgem para se insinuar como ódios de estimação. Cria-se assim uma visão mais completa da natureza das personagens e, numa história que vive, em grande medida, dos pequenos dramas e das emoções que estes evocam, a empatia para com as suas desventuras.
Apesar de um extenso (e que continua a crescer) conjunto de personagens, esta não é propriamente uma história complexa. Os acontecimentos baseiam-se, em grande medida, nas alterações comuns à rotina da vida e a forma como a autora os desenvolve, é também bastante simples. O resultado é uma leitura agradável e descontraída, com uma história sem grandes situações de tensão, mas centrado nas pequenas coisas e nas dificuldades da vida quotidiana.
Envolvente e com uma boa história, Felizes para Sempre apresenta novas personagens e vários desenvolvimentos interessantes para a história iniciada em Tudo se Perdoa por Amor. Mais uma vez, várias possibilidades são deixadas em aberto, mas há muito de interessantes nos novos desenvolvimentos na vida deste peculiar conjunto de personagens. Um livro leve, em suma, e uma boa leitura para descontrair.

Novidades Planeta


Quando o primeiro amor de Stefan Salvatore  o transformou em vampiro, o seu mundo e a sua alma foram destruídos.  
Agora, Stefan e o irmão, Damon, têm de fugir da cidade que os viu nascer, onde correm o risco de ser descobertos… e mortos. 
Os irmãos dirigem-se para Nova Orleães, em busca de um porto seguro.  Mas a cidade é mais perigosa do que alguma vez imaginaram, cheia de outros vampiros, e de caçadores de vampiros.  
Estará a vida eterna de Stefan para sempre amaldiçoada? 

Lisa Jane Smith, cujas obras são uma combinação de género de terror, ficção científica, fantasia e romance, obteve o reconhecimento do público com a série Crónicas Vampíricas, cujo primeiro volume é Despertar. 
Publicado nos anos de 1990 e convertido numa referência da literatura juvenil de terror, retoma o clássico tema da luta entre Luz e Sombra, dos seus adorados C. S. Lewis e J. R. R. Tolkien.  
Segundo palavras da autora, «Queria escrever livros onde o Bem enfrenta o Mal e vence. Queria ser Frodo, morto de medo em Mordor, consciente de que o Mal que enfrenta é muito maior e mais poderoso do que ele, e mesmo assim é capaz de reunir a coragem necessária para tentar e chegar a ser um herói. Queria transmitir aos jovens que não devem renunciar à esperança.»
L.J. Smith já escreveu mais de duas dezenas de livros para crianças  e adultos. 

Rory MacLeod, um poderoso chefe Highlander  só tem um pensamento na vida, o seu clã, jura vingar-se dos MacDonald, apesar  de o dever lhe impor o noivado com Isabel MacDonald, que tenciona repudiar.  
Porém, o guerreiro não estava à espera de uma mulher atraente, uma mulher que lhe põe à prova a força de vontade férrea e lhe desperta uma paixão selvagem. 
Abençoada com uma beleza incomparável, Isabel MacDonald tenciona, por todos os meios, incluindo a sedução, descobrir o segredo mais bem guardado do marido, ao mesmo tempo que Rory lhe desperta os desejos mais profundos e as fantasias mais doces. 
Isabel encontrou a felicidade com que sempre sonhou nos braços  do homem que tem de trair e descobre que a paixão pode ser mais perigosa do que a vingança. 

Monica McCarty cresceu na Califórnia e sempre gostou de ler. Segundo a autora é completamente viciada em livros.  Foi na Faculdade de Direito que, ao estudar as leis antigas, se começou           a interessar pela Escócia.  
Hoje Monica McCarty é autora best-seller do New York Times. 


segunda-feira, 23 de julho de 2012

Morte em Viena (Daniel Silva)

Gabriel Allon está, mais uma vez, ocupado com um trabalho de restauro quando a sua outra vida o chama. Um atentado terrorista que deixou um amigo entre a vida e a morte exige ao espião e assassino que regresse a um lugar onde as sombras do passado são densas e insuportáveis. Mas Gabriel não pode recusar o apelo da verdade e, por isso, regressa, mais uma vez, a Viena, para descobrir as razões para o atentado. Razões essas que se revelam bastante mais complexas do que seria de esperar e que, ao mesmo tempo que apresentam pistas para encontrar novas respostas para um dos grandes crimes da humanidade, trazem de volta ainda novos fantasmas de um passado que Gabriel conhecia apenas superficialmente.
Mais que a história da missão de Gabriel para descobrir o que motivou o atentado e, depois, para resolver as consequências da situação, é o passado o elemento mais marcante desta narrativa. Do passado de Gabriel, com as memórias que o afastam de Viena (e que são abordadas de forma algo vaga), mas principalmente do passado colectivo, dos acontecimentos do Holocausto, dos homens que protegeram os fugitivos e das verdadeiras dimensões dos aspectos menos claros. É este tema que o autor explora com maior intensidade, conferindo um lado pessoal e individual (na história de Max Klein) e uma ligação ao protagonista (no testemunho de Irene Allon), à exposição directa e perturbadora das atrocidades cometidas. Estas partes do relato ganham maior intensidade pela sempre presente percepção de que, revoltantes como são por si só, são apenas uma pequena parte de um crime infinitamente maior.
Bastariam, pois, estes momentos e a mestria com que são desenvolvidos, para fazer deste Morte em Viena uma leitura marcante. Mas o passado é apenas uma parte e, ainda que seja a razão que move todos os acontecimentos posteriores, há um presente narrativo vasto em acção e mistério para descobrir. Os passos dados por Gabriel e pelos seus aliados, bem como as medidas tomadas pelos seus inimigos, proporcionam uma narrativa cheia de intriga e suspense, com o secretismo das acções a manter a envolvência e a curiosidade em saber mais, principalmente à medida que estes passos abrem portas para novas revelações. Além disso, os principais intervenientes revelam-se no seu melhor, com particular destaque para o quase omnipresente Shamron, com a sua influência sempre maior do que parece. E, como não podia deixar de ser, há Gabriel, com a sua personalidade complexa a tornar-se mais empática pela revelação das suas fragilidades e de algumas das razões que o movem. Claro que continua a ser, em muitos aspectos, um enigma, mas os fantasmas de um passado que se revela gradualmente fazem do protagonista deste livro uma figura um pouco mais próxima, mas fácil de compreender.
Trata-se, portanto, de uma narrativa envolvente, com as medidas certas de mistério e acção, e, principalmente, com uma abordagem marcante ao passado e às marcas que permanecem dos mais terríveis acontecimentos da história. Intenso, surpreendente e com uma história fascinante... Muito bom.

Novidade Quetzal


Há histórias que salvam vidas. Usando o método de Xerazade, o narrador de A Porta do Sol tece um longo e contínuo fio de histórias com que pretende resgatar a vida de um homem. Esse homem, em coma profundo na cama do hospital, é o seu pai espiritual e um herói da resistência palestiniana.
No furor de o reanimar através da memória, é todo um povo e a sua epopeia que o narrador faz reviver diante dos olhos do leitor: os acontecimentos da guerra civil no Líbano, os episódios mais marcantes da  sua vida e os dolorosos itinerários de um punhado de homens e mulheres apanhados pela história, após a sua expulsão da Galileia em 1948.
Inspirado na estrutura narrativa de As Mil e Uma Noites, A Porta do Sol é um romance amplo, pungente, e considerado de forma unânime o grande relato do êxodo palestiniano.

Elias Khoury nasceu em Beirute, em 1948. É romancista, dramaturgo, crítico e um dos mais influentes intelectuais do mundo árabe. Dirige actualmente o suplemento cultural do jornal diário  Na-Nahar e é professor universitário, repartindo o seu tempo entre Nova Iorque, onde dá aulas na Universidade de Columbia, e a sua cidade de origem, onde dá aulas na Universidade Americana. Os seus dez romances estão traduzidos em diversas línguas.
A Porta do Sol, estreia literária de Khoury em Portugal, recebeu a mais alta distinção literária palestiniana – e o seu autor foi galardoado com o Prémio Unesco 2012 para a Cultura Árabe.

domingo, 22 de julho de 2012

Pecados Escondidos (Emma Wildes)

O casamento de Julianne Sutton com o marquês de Longhaven fora acordado pelos pais de ambos muitos anos antes. Mas a morte inesperada do seu noivo e alguma pressão por parte dos pais de Longhaven fazem com o que Julianne se veja ligada a Michael Hepburn, o mais novo dos filhos dos duques de Southbrook e, agora, marquês de Longhaven. O problema é que as personalidades de ambos dificilmente poderiam ser mais diferentes. Onde Harry era jovial e sociável, num complemento bastante interessante à inocência protegida de Julianne, Michael é um homem reservado, misterioso e com uma vida cheia de segredos. Como se não bastasse, o seu passado tem ligações que permanecem nas suas ocupações... e há alguém definitivamente decidido a causar a sua morte. Como lidará Julianne com um casamento que é mais uma obrigação que uma união de afectos, principalmente quando ela própria tem um segredo a esconder?
Sendo esta uma história em que grande parte do protagonismo é dado ao crescimento da relação entre os protagonistas, não é surpreendente que um dos principais pontos fortes deste livro esteja na caracterização das personagens. O temperamento fechado de Michael, associado às marcas do passado e a uma ocupação que lhe exige que se mantenha frio e alerta, cria, desde logo, um interessante contraste com a ingenuidade de Julianne, nervosa ante as mudanças que o casamento trará, mas disposta a tirar dessa união o melhor possível e escondendo na sua natureza quase tímida um tipo muito particular de coragem. Esta diferença de naturezas, aliadas às circunstâncias que os unem, em primeiro lugar, faz com que a relação entre ambos cresça de forma gradual, com uma boa medida de atracção a ganhar destaque na fase inicial, mas crescendo, aos poucos, para algo mais vasto, à medida que os segredos são revelados e os afectos surgem com o conhecimento. Além disso, e ainda que, considerando as opções ocupacionais de Michael, talvez fosse de esperar um pouco mais de acção e de desenvolvimento dos acontecimentos do passado, as marcas desses acontecimentos são visíveis, e a informação apresentada é mais que suficiente para evocar uma certa compreensão.
Mas a história não vive só dos protagonistas. Há uma história secundária a decorrer, intimamente ligada à de Michael e que surpreende tanto pelo temperamento das duas personagens no seu centro como pela interessante revelação final. Nesta história, é a natureza fogosa de Antonia, com a necessidade desta de se libertar um pouco de passado, que dita os rumos da relação, e o resultado é uma série de acontecimentos de presença discreta, mas com momentos particularmente bem conseguidos.
A história evolui a um ritmo relativamente pausado, mas sem nunca perder a envolvência e com alguns momentos divertidos, protagonizados principalmente por algumas figuras já conhecidas de livros anteriores. O resultado é uma leitura cativante, com alguns momentos particularmente intensos e um conjunto de personagens com muito de interessante.
Envolvente, com algumas boas surpresas e, principalmente, com um duo de protagonistas que contrastam e se complementam nas medidas certas, Pecados Escondidos apresenta uma história em que o romance é o elemento principal, mas que surpreende também pelos aspectos que complementam essa faceta da narrativa. Leve e cativante, trata-se, portanto, de uma boa leitura.

sábado, 21 de julho de 2012

O Diabo Também Chora (Sherrilyn Kenyon)

Em tempos um deus sumério da fertilidade, Sin só tem dois objectivos na vida: combater os demónios gallu, que, arrancados à sua prisão, se espalham pelo mundo com intenções de destruir a humanidade, e obter a sua vingança sobre a deusa que lhe roubou os poderes. E, à primeira vista, este segundo objectivo pode estar bem perto do seu alcance. Ou assim parece quando a mulher que foi enviada para o matar surge diante de si em pleno combate aos demónios. Mas essa mulher não é Ártemis, mas Katra, a sua enviada. E, enquanto Kat descobre, ao compreender as acções do seu alvo, que Sin está muito longe de ser o monstro que a deusa disse que era, também o antigo deus está prestes a compreender que Kat não é nem uma inimiga, nem simplesmente uma aliada. Pois a sua vida foi marcada pela traição, mas, pela primeira vez em milénios, Sin sente-se tentado a confiar mais uma vez...
Todos os elementos cativantes dos livros anteriores estão presentes também neste volume. Um agradável equilíbrio entre acção, romance e sensualidade, personagens carismáticas e para com as quais é fácil sentir empatia, as medidas certas de emoção e humor e um enredo com vários momentos surpreendentes são características recorrentes nos livros desta série e razões para tornar a leitura viciante. 
Mas este é, também, um livro que se diferencia dos anteriores em muitos aspectos. Desde logo, o facto de ter como protagonistas um duo de personagens com poderes divinos e associados a diferentes panteões, marca para a história um rumo que será, inevitavelmente, diferente do dos outros Predadores da Noite. Esta mesma diferença permite acrescentar novos elementos a um mundo que tem já bastante a descobrir a nível de forças sobrenaturais. Aos inimigos já conhecidos, juntam-se os gallu. Á história já conhecida dos deuses e do sistema em que estes se movem, acrescentam-se agora interessantes revelações, quer sobre figuras já conhecidas, quer sobre outras pouco exploradas até agora.
Surgem, também, algumas mudanças a nível do foco nos protagonistas. Grande parte do enredo diz respeito a Sin e Kat, é certo, mas há também muito a acontecer e a ser explicado na história de Acheron e nos acontecimentos e razões que o tornaram como é. Há, ainda, muitas perguntas sem resposta, mas o que é revelado torna a figura do atlante ainda mais carismática e fascinante, já que muitas das suas acções ganham agora um novo sentido. Além disso, a história de Acheron tem muitos elementos comuns à do próprio Sin e a forma como a autora desenvolve estes paralelismos permite uma caracterização mais clara de ambas as personagens e das razões que os movem. Isto torna-os mais próximos, nas suas melhores características, e aumenta o impacto emocional dos momentos mais marcantes.
Viciante, com um mundo que se torna mais interessante a cada novo volume e uma história que reúne as medidas certas de acção e emoção, O Diabo Também Chora acrescenta uma nova perspectiva e várias revelações surpreendentes sobre os meandros do já vasto mundo dos Predadores da Noite. Intenso e envolvente... Muito bom.

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Cada Dia é um Milagre (Yasmina Khadra)

O suicídio da mulher - e as razões desse suicídio - apanham Kurt Krausmann de surpresa. Amava Jessica acima de todas as coisas e não consegue conceber a ideia de viver sem ela. A mágoa arrasta-o para a apatia. Mas Kurt não está sozinho e, numa tentativa de o levar à recuperação, o amigo, Hans, pede-lhe que o acompanhe na sua viagem às Comores, onde o seu projecto de ajuda humanitária toma forma. Mas a viagem corre muito mal e o momento em que o veleiro é atacado marca o início de um longo pesadelo feito de humilhações, maus-tratos e tédio. Prisioneiro dos piratas, Kurt tenta sobreviver, mas a vontade humana é falível. E, mesmo que sobreviva, as marcas ficarão para sempre...
De grande impacto emocional e reflectindo de forma profunda e marcante sobre as características (boas e más) que definem a natureza humana, Cada Dia é um Milagre marca pela envolvência de um enredo que tem tanto de tragédia como de história de redenção, mas também pelos temas importantes e complexos que aborda e pela mestria com que o autor os desenvolve: com a profundidade que merecem, mas sem que a narrativa se torne densa ou demasiado lenta no ritmo dos acontecimentos. 
No fundo, tudo se resume a um contraste de opostos: perda e recuperação, ódio e perdão, ruína e redenção. Mas há toda uma vastidão de meios e de circunstâncias a servir de base para estes contrastes, partindo, desde logo, das razões aparentemente incompreensíveis para o suicídio de Jessica e evoluindo para um cenário mais negro, mais perturbador, com a luta pela sobrevivência a sobrepor-se a todas as sombras do passado, mas despertando uma série de novos demónios. Enquanto refém, Kurt luta contra o medo e contra a violência dos seus captores, mas também com os demónios que ganham poder no seu interior: o desespero ante a passagem do tempo sem mudanças, o perpetuar das privações, a vontade quase irresistível de fazer alguma coisa ou simplesmente desistir.
Mas o contraste não se define apenas nos valores (ou falta de) e nas circunstâncias individuais. Na verdade, é nas diferenças globais que o contraste mais se evidencia. Na vida de Kurt em Frankfurt por oposição ao lado tenebroso que é o que encontra na sua permanência em África, não se exploram somente as dificuldades e tormentos do prisioneiro. Explora-se também a diferença de mentalidades e culturas, o medo do preconceito e as reacções exageradas de quem com ele viveu demasiado tempo, a forma como ideais se reduzem a pó quando transpostos para uma realidade cruel. As questões levantadas são vastas e relevantes. A abordagem é precisa e marcante. O resultado é uma leitura que fica na memória.
Trata-se, portanto, de uma leitura que é, em simultâneo, envolvente e perturbadora, com uma história marcante em que o medo e a violência andam lado a lado com um percurso de aprendizagem e da redenção possível. Impressionante e com uma escrita belíssima, um livro fascinante.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

A Casa dos Primatas (Sara Gruen)

No mesmo dia em que John Thigpen, jornalista, sai maravilhado da sua visita ao Laboratório de Pesquisa da Linguagem dos Símios, o lugar é alvo de um atentado. Uma explosão, alegadamente provocada por um grupo terrorista de defesa do ambiente, destrói o laboratório, deixa uma das responsáveis gravemente ferida e leva à fuga e consequente venda dos bonobos. Mas Isabel Duncan dedicou toda a vida àqueles símios e não está disposta a desistir sem luta, principalmente depois de saber a que mãos estes foram entregues. Dedica-se, então, a uma forma de descobrir uma explicação para o que aconteceu e um meio de recuperar os bonobos, enquanto o país observa, com um misto de repulsa e fascínio, o reality show A Casa dos Macacos, e o único jornalista com quem Isabel alguma vez sentiu alguma empatia tenta lidar com os dilemas da sua vida familiar e profissional, ao mesmo tempo que procura respostas para o trabalho com os bonobos, a sua reportagem que lhe foi roubada.
Há muito de cativante para descobrir neste livro. Com uma escrita fluída e envolvente, a autora apresenta uma história que desperta curiosidade desde a primeira página e em que os acontecimentos marcantes não dizem necessariamente respeito apenas às personagens humanas. Na verdade, o equilíbrio que se estabelece entre as várias personagens, motivado em grande medida pelo que está a acontecer com os bonobos, mas também pela interacção com eles, é um dos pontos mais interessantes da narrativa. A autora descreve, de forma detalhada e completa, mas sem perder de vista o lado emocional e os pequenos momentos enternecedores, as relações descobertas entre bonobos e humanos, bem como as suas capacidades cognitivas e de aprendizagem. Desta forma, há todo um mundo novo que se revela e que, ligado aos acontecimentos mais rotineiros e aos pequenos dramas das vidas humanas, dá forma a uma história marcante, com momentos verdadeiramente comoventes. Uma leitura difícil de largar.
Os bonobos são, em muitos aspectos, as estrelas desta histórias, mas há também muito de relevante na caracterização das personagens humanas. Das figuras associadas ao laboratório, destaca-se a imensa diferença entre Isabel e Peter, com todos os segredos e mentiras a este associados e com as emoções divergentes que evocam: empatia pela dedicação sem reservas de Isabel, algo de revolta pelas manipulações em interesse próprio de Peter. Também na vida de John há sentimentos contraditórios e dilemas por resolver: a mesma revolta, mas associada às acções da sua colega de trabalho; também a sensação de algo em risco de se perder, devida às mudanças na vida de Amanda;  mas principalmente a mesma dedicação, motivada pela memória que permanece da sua visita aos bonobos e que não o deixa descansar na vontade de saber mais.
A história define-se entre algo de ambição e algo de altruísmo, entre as relações pessoais e os acontecimentos que todo o país parece estar a acompanhar. Entre humanos e bonobos, entre o que os diferencia e, principalmente, as semelhanças que os unem. Trata-se, portanto, de uma história que levanta várias questões pertinentes, quer a respeito do que separa os animais dos humanos e da forma como estes agem, quer no que toca às questões relativas às pesquisas feitas em animais, quer ainda, de forma relativamente discreta, aos preconceitos e à forma como, por vezes, estes ganham uma visibilidade exagerada. 
Cria-se, assim, uma narrativa feita de acontecimentos marcantes, mas também de um enternecedor lado emocional e com algo de importante para reflectir. A impressão global dificilmente poderia ser mais positiva. Envolvente e surpreendente, uma marcante história sobre humanos e animais e sobre aquilo que todos temos, afinal, em comum. Muito bom.

Novidade Quetzal


Garnet Bowen, antigo jornalista e autor de um único livro, vive agora de alguns trabalhos avulsos e sustenta com dificuldade os seus três filhos. A mulher e a sogra convencem-no a aceitar um trabalho que implica passar uma temporada num país do Sul da Europa, investigando a verdadeira identidade de um escritor misterioso.
Bowen odeia sair de Londres e sempre desprezou a ideia de viajar pelo continente, mas não vai conseguir evitar a ida. E aí vai ele para um país em que o álcool é barato; o sol, opressivo; a comida estranha; e as raparigas, ilegíveis, nos sinais que dão de receptividade e repúdio – esse país é Portugal.
Neste fabuloso entretenimento que é Gosto Disto Aqui – o mais autobiográfico dos romances de Kingsley Amis -, o nosso perplexo herói vai passar por consecutivos apuros e desastres cómicos, que culminam numa situação amorosa com uma jovem mulher e um hostil representante da fauna de insectos locais.

Kingsley Amis (Londres, 1922-1995) foi romancista, poeta, crítico e professor. Militou no Partido Comunista e dirigiu várias publicações. Participou na Segunda Guerra  Mundial. Pai de Martin Amis, é um dos grandes escritores ingleses do pós-guerra, surgidos do seio dos  Angry Young Men – Jovens Revoltados. Foi galardoado com o Booker Prize em 1986.
Esquerdista enquanto jovem, Kingsley Amis foi-se aproximando gradualmente de um conservadorismo  crítico dos costumes contemporâneos. Em 1990, foi investido Cavaleiro. Após a publicação de A Sorte de Jim, a Quetzal dá continuidade a uma série dedicada às obras de Kingsley Amis com Gosto Disto Aqui.


quarta-feira, 18 de julho de 2012

O Silêncio das Palavras (Fábio Nobre)

Murmúrios sobre a vida alheia e toda uma vastidão de pequenas tragédias pessoais definem a vida naquela aldeia. No lugar onde todos os olhos fitam, com algo de repulsa e de piedade, a passagem de António e Carlos. Os pecados dos dois rapazes são os dos pais, mas isso não os torna menos solitários, pois, na passagem do tempo, só se têm um ao outro. E o tempo passa. E um dia tudo muda e o caminho dos dois jovens, agora quase adultos, separa-se. Mas a vida continua. Esta é a história de António e de Carlos, mas também a de todos os que com eles se cruzam ao longo da vida. Da aldeia que o viu crescer, do lugar onde foram construir as suas vidas... E da forma como o passado prevalece nas marcas que deixa para o futuro.
Ao iniciar esta leitura, chama, desde logo, a atenção o estilo de escrita. Elaborada, rica em imagens inesperadas, mas com uma fluidez envolvente e momentos de verdadeira poesia, a voz que dá forma a esta narrativa é, em todos os aspectos muito própria e é também essa diferença que a torna envolvente. É esta diferença o que primeiro cativa, mesmo enquanto as personagens são pouco familiares, já que o lado introspectivo, a reflexão sobre a vida e o mundo, surge tanto nos passos dados pelas personagens como naquilo que o narrador diz delas.
Os dilemas interiores, os segredos e os julgamentos emitidos pelas pessoas próximas são uma parte essencial no rumo desta história. As experiências da infância de António e Carlos são o que, em grande medida, virá a definir os seus passos futuros, num ciclo oriundo já da geração anterior e que parece conduzir a um fim que nunca poderá ser feliz. Não que a história seja propriamente feita de grandes acontecimentos, de  tragédias capazes de marcar a alma das gentes. Não. As perdas, as agressões e todos os gestos que deixam cicatrizes na vida das personagens que povoam esta história são pequenas, pessoais, mas nem por isso menos relevantes para aquele que as vive. A passagem do tempo atenua-as na memória dos outros, mas não na de quem as viveu, e é talvez esta sensação de permanência nas pequenas tragédias da vida das personagens que confere impacto aos momentos mais relevantes, ao mesmo tempo que cria empatia para com as personagens e uma certa medida de tolerância para com as suas acções mais negras.
Há, para este livro, um lado introspectivo que sobressai, por vezes, acima dos acontecimentos, o que, associado a uma certa divagação por entre histórias, ligando António e a sua vida a outras figuras mais secundárias, deixa, por vezes, uma ideia de dispersão. As personagens continuam muito presentes, mas o narrador afasta-se, por vezes, para reflectir sobre os temas que se retiram do percurso da história. A memória e a morte, o desprezo dos outros e a própria sensação de inferioridade... Aos dilemas das personagens junta-se algo de reflexão sobre dúvidas mais globais, sobre as inseguranças que definem a vida enquanto percurso de mudança.
A impressão que fica é a de uma história envolvente, com um estilo de escrita particularmente cativante e uma mistura de narrativa e reflexão em que as personagens representam exemplos de algo maior que uma história individual. Envolvente, bem escrito e com uma história marcante... uma boa surpresa.

Novidade Bertrand


O jovem Samuel Johnson e o seu cão, Boswell, estão a tentar mostrar iniciativa quando começam a pedir «doçura ou travessura» três dias antes do Halloween, e é assim que são testemunhas de coisas esquisitas que acontecem no n.º 666 da Crowley  Avenue. Os Abernathys andam a fazer olhinhos ao submundo, tudo sem más intenções, mas, quando sem querer evocam o próprio Satanás, criam um abismo no Universo através do qual se conseguem ver dois enormes portões.  São os portões do Inferno. E há umas criaturas bastante medonhas que estão mortinhas por sair…
Agora, o destino da humanidade está nas mãos de um miúdo pequeno, um cão mais pequeno ainda e um demónio muito azarado chamado Nurd…
John Connolly,  best-seller do  New  York  Times, escreveu um romance «completamente original» (People) e «refrescante» (San Francisco Chronicle) acerca da tensão entre o bem e o mal, a física e a fantasia. É impossível não amar este excêntrico rapaz e as personagens que lhe dão força para fazer frente a um poder demoníaco. 

John Connolly  nasceu  em Dublin em 1968. O seu livro de estreia,  Every Dead Thing, lança-o imediatamente para a primeira linha dos autores de thrillers e, a partir de então, todos os seus romances se tornam  best-sellers do  Sunday Times. Foi o primeiro autor não americano a ganhar o prémio Shamus.

terça-feira, 17 de julho de 2012

Sombras da Noite (Andrea Cremer)

Calla é a fêmea alfa de uma alcateia de metamorfos. Há muito que está destinada a unir-se com um macho alfa para criar uma nova alcateia com o objectivo de proteger os locais sagrados. Calla sempre teve conhecimento das regras e sempre aceitou a história da sua raça tal como lha contaram. Por isso, por mais que o seu lado rebelde se sinta desconfortável com a ideia de uma união baseada em interesses superiores, a jovem alfa está disposta a desempenhar o seu papel de boa vontade. Mas tudo muda no instante em que o seu caminho se cruza pela primeira vez com o de Shay Doran. Ter-lhe salvo a vida foi, por si só, uma transgressão, mas, à medida que Shay entra mais e mais na sua vida, Calla dá por si a questionar tudo o que lhe foi contado, não só pela sua própria necessidade de liberdade, mas pela certeza de que Shay também tem um papel no plano dos seus superiores - e esse será tudo menos agradável.
Um dos aspectos mais interessantes deste livro é o sistema de regras que rege o funcionamento dos seres sobrenaturais apresentados. Não sendo, à primeira vista, algo de particularmente complexo - até porque os verdadeiros meandros da hierarquia e as verdades, mentiras e omissões do passado são reveladas de forma gradual - , a interacção entre os diferentes elementos, a hierarquia que define as relações e a adaptação de acontecimentos passados e planos para o futuro segundo os interesses dos Regentes são apenas alguns dos aspectos que tornam este mundo cativante quase desde o início. Junte-se a isto uma natureza que, aos poucos, se revela bastante mais sombria do que aparenta ser, com uma inesperadamente complexa teia de mentiras e intrigas, e o resultado é um sistema cativante, com hábitos e relações bem conseguidas e vários momentos de particular intensidade.
A escrita é directa, sem grandes elaborações e bastante centrada na acção. Os aspectos descritivos surgem na medida em que são necessários para a evolução da narrativa, o que cria algumas surpresas interessantes à medida que a história que se julgava verdadeira acerca dos Defensores e da sua guerra com os Batedores se revela como algo bastante diferente do relatado na versão "oficial". E há ainda uma abordagem discreta, mas bem conseguida, a algumas questões pertinentes, quer na união forçada entre Calla e Ren, quer nos preconceitos vigentes no interior da alcateia, quer ainda no deturpado conceito de protecção da parte de alguns dos mestres.
A união há muito planeada e o surgir de um novo elemento na vida da protagonista acaba por levar ao inevitável triângulo amoroso. E é aqui que mais se nota que as personagens são, apesar de tudo, adolescentes. É no desenvolvimento desta relação que surgem alguns momentos mais forçados, com alguns comportamentos confusos da parte das personagens. Há, também, várias situações bem conseguidas, mas, principalmente na fase inicial, este estranho triângulo amoroso acaba por quebrar ligeiramente o ritmo da acção, dando ao romance uma estranha ênfase em circunstâncias... delicadas.
Envolvente e com um sistema interessante, um conjunto de personagens que, apesar de alguns momentos de estranheza, consegue ser bastante cativante (e, por vezes, divertido) e uma história que cresce em intensidade à medida que os mistérios em torno das figuras sobrenaturais começam a ser desvendados, Sombras da Noite apresenta, em suma, uma história cativante, de leitura agradável e com algumas ideias particularmente interessantes. Fica a curiosidade em saber o que estará para suceder no próximo volume.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

A Estranha Viagem do Senhor Daldry (Marc Levy)

Durante um passeio com amigos, Alice é desafiada a consultar uma quiromante. Não é que Alice acredite nessas coisas, mas as palavras da vidente, com as suas indicações aparentemente impossíveis e a indicação de uma viagem a lugares distantes para encontrar o homem que mais importa na sua vida, acabam por se entranhar nos seus pensamentos, como se relacionadas com os pesadelos que lhe atormentam as noites. Assim, Alice vê-se dividida entre a sensação de que algo falta na sua vida e um lado racional que lhe diz que está a dar atenção a coisas irrelevantes. Mas o seu convívio com o vizinho, o estranho e um pouco amargo senhor Daldry, acaba por lhe dar os meios para seguir as pistas deixadas pela vidente. E a busca começa, tanto pelo homem da vida de Alice, como de novas ideias para o seu trabalho, como ainda de respostas para um passado bem diferente do que Alice julga conhecer. E uma das respostas que procura pode estar bem mais perto do que ela julga...
Construída de forma simples e com vários momentos enternecedores, este é um livro que surpreende pela forma como conjuga uma escrita directa, mas envolvente e com um lado emocional bastante cativante, com uma história que mistura um conjunto bastante inesperado de elementos, sem perder de vista a relevância das coisas simples. Esta é a história de uma viagem e, portanto, são necessários alguns desenvolvimentos a nível do local de destino, mas o autor desenvolve-os na medida em que são relevantes para a história, fazendo incidir sobre Daldry e Alice o protagonismo que lhes é devido. Alice parte com três objectivos diferentes, mas a sua busca de respostas para elementos tão distintos nunca coloca um aspecto acima dos outros. Há descrições interessantes da investigação de Alice junto dos perfumistas. As revelações do passado de Alice surgem de forma gradual, mas sem que este perca a relevância ao longo do enredo. (Este aspecto, aliás, culmina numa revelação particularmente enternecedora). E a busca pelo homem da vida de Alice equilibra, nas medidas certas, os sinais de uma relação que cresce gradualmente com os passos de uma procura que nunca se sobrepõe em demasia aos outros objectivos.
Não é difícil prever a conclusão para o lado romântico desta história, mas a forma como o autor a desenvolve faz com que esta continue a ser cativante, mesmo quando já é possível adivinhar parte das respostas para as perguntas de Alice. Além disso, a relação entre os dois viajantes e destes com as pessoas que encontram proporciona também momentos bastante interessantes, apresentando também personagens mais secundárias, mas com um papel importante a desempenhar e alguns momentos divertidos a que dar origem.
Esta é, pois, a história de uma demanda por várias respostas, uma história que, apesar de conjugar os diferentes elementos de uma busca complicada e os inevitáveis fardos do passado dos protagonistas, nunca perde a tocante simplicidade que a torna tão cativante. É uma história simples, no fundo, feita mais de pequenos momentos que propriamente das grandes surpresas. Mas é provavelmente essa simplicidade reconfortante, baseada na esperança de que talvez, apenas talvez, as respostas existam e conduzam a um final feliz, que torna tão enternecedora esta estranha viagem. Gostei.

Novidade Quetzal


Alaa Al Aswany diz que os lugares são personagens principais, pois qualquer um, por mais prosaico ou insignificante, transporta em si história humana.
Depois de Os Pequenos Mundos do Edifício Yacoubian, centrado no Cairo, Aswany escolhe, neste segundo romance, a cidade de Chicago, para nela entretecer os fios dos destinos de expatriados egípcios de várias idades.
As suas experiências enformam exemplos da busca do sonho americano: Raafat, emigrado para os EUA nos anos 1960, cujo orgulho pelo país de acolhimento é tão épico quanto o seu desprezo pelo atraso do Egipto; Saleh, o professor de  Histologia que questiona o seu casamento com a mulher americana branca; Nagui, que combina o radicalismo político com a ambição literária; Cheima, nascida no Egipto rural, a universitária brilhante e sexualmente inábil; ou Danana, presidente da união de estudantes egípcios, que paga à polícia política  daquele país para lhe arranjar uma mulher de famílias ricas.
Num plano mais bidimensional aparecem os americanos, cujas personagens, mais estereotipadas, servem sobretudo vectores de crítica social.
Na grande atenção dada, neste romance, às questões da sexualidade, Alla Al Aswany constrói uma zona de liberdade e experimentação, em que as relações de poder entre homens e mulheres podem ser alteradas.

Alaa Al Aswany nasceu em 1957. Foi dentista no Egipto e nos EUA, tendo  feito investigação nesta especialidade durante 17 anos. 
É um romancista premiado e traduzido em vinte cinco idiomas. É também ensaísta, contribuindo regularmente para todo o género de publicações com artigos sobre literatura, política e sociedade.Aswani é considerado um dos 500 muçulmanos mais influentes do mundo.
Com  O Estado do Egipto a Quetzal iniciou a publicação de um conjunto de obras de Alaa Al Aswany, a  que agora se segue Chicago.


Vencedor do passatempo Maze Runner

Terminado também este passatempo, é altura de anunciar mais um vencedor. Obrigado a todos os que enviaram as suas participações - desta vez, um total de 130.

E o vencedor é...

119. Carina Portugal (Amadora)

Parabéns e boas leituras!

domingo, 15 de julho de 2012

Os Dias de Davanzati (Héctor Abad Faciolince)

Ao descobrir que o seu vizinho foi, em tempos, um escritor que alcançou alguns sucessos, um homem sente-se compelido a descobrir mais sobre o esquivo Bernardo Davanzati. Os seus passos levam-no à lixeira da cave, onde, entre os restos das rotinas dos habitantes do prédio, descobre conjuntos de papéis que correspondem aos escritos de Davanzati. Reflexões, fragmentos, breves histórias e romances inacabados chamam a atenção do homem, que começa a reunir, sem saber ao certo com que objectivo, os escritos abandonados do escritor. E através desses escritos começa a criar uma imagem da vida de Davanzati, ao mesmo tempo que a sua própria vida passa, aos poucos, embrenhada no acto de descoberta que é seguir os passos a escrita do seu vizinho escritor que odeia a escrita que o obceca.
Há algo de fascinante na forma como as histórias de duas vidas aparentemente tão diferentes, e, contudo, com tantos pontos em comum, vão sendo desvendadas através da relação dos seus protagonistas com a leitura e a escrita. Seria de esperar, afinal, considerando o ponto de partida do livro, que fosse Davanzati o protagonista deste livro, mas a verdade é que o percurso do narrador acaba por se relacionar de forma tão íntima com o percurso e a escrita do próprio Davanzati, que as histórias de ambos acabam por se complementar, tanto em pontos de vista como na forma como o narrador que começou por se interessar exclusivamente pelas palavras do escritor esquecido acaba por procurar respostas para os mistérios da vida desse mesmo escritor.
Considerado por muitos como um escritor medíocre e, infelizmente para si, um dos poucos críticos benévolos, Davanzati é apresentado como uma figura frustrada com a sua própria escrita, desiludida com toda a sua vida e os seus múltiplos fracassos. Este desapontamento, quase desamparo, reflecte-se nos fragmentos apresentados como sendo da sua autoria, ora desabafos pessoais sobre a escrita, ora sumárias rejeições de qualquer relação que prevaleça ainda com a literatura, ora ainda tentativas de se diferenciar, num ou noutro género, em busca de um esforço literário válido. Esforços  estes que, presume-se que propositadamente, são destinados ao silêncio de não ter qualquer leitor, já que são abandonados no lixo. Esta é uma caracterização construída com mestria, gradualmente insinuada e, depois, afirmada nesses mesmos escritos que tanto revelam do seu autor, e uma construção que fascina ainda mais pelo facto de se opor às opiniões do próprio narrador que os reúne. É que até o narrador vê as tentativas de Davanzati como tentativas medíocres de um homem com algum talento, mas com evidentes falhas na concretização dos seus projectos. Para o leitor, contudo, esses esforços são fascinantes, tanto nos esboços mais divagativos, como nas tentativas de construção de uma história mais concreta, mas sempre inacabada.
E é nessa interacção desconhecida entre autor e leitor que mais sobressai o complemento entre a história dos dois protagonistas e a fluidez com que o autor gere as diferentes personalidades e forma de escrita de ambos. Diferentes como são, o narrador mais preso ao concreto enquanto que Davanzati divaga também pelos seus demónios interiores e por um passado cuja verdade é ambígua, o escritor e o leitor completam-se, sem saber. Davanzati tem um leitor que, mesmo julgando-o, aprecia o seu trabalho - mas nunca o saberá. Por sua vez, o narrador encontra um objectivo para si na busca da verdade sobre a história do seu esquivo vizinho.
Importa ainda referir que, apesar das suas muitas peculiaridades e estranhezas, Davanzati acaba por se revelar, de uma forma muito própria, como uma figura digna de empatia e de uma certa compaixão. É fácil, nalguns momentos, compreender a sua relação com a escrita, com a criação enquanto necessidade, mesmo enquanto os fracassos tornam o processo progressivamente mais doloroso. Evoca-se, assim, algo de proximidade, um elo emocional para com a figura de mil complexidades que não se expressa senão para o caixote do lixo. (Ou, pelo menos, assim o julga).
Com uma escrita belíssima e um duo de protagonistas verdadeiramente fascinante, este é um livro que, apesar da sua brevidade, se revela, ao mesmo tempo, complexo e envolvente na sua visão da escrita enquanto acto necessário e da solidão das palavras silenciadas. Uma obra impressionante.

sábado, 14 de julho de 2012

Maze Runner - Correr ou Morrer (James Dashner)

Ao acordar no interior da Caixa, a única coisa que recorda é o seu nome. Não sabe porque está ali e muito menos o que aconteceu às suas memórias. Está assustado. Mas as razões para ter medo ainda mal começaram a ser reveladas. É que, ao sair da Caixa, o que encontra é a Clareira, um lugar habitado apenas por rapazes e cercado por um labirinto onde, durante a noite, circulam criaturas terríveis, e cuja resolução parece impossível de encontrar. A Clareira é um lugar estranho, mas parece ter-se criado no seu interior uma comunidade, com o objectivo comum de sobreviver e, se é que ela existe, encontrar a saída do Labirinto. Mas a chegada de Thomas vai mudar tudo. E, à medida que o Fim se aproxima e a situação se torna mais desesperada para os habitantes da Clareira, as tão procuradas respostas podem ser apenas o início de um enigma maior...
Parte do que torna este livro numa leitura que vicia desde as primeiras páginas é a facilidade com que se cria empatia com o protagonista. Ao apresentar Thomas como o rapaz perdido e assustado que não sabe onde está ou sequer quem é e que tem pela frente um mundo completamente novo e uma dura luta pela sobrevivência, o autor evoca, desde logo, uma certa compaixão, ao mesmo tempo que desperta curiosidade para o que está a acontecer. O que é a Clareira, quem a criou e com que objectivos, que razões ditaram a escolha dos seus habitantes e que regras justificam certos comportamentos da comunidade, são apenas algumas das muitas perguntas que surgem na fase inicial do enredo e o facto de estas surgirem perante o leitor ao mesmo tempo que na mente confusa do protagonista, cria não só uma aura de mistério como uma sensação de proximidade para com a história que está a ser desenvolvida.
Mas Thomas não é a única personalidade empática na história e a diversidade de temperamentos, associada à inevitável ambiguidade de comportamentos que surge sob pressão, faz com que vários dos habitantes da Clareira se revelem como figuras complexas, com forças e fragilidades, e com uma história comum que torna mais vasto o enredo. É que a Clareira já existia antes de Thomas, e ver as relações prévias à sua chegada desperta interesse não só pelo protagonista, mas também pelas outras personagens e, principalmente, pelos mistérios do lugar em que estes se encontram.
E, neste ponto, importa referir a muito interessante construção do cenário, não só a nível da Clareira, em que pormenores interessantes como os pequenos tiques de linguagem próprios dos seus habitantes realçam a distância entre esse lugar e o mundo exterior, mas também em torno dos Criadores e das razões por detrás da criação de um tal lugar. Razões que permanecem um enigma ao longo de grande parte do enredo, até porque muito é deixado em aberto para os volumes seguintes, mas que conferem complexidade ao já difícil enigma de como sair do Labirinto, considerando as criaturas que o habitam e as sucessivas dificuldades que tornam imperiosa a necessidade de escapar.
Repleto de acção e tensão, mas também rico em mistério, com alguns laivos de humor e a medida certa de emoção, Maze Runner - Correr ou Morrer apresenta uma história viciante, com um conjunto de personagens carismáticas e um cenário sombrio, mas fascinante e com muito potencial para explorar. Ficam, é certo, muitas perguntas em aberto para os livros seguintes, mas as revelações apresentadas são marcantes e surpreendentes e fecham em beleza este primeiro volume muito bom.