segunda-feira, 31 de agosto de 2015

International Blog Day 2015

A Maria, do Tales Without Name lançou-me hoje um desafio interessante. Em jeito de celebração do Dia Internacional do Blog, sugeriu a ideia de listar os blogs preferidos, os que sempre visitámos, os recém-descobertos... Enfim, os nossos cantinhos preferidos na blogosfera. Podem ver a lista dela neste link.

Entretanto, a minha vai ser bastante mais simples, uma vez que me vou cingir a um rápido top 5 de entre os favoritos. E, sem grandes explicações, porque o tempo é curto, aqui ficam eles. Os que me inspiraram, aqueles a que volto sempre, os que me deram a conhecer livros e pessoas fantásticas. Ei-los, sem nenhuma ordem definida:



E vocês? Que blogs lêem?

Beijo Técnico e Outras Histórias (Fernando Venâncio)

Encontros, partidas, mortes, criações, crimes cometidos e por cometer, planos cumpridos ou deixados por fazer. De tudo isto e de mais se faz este breve mas muitíssimo interessante conjunto de breves contos. De contos que, entre as poucas linhas e as duas ou três páginas, resumem ao essencial aquilo que define uma boa história.
Dado que é precisamente a brevidade um dos aspectos que primeiro sobressai neste livro, falemos nela. Sendo este um livro de pouco mais de cem páginas e em que os (poucos) contos mais extensos não passam das três, é inevitável, aliás, que essa brevidade seja uma das suas características fundamentais. Mas mais que a dimensão em si, há um aspecto que dela sobressai e que é, sem dúvida, um dos aspectos mais marcantes deste livro: a capacidade do autor de sintetizar em poucos parágrafos uma história completa, seja ela a de um simples gesto ou a de um grande acontecimento.
Há, nesta capacidade de dizer tudo em tão poucas palavras, um estranho e muito cativante equilíbrio. É que, ao resumir ao essencial as bases da história, as surpresas tornam-se mais intensas, as frases memoráveis sobressaem mais, as reviravoltas inesperadas ganham um impacto maior. E, no conjunto de tudo isto, não fica de nenhuma história - nem mesmo das mais breves - a impressão de que houvesse algo mais a dizer. Com três páginas ou com três parágrafos, cada conto é uma história completa em si mesma. E a capacidade do autor de fazer isto em todos - absolutamente todos - os textos é algo de brilhante.
Outro aspecto que sobressai é a diversidade de temas e de circunstâncias, todas elas com algo de peculiar, algumas mesmo a entrar no âmbito do quase surreal, mas tendo em comum a capacidade de surpreender e o contraste entre o normal e o inesperado. Há mortes iminentes (bastantes, aliás), inspirações repentinas, ponderações sobre o sentido da vida, mudanças inesperadas de percurso... e todo um conjunto de episódios e de decisões que mudam o caminho da história - e a percepção de quem a lê. Sempre em poucas frases, mas sempre com precisão e intensidade, o que, mesmo no mais simples dos pensamentos, não pode deixar de surpreender.
E à brilhante capacidade de síntese junta-se também a fluidez da escrita, em tudo ajustada ao ritmo dos contos, mas, além disso, pródiga em frases memoráveis, em pensamentos que, dos mais simples aos mais profundos, facilmente se entranham na mente de quem os lê. Também disto - de frases belas e de pensamentos certeiros - se faz a força deste livro.
Trata-se, portanto, um conjunto de pequenas grandes aventuras, de viagens pelo quotidiano e pelo absurdo, através de uma série de histórias e de personagens que, em poucos parágrafos, se tornam próximas e, também por isso, marcantes. Magnificamente escrito, surpreendente a cada nova história e abundante em momentos de brilhantismo, eis, pois, um livro que não posso deixar de recomendar.

Título: Beijo Técnico e Outras Histórias
Autor: Fernando Venâncio
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidades Planeta

Neste segundo livro, Dominic continua a seguir o seu plano de vingança, embora não consiga deixar de amar Samara. Esta está entre dois mundos, por um lado sente o amor de Dominic, por outro o estranho mundo da Quimera divide-a. 
Com Dominic, Samara conheceu uma vida que nada tem a ver com a realidade e uma família que se rege pelas suas próprias regras, pelas suas parafilias e por uma sexualidade atrevida e pouco compassiva. 
Ainda que Samara passe os dias com rasgos de normalidade, a Quimera alberga a história de pessoas más, com as suas inquietações e demónios, que depressa farão parte do seu dia-a-dia. 
A mansão demonstrará uma vez mais que tudo à sua volta está fundido com finos fios de um destino que todos têm de designar para um fim, enquanto Dominic, o homem que mais dor lhe causou e o que mais amor lhe deu, continuará a demonstrar-lhe o seu controlo absoluto e de tudo o que a rodeia.

O que aconteceria se um dia uma mulher convidasse todas as mulheres da sua cidade a correrem com ela? 
Foi isso que perguntou a si própria a jornalista espanhola Cristina Mitre, antes de acabar por liderar o movimento solidário Mulheres que Correm, do qual fazem parte hoje mais de dez mil pessoas.
Runner apaixonada, Cristina Mitre oferece aqui os conselhos para começar a correr e para superar uma competição, partilha connosco informação para escolha do equipamento e dos produtos de beleza apropriados. 
Incentiva-nos com música de fundo e o agradável sabor das corridas em grupo. Orienta-nos com métodos de treino e exercícios de alongamento e de força. 
Alimenta-nos com receitas saudáveis e motiva-nos com os benefícios físicos e psicológicos que o running proporciona às mulheres. 
Ajuda-nos a organizarmo-nos com esse grande problema das mulheres de hoje: conciliar. 
Inspira-nos com o relato de outras corredoras e ilumina-nos com o espírito solidário do movimento Mulheres que Correm.

Divulgação: Novidades 4 Estações (23 de Setembro)

Parker Chipp tem dezasseis anos e não dorme há quatro. Está pálido, tem olheiras, sente tremores e, por vezes, “apagões”, não tendo qualquer memória sobre onde foi – e o que fez – durante esses períodos de tempo. Está, enfim, a chegar ao limite das suas forças. 
É que, em vez de Parker dormir, todas as noites ele entra nos sonhos da última pessoa com quem teve contacto visual. Não compreende como esta sua maldição funciona, mas sabe que, se nada na sua vida mudar em breve, simplesmente morrerá.
Até que conhece Mia. Os sonhos dela são belos e tranquilos, permitindo-lhe um repouso maravilhoso... e extremamente viciante. Mas aquilo que começou por ser um encontro fortuito torna-se uma verdadeira obsessão ─ o enorme desejo de Parker para ter aquilo de que precisa vai levá-lo a exceder todos os limites que nunca imaginou ultrapassar.

J. R. JOHANSSON tem formação em marketing e relações públicas. Insónia é o primeiro volume da série “Night Walkers” e marca a sua estreia na ficção para o público jovem-adulto, tendo sido muito bem recebido pela crítica e traduzido para espanhol, italiano, brasileiro, húngaro, checo, alemão e chinês.

Embarque numa viagem transformadora com Lucia Giovannini, que com leituras e esforço mudou a sua vida e hoje é considerada em Itália uma nova Louise Hay. O seu trabalho incorpora, numa sinergia particular, técnicas de psicologia tradicional, práticas motivacionais e rituais antigos e é internacionalmente conhecida pela sua clareza, sinceridade e um formidável trabalho inspiracional. 
Se procura uma solução concreta para mudar a sua vida este livro mostra-lhe o caminho para alcançar os seus desejos e dá-lhe os instrumentos para escolher, finalmente, a vida que realmente quer viver.

LUCIA GIOVANNINI é a autora de vários bestsellers que já ajudaram milhares de pessoas. Lançou vários CDs e DVDs de formação. Doutorada em Psicologia e Aconselhamento, é formadora de Programação Neurolinguística e Neurossemântica e formadora de formadores do método Louise Hay em Itália, na Suíça italiana e na Tailândia. Os meios de comunicação em Itália consideram-na «uma nova Louise Hay». Organiza há cerca de 20 anos cursos e conferências individuais e para empresas em toda a Europa e na Ásia.

domingo, 30 de agosto de 2015

Confissões - Os Crimes dos Colégios Privados (James Patterson e Maxine Paetro)

O trabalho de um detective nunca acaba - mesmo quando a detective é tão jovem e invulgar como Tandoori Angel. Há poucos meses, resolveu o mistério do homicídio dos próprios pais, mas continua com grandes problemas em mãos. O irmão está preso, acusado de assassinar a namorada grávida, e o cenário não parece nada promissor. Além disso, uma série de alunas de colégios privados apareceram mortas, e Tandy não pode aceitar que seja uma simples coincidência. Como se não bastasse, há um passado esquecido em luta para vir à superfície e a situação delicada que os pais lhe deixaram como legado, a ela e aos irmãos. Tandy tem uma mente brilhante - e, por vezes, ajudas inesperadas. Mas será isso suficiente para resolver tantos mistérios a tempo?
Com um estilo de escrita e uma estrutura que seguramente é já familiar para quem, como eu, já leu uns quantos livros de Patterson, este é um livro do qual se sabe, à partida, o que esperar: acção intensa, escrita directa, capítulos curtos e um desenvolvimento de personagens e contexto que é feito à medida que vai sendo necessário. Mas há um aspecto particular que sobressai neste livro, e esse diz respeito ao equilíbrio entre os vários casos, entre novos mistérios e novas facetas de histórias já conhecidas, e entre os casos individuais e a - complicada - vida pessoal dos Angel.
Este equilíbrio é, sem margem para dúvidas, o aspecto mais interessante do livro. Em primeiro lugar, porque, ao percorrer diferentes mistérios, torna a leitura mais intrigante, mas principalmente porque, ao conjugar a simples resolução dos casos com as complexidades de uma vida familiar bastante abalada, cria-se um muito agradável equilíbrio entre a acção que é uma constante e os rasgos de emoção e de humor que surgem precisamente nos momentos certos.
Mas falemos dos casos. É preciso que se diga que, neste livro, Tandy não tem mãos a medir e, talvez por isso, ainda que todas as soluções sejam encontradas, ficam algumas perguntas sem resposta, nomeadamente no que a Gary diz respeito. Ainda assim, é mais uma curiosidade em saber mais, do que propriamente a falta de uma resposta fundamental. E quanto ao caso - chamemos-lhe assim - James, o que é deixado em aberto é também uma grande promessa para o livro seguinte, pelo que faz todo o sentido que acabe como acaba.
Quando ao aspecto pessoal, e ainda que haja umas quantas ligações relevantes entre esta faceta e os casos, sobressai a intervenção de uma nova personagem, que, com uma posição bastante forte, assume desde logo um papel de destaque. Destacam-se também algumas revelações sobre os Angel, que, deixando também novas perguntas, contribuem para despertar curiosidade para o que se seguirá, ao mesmo tempo que, dadas as circunstâncias, reforçam a empatia para com Tandy e seus irmãos.
De tudo isto resulta uma leitura intensa e cativante, com personagens que, aos poucos, vão revelando o seu grande potencial e um conjunto de mistérios que, solucionados de forma mais ou menos marcante, abrem caminho para novas aventuras - e grandes revelações. Uma boa história, portanto. E uma boa leitura.

Título: Confissões - Os Crimes dos Colégios Privados
Autores: James Patterson e Maxine Paetro
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Na Pele de uma Jihadista (Anna Erelle)

Mélanie, com pouco mais de vinte anos, converteu-se recentemente ao Islão e, nos seus contactos nas redes sociais, acaba de se cruzar pela primeira vez com Bilel. Bilel é um combatente do Estado Islâmico que, por razões não muito claras, se interessou por Mélanie e está decidido a convencê-la a partir para a Síria, onde deverá ser a sua mulher. Mas Mélanie não existe. É uma personagem construída por Anna Erelle - pseudónimo, naturalmente - para obter as informações de que necessita para a sua reportagem. Mas nem Anna nem a sua cuidadosamente construída personagem conseguem prever as consequências do que estão a fazer, e muito menos que a reportagem deixará de ser um fim para se tornar no princípio de uma mudança total.
Uma boa palavra para descrever este livro seria perturbador. E perturbador por várias razões. A primeira, desde logo, é o percurso da jornalista com todos os perigos que representa. Construir uma personagem, estabelecer contacto com um terrorista, tornar-se outra para manter esse contacto - e, ao longo de todo este processo, manter a sua própria identidade, representa, nitidamente, um processo duro e repleto de dificuldades. E, ao contá-lo na primeira pessoa, a autora expõe não só a sua experiência, mas aquilo que sentiu ao vivê-la, o que, tendo em conta os acontecimentos narrados, não deixa de abalar.
A outra fonte de perturbação está nos próprios factos revelados pela experiência da autora. Da forma como tudo se processa, das razões que levam uma jovem a deixar a vida inteira para trás em nome do que lhe é prometido, das aparentes contradições que regem comportamentos e acontecimentos. Tudo isto é apresentado de forma muito pessoal, pois assenta na experiência da autora, mas muito esclarecedora. E, assim sendo, é difícil não ficar com perguntas no pensamento - sobre como, porquê, para quê. Sobre tudo.
Ainda um outro aspecto a destacar-se neste livro é o tom em que é escrito, sem descurar as complexidades do tema, mas mantendo sempre presentes as bases da experiência pessoal. Há, aliás, algo de particularmente marcante na forma como a autora apresenta - quase que dividindo - os seus próprios pensamentos e os de Mélanie, realçando a diferença entre as suas duas identidades. Claro que Mélanie é a base da reportagem e, sendo assim, é no processo de recolha de informação até à publicação da reportagem que este livro se centra. Mas há mais para além disso, e a publicação acaba por ser apenas o princípio. É algures neste princípio da mudança que o livro termina, deixando, por isso, algumas perguntas sem resposta. Neste ponto - e principalmente tendo em conta o facto de ser uma história real - é inevitável que fique uma certa curiosidade sobre o depois. Ainda assim, fica também a impressão de uma conclusão adequada.
Tendo tudo isto em conta, o resultado é um relato pertinente, escrito de forma cativante e esclarecedora, e que põe em destaque um problema que dificilmente poderá ser ignorado. Memorável e muito interessante, uma boa leitura.

Título: Na Pele de uma Jihadista
Autora: Anna Erelle
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Porto Editora

Providence Dupois, uma carteira parisiense, precisa de viajar rapidamente para Marraquexe, a fim de resgatar a filha adoptiva que se encontra gravemente doente. Contudo, quando está prestes a partir, um vulcão islandês de nome impronunciável desperta do seu sono profundo e paralisa todo o tráfego aéreo europeu. Desesperada por cumprir a sua promessa de reencontro, esta jovem mãe vai tentar tudo para chegar junto da filha, e, esgotadas todas as vias do possível, resta-lhe apenas uma última hipótese: voar. 
Comovente mas pleno de humor, A menina que engoliu uma nuvem do tamanho da torre Eiffel é uma aventura que nos ensina que nada é impossível quando o amor de uma mãe é forte o suficiente para a fazer descolar até às nuvens. Dizem que o amor dá asas... Estão prontos para voar?

Romain Puértolas, de origem franco-espanhola, nasceu em Montpellier,em 1975. Levado pelas voltas do destino a Espanha e Inglaterra, foi DJ, professor de línguas, tradutor-intérprete, comissário de bordo e mágico. 
De regresso a França, trabalhou durante quatro anos como inspector da polícia numa brigada especializada no desmantelamento de redes de imigração ilegal. Viciado confesso na escrita compulsiva, Puértolas fez a sua estreia no universo literário com A incrível viagem do faquir que ficou fechado num armário IKEA, publicado pela Porto Editora em 2014. 
Ainda antes do seu lançamento em França, o romance já havia conquistado mais de quarenta editoras estrangeiras, convertendo-se num fenómeno editorial mundial conhecido como «faquirmania». 
Actualmente, reside em Espanha e dedica-se exclusivamente à escrita.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Ondas de Calor (Richard Castle)

Jameson Rook é um jornalista famoso, cujos contactos lhe permitiram, no contexto de um artigo em que estará a trabalhar, acompanhar as rotinas da detective Nikki Heat e da sua equipa. Jameson é também um indivíduo com sérias dificuldades em acatar ordens. Talvez por isso a detective Heat esteja tão relutante em trazê-lo consigo, principalmente num caso como o que tem em mãos. Um figurão do imobiliário acaba de cair do sexto andar onde vivia e as provas não apontam para que tenha sido um suicídio. E entre pistas e depoimentos contraditórios, suspeitos de índole - naturalmente - duvidosa e um mistério que se torna mais complexo a cada descoberta, Nikki tem ainda de lidar com Rook, e com sentimentos que, por mais que os tente evitar, não são propriamente de aversão...
Assinado por Richard Castle, personagem em muito semelhante a Jameson Rook, uma das primeiras coisas a cativar neste livro é o facto de passar uma impressão semelhante à que se tem ao ver um episódio de uma série. Há um caso central, um mistério a resolver - mistério esse com princípio, meio e fim - e, por outro lado, um conjunto de interacções e de relações potenciais que se insinuam como sendo parte de um todo maior. Além disso, há um muito agradável equilíbrio entre acção, mistério, romance e humor, numa mistura que facilmente prende à história.
Para este ritmo cativante contribui também a relativa simplicidade do livro. No caso em si, como na própria escrita, e apesar das várias pistas contraditórias e becos aparentemente sem saída, há uma linha bem definida rumo ao objectivo central que é a resolução do caso. Ora, isto faz com que o desenvolvimento das personagens - principalmente no que toca às suas vidas pessoais - passe, até certo ponto, para segundo plano. Ficam, por isso, umas quantas perguntas sem resposta, mas também a impressão de que, sendo este apenas o primeiro volume de uma série, muitos desses aspectos poderão vir ainda a ser explorados. No fundo, é como se a personalidade das personagens se revelasse aos poucos, ficando a impressão de uma certa distância, mas também da possibilidade de revelações futuras.
Quanto à resolução do caso, não é, propriamente, o mais surpreendente dos desfechos. Ainda assim, a forma como as coisas se encaminham para a conclusão, e a intensidade do final, compensam esta relativa previsibilidade, fechando o caso com uma conclusão satisfatória.
Relativamente simples, mas envolvente e intrigante, este é, pois, um livro que, centrado na acção, mas com personagens cheias de potencial, o toque certo de humor e algumas surpresas pelo caminho, cativa desde a primeira página e assim se mantém até ao fim. Uma boa leitura, portanto.

Título: Ondas de Calor
Autor: Richard Castle
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 25 de agosto de 2015

Glorious Angels (Justina Robson)

Glimshard é uma cidade onde tecnologias antigas e magia parecem coexistir num estado de equilíbrio algo estranho. A Imperatriz, em íntima comunhão com as outras sete, governa a sua cidade influenciando o seu povo com os poderes da sua presença. E, numa altura em que uma longa guerra em nome de um espantoso artefacto parece desencadear rebelião e intriga, ela tem de confiar naqueles que têm o poder necessário para auxiliar, ao mesmo que lhes esconde as suas verdadeiras intenções. As suas alianças devem ser preservadas com cuidado, pois os Karoo preparam-se para a acção. E a Imperatriz não está disposta a abdicar da sua posse do artefacto.
Com um vasto cenário e uma complexa teia de intrigas, este é um livro em que a construção do mundo e o enredo se fundem – tal como o mundo em si – num delicado equilíbrio. Há muitos detalhes a aprender sobre este mundo – as regras, a origem misteriosa, e a hierarquia desta muito particular sociedade matriarcal. Isto significa que é necessária uma componente descritiva considerável, o que, associado à escrita bastante elaborada, dá à história um ritmo algo lento, ainda que também uma muito intrigante aura de mistério.
Além disso, não há uma personagem que se destaque, mas antes um grupo delas, que parecem assumir o papel de personagem principal de diferentes partes do enredo. Há também estranhas relações entre eles. Isto abre espaço para a revelação de um potencial mais vasto, tanto nas complexidades das interacções entre eles – com Zharazin a destacar-se neste aspecto da história – como na intriga global – entre Imperatrizes, entre Império e Karoo, entre mundos, até.
Toda esta complexidade tem um efeito secundário: com tantas coisas a ser exploradas, e alguns acontecimentos que são deixados num ponto algo ambíguo, há algumas pontas soltas e perguntas deixadas sem resposta. É principalmente isto – esta distância da ideia de finalidade – que, associada à dispersão entre várias personagens – que deixa a impressão de que haveria mais a dizer e um lado mais humano – à falta de melhor palavra – a desvendar sobre estas personagens.
Tendo em conta tudo isto, este é, pois, um livro que se destaca, acima de tudo, pela complexidade do mundo, bem como pela escrita invulgar. Uma história interessante, personagens fortes e um vasto potencial de intriga e conspiração contribuem também para tornar esta leitura memorável. Pode não ser uma leitura fácil, é verdade. Mas é certamente interessante.

Título: Glorious Angels
Autora: Justina Robson
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidades Clube do Autor

Como é que uma princesa da Casa mais exuberante da época, os Habsburgos, fica disponível para casar com o rei português, mais velho do que ela trinta anos?
Quando, em 1518, D. Leonor de Habsburgo veio na companhia do futuro imperador Carlos V, seu irmão, da Flandres para Espanha, no seu pensamento só uma promessa de casamento permanecia. Chegava depois a Portugal, onde tinha noivo seguro, o príncipe herdeiro, à sua espera para encerrar um capítulo há muito negociado por D. Manuel I e a família dos Habsburgo. Então por que razão se casou com o pai do noivo? E o que fez D. Manuel I desejar a noiva do filho e atraiçoar o acordo?
Esta é a história da vida trágica da rainha consorte D. Leonor de Habsburgo, uma das mais bonitas princesas europeias da época dos descobrimentos, que foi um joguete de intrigas em nome de ambições políticas. 

Jorge Sousa Correia nasceu em Setúbal em 1946. É licenciado em História, tendo leccionado a disciplina. Estreou-se no romance em 2013 com O Mistério do Infante Santo, seguindo-se As Sombras de D. João II.

No ano em que se comemora o 53º aniversário da morte de Karen Blixen, a autora do clássico África Minha, o Clube do Autor edita Ehrengard – A ninfa do lago. Um livro onde a fantasia e a realidade se tocam em três histórias inesquecíveis.
No castelo de um pequeno principado, o pintor e conselheiro da grã-duquesa cai em devaneios enquanto observa uma bela jovem. Sedutor experimentado, o artista dará mostras de uma paciência infinita com o propósito de desvendar os mistérios de Ehrengard. Mas a bela ninfa não cederá facilmente aos galanteios do apaixonado.
Publicado postumamente, esta história é o último grande escrito da autora.
Em Ehrengard - A ninfa do lago encontramos dois outros contos de Karen Blixen, que fazem desta obra um livro a não perder: As cariátides e Um conto rural. Um conjunto dos melhores textos escritos após a sua experiência em África.

Karen Blixen nasceu na Dinamarca, em 1885, e morreu em 1962. Viveu vários anos no Quénia, onde geriu uma plantação de café. Foi essa vivência que a inspirou a escrever o famoso África Minha. Recebeu o prémio Tagea Brandt Rejselegat em 1939.

domingo, 23 de agosto de 2015

O Príncipe (Sylvain Reynard)

Motivado pela generosidade da esposa, Gabriel Emerson aceitou expor ao mundo as preciosas ilustrações de Boticelli que durante muito tempo guardou em segredo. Mas está longe de imaginar que, ao fazê-lo em Florença, está a expor-se, e a Julianne, a um perigo que nunca ousou imaginar. É que, em tempos, as ilustrações pertenceram ao Príncipe de Florença, senhor de um submundo de capacidades inexplicáveis. E o Príncipe associa-os ao roubo das suas estimadas ilustrações - e quer vingança. Mas, enquanto conspira para levar a cabo a sua ideia de justiça, o príncipe vê-se com outra conspiração em mãos. E, quando os inimigos se aproximam, terá de escolher qual é mais importante: a sua vingança ou a segurança do principado.
Breve prequela de uma nova série, este pequeno livro surpreende em primeiro lugar pela íntima ligação que tem com a história dos Emerson, ao mesmo tempo que apresenta um novo elemento sobrenatural. E este contraste - entre a história conhecida e um novo mundo de vastas possibilidades - é particularmente interessante por apresentar uma nova perspectiva de factos já conhecidos. Assim, e ainda que a história seja suficiente em si mesma, há momentos comuns entre este livro e A Redenção de Gabriel, pelo que ter a história fresca na memória torna as coisas mais interessantes.
Ainda que seja o príncipe a figura central deste novo livro, Julianne e Gabriel têm um papel considerável ao longo da história, o que cria expectativas para que a sua presença se mantenha ao longo da série, ao mesmo tempo que levanta algumas apreensões quanto à durabilidade do final conquistado em A Redenção de Gabriel. Mais uma vez se destaca o equilíbrio entre o novo e o familiar, já que o resultado destes dois lados da história - a do Príncipe e a dos Emerson - é uma grande curiosidade em saber o que se seguirá para todos eles.
Sendo este o ponto de partida de uma nova série, escusado será dizer que ficam inúmeras perguntas sem resposta. Mas, acima de tudo, fica a impressão de um vasto mundo de possibilidades para explorar, tanto no que diz respeito ao sistema governado pelo Príncipe como à personalidade e escolhas do próprio Príncipe, ele próprio parecendo já ter potencial para se afirmar como uma personagem tão marcante e misteriosa como o já tão referido Professor. Há, além disso, muitos enigmas sobre a sua natureza, bem como alguns momentos que, insinuando emoções fortes, prometem grandes revelações sobre a sua personalidade.
Breve e simples, mas cativante e repleto de grandes promessas para o que se seguirá, este é, pois, um livro que funde o universo já conhecido com um novo mundo cheio de mistérios, num equilíbrio delicado, mas muito bem construído, entre normal e sobrenatural. Envolvente e surpreendente, um início - que é ao mesmo tempo um regresso a um mundo diferente - muito promissor. 

Título: O Príncipe
Autor: Sylvain Reynard
Origem: Recebido para crítica

sábado, 22 de agosto de 2015

A Redenção de Gabriel (Sylvain Reynard)

Agora que pelo menos parte do escândalo ficou para trás, Gabriel e Julianne estão prontos para começar uma vida nova enquanto casal. Mas não são poucos os desafios que têm pela frente. Gabriel sonha ser pai, mas Julia teme fracassar no doutoramento caso não adie esse sonho durante alguns anos. Os demónios do passado, esses, nunca deixam de os atormentar. E há assuntos que parecem não ter ficado inteiramente resolvidos. Gabriel e Julia precisam de aprender a partilhar uma vida, incluindo os desafios, as dificuldades e as esperanças. Mas será mesmo verdade que o pior já passou?
Mais centrado nos afectos e na vida em comum dos protagonistas, este é um livro em que, com os elementos de intriga a assumirem um papel mais secundário, se faz mais de pequenos momentos e descobertas do que propriamente de grandes acontecimentos. Isto não significa que não haja momentos de crise e dificuldades a superar. Mas, na construção da família de Gabriel e Julianne, o percurso faz-se mais de pequenos passos e de - essas sim, grandes - superações.
Disto resulta uma história que é, talvez, um pouco menos intensa, mas que não deixa de ser muitíssimo cativante. Acima de tudo, porque as personagens mantêm as suas próprias identidades, ao mesmo tempo que, de alguma forma, evoluem. Gabriel continua a ser o homem atormentado pelo passado, mas a mudança é agora clara. E, por acontecer de forma gradual, com dúvidas, com a ameaça de recaídas, com passos por vezes vacilantes, esta mudança surge como genuína, reforçando as muitas qualidades que definem o carisma do Professor. Quanto a Julianne, mantêm-se as inseguranças e a timidez, mas destaca-se a capacidade de agir quando necessário e também a sua vontade de deixar para trás os demónios do passado.
Ainda que grande parte da narrativa se centre na relação entre o casal protagonista, há, ainda assim, um conjunto de personagens e de acontecimentos que acrescentam complexidade ao enredo, tornando-o mais interessante. Primeiro, o ressurgir de velhos inimigos, sobre os quais, ainda que fiquem umas quantas pontas soltas, são apresentados vários desenvolvimentos interessantes. Mas, acima de tudo, a família alargada de Gabriel e Julianne, com as novas descobertas e as personagens já conhecidas a darem forma a um ambiente que nunca será perfeito, mas que, por ser tão obviamente feito de amor, nunca deixa de enternecer.
E é muito de emoções que vive este volume final, com momentos comoventes a aparecerem quando menos se espera. Mas, se os episódios são, por si só, suficientemente esclarecedores quanto ao que as personagens estão a viver, a forma como o autor dá voz aos pensamentos, dúvidas e emoções das personagens - com destaque para Gabriel, naturalmente - confere aos momentos um impacto mais forte. E isso tanto pode acontecer numa grande revelação como num pequeno gesto de ternura.
E assim, o que fica deste volume final é a memória de uma história que, sendo talvez menos dramática que a dos volumes anteriores, está, ainda assim, repleta de ternura, de emoção e de sensualidade. Intenso, envolvente e emotivo, um final à altura para uma história fascinante. 

Título: A Redenção de Gabriel
Autor: Sylvain Reynard
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Uma Lança em África (Paulo Drumond Braga)

Tudo terá começado com a vontade dos infantes de serem armados cavaleiros, não num simples torneio, mas numa verdadeira batalha. E o resultado foi um triunfo que teve custos e tribulações, mas que tornou Ceuta portuguesa durante mais de dois séculos - aí deixando marcas que ainda hoje prevalecem. É este percurso - dos planos de conquista ao derradeiro abandono - que, de forma sucinta, mas meticulosamente fundamentada, o autor traça neste livro.
Uma das coisas a primeiro chamar a atenção neste livro é a capacidade de síntese do autor, que consegue resumir de forma sintética, mas não simplista, em pouco mais de cem páginas (às quais se somam os anexos e uma vasta lista de fontes) os acontecimentos centrais - e os traços característicos - de uma conquista a que se sucedeu uma posse de mais de dois séculos. E se é certo que fica a impressão de muito mais haver para dizer, também é verdade que toda a informação essencial está presente. Há, aliás, todo um conjunto de referências presentes a remeter para as muitas fontes, que, reforçando a fundamentação da obra, apontam também o caminho para quem quiser aprofundar conhecimentos.
Também interessante é que, apesar da brevidade, a forma como o livro está organizado, bem como a própria acessibilidade da escrita, contrastam com a tal vastidão de fontes, permitindo uma leitura de fácil compreensão independentemente de se ter ou não algum conhecimento prévio sobre os acontecimentos ou a época em que decorrem. Dos motivos para a conquista às características da cidade conquistada, sem esquecer o acto propriamente dito e as mudanças que ditaram o posterior abandono, todas as facetas são abordadas, de forma relativamente breve, é certo, mas muito esclarecedora. E assim é possível ficar com uma ideia geral da globalidade. Quanto aos pormenores, os essenciais estão lá.
A soma de tudo isto é um livro acessível, relativamente breve, mas bastante completo em termos de abordagem ao cenário global, e que conjuga uma boa base de informação com a capacidade de síntese que permite uma abordagem esclarecedora, mas não demasiado densa, a um tema que é, no seu todo, vastíssimo. Interessante, em suma, e uma boa leitura. 

Título: Uma Lança em África
Autor: Paulo Drumond Braga
Origem: Recebido para crítica

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Constructed of Magic (Louis Alan Swartz)

Algures entre o ideal do que a vida devia ser e a dura realidade da vida – tal como a conhecemos hoje, há um ponto em que uma visão espiritual abre caminho a uma perspectiva diferente sobre o mundo. Esse ponto de vista, que não é ingénuo, pois vê as dificuldades, mas que dá o seu melhor para se manter optimista, é o pensamento que emerge destes poemas. Poemas que, relativamente simples, mas vastos nas ideias a que dão voz, formam uma unidade em si mesmos, mas fundem-se para reflectir uma perspectiva global.
Este é um dos aspectos mais interessantes deste livro: podem ler-se todos os poemas em sequências, ou cada uma das diferentes partes do livro, ou até um só poema. Nunca se sente que falte uma parte da ideia. Cada poema é um processo de pensamento completo, e isso permite um revisitar das partes favoritas do livro, independentemente de se ter gostado de todos os poemas ou só de alguns.
Outro aspecto que sobressai é a diversidade de temas e de abordagem. Morte, estética, imortalidade… Estes poemas falam de vários temas, e fazem-no de forma pessoal, mas com ideias sobre a globalidade. Alguns parecem contar uma história. Outros falam de simples ideias e pensamentos. E, assim, a diversidade de assuntos expande-se à própria estrutura. Poemas extensos, poemas curtos, com ou sem rima. Esta variedade – de temas, de estrutura, de palavras – torna a leitura deste livro bastante mais interessante.
Ainda sobre a estrutura, e a organização deste livro, há o que se poderia chamar um efeito secundário. Ao apresentar os poemas organizados por tema, acontece, por vezes, que a mesma ideia ou ideias semelhantes se repetem no espaço de poucas páginas, e esta repetição faz com que parte do impacto do pensamento se desvaneça. Além disso, a rima e o ritmo parecem impor algumas limitações ao fluir das ideias, com a escolha das palavras a parecer, por vezes, demasiado rebuscada.
O que acontece, então, é que alguns poemas – geralmente os mais breves – parecem ter mais impacto. Mas, considerando o conteúdo global do livro, a ideia que fica é a de um conjunto sólido de poemas, abordando assuntos complexos de forma simples e pessoal. Isto – a vastidão em contraste com a simplicidade – é o que os torna memoráveis. E mais que suficientes para fazer deste livro uma boa leitura. 

Título: Constructed of Magic
Autor: Louis Alan Swartz
Origem: Ganho num passatempo

domingo, 16 de agosto de 2015

A Literatura Clássica ou os Clássicos na Literatura (coordenação de Cristina Pimentel e Paula Morão)

De forma mais ou menos explícita, há uma definitiva influência dos clássicos na literatura portuguesa, seja ela contemporânea ou não. É, no fundo, essa a ideia global que fica deste livro, que reúne as comunicações do colóquio com o mesmo título. E, seguindo diferentes autores, para neles identificar as mais ou menos evidentes referências clássicas, cada contributo abre caminho a uma nova perspectiva - sobre os clássicos e sobre o que se escreve no presente.
Importa dizer, antes de mais, que este é um livro de cariz essencialmente académico, sendo por isso inúmeras as referências que vão sendo citadas ao longo dos diferentes artigos. Junte-se a isto uma interpretação que, muitas vezes, vai aos mais profundos pormenores, e o resultado é, inevitavelmente, uma leitura exigente e que pode, por vezes, ser um pouco confusa para um leitor sem profundos conhecimentos académicos do assunto (como, diga-se, é o meu caso). Há, aliás, um artigo escrito em italiano, que inevitavelmente passará ao lado de quem não conhecer a língua.
Há, ainda assim, bastante a retirar desta leitura, mesmo para o simples leitor interessado - sem formação aprofundada na área. E seja através de associações que, à primeira vista, não eram óbvias entre o clássico e o contemporâneo, seja pela perspectiva global com que se fica da presença desses mesmos clássicos através dos tempos, seja ainda pela simples descoberta de algo de novo - nos mitos clássicos ou nos autores actuais - , há todo um conjunto de temas e referências interessantes que fazem com que esta leitura valha a pena, independentemente de todo o tempo, pesquisa e atenção que possa exigir.
E ainda uma última nota para o facto de, ainda que os temas se possam tornar, por vezes, densos, a forma como são expostos é, no geral - apesar de todas as inevitáveis referências e pormenores - acessível quanto baste. O que significa que, apesar da confusão inicial, continua, ainda assim, a ser possível retirar muita informação deste livro - com ou sem conhecimento prévio dos temas tratados.
Eis, pois, um livro que exige ao leitor tempo e atenção, mas que compensa oferecendo um vasto conjunto de informação e uma ideia global muito clara de como os clássicos da antiguidade continuam bem presentes na literatura dos dias de hoje. Muito interessante.

Título: A Literatura Clássica ou os Clássicos na Literatura: uma (re)visão da literatura portuguesa das origens à contemporaneidade
Coordenação: Cristina Pimentel e Paula Morão
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

O Mar Infinito (Rick Yancey)

Desde a chegada dos Outros que o mundo tal como o conheciam deixou de existir. Transformou-se numa luta pela sobrevivência, pois o objectivo dos extraterrestres parece ser um e um só: exterminar os humanos. Mas há qualquer coisa que não bate certo nesta história e cada momento perdido a pensar no significado das coisas pode representar um passo mais perto do perigo. Cassie Sullivan e o seu não muito unido grupo têm de decidir qual é o próximo passo. Antes que seja tarde demais e alguém decida por eles.
Dando continuidade a A 5ª Vaga, e apresentando muitas das mesmas características, este segundo volume funciona, em certa medida, como um livro de transição. Há muito a acontecer, uma grande intensidade no impacto de cada descoberta, e um percurso que, acompanhando diferentes personagens, abre caminho para novas revelações. E é aí que se encontra a transição: num abrir caminho em que se encontram várias respostas, algumas explicações bastante prováveis, mas em que muito fica em aberto, como que expandindo o mistério do primeiro volume, deixando pistas - mas ainda não certezas - para as possibilidades de uma resolução final.
O facto de ficarem tantas perguntas sem respostas, bem como uma maior concentração na acção e menos no desenvolvimento das personagens (ainda que, na fase final, haja um conjunto de desenvolvimentos com um impacto impressionante) torna o percurso das personagens um pouco mais distante. Além disso, a inevitável separação de caminhos faz com que haja menos desenvolvimento das relações e das personalidades e mais uma expansão do que cada personagem tem de fazer em nome da sua sobrevivência. Isto distancia um pouco algumas das personagens, é certo, mas, por outro lado, faz com que o impacto da fase final seja mais forte, ao mesmo tempo que, ao pôr em causa uma parte importante do que se julgava certo, faz com que quase todas as possibilidades estejam em aberto para a conclusão desta história.
Importa ainda referir que, apesar desta maior distância, causada por circunstâncias que exigem mais acção e menos emoção, há, ainda assim, emoção mais que suficiente. Nos pensamentos das personagens, na perda que trazem consigo e, acima de tudo, nos grandes pontos de viragem que lhes surgem no caminho, há mudanças capazes de quebrar e de reconstruir o coração das personagens. E isso é algo que, em certa medida, se transmite ao leitor.
Intenso e cativante, mesmo que não tão surpreendente como o primeiro volume, este é, pois, um livro que corresponde às expectativas, mostrando acima de tudo os desafios que as suas personagens enfrentam - mas também as suas vulnerabilidades - e abrindo caminho para um final em que tudo é possível. Uma boa leitura, portanto, e que deixa muita vontade em saber o que se seguirá.

Título: O Mar Infinito
Autor: Rick Yancey
Origem: Recebido para crítica

Para mais informações sobre o livro O Mar Infinito, clique aqui.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Divulgação: Novidade Presença (19 de Agosto)

Half Wild – Entre o Humano e o Selvagem
Sally Green
Título Original: Half Wild – The Half life Trilogy
Tradução: Catarina Gândara
Páginas: 336
Coleção: Via Láctea Nº 124
PREÇO SEM IVA: 15,94€ / PREÇO COM IVA: 16,90€
ISBN: 978-972-23-5618-3

Nathan consegue finalmente escapar do cativeiro. Depois de encontrar o seu pai e de este lhe oferecer um dom poderosíssimo, completando assim os três dons que o confirmam como bruxo adulto, o jovem sabe, contudo, que ainda não se encontra a salvo e que tem de continuar a fugir. 
Porque de um lado estão os Bruxos Negros que o odeiam e do outro, os Bruxos Brancos que desejam a sua captura. No meio deste conflito, Nathan tem de conseguir encontrar o seu amigo Gabriel e resgatar Annalise, a jovem que ama e que está prisioneira do temível bruxo negro, Mercury. Mas para ser bem-sucedido, Nathan sabe que terá de aprender a controlar o seu próprio poder…
Half Wild é a continuação do livro Half Bad  ̶  Entre o Bem e o Mal, aclamado internacionalmente pela crítica e pelo público.

Sally Green vive no Noroeste de Inglaterra. Em 2010 começou a escrever livros e desde aí nunca mais parou. Cria aves domésticas, faz deliciosas compotas, tem uma imaginação prodigiosa, gosta de ler, passear pelo campo, mesmo nos dias de chuva, e adora café. O seu livro anterior, Half Bad  ̶  Entre o Bem e o Mal, entrou para o Guiness World Records como o livro de estreia com o maior número de direitos vendidos a nível mundial, tendo sido traduzido em cerca de 50 países. Em 2015 foi premiado com o Waterstones Children’s Book Prize na categoria de Melhor livro de ficção juvenil. Os direitos cinematográficos foram adquiridos pela Fox 2000.

Para mais informações consulte o site da Editorial Presença aqui.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Paris for One (Jojo Moyes)

Nell está prestes a partir para a sua primeira ida a Paris quando o namorado a avisa, a poucos instantes da partida de comboio, de que não vai conseguir acompanhá-la. Para aquela viagem, Nell construiu as maiores expectativas, deixando para trás um fim-de-semana com amigas e a vontade de que romper com a ideia que todos tinham dela - a de uma pessoa cautelosa e nada aventureira. Mas Nell nunca imaginou que teria de fazer a viagem sozinha. E muito menos suspeita de que o que a espera em Paris é tudo menos o que imaginava...
Bastante breve, e leve em todos os aspectos, desde a escrita ao enredo, este é o tipo de livro que se lê num instante. Escrito de forma simples e cativante, com uma história também ela bastante simples, mas com um ritmo agradável e personagens interessantes, e um nível de desenvolvimento que, não sendo particularmente elaborado, se adapta bastante ao tipo de história que tem para contar, este é um livro feito para ser breve e que, por isso, se lê depressa e descontraidamente.
Ora, isto tem um lado menos bom, que é que, sendo uma história tão curta, ficam perguntas sem resposta. A história centra-se no fim-de-semana de Nell em Paris e não há grandes elaborações nem sobre o antes nem sobre o depois, o que deixa a impressão de uma história maior que é deixada por contar. Por outro lado, o centro da história é precisamente esse fim-de-semana, pelo que, por mais curiosidade que fica sobre a relação anterior de Nell ou sobre o que se seguirá para ela depois de tudo o que mudou, há, ainda assim, uma linha clara e um sentido de finalidade. Nell foi a Paris e viveu a sua aventura, ainda que não da forma que esperava. E, nesse aspecto, tudo o que é essencial está lá.
Ao centrar a história nos acontecimentos da viagem, sem se demorar no passado, cria-se também uma impressão de viver no momento que é particularmente interessante tendo em conta as características da personalidade da protagonista. Nell é o tipo de pessoa que pensa demasiado, avaliando incessantemente os prós e contras de cada decisão. Talvez seja por isso, na verdade, que vê-la a viver uma aventura diferente - ainda que curta e simples - acabe por ser tão cativante.
Ainda uma última nota para o aspecto emocional. Não se pode dizer que esta seja uma história de grandes emoções ou de grandes momentos de viragem. Aqui, a mudança faz-se nas pequenas coisas e através dos pequenos momentos - de empatia, de humor, de um afecto a nascer. Pequenos momentos que conferem ao enredo uma naturalidade que, dada a brevidade da história, acaba por ser também uma boa surpresa.
Tudo isto se conjuga numa história muito simples, mas muito cativante, em que não há grandes reviravoltas nem situações de maior complexidade, mas em que a leveza, a ternura e o amor se unem para dar forma a uma leitura leve, divertida e descontraída. Uma boa leitura, em suma. 

Título: Paris for One
Autora: Jojo Moyes
Origem: Aquisição pessoal

domingo, 9 de agosto de 2015

Wayward Pines - Paraíso (Blake Crouch)

Ethan acorda junto ao rio sem saber bem o que lhe aconteceu, mas aos poucos as memórias começam a formar-se. Sabe que viajou para Wayward Pines na pista de dois agentes dos Serviços Secretos que desapareceram misteriosamente. O que não sabe é que, a partir do momento em que entrou naquele lugar, a vida que conhecia deixou de existir. E, num cenário em que todos são estranhos - e ligeiramente hostis - e em que quanto mais descobre, menos parece saber, Ethan não vê outra maneira de tentar recuperar a sua vida. Precisa de sair dali.
Uma das primeiras coisas a destacar-se neste livro é a forma como a escrita define o ritmo da história. Um tanto fragmentária, como que reflectindo os pensamentos algo confusos do protagonista, a narração é sempre muito simples - por vezes, quase demasiado - cingindo-se ao essencial. E o essencial é a confusão de Ethan e a necessidade de a superar, de descobrir o que se passa, de encontrar um caminho para fora dali. Confusão que reforça a estranheza do mundo onde parece ter acabado de cair, e que facilmente se  transmite para o leitor.
Ora esta escrita directa, que dá apenas a informação necessária à medida que é necessária deixa sempre a sensação de algo que fica por dizer. Mas contribui também para reforçar o mistério, pois, a cada passo, o leitor sabe apenas aquilo que Ethan sabe - e diga-se que, pelo menos no princípio, isso não é muito. E, se fica a curiosidade em saber um pouco mais, fica também a impressão de uma maior proximidade, de um maior impacto conferido às circunstâncias do protagonista. A confusão, o medo crescente, a pura e simples necessidade de sobreviver são facilmente assimiladas. E isso contribui em muito para manter viva a vontade de continuar a ler.
E depois há o grande mistério. O que é Wayward Pines? O que se passa? Como se explicam todas as estranhas revelações com que Ethan se vai deparando? Escusado será dizer que, sendo este apenas o primeiro volume da trilogia, ficam ainda muitas perguntas sem resposta. Mas há também muito que vai sendo revelado, e cada uma dessas revelações é uma surpresa, abrindo caminho para um culminar que deixa imensa vontade em saber o que se segue.
Tudo somado, eis, pois, um primeiro volume cheio de perguntas e envolto em mistério, mas que dá início a uma história que, tão estranha como estranhamente viciante, surge com grandes revelações a cada nova reviravolta. Intenso, cativante e misterioso, um bom início.

Título: Wayward Pines - Paraíso
Autor: Blake Crouch
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Fusão (Julianna Baggott)

Desde que saiu da Cúpula, Partridge já descobriu muitas verdades incómodas sobre quem é o seu pai e como é, realmente, o mundo em que vive. Descobriu também uma irmã para quem todos os dias são uma luta pela sobrevivência, muito longe da vida protegida que sempre conheceu. Agora, Partridge sabe que tem também de fazer alguma coisa para mudar a situação - e, ao que parece, o seu papel já está definido. Mas tudo se precipita quando uma mensagem da Cúpula o força a regressar. A sua batalha terá de ser diferente das de Pressia, Bradwell, El Capitan ou Lyda. Mas todos têm um papel a desempenhar - nem que seja na simples escolha entre fazer ou não fazer alguma coisa.
Dando continuidade à história do primeiro volume, ao mesmo tempo que põe em causa muito do que as personagens sabem ou julgam saber, este é um livro que, partindo do já muito interessante contexto desenvolvido no primeiro volume, o expande ainda mais, acrescentando novas particularidades e reviravoltas capazes de pôr tudo sob uma nova perspectiva. Esta evolução é, aliás, grande parte do que torna esta leitura tão cativante, pois para todas as personagens há novas descobertas a fazer, sejam elas sobre o contexto global ou simplesmente sobre o percurso das suas próprias vidas.
Também particularmente marcante é a forma como, num cenário que é, em si mesmo, desolador, há toda uma amplitude de emoções a percorrer as vidas dos protagonistas. Amor e negação do amor, medo e descoberta de uma coragem escondida, ânsia de normalidade e resignação ao que nunca será. De todo este universo emocional, resulta, acima de tudo, uma fácil empatia para com as difíceis circunstâncias das personagens. Mas também uma muito marcante facilidade em partilhar dos seus sentimentos - sejam eles de fúria ante uma descoberta revoltante ou de quase impotência ante algo que está a acontecer.
Mas, voltando ao cenário global, que é uma grande parte do que define a história, importa ainda realçar o conjunto de mudanças que, em maior ou menor grau, resultam da acção das personagens. Na Cúpula e fora dela, há novas descobertas a expandir a perspectiva global. E a levantar grandes perguntas, tanto sobre como pôde tudo aquilo acontecer como sobre o que virá a seguir.
O que me leva ao que é o grande pico de intensidade numa história toda ela intensa: a forma como a autora encerra a história, no que é claramente um grande ponto de viragem, mas deixa inúmeras perguntas em aberto. Isto tem dois efeitos. Primeiro a surpresa, ao ver como tudo se conclui - ou como tantas portas se abrem para o volume final - , e depois a curiosidade em saber para onde darão essas mesmas portas.
Eis, pois, um livro que, correspondendo às altas expectativas criadas pelo primeiro volume, as expande e eleva até mais longe. E uma história que, impressionante no cenário em que decorre, na intensidade e na emoção que pauta as vidas das suas personagens, e nas vastíssimas repercussões das reviravoltas operadas sobre o enredo, promete ainda muito mais para a sua conclusão. Intenso, profundo e surpreendente, trata-se, portanto, um livro que não posso deixar de recomendar. E que cria as melhores expectativas para o volume final.

Título: Fusão
Autora: Julianna Baggott
Origem: Recebido para crítica

Para mais informações sobre o livro Fusão, clique aqui.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Divulgação: Novidades Marcador

Mika decide abandonar tudo em Espanha e mudar-se para a cidade de São Paulo, para num florescente Brasil tentar encontrar trabalho. 
Pouco depois de aterrar, um estranho apagão deixa toda a cidade e os seus vinte milhões de habitantes na total escuridão. Nesse momento sete potentes holofotes desenham no telhado de um arranha-céus a forma de uma estrela, iluminando todas as favelas dos subúrbios da cidade. Ao mesmo tempo, as redes sociais são inundadas com a fotografia de um corpo não identificado na qual está escrita a seguinte mensagem: #PrimeiroDia. 
Este é só o princípio de uma cadeia de incríveis acontecimentos que irão mudar para sempre a vida de Mika. Sem o desejar vai tornar-se na peça fundamental de uma trama de proporções gigantescas, concebida para aniquilar uma civilização em decadência. Entre o interior do surpreendente Brasil, a floresta primitiva da Amazónia até à selva de pedra onde se escondem os verdadeiros predadores da espécie humana, esta mulher vai procurar o seu ÉDEN.

Amigos desde sempre, Lucas, Marcos, Mateus e João chegaram à casa dos 40, com tudo o que isto tem de bom e de menos bom: a maturidade e a experiência, mas também a insegurança em relação às decisões a tomar para o futuro e a angústia quando à aproximação dos 50. 
Um Momento Meu relata com genuidade o passado e o presente de homens e mulheres nascidos nos anos 1960 que, a caminho do meio século de existência ainda buscam para o seu futuro a felicidade plena, ou, pelo menos, um equilíbrio entre a rotina e os momentos felizes. 

«A felicidade é uma colcha feita de dezenas de retalhos. Cada retalho é um momento, um instante em que a nossa alma se ilumina e que tornamos eterno enquanto dura. E na realidade, são momentos eternos, pois irão perdurar na nossa memória e reconfortar-nos, aconchegar-nos nos outros momentos, naqueles pontos em que não há retalhos de felicidade para coser a colcha.»

A melhor defesa contra os golpes da vida é um bom ataque. 
Este livro para tempos de crise é a arte da guerra para conflitos quotidianos. O autor inspirou-se na arte marcial milenar Japonesa, para encontrar soluções rápidas e directas para qualquer conflito ou necessidade. 
O seu método revolucionário de karaté mental revela-nos, entre muitas outras estratégias, o poder da proactividade, o valor da empatia radical, a fórmula para resistir aos problemas e cinquenta chaves mentais para sairmos airosamente de qualquer golpe da vida. 

«Este manual de karaté mental não só o consciencializa e treina para enfrentar as agressões verbais e emocionais dos outros, como também o protege das mensagens dolorosas e desmotivadoras que, através de um discurso mental mal orientado, possa dirigir a si mesmo.»

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Twilight - The Graphic Novel, Volume 2 (Stephenie Meyer e Young Kim)

Agora que descobriu o segredo de Edward, é tempo de Bella conhecer a família completa e a história no passado dos Cullens. Mais do que entrar numa casa cheia de vampiros, o que a assusta é algo tão simples como pensar que eles possam não gostar dela. Mas Bella está longe de imaginar que o perigo está prestes a entrar na sua vida. E pode não vir dos Cullens, mas é igualmente sobrenatural. O que começou por ser um sonho muito estranho está em vias de se transformar num pesadelo. E, quando se é a única humana num conflito entre vampiros, será possível sobreviver?
Tal como no primeiro volume desta adaptação, não há grandes diferenças entre o romance e a versão aqui apresentada. Tudo se mantém muito fiel à história original e, assim sendo, não se pode dizer que, em termos de história, haja algo de muito novo a descobrir. Mas, ao conjugar os diálogos já conhecido com uma parte visual muitíssimo apelativa, o conjunto que se forma é muito cativante, e isto torna-se mais claro neste segundo volume.
Parte do que faz sobressair esta segunda parte é precisamente o facto de um dos aspectos mais interessantes da história - o passado dos Cullens - fazer parte desta segunda metade. E, se a parte visual do livro é toda ela muito apelativa - no equilíbrio entre as partes a cores e a preto e branco, na forma como retrata personagens, no reflexo do ritmo do enredo - é nesta parte que o equilíbrio entre texto e ilustração mais se destaca, pois tudo, desde as cores à forma como é desenhada a expressão das personagens, reflecte esse lado sombrio e atormentado de Carlisle e companhia.
Também há um lado interessante no facto de deixar à parte visual os aspectos descritivos, realçando mais a interacção entre personagens, pois acaba por realçar as suas características de uma forma diferente. Isto nota-se mais nas interacções entre Edward e Bella, em que as expressões e as palavras começam a contar mais do que os pensamentos da protagonista, mas estende-se às restantes personagens, realçando mais os seus pontos fortes.
A impressão que fica é, pois, de um livro que, sem acrescentar nada de novo à história propriamente dita, lhe confere, ainda assim, uma perspectiva diferente. Um livro bonito, com ilustrações brilhantes, e que, para quem gostou de ler a saga, proporciona um muito cativante regresso à história destas personagens. 

Título: Twilight - The Graphic Novel, Volume 2
Autores: Stephenie Meyer e Young Kim
Origem: Aquisição pessoal

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

O Assassino de Catarina Eufémia (Pedro Prostes da Fonseca)

No dia 19 de Maio de 1954, uma camponesa foi morta a tiro por um tenente da GNR enquanto protestava por melhores condições de trabalho. O tempo e a história vieram a dar-lhe um lugar de destaque na defesa de uma ideologia, fazendo dela uma mártir. Mas ficaram sempre perguntas sem resposta e a ideia de que não se fez justiça. Este livro, vem conjugar todos os factos e apresentar a história tal como ela é, deixando em aberto aquilo que não pode ser respondido, mas traçando um retrato bastante mais claro do que realmente aconteceu.
Um dos aspectos mais cativantes deste livro é a forma sintética e imparcial, mas nunca simplista, como o autor apresenta os factos e o contexto dos acontecimentos, sem tomar partidos ou tirar conclusões não fundamentadas. O que o autor apresenta neste livro é um conjunto de factos conhecidos, de registos da época, de informações que contextualizam as circunstâncias e de dados que representam o percurso de vida dos seus protagonistas. Catarina Eufémia e o tenente João Tomás Carrajola, os dois lados do mesmo crime, são descritos neste livro com toda a seriedade, sem elaborações ou especulações, mas transmitindo, tanto quanto os factos o permitem, uma ideia bastante complexa.
Também interessante é o próprio tom do livro, acessível, mas não simplista, escrito de forma cativante e capaz de captar o interesse do leitor. Para isso contribui também o facto de, sendo a morte de Catarina o cerne deste livro, o autor não se perder em divagações acessórias. Claro que, tendo em conta o contexto da época, há muito mais - tanto a nível de informação global como de casos particulares - a conhecer e, nesse sentido, fica inevitavelmente a curiosidade em saber mais. Mas, tendo em conta que é o caso específico de Catarina que motiva este livro, faz todo o sentido que seja nela que a obra se centra. E, ao fazê-lo, a leitura torna-se bastante mais fácil de seguir, pois não se demora demasiado na inevitável complexidade de um contexto que é vastíssimo. 
O que daqui resulta é um interessante equilíbrio entre os desenvolvimentos de um caso específico e a parte do contexto global que se torna relevante para a compreensão das circunstâncias. E, assim sendo, há ainda um outro aspecto que sobressai. É que, além do crime e da sua investigação, há a construção do mito, da memória que ficou para além dos anos. Ao abordar também este aspecto da história de Catarina Eufémia, o autor torna o seu livro mais completo. E, por isso, mais interessante.
A soma de tudo isto é um livro que, num registo acessível, reúne todas as informações relevantes, permitindo ao leitor ficar com uma ideia muito clara do que realmente aconteceu - e de perguntas que, na verdade, talvez nunca encontrem resposta. De leitura agradável, bastante completo e muito interessante, é, sem dúvida, um livro que vale a pena ler.

Título: O Assassino de Catarina Eufémia
Autor: Pedro Prostes da Fonseca
Origem: Recebido para crítica

domingo, 2 de agosto de 2015

O Ser que Me Habita a Memória (Fernando André Gonçalves)

À procura de uma ligação com o passado, ou de partes da história que nunca conheceu, David volta à aldeia que o viu nascer e que agora é, aparentemente, um lugar deserto. Percorre os lugares que conheceu e, ao fazê-lo, encontra recordações de quem foi - e do que era a vida - naquele lugar. Mas é lá que jaz também a história do seu passado e de uma mãe que nunca chegou a conhecer. As respostas que procura estão lá, naquele lugar parado - ou perdido - no tempo. Mas isso não significa que a verdade seja fácil de assimilar.
Bastante descritivo e num registo que se demora tanto nos pensamentos como nos acontecimentos, este é um livro que dificilmente será de leitura compulsiva. Narrado a dois tempos, percorre no mesmo registo pausado a história do protagonista e a da sua mãe, narrando tanto o seu percurso particular como o da vida mais ampla que é a da aldeia onde viveram. Assim, há todo um conjunto de rotinas, de comportamentos, de mentalidades e de hábitos peculiares que, aos poucos, vão sendo descritos na narrativa, ao mesmo tempo que os próprios pensamentos e memórias dos protagonistas vão sendo expostos. E o resultado é, por isso, uma narrativa de ritmo lento, quase introspectivo.
Para este ritmo pausado contribui também a própria escrita, um pouco densa, bastante elaborada, evocando imagens e paralelismos que tornam a ideia do todo bastante mais vasta. Uma escrita que, tal como o enredo em si, exige também tempo e concentração, mas que, com laivos de quase poesia e uma fluidez que, a ritmo lento, mas harmonioso, se vai revelando, acaba por ser estranhamente cativante.
Além disso, esta caracterização meticulosa, quase exaustiva, de hábitos, ideias e peculiaridades acaba por ser parte do que define o livro, já que a aldeia acaba por ser tão relevante para o enredo como aqueles que nela habitam. E, ao representar um mundo já perdido (ou quase), Banrezes é quase que ela própria uma personagem, sendo por isso relevante - e interessante - conhecer também as suas características.
Todos estes traços se conjugam numa obra que, não sendo particularmente extensa, é bastante detalhada naquilo que tem para contar. E, assim, numa leitura de ritmo lento, mas envolvente, com uma escrita cativante e uma história que é tanto um retrato do que se perdeu como daquilo que perdura nas memórias. Um livro com muito de interessante, portanto.

Título: O Ser que Me Habita a Memória
Autor: Fernando André Gonçalves
Origem: Recebido para crítica