E lá passou mais um ano. Um ano de sonhos... e de realidades, de atribulações, esperanças e desilusões, de projectos imaginados e de planos deixados por concluir. De coisas boas e de coisas más, como todos, como sempre. Este foi um ano em que nem tudo foi bom e, em muitos dos aspectos, não foi dos mais produtivos. Mas nem tudo foi mau e houve, como lado positivo, as muitas, muitas horas livres para dedicar à leitura, resultando num total de 365 livros lidos (sim, é verdade), entre diferentes géneros e temas, das pouco mais de 50 páginas às mais de 1000.
Foi um ano bom para a leitura, portanto, e não só em quantidade. Houve boas descobertas, novos livros de autores que já tinham um lugar especial no meu coração, recomendações de longa data que finalmente tive a oportunidade de ler... Por isso, escolher os dez melhores foi tudo menos fácil e houve muitas boas leituras que, inevitavelmente, ficaram de fora desta lista. Mas já lá vamos...
Planos para 2012? Talvez encontrar um caminho de volta para a inspiração, talvez encontrar um futuro em tempos conturbados, talvez, simplesmente, tentar... Mas, a nível de leituras, (que é o que interessa por aqui, não é verdade?) o plano é simples. Continuar a ler, de tudo e no rumo do que me apela à curiosidade (e ao coração). E continuar a partilhar por aqui aquilo que cada novo livro me diz.
Mas, nostalgias à parte, passemos à lista de favoritos:
Quem conviveu comigo na altura em que andava a ler este livro sabe a marca que ele deixou - quanto mais não seja porque eu não falava de mais nada.
Extenso, com um mundo muitíssimo complexo e exaustivamente descrito, personagens igualmente complexas e um sistema elaborado e meticulosamente construído, este foi um livro que marcou de forma muito pessoal e por várias razões. Pelo ambiente sombrio e desolado que, desde o início prenuncia a tragédia, pela força emocional dos grandes momentos, pelo detalhe dos cenários, do protocolo, da mudança que, lentamente, se constitui. E principalmente por uma ligação muito pessoal a um protagonista que, longe de heróico, marca tanto pela falibilidade como pelo sentido de uma consciência superior, mas que não basta para resolver todo um mundo de culpas. De todas as razões para este livro ter sido marcante, Suth Carnelian é a principal. Mas todas estas razões são o que define este livro não só como a minha leitura favorita deste ano, mas como um dos favoritos de sempre.
Um mistério fascinante, personagens muitíssimo bem construídas e uma escrita belíssima para caracterizar um cenário impressionante. Fica deste livro a impressão de uma obra em que todos os elementos encaixam nas medidas certas. As emoções são intensas, as surpresas estão lá, as explicações podem não ser as mais prováveis, mas fazem todo o sentido. E, mais uma vez, há personagens que marcam, quer pela sua história, quer pela forma como reagem às circunstâncias mais complicadas. Aqui, destaca-se Julián Carax com a tragédia da sua história pessoal, mas também com o paralelismo que o une a Daniel Sempere, personagem cujo crescimento é particularmente marcante.
Mais um livro fascinante e, portanto, mais um dos favoritos.
Vinha com as melhores recomendações e não desiludiu. Interessante em múltiplos aspectos, desde o contraste entre a vida no Norte e no Sul, ao crescimento pessoal da própria protagonista na descoberta dos seus valores e sentimentos e culminando na personalidade intensa de um muito impressionante Mr. Thornton, este é um livro que cativa, que surpreende, que comove. Com uma escrita belíssima e uma história marcante, é uma leitura imperdível.
Também lido com as melhores expectativas, e mais um que não desiludiu. Mistério e emoção, tragédia e imaginação, definem uma história feita de surpresas e de enigmas, unindo vidas separadas pelo tempo através de emoções e sentimentos de pertença, de hesitações, mas também da necessidade de fazer a escolha certa. Cativante, emotivo e com uma escrita lindíssima, O Jardim dos Segredos foi uma das melhores descobertas do ano.
Tendo em conta que Duna foi o favorito de 2010, a presença deste livro na lista de favoritos não deve ser uma surpresa. Até porque o melhor de Duna está também neste livro.
Mais pausado, mais introspectivo, mas com uma força emocional devastadora, este livro traz de volta uma das minhas personagens favoritas e coloca-o numa situação desoladora. Ciente de demasiados possíveis futuros, impõe-se a Paul a escolha do mal menor. E quando (quase) tudo em redor é hostil, a escolha não poderá deixar de ser dolorosa. Crescendo em intensidade para culminar num final poderoso, este é um livro que fica na memória.
História de uma personagem fragilizada que encontra a força de que necessita nos ecos de um passado distante, este livro conjuga elementos históricos com um enredo feito de acção e perseguição onde se fundem o normal e o sobrenatural. Uma boa história, com momentos muito emotivos e personagens interessantes, tudo desenvolvido numa escrita cativante e com um final surpreendente. Mais uma leitura marcante.
Um mundo fascinante e uma história que evolui dos problemas quase pessoais da protagonista para uma situação que envolve bastante mais que as figuras principais da narrativa. Isto bastaria para definir uma história interessante, mas nem foram estes elementos a deixar a maior marca. Foram, sim, os momentos de grande força emocional, protagonizados por um duo de personagens com várias características cativantes, mas onde Kosenmark se destaca pela sua ambiguidade inicial, justificada por um passado complexo e que define as suas fragilidades.
Intenso, intrigante, comovente e com uma visão muito marcante dos contrastes entre o que se quer e o que tem de ser, também este livro foi uma descoberta impressionante.
Uma breve e deliciosa surpresa. Histórias curtas, mas com a medida certa de ternura, de emoção e de magia, acompanhadas por ilustrações que se adequam na perfeição ao texto, fazem deste livro uma obra fascinante para leitores de todas as idades.
Cheio de surpresas, com um cenário fascinante e muitíssimo bem construído e um protagonista complexo e cativante, há muito de bom para descobrir neste livro. Personagens com um papel inicial algo duvidoso, mas que vão conquistando empatia à medida que mais dificuldades surgem no seu caminho, lideradas por uma figura que, fugindo em tudo às características do herói comum, fascina, surpreende e chega a comover. Mais uma óptima surpresa.
Complexo no desenvolvimento das suas múltiplas personagens, mas ainda assim de leitura compulsiva, este é um livro que surpreende quer pela forma como as diferentes situações se interligam, quer pela forma como o protagonista evolui ao longo da narrativa, evocando emoções que vão desde uma relutante empatia à inevitável revolta ante as suas mais detestáveis atitudes. Uma história impressionante, onde tanto a postura das personagens como o rumo dos acontecimentos podem surpreender o leitor a qualquer momento.
E é este o meu balanço do ano. Falta, é claro, desejar a todos os que por aqui passam um novo ano que traga o melhor possível em sonhos, em esperança e em boas descobertas.
Boas leituras... e vemo-nos para o ano!