terça-feira, 18 de janeiro de 2011

North and South (Elizabeth Gaskell)

Quando, por questões de consciência, o seu pai se vê na necessidade de abandonar a igreja, torna-se inevitável deixar para trás a tranquilidade de Helstone e partir para o norte. Mas Milton é um mundo completamente diferente e, perante uma forma de vida completamente oposta ao que sempre julgou adequado à sua posição, Margaret descobrirá uma nova visão dos homens, uma mulher mais forte e capaz de evoluir em si própria... e sentimentos que evoluem do desprezo a algo bem superior, relativamente a um homem que, inicialmente, parece dar forma a tudo o que ocupa os seus preconceitos.
Haveria tanto a dizer sobre este livro que é até difícil decidir por onde começar. História de amor, percurso de crescimento da protagonista, relação e contraste entre meios diversos... Qualquer um destes aspectos daria, por si só, um romance intrigante, mas o facto é que este livro reúne TODOS estes elementos numa obra complexa, mas ainda assim extremamente cativante.
Começando pela diferença de cenários. Há, no percurso de Margaret, a caracterização de diferentes ambientes, desde a sociedade londrina à quase excessiva tranquilidade de Helstone, sendo, evidentemente, na forte industrialização de Milton (em contraste com os cenários anteriores) o grande foco deste livro, em termos de ambientes. E não é só nas evidentes diferenças de cenário, soberbamente descritas pela autora, que este contraste é claro. Na verdade, basta comparar as formas de pensamento de Edith, de Margaret (principalmente na fase inicial) e dos Thornton para ver como é impressionante o choque entre os diferentes modos de vida.
Até a evolução da própria Margaret, tanto nas alterações da sua forma de pensar como até nas suas acções, representa essa mesma oposição - na poderosa revelação de que muito desse choque é, afinal, causado por ideias prévias (e, por vezes, mal fundamentadas). Ver o crescimento de Margaret desde o momento em que abandona a casa da tia, através de um percurso de sucessivas dificuldades e perdas dolorosas, esperanças abandonadas e a tão complicada descoberta de sentimentos que nem ela consegue explicar, é acompanhar todo um interessante processo de crescimento, tanto em termos de pensamento como de força emotiva.
Falta referir, é claro, a turbulenta relação entre os protagonistas, que, não sendo propriamente o único foco do livro, é, sem dúvida, uma grande parte da sua força. A oposição inicial entre Margaret e John Thornton, a deliciosa caracterização (tanto em termos de aspecto, como de personalidade e de princípios) deste fascinante indivíduo e a sequência de atribulações e mal-entendidos que marcam o caminho de ambos são o que confere à história um interesse mais pessoal. Se acontecimentos mais globais como a greve dos trabalhadores apresentam claramente as principais dificuldades na altura, são as perdas de Margaret, as suas acções para com os que lhe são mais próximos (e para os que passam a sê-lo) e a sua súbita preocupação para com a opinião de um homem que, apesar do desprezo inicial, desperta admiração pela sua força de princípios, que criam a envolvência e a empatia na base daquela constante vontade de saber - de ver acontecer - o fecho dos acontecimentos. De descobrir, enfim, se as personagens com que um elo progressivo se vai criando, encontram, ou não, alguma felicidade.
Mais haveria, talvez, a dizer sobre este livro, mas correria o risco de estragar um pouco o grande prazer que é a sua leitura. Fico-me, por isso, com a recomendação sem reservas deste livro que é, simplesmente... lindíssimo.

2 comentários:

  1. Acho que nunca vou conseguir exprimir decentemente por palavras o quanto gosto deste livro e a forma como me marcou.

    Simplesmente inesquecível :)

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  2. É dos melhores e mais completos livros que já li. :') E até hoje mais nenhum me fez sentir o mesmo no mesmo grau. O último que li esteve quase mas faltou-lhe algo...

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