Na sequência do incidente ocorrido numa festa, Evie O'Neill é enviada para Nova Iorque, para viver com o tio, dono do habitualmente designado Museu dos Arrepios. O que devia ser um castigo é, para Evie, a oportunidade de conseguir o que sempre quis, no lugar onde sente que realmente pertence. Mas Evie tem um segredo - o mesmo segredo que já a meteu em sarilhos. Ao tocar num objecto, Evie consegue ver o passado e os segredos do seu dono. Naturalmente, o seu dom tem a potencialidade para a colocar numa situação desconfortável. Mas, quando começam a surgir os cadáveres das vítimas de um assassino com ligações ao oculto, os poderes de Evie ganham uma nova utilidade. E é possível que ela não seja a única.
Muitas coisas se poderiam dizer sobre este livro, ainda que nem todas sem revelar partes importantes da história. Mas, mesmo pondo de parte as grandes surpresas - e há-as em abundância ao longo do enredo - há, ainda assim, muito de bom a referir sobre o que torna este livro tão interessante e viciante.
Comecemos pelo ambiente. A acção decorre em plenos anos vinte, e apresenta todas as mudanças e questões de mentalidade a ela associadas. Uma das primeiras coisas a cativar neste livro é a forma brilhante como, em cada episódio, a autora consegue transmitir, na perfeição, esse ambiente, seja na boémia das festas, seja no contraste entre as mentalidades mais puritanas e a necessidade de se ser moderna, seja ainda em questões como o preconceito racial e alguns ideais mais polémicos da época. Este ambiente, construído de forma tão clara e apresentado de forma tão cativante, cativa desde logo para a história e para as personagens.
Outro elemento que se destaca é a fusão entre o elemento sobrenatural, com todas as possibilidades que lhe estão associadas, ao ambiente de mistério implícito na investigação dos crimes. Neste livro, a autora conjuga o melhor dos dois mundos, ao criar um mistério intrigante, de crimes e de um assassino que é preciso deter, e ao associá-lo a elementos de crença e fanatismo, por um lado, e, por outro, de verdadeiros dons sobrenaturais.
Quanto às personagens, é fácil estabelecer empatia, quer devido ao passado que trazem consigo, quer à forma como reagem a uma situação que, mais sombria a cada novo desenvolvimento, desperta também novas emoções e descobertas, criando um muito interessante contraste entre o lado mais macabro da história e um certo toque de leveza e de humor que torna o ambiente mais equilibrado.
Sendo o primeiro volume de uma série, escusado será dizer que há perguntas deixadas sem resposta. Ainda assim, a linha central do enredo encontra uma conclusão satisfatória, o que deixa a agradável sensação de uma viagem completa, ao mesmo tempo que desperta curiosidade para o que promete vir a ser um futuro maior.
Viciante e surpreendente, com personagens fortes e um ambiente muitíssimo bem construído, Os Adivinhos apresenta um mistério em que o real e o sobrenatural se confundem, levantando várias questões importantes ao longo de um enredo sempre intenso e cativante. A impressão que fica não poderia ser melhor. Um início brilhante.