quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Os Adivinhos (Libba Bray)

Na sequência do incidente ocorrido numa festa, Evie O'Neill é enviada para Nova Iorque, para viver com o tio, dono do habitualmente designado Museu dos Arrepios. O que devia ser um castigo é, para Evie, a oportunidade de conseguir o que sempre quis, no lugar onde sente que realmente pertence. Mas Evie tem um segredo - o mesmo segredo que já a meteu em sarilhos. Ao tocar num objecto, Evie consegue ver o passado e os segredos do seu dono. Naturalmente, o seu dom tem a potencialidade para a colocar numa situação desconfortável. Mas, quando começam a surgir os cadáveres das vítimas de um assassino com ligações ao oculto, os poderes de Evie ganham uma nova utilidade. E é possível que ela não seja a única.
Muitas coisas se poderiam dizer sobre este livro, ainda que nem todas sem revelar partes importantes da história. Mas, mesmo pondo de parte as grandes surpresas - e há-as em abundância ao longo do enredo - há, ainda assim, muito de bom a referir sobre o que torna este livro tão interessante e viciante.
Comecemos pelo ambiente. A acção decorre em plenos anos vinte, e apresenta todas as mudanças e questões de mentalidade a ela associadas. Uma das primeiras coisas a cativar neste livro é a forma brilhante como, em cada episódio, a autora consegue transmitir, na perfeição, esse ambiente, seja na boémia das festas, seja no contraste entre as mentalidades mais puritanas e a necessidade de se ser moderna, seja ainda em questões como o preconceito racial e alguns ideais mais polémicos da época. Este ambiente, construído de forma tão clara e apresentado de forma tão cativante, cativa desde logo para a história e para as personagens.
Outro elemento que se destaca é a fusão entre o elemento sobrenatural, com todas as possibilidades que lhe estão associadas, ao ambiente de mistério implícito na investigação dos crimes. Neste livro, a autora conjuga o melhor dos dois mundos, ao criar um mistério intrigante, de crimes e de um assassino que é preciso deter, e ao associá-lo a elementos de crença e fanatismo, por um lado, e, por outro, de verdadeiros dons sobrenaturais.
Quanto às personagens, é fácil estabelecer empatia, quer devido ao passado que trazem consigo, quer à forma como reagem a uma situação que, mais sombria a cada novo desenvolvimento, desperta também novas emoções e descobertas, criando um muito interessante contraste entre o lado mais macabro da história e um certo toque de leveza e de humor que torna o ambiente mais equilibrado.
Sendo o primeiro volume de uma série, escusado será dizer que há perguntas deixadas sem resposta. Ainda assim, a linha central do enredo encontra uma conclusão satisfatória, o que deixa a agradável sensação de uma viagem completa, ao mesmo tempo que desperta curiosidade para o que promete vir a ser um futuro maior.
Viciante e surpreendente, com personagens fortes e um ambiente muitíssimo bem construído, Os Adivinhos apresenta um mistério em que o real e o sobrenatural se confundem, levantando várias questões importantes ao longo de um enredo sempre intenso e cativante. A impressão que fica não poderia ser melhor. Um início brilhante.

Novidade Esfera dos Livros

Entre Lisboa e o Estoril, nos lobbies de entrada e nos bares dos hotéis como o faustoso Hotel Palácio ou o Hotel Atlântico, circulavam, durante a II Guerra Mundial, espiões dos principais campos beligerantes, Alemanha e Grã-Bretanha, mas não só. Também os serviços secretos italianos, franceses, norte-americanos, e ainda polacos, checos e romenos, e até soviéticos, actuaram em Portugal, e nas suas Ilhas atlânticas e nas suas colónias de África, na Índia e em Timor. Enquanto o resto da Europa estava a ferro e fogo, Portugal, durante a II Guerra Mundial, foi «terra franca» para os serviços de propaganda e espionagem e palco de alguns episódios verdadeiramente novelescos como a tentativa de rapto dos duques de Windsor pelo SS Walter Schellenberg, dos serviços secretos alemães. A historiadora Irene Flunser Pimentel, autora do livro Os Judeus em Portugal durante a II Guerra Mundial, traz-nos uma investigação única, baseada em documentos inéditos até agora mantidos em segredo, que nos revelam como o nosso país foi, graças à sua neutralidade e situação geográfica, um local importante de plataforma de negociações políticas, bem como de trocas de informações, comerciais, económicas e financeiras, entre os dois lados beligerantes. A situação atlântica, quer de Portugal, quer das suas ilhas e colónias, fez com que a principal espionagem, de ambos os lados, fosse a detecção de comboios de navios, para serem objecto de bombardeamentos aéreos ou de submarinos. Pelo nosso país passaram agentes secretos como os agentes duplos, do XX Comiittee, Juan Pujol, mais conhecido por «Garbo» e Dusko Popov, nome de código «Tricycle», que conseguiriam enganar os alemães sobre o verdadeiro destino do desembarque aliado na Europa, em Junho de 1944, desviando as suas atenções das praias da Normandia, onde ele ocorreu realmente, para a zona do Pas-de-Calais. Popov terá ainda fornecido informações aos serviços britânicos do possível ataque a Pearl Harbour. Também o escritor e agente secreto inglês Ian Lancaster Fleming se alojou no Estoril ao serviço do Naval Intelligence Department, e terá sido neste ambiente de guerra e espionagem que se inspirou para criar a figura de James Bond. Mas também os portugueses, quer os elementos da Legião Portuguesa quer os da PVDE, se viram envolvidos nas teias da espionagem estrangeira, chegando mesmo a estar ao serviço, à vez ou em simultâneo, dos dois campos beligerantes.

Irene Flunser Pimentel, congratulada com o Prémio Pessoa em 2007, é licenciada em História pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa, mestre em História Contemporânea (século XX) e doutorada em História Institucional e Política Contemporânea, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa. Elaborou diversos estudos sobre o Estado Novo, o período da II Guerra Mundial, a situação das mulheres e a polícia política durante a ditadura de Salazar e Caetano. É investigadora do Instituto de História Contemporânea (FCSH da UNL), coordenando neste momento o projecto, financiado pela FCT, «Justiça Política na Transição para a democracia em Portugal (1974-2008)». Neste momento está a realizar um projecto de pós-doutoramento, aprovado pela FCT, intitulado «O processo de justiça política relativamente à PIDE/DGS, na transição para a democracia em Portugal».

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Novidades Planeta


Um mundo onde a fantasia se torna realidade 
Este segundo livro retoma a decisão de Cassie, a protagonista, de integrar o S.E.C.R.E.T., sendo convidada a tornar-se Guia e a poder trazer um novo membro para a organização. 
Ainda magoada com Will, seu patrão e amante, Cassie Robichaud mergulha no S.E.C.R.E.T., a misteriosa organização que a mudou para sempre ao realizar-lhe as mais profundas fantasias sexuais e onde passa a guiar a mais nova candidata do grupo, Dauphine Mason. 
Com trinta e um anos, Dauphine tem uma loja de roupa em segunda mão em Nova Orleães e um fraco por Mark Drury, uma estrela de rock local, mas é demasiado tímida para se dar a conhecer. 
É-lhe facultada a entrada no S.E.C.R.E.T. para reacender a sua chama sexual e encontrar a confiança necessária para pôr de novo o seu coração em risco. 
Temendo que seja demasiado tarde para ela e Will, Cassie encontra inspiração ao ajudar Dauphine. As duas mulheres percorrem o caminho espinhoso entre os seus corações e as suas paixões, esperando descobrir o que realmente querem na vida e no amor. 
O enredo nesta sequela apresenta mais reviravoltas e o final irá surpreender, de forma inesperada, os leitores. 

Depois de concluir a sua longa e árdua viagem até à base dos Rebeldes em Shadowfell, Neryn tornou-se uma parte vital da rebelião contra o tirânico rei Keldec. 
Cada passo que dá no sentido de aperfeiçoar os seus dons e afirmar-se como uma Voz poderosa e única na sua geração leva-os mais perto da meta pretendida. 
Mas, primeiro, Neryn terá de procurar os Guardiães das quatro Vigias para completar o seu treino e o tempo escasseia. 
Entretanto, Flint, o espião rebelde por quem se apaixonou, foi de novo chamado à corte de Keldec.
O laço que os une é tão forte que, mesmo à distância, se procuram em sonhos, partilhando momentos preciosos – ainda que inquietantes – da vida um do outro. 
Os Rebeldes vêem com desconfiança este novo amor. Permitir que a emoção se sobreponha à lógica fria do movimento pode pôr tudo em risco. 
No fim, o amor poderá revelar-se a força motriz da esperança ou a brecha traiçoeira na armadura da rebelião. 

O mundo mantinha-os separados, mas o destino reuniu-os. 
Aria viveu toda a vida no Casulo protegido de Reverie. Este era o seu mundo e nunca pensou sobre o que estaria para lá das fronteiras. 
Mas, quando a mãe desaparece, Aria vê-se confrontada a sair para o exterior para a procurar, e a sobrevivência no deserto o tempo suficiente para a encontrar parece impossível. 
Então Aria encontra um estranho chamado Perry. Ele também está à procura de alguém. Mas é um Externo, um Selvagem, contudo é a única pessoa capaz de a manter viva na travessia do deserto.
E se conseguirem sobreviver serão a esperança um do outro para encontrar respostas às perguntas que vão surgindo à medida que se vão conhecendo. 

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Maximum Ride - Salvar o Mundo (James Patterson)

Max e o seu bando continuam em fuga, entre longos voos e esconderijos pouco agradáveis, na busca de cumprir a sua suposta missão de salvar o mundo. Mas, estranhamente, os seus inimigos de sempre parecem estar ausentes. A hipótese de deixar a missão e simplesmente viver começa a parecer tentadora. Até ao momento em que, de repente, o caos regressa. Os cientistas da Itex não estão dispostos a aceitar interferências no seu plano e não descansarão até que o bando de Max seja capturado - e eliminado. Mas todos eles são lutadores e, mesmo que haja complicações dentro do grupo, ninguém está disposto a simplesmente desistir.
Terceiro volume das aventuras de Max e companhia, este livro apresenta essencialmente os mesmos pontos fortes dos volumes anteriores. Mais uma vez, o estilo de escrita é bastante simples, a caracterização é feita de forma gradual e com a descrição reduzida ao estritamente necessário, e o ritmo de acção é de uma intensidade viciante. E isto bastaria para fazer deste terceiro livro uma leitura viciante, até porque a história mantém os mesmos pontos de interesse, o mesmo acontecendo relativamente às personagens.
Mas há também alguns desenvolvimentos interessantes. Depois de dois livros intensos, já se tornou expectável que as intenções da Itex se ocultem entre mentiras e manipulações, mas cada novo desenvolvimento aproxima os protagonistas do que poderá ser a verdade. Isto aplica-se quer às revelações pessoais, quer ao plano global, e é parte do que torna o enredo cativante. Além disso, há novos desenvolvimentos relativamente ao que caracteriza as intenções da Itex e, ainda que muitas perguntas continuem sem resposta, os novos elementos que são apresentados abrem muitas e interessantes possibilidades para o que se seguirá.
Relativamente às personagens - e suas interacções - sobressaem os momentos divertidos e o contraste com uma certa emotividade, motivada tanto pelos conflitos internos como pela fragilidade das suas circunstâncias. Também aqui ficam alguns pontos por resolver, mas o essencial está lá. E este bando de personagens peculiares  - e invulgarmente divertidas - acabam por ser a alma de toda a história, quer nos momentos de acção, quer nos de emoção, quer nos de humor.
Cativante e de leitura viciante, com um enredo cheio de surpresas e um núcleo de personagens centrais que, a cada nova aventura, se tornam um pouco mais interessantes, este é, portanto, um livro que não desilude. Divertido, envolvente e cheio de surpresas. Gostei.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Divina por Engano (P.C. Cast)

Shannon Parker tem um fraquinho por antiguidades, mas está longe de imaginar que uma visita a um leilão irá mudar a sua vida. Atraída, desde o primeiro momento, para um jarrão com a imagem de uma mulher incrivelmente parecida com ela, Shannon acaba, após algumas atribulações, por ser a feliz compradora. Mas, no regresso a casa, uma tempestade provoca um acidente e o jarrão transporta-a para outro mundo. Aí, Shannon vê-se na pele da Dama Rhiannon, Sumo-Sacerdotisa e Amada da deusa Eponina. Dona e senhora de tudo o que a rodeia, Shannon tem, ainda assim, muitas dificuldades pela frente. Para começar, está vinculada a um casamento ritual que não pode recusar. E, como se não lhe bastassem as peculiaridades de um novo mundo - e um novo marido - para assimilar, há um perigo que se aproxima. E que só ela pode enfrentar.
Narrado na primeira pessoa por uma protagonista que, apesar dos seus supostos trinta e cinco anos, se destaca por alguns comportamentos bizarros, este é um livro que cativa, em primeiro lugar, pela estranheza algo divertida do comportamento da protagonista. Divertida, porque as referências e comentários peculiares de Shannon, ao narrar a sua história, conseguem ser, por vezes, bastante certeiros, introduzindo também uma agradável leveza no registo da narrativa. Com algo de estranheza, porque é difícil, por vezes, associar à protagonista a maturidade que se espera de alguém da sua idade.
Apesar disto, e depois de superada a estranheza inicial, a história consegue ser bastante envolvente. A caracterização de Partholon tem vários elementos interessantes, sendo de destacar a associação às deusas e as diferenças - e semelhanças - entre centauros, humanos e Fomorianos. Além disso, a introdução de um elemento de perigo, que se vai tornando gradualmente mais intenso, cria para a evolução do enredo uma aura progressivamente mais sombria, que contrasta com a tal leveza dos momentos mais divertidos - e até da voz narrativa de Shannon.
Este contraste entre a leveza geral dos acontecimentos e a situação cada vez mais negra que envolve Partholon, reflecte-se também no desenvolvimento das personagens, que, inicialmente definidas mais pelos seus comportamentos mais caricatos, acabam por evoluir para personalidades mais completas. Isto aplica-se tanto a Shannon como àqueles que a rodeiam, e a forma como o enredo evolui acaba por despertar também algo de crescimento nas personagens. Sem nunca perder o humor, o que acaba por ser, também, particularmente cativante.
E depois há o romance, que, não sendo particularmente imprevisível, tem, ainda assim, as medidas certas de empatia e de emoção, desenvolvendo-se num bom equilíbrio com os outros elementos do enredo.
Envolvente e divertido, este é, portanto, um livro que, apesar da estranheza inicial, acaba por cativar e entreter. E até, nalguns momentos, por surpreender. Fica, pois, a curiosidade em saber mais sobre este mundo e sobre os seus tão peculiares habitantes.

Novidade Porto Editora

Uma família instala-se em Cholong-sur-Avre, na Normandia. Fred, o pai, diz ser escritor e preparar um livro sobre o Dia D. Maggie, a mãe, é voluntária numa associação de caridade e excelente na preparação de barbecues. Belle, a filha, faz honra ao seu nome. Warren, o filho, soube tornar-se indispensável para todos os colegas. 
E há a cadela, Malavita… 
Uma família aparentemente como as outras, em suma. Mas uma coisa é certa: se eles forem viver para o vosso bairro, fujam sem olhar para trás… Um extraordinário romance de sátira, acção e suspense, agora adaptado ao cinema por Luc Besson. 


Tonino Benacquista é escritor e guionista de banda-desenhada e cinema, nascido em França em 1961. A sua carreira inclui prémios como o Prémio das Leitoras da Elle em 1998 e o Grande Prémio RTL-Lire de 2002 na literatura, e um César em 2002 para guião cinematográfico. 

Novidades Alfaguara

Aos 18 anos, Arturo Bandini vive com a mãe e a irmã em San Pedro, o porto de Los Angeles. Obrigado, pela morte do pai e pela grande crise de 1929, a trabalhar em empregos duros e mal pagos, tem nas revistas pornográficas o seu único alívio, um hábito muito censurado pela beatice da mãe e da irmã. As suas outras leituras consistem nos livros que procura na biblioteca, obras de grandes autores como Nietzsche e Schopenhauer, que Arturo mal compreende mas que gosta de se gabar de ter lido. Lê-as, ao mesmo tempo que emprega um vocabulário forçadamente erudito, na esperança de cumprir o sonho de ser escritor. Arturo Bandini, um italo-americano a tentar vingar na vida em plena Grande Recessão, é uma personagem intrigante, bizarra e absolutamente única, que John Fante nos deu o privilégio de seguir numa saga em quatro volumes. A estrada para Los Angeles, o primeiro romance de Fante, descreve os rituais de iniciação de Bandini na vida adulta, para a qual está gritantemente impreparado. 

John Fante nasceu em 1909, em Denver, Estado do Colorado. Começou a escrever em 1929 e viu o seu primeiro conto publicado em 1932. Em 1938, publicou A Primavera há-de chegar, Bandini, o primeiro romance da saga de Arturo Bandini, que inclui ainda A estrada para Los Angeles, Pergunta ao pó e Sonhos de Bunker Hill. Atingido pela diabetes em 1955, a doença levou-o à cegueira em 1978 e à amputação de ambas as pernas dois anos mais tarde. Não obstante, o sempre prolífico escritor continuou a escrever, ditando os seus textos à mulher. Sonhos de Bunker Hill, o último volume da saga de Arturo Bandini, foi terminado desta forma, em 1982. Morreu em 1983, aos 74 anos. Apesar de não ter conquistado reconhecimento em vida, é hoje visto como um dos grandes autores da sua geração, notabilizado por ter sido mentor de Charles Bukowski. 

Com Bukowski, não há meio-termo: ou se ama ou se odeia. Estas histórias, inspiradas na sua própria vida, são tão selvagens e inusitadas quanto as histórias dos seus romances. Bukowski foi uma lenda no seu tempo. Louco, recluso, amante. Afável e mesquinho. Lúcido e insano. Sempre inesperado. Estas histórias excepcionais vêm directas do âmago de uma vida, a que viveu, marcada pela violência e pela depravação. Histórias de liberdade, tão profanas quanto sagradas. Da prostituição à música clássica, Bukowski faz, nestas Histórias de Loucura Normal, um retrato irado, apesar de terno, bem-humorado e inquietante, da vida marginal de Los Angeles, uma realidade obscura e perigosa que emoldurou a vida de um dos maiores autores de culto do século xx. Histórias, afinal, da loucura que espreita dentro de cada um de nós, que faz do corpo uma marioneta e que não desaparece senão com a morte. «Um agitador profissional… representante da marginalidade de Los Angeles…»

Charles Bukowski nasceu na Alemanha, em 1920, mas cresceu em Los Angeles, onde viveu durante cinquenta anos. Publicou o seu primeiro conto em 1944, quando tinha vinte e quatro anos, e começou a escrever poesia com trinta e cinco anos. Morreu em 1994, aos 73 anos, pouco tempo depois de completar o seu último romance, Pulp. Viu publicados mais de quarenta e cinco livros de prosa e poesia, incluindo os romances Post Office (1971), Factotum (1975), Women (1978), Ham on Rye (1982), Hollywood (1989) e Pulp (1994). É um dos autores americanos contemporâneos mais conhecidos a nível mundial e, possivelmente, o poeta americano mais influente e imitado de sempre. A Alfaguara publicou, em 2012, Hollywood e Pulp.

domingo, 27 de outubro de 2013

Amores Contados

Resultado de um concurso que tinha como tema, e tal como o título indica, Amores Contados, este pequeno livro reúne os cinco contos vencedores. Muito diferentes em estilos e em conteúdo, têm em comum uma mesma base temática. O resultado é, como não podia deixar de ser, interessante.
Uma Questão Matemática, de Ana Ferreira, abre a antologia com a história de um casal que se aproxima da rotura e de uma escritora que precisa de contar a sua própria história - mesmo que partes dela possam não ter acontecido. De leitura agradável e com uma base interessante, o que mais se destaca neste conto é um certo mistério que se insinua quanto ao que aconteceu verdadeiramente e ao que vive na imaginação da narradora. A escrita é cativante e a história, no geral, é envolvente, o que, apesar de uma certa distância relativamente às personagens, acaba por proporcionar uma boa leitura.
As Fotografias Falam Baixinho, de Cristina Milho, conta a história de um amor passado. Nostálgico e instrospectivo, mas com um interessante contraponto com a realidade para lá da protagonista, deixa uma série de perguntas sem resposta, mas cativa pela escrita algo poética e por algumas imagens particularmente marcantes.
Amor de Viagem, de Francisco Vilaça Lopes, percorre a presença do amor e a forma como este surge mesmo nos ambientes mais disfuncionais. Contado em fragmentos e com um enredo muito pouco linear, este é um conto que, principalmente na fase inicial, perde por ser demasiado confuso. Ainda assim, a escrita cativante e o impacto particular de algumas das situações compensam este aspecto menos bom.
Café Avenida, de Jorge Campião, conta a história de um marido que, em busca de informações sobre a traição da esposa, acaba por encontrar uma companheira de infortúnio. Cativante, ainda que de ritmo pausado, este conto marca também por uma certa melancolia, mas principalmente pela forma como a relação dos protagonistas, definida inicialmente pela traição, se transforma em algo mais forte. Uma boa história, com alguns momentos surpreendentes.
O último conto, Um, Dois, Três, de Rosa Bicho Gonçalves, é, no seu essencial, o elogio de um amor perdido. Muito breve, mas muito bem escrito, e com uma tristeza que se sente em cada simples palavra, é um conto que enternece e comove. E, por isso, que fica na memória.
Todos cativantes, do seu próprio jeito, em registos bastante diferentes e explorando o amor de diferentes formas, há em todos os contos deste livro algo de bom para descobrir. Seja na voz dos autores, seja na história ou na voz das próprias personagens, todas estas histórias têm o que é preciso para tornar a leitura envolvente. O resultado é um livro breve, mas sempre interessante. Uma boa leitura, em suma.

sábado, 26 de outubro de 2013

Uma Paixão Escandalosa (Emma Wildes)

Os interesses invulgares e o comportamento reservado - além de uma aspiração secreta - fizeram com que, depois de quatro penosas temporadas, Vivian Lacrosse continuasse solteira. E, depois de acordado o noivado com o seu amigo de infância, um novo escândalo está prestes a surgir. É que Charles, o noivo, fugiu para casar com outra mulher. A única solução possível parece ser a generosa proposta de Lucien Caverleigh, marquês de Stockton. Além de ser o irmão mais velho de Charles, Lucien é um dos solteiros mais desejados da sociedade, mas parece tê-la escolhido a ela. Mas, à medida que a relação entre ambos começa a tornar-se mais de afecto, que de conveniência, um terrível contratempo surge no caminho do futuro casal. E se é certo que o afecto já não pode ser apagado, é possível que as suas vidas não se voltem a encontrar.
Tendo como ponto de partida algumas personagens já conhecidas de outros livros da autora, este é um livro que, tem, basicamente, os mesmos pontos fortes em comum que os livros que envolvem essas mesmas personagens. A história é, como habitual, centrada no romance entre os dois protagonistas e complementada pela de um casal secundário. Além disso, ao romance dominante associa-se também um toque de perigo e mistério que vem conferir ao enredo uma particular intensidade. E, como é de esperar, tudo isto escrito de forma cativante e com personagens carismáticas.
Nesta história em particular, cativa, em primeiro lugar, o retomar de acontecimentos narrados noutros livros e a forma como as personagens já conhecidas se cruzam com novos elementos, criando uma sensação de proximidade imediata, ao mesmo tempo que introduz novas - e também interessantes - figuras. O romance propriamente dito, avança de forma gradual, ainda que haja já sentimentos fortes como ponto de partida, e isto leva a que o início seja um pouco pausado, mas sempre interessante e agradável. Além disso, ao cruzar as histórias de Vivian e de Charles, outros afectos ganham vida, quer no que toca à simples amizade, quer nas atribulações das relações familiares.
Mas é quando o elemento de perigo surge em cena que a história ganha intensidade. Não apenas devido à situação em que Lucien se vê envolvido - com toda a tensão associada às circunstâncias - mas, e principalmente, devido ao impacto emocional gerado pelo medo e pelo mistério. Toda a situação afecta quer Vivian, quer a família e os amigos de Vivian e Lucien, quer, naturalmente, o próprio Lucien. O resultado é uma combinação particularmente bem conseguida entre o afecto construído na fase inicial do enredo e a intensidade de uma possível e iminente perda, o que abre caminho para um final intenso e viciante.
Cativante e surpreendente, Uma Paixão Escandalosa apresenta uma história envolvente, com personagens interessantes e um enredo que, sempre agradável e pontuado por alguns momentos especialmente marcantes, cativa desde as primeiras páginas e até ao fim. Muito bom.

Novidades Topseller

Ela é um a detective implacável. Ele é um vigarista procurado . Juntos são a arma secreta do FBI para investigar o golpe perfeito. 
Kate O’Hare é uma das melhores agentes do FBI. Nick Fox é um vigarista genial, presente na lista dos Dez Mais Procurados do FBI. Ela raramente falhou um caso — a excepção é Nick, que sempre escapou à sua vigilância enquanto aplicava inacreditáveis golpes de alto risco a milionários. Eles sentem-se atraídos um pelo outro: ela é teimosa e exigente, ele é charmoso e imaginativo. 
Juntos, e com uma equipa de vigaristas amadores reunida por Nick, vão montar um golpe genial para capturar um investidor corrupto que fugiu com 500 milhões de dólares e que se esconde numa das 17 mil ilhas da Indonésia. 
Entre uma forte atracção mútua, problemas de liderança e choques de personalidade, será que esta dupla improvável irá ser bem-sucedida? 

Nikki Fairchild tem 24 anos e parte do Texas para Los Angeles. Bela, inteligente e criativa, ambiciona montar o seu próprio negócio na área da tecnologia. Damien Stark tem 30 anos e é uma antiga estrela do mundo do ténis.
Actualmente é um empresário rico, poderoso e bem-sucedido, com negócios em todas as áreas. Sensual, ousado, e controlador, Damien é desejado por todas as mulheres que o rodeiam. Os caminhos de ambos cruzam-se, dando lugar a um romance arrebatador, revestido de uma carga emocional e erótica tão poderosa que os consome. Mas tanto Damien como Nikki possuem segredos que temem partilhar. Poderão os fantasmas do passado forçar a sua separação?
A história de uma paixão obsessiva entre um homem que não conhece a palavra «não», e de uma mulher que sabe dizer «sim», num tom excitante e com todos os detalhes.

Isabel é apenas uma adolescente quando a forçam a tornar-se uma peã numa conspiração para destronar o seu meio-irmão, o rei Henrique. Acusada de traição e posta cativa, aos dezassete anos vê-se subitamente coroada rainha de Castela, o maior reino de Espanha.
Mergulhada num conflito mortal para manter o trono, está determinada a casar-se com o único homem que ama, mas que lhe é proibido: Fernando, príncipe de Aragão. Quando decidem unir os reinos de ambos sob o lema «uma só coroa, um só país, uma só fé», Isabel e Fernando deparam-se com uma Espanha empobrecida e cercada por inimigos.
Com um grande interesse pela descoberta do desconhecido, deixa-se apaixonar pela visão de um enigmático navegador chamado Colombo. Mas quando os mouros do reino de Granada declaram guerra, tem lugar uma violenta e terrível batalha contra um antigo adversário, que irá testar toda a determinação, a coragem e a crença tenaz que Isabel tem no seu destino.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

80 Dias - A Cor do Prazer (Vina Jackson)

Passaram dois anos desde que os caminhos de Summer e Dominik se separaram. Mas o tempo não foi suficiente para apagar a memória do que viveram e os seus pensamentos continuam a fugir-lhes para o que têm em comum. Summer partilha a vida com um homem carinhoso, mas sente-se a cair no tédio. E Dominik procura a inspiração que só Summer lhe pode dar. É inevitável que voltem a cruzar-se, principalmente a partir do momento em que Summer decide voltar a Londres. Mas será o sentimento que teimam em esconder, mais forte que os medos e as mágoas do passado que partilharam?
Volume final de uma trilogia em que o erótico e o romântico se conjugam, 80 Dias - A Cor do Prazer apresenta essencialmente as mesmas características dos livros anteriores. A escrita simples, mas cativante, mantém a envolvência do enredo, e a relação entre as personagens define-se tanto pelo seu carisma individual como pela disposição para novas experiências. Mais uma vez, o erotismo continua a ser o elemento dominante, com as personagens a atravessaram experiências invulgares - mas também ligações complicadas - e uma forte ênfase no desenvolvimento da sensualidade, quer em situações, quer em personagens.
Mas há também novos elementos, que vêm complementar parte do que tinha ficado por desenvolver nos livros anteriores. A relação entre os protagonistas surge, agora, enquadrada, numa experiência mais vasta, definida tanto pelas relações que tiveram como por aquilo em que se tornaram, Dominik enquanto escritor, e Summer na sua carreira de violinista. Há, por isso, um contexto mais vasto em torno da história de ambos e, mesmo ficando ainda a impressão de que mais haveria a dizer sobre os seus passados, a história é agora mais completa. Já não se trata de uma relação fundamentalmente física, mas de uma afeição que cresceu. E de um toque de romance que, necessariamente atribulado, mas também muito cativante, acaba por tornar esta fase final da história muito mais intensa.
Este maior desenvolvimento surge também relativamente a outras personagens, com destaque, é claro, para Chris, mas não só, e até ao sempre presente violino. A forma como a história do violino de Summer se cruza com a história da própria protagonista, expande ainda um pouco mais o ambiente geral, acrescentando ainda um elemento de mistério que, ainda que discreto, é também muito interessante.
Sempre cativante e, por vezes, surpreendente, 80 Dias - A Cor do Prazer mantém os pontos fortes dos volumes anteriores, ao mesmo tempo que, com um maior desenvolvimento dos elementos para lá do erotismo, e uma evolução interessante no enredo, em geral, consegue, também, superar as expectativas. Um bom final, portanto, para a história de Summer e Dominik. Gostei.

Novidade Porto Editora

A cirurgiã pediátrica Matilde Martínez abandona Paris rumo ao Congo levada por um sonho: aliviar o sofrimento das crianças vítimas da violência e da fome que imperam naquele país africano. No entanto, deixou para trás uma difícil história de amor que não consegue esquecer. 
Por outro lado, o mercenário Eliah Al-Saud chega ao Congo movido por uma ambição: apoderar-se de uma mina de coltan, o minério mais cobiçado pelos fabricantes de telemóveis, que lhe renderá enormes lucros. Mas, acima de tudo, para recuperar Matilde, que considera a razão da sua vida. 
Os traumas e segredos que os distanciaram em Paris continuam latentes e, rodeados por um contexto cruel e injusto, a reconciliação parece impossível. Mas Matilde e Eliah tentarão fazer tudo para que o seu amor triunfe. 

Florencia Bonelli nasceu em 1971, na cidade argentina de Córdova. Com formação universitária na área das Ciências Económicas, renunciou à sua actividade profissional para se dedicar à escrita, sua paixão de sempre, e em poucos anos tornou-se uma das mais populares escritoras argentinas da actualidade. No catálogo da Porto Editora figuram já os dois livros da série O Quarto Arcano e o primeiro volume da trilogia Cavalo de Fogo, passado em Paris. 

Mais informação aqui aqui.

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Novidade Bertrand

Charles Mason (1728-1786) e Jeremiah Dixon (1733-1779) foram dois agrimensores britânicos, célebres por demarcarem a fronteira que separa a Pensilvânia e o Maryland, conhecida como Linha Mason-Dixon. 
Thomas Pynchon dá nova vida aos dois cientistas, numa história onde encontramos nativos americanos e populações fronteiriças, uma guerra naval, conspirações eróticas e políticas e excesso de cafeína. 
Acompanhamos o percurso deste bizarro par – um deles animado, o outro depressivo; um gótico, o outro pré-romântico – desde a sua primeira viagem juntos ao Cabo da Boa Esperança, até à América pré-revolucionária e de regresso, com estranhas reviravoltas do destino, numa grande viagem ao hemisfério negro do Iluminismo, na qual eles observam e participam nas inúmeras oportunidades de insanidade apresentadas pela Idade da Razão. 

Autor: Thomas Pynchon é o autor de culto de livros como Arco-Íris da Gravidade, V e Vício Intrínseco. Considerado um dos autores mais influentes da atualidade, conquistou um National Book Award e é invariavelmente apontado como um dos favoritos ao Prémio Nobel.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Cartas da Nossa Paixão (Karen Kingsbury)

Ellie Tucker e Nolan Cook são amigos desde sempre. E, ainda que nunca o tenham dito com toda a sinceridade, o que sentem pelo outro é bastante mais. Mas, aos quinze anos de vida, a inocência e o sonho de ambos está prestes a quebrar. Uma noite, a mãe de Ellie chega a casa com a notícia de que está grávida de outro homem. Em resposta, a decisão do pai é inexorável. Têm de partir, à pressa e deixando tudo para trás. Para Ellie e Nolan a perda é insuportável. Resta-lhes um último gesto, o de deixar duas cartas enterradas sob o lugar que sempre partilharam, e a promessa de uma última oportunidade, num regresso marcado para onze anos depois. Mas o tempo passa, o contacto perde-se. E, à medida que essa data se aproxima, Ellie e Nolan vêem o quanto as suas vidas mudaram... e questionam a validade dessa oportunidade final.
Este é um livro que vive, em grande medida, das emoções que provoca. Quer nos dramas familiares, quer no romance atribulado entre os protagonistas, há espaço para vários momentos intensos, e a autora escreve-os de forma particularmente comovente. Além disso, e apesar de alguns comportamentos mais difíceis de compreender, as personagens têm muito na sua história capaz de gerar empatia, o que mantém viva a curiosidade em saber de que forma evoluirá o seu percurso.
Um outro aspecto interessante é a constante presença das questões de culpa e de perdão, principalmente no que toca à história dos pais de Ellie. A atribuição de culpas e a desresponsabilização surgem sob muitas formas ao longo do enredo e, além de serem, por vezes, a base de alguns momentos fortes, levam a reflectir sobre as verdadeiras complexidades do que é a vida familiar - e dos conflitos e reconciliações que, necessariamente, envolve.
O que me leva a um outro ponto: as questões de fé. Sendo um elemento de base neste livro - tal como em Dois Anos e Uma Eternidade - é, à partida, de esperar que elementos associados a um sistema de crenças - oração, pecado e redenção, a visita à igreja ou até mesmo as questões de valores - estejam presentes ao longo da história. Ainda assim, este é um aspecto que, por vezes, se torna um pouco excessivo, principalmente quando a fé de uma personagem se torna elemento base da sua caracterização. Esta presença constante da fé - e da crença no poder da oração - deixa a impressão de que alguns momentos se tornam forçados. Ainda assim, o impacto emocional da história e a envolvência da escrita compensam bem estes momentos.
A impressão que fica, é, então, a de uma história cativante e agradável, um pouco exaustiva nas questões de fé, mas com uma base interessante e alguns momentos particularmente comoventes. Gostei, portanto.

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Os Portugueses Descobriram a Austrália? (Paulo Jorge de Sousa Pinto)

A história dos Descobrimentos é, seguramente, rica em episódios interessantes, protagonizados por figuras emblemáticas de cariz heróico - ou não tão heróico assim - e motivados por razões de fé, de interesse ou outras. É, por isto e não só, um tema inesgotável, mas também a base de alguns mitos que, de fundamentação duvidosa, foram perpetuados através do tempo. Este livro apresenta, através das cem perguntas e respostas que o constituem, uma perspectiva resumida, mas esclarecedora, dos factos essenciais sobre os Descobrimentos, ao mesmo tempo que quebra alguns destes mitos.
Uma das primeiras coisas a chamar a atenção neste livro prende-se com a organização em perguntas e respostas. Esta estrutura, permite realçar os pontos essenciais da longa e vasta história dos Descobrimentos e fazê-lo de forma simples, realçando a informação importante e, uma vez que cada resposta é relativamente curta, sem que a leitura se torne maçadora. Claro que, e sendo a base deste livro algo de tão vasto, haveria certamente mais a desenvolver sobre muitos dos temas e figuras. Ainda assim, não parece ser esse o objectivo e, no que toca à construção de uma boa base sobre o assunto, o livro é muito bem sucedido. De forma sucinta, apresenta o essencial, cativando para a leitura ao mesmo tempo que deixa a curiosidade em saber mais.
Um outro ponto a realçar é a forma como cada resposta é escrita, cruzando referências actuais com a explicação da parte do contexto histórico que se pretende abordar. Além do simples facto de ser refrescante encontrar uma referência literária ou cinematográfica familiar, ou um simples estabelecer de paralelismos entre o passado e a actualidade, algumas das comparações estabelecidas tornam mais fácil a compreensão do contexto, particularmente naqueles pontos mais complexos, em que, ainda que apresentados de forma sintética, é inevitável a referência a múltiplos nomes, sejam de gentes ou de lugares.
É provável que qualquer das questões apresentadas neste livro justificasse um desenvolvimento maior. Ainda assim, esta forma sucinta e cativante de apresentar as coisas permite transmitir uma ideia geral bastante clara, desmistificando alguns pontos importantes e construindo uma boa base para um tema em que há, seguramente, mais a explorar. A soma de tudo isto, é um livro interessante e cativante. Uma boa leitura, pois. 

domingo, 20 de outubro de 2013

Gula Perversa (Janet Evanovich)

Recém-chegada a uma casa nova e a um novo emprego, os planos de Lizzy resumem-se a dedicar-se ao que faz melhor - cupcakes - , escrever um livro de cozinha que a ajude a pagar as despesas da casa e levar uma vida tão normal quanto possível. Mas tudo muda quando Gerwulf Grimoire entra em cena. Com ar de vampiro e uma aura maléfica, pouco mais faz que dizer a Lizzy a algumas palavras - e deixar-lhe uma marca na mão. E, como se não bastasse, um outro estranho entra em cena escassos momentos depois. Diesel diz estar do lado dos bons - e tudo indica que assim é - , mas isso não chega para evitar que a vida de Lizzy se torne ainda mais bizarra. É que, aparentemente, Lizzy tem um dom especial e Diesel precisa dele para localizar as sete pedras SALIGIA. Pedras estas que, nas mãos erradas, podem trazer o inferno à terra.
Algo bizarro, mas estranhamente cativante, este é um livro que funciona como puro entretenimento. A escrita, bastante simples, adequa-se bastante bem à voz da protagonista, ao mesmo tempo que realça o seu sentido de humor. E a forma de ser de Lizzy é um bom ponto de partida para um conjunto de episódios peculiares, intrigantes e muito divertidos.
Na base deste livro estão as tais pedras SALIGIA, e a da gula, em particular. Em torno destes elementos, há um sistema de capacidades mágicas - ou não tão mágicas, em alguns casos - que envolvem elementos tão diversos como capacidades hereditárias, a custódia de um artefacto poderoso e as mais improváveis experiências com um livro de feitiços. Todos estes elementos são desenvolvidos na medida em que são relevantes para a acção, o que significa que muitas perguntas são deixadas sem resposta. Ainda assim, funcionam como um bom ponto de partida para em enredo que, apesar de estranho em muitos aspectos, acaba por proporcionar uma leitura agradável e divertida.
A mesma estranheza das situações se aplica também a várias personagens, o que acaba por deixar uma impressão global de que tudo é bastante provável. Há, ainda assim, uma certa fluidez na interacção entre as personagens, que associada à aura de mistério que envolve Wulf e Diesel, acaba por tornar interessante toda a situação.
Trata-se então de um livro que, muito simples nos seus elementos essenciais, mas com um interessante equilíbrio entre o intrigante, o surreal e o divertido, acaba por se revelar uma leitura envolvente e descontraída. Fica também a curiosidade em saber o que se segue, neste mundo tão interessante e peculiar.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Novidades Bizâncio

Título: António Ferro: A Vertigem da Palavra
Subtítulo: Retórica, Política e Propaganda no Estado Novo
Autor: Margarida Acciaiuoli
ISBN: 978-972-53-0534-8 
Págs.: 432
Preço: Euros 16,98 / 18,00
Política/Biografia

 António Ferro era um homem singular. Escritor, jornalista, adquiriu notoriedade com o seu livro sobre a viagem em torno das ditaduras europeias nos anos 20 do século XX. Soube convencer Salazar de que o povo precisava de espectáculo, mostrou-lhe que tinha um programa e objectivos para a promoção do regime e foi nomeado director do organismo que se encarregaria das actividades de propaganda do Estado Novo. Durante quinze anos fez do país um «teatro» e foi o seu encenador: organizou exposições, criou prémios artísticos e literários, financiou filmes e documentários, criou uma companhia de bailado, um teatro do povo, um Museu de Arte Popular. O turismo teve com ele uma inusitada relevância através, entre outros, dos incentivos à qualidade de hotéis e restaurantes e do programa de Pousadas.
Nada lhe escapou, dir-se-ia. Mas, quando a Segunda Guerra Mundial terminou, percebeu-se que o país pouco mudara. É desta contradição que este livro trata, sem esquecer as convicções de António Ferro e a importância que sempre deu à palavra.

Título: O Continente Perdido
Subtítulo: Uma Análise sobre o mais negro Momento da Europa desde a Segunda Guerra Mundial
Autor: Gavin Hewitt
ISBN: 978-972-53-0533-1
Págs.: 336
Preço: Euros 15,09 / 16,00
Política/Actualidade/Economia

«Das planícies áridas de Espanha, ergue-se o aeroporto de Ciudad Real, feito de vidro e aço escovado, a brilhar à luz do sol. Vangloria-se de ter uma das pistas de maior comprimento da Europa. O seu terminal, amplo e arejado, foi concebido para acolher 5 milhões de passageiros por ano. Custou quase mil milhões de euros. Mas não se vêem aviões. É um elefante branco, financiado com o dinheiro dos contribuintes. Existem outros aeroportos «fantasma». Por todo o país, há projectos semiacabados: o legado de políticos que utilizaram os fundos públicos para satisfazer a sua ambição.»
O Continente Perdido conta-nos a história de um sonho falhado, uma visão nobre que se tornou perigosa e que conduziu a Europa à mais grave crise que enfrenta desde a Segunda Guerra Mundial: uma crise para a qual estava totalmente impreparada. Um dos pilares do sonho europeu, surgido no pós-guerra, era a criação de uma moeda única, e com ela surgiu o dinheiro fácil, seduzindo alguns países que se lançaram numa voracidade despesista. Após a crise financeira dos Estados Unidos, a Europa foi inevitavelmente atingida e deparou-se com uma crise da dívida pública que põe em causa todo o projecto europeu.
O Continente Perdido está repleto de casos patéticos, que cruzam os bastidores dos centros de decisão política com as histórias de cidadãos comuns, dando um retrato ímpar da mudança dramática da História a que assistimos nos nossos dias. Inclui, ainda, entrevistas com funcionários europeus de topo, dentro e fora do sistema, e relatos dramáticos de algumas das cimeiras europeias. Um livro claro e de leitura apaixonante, de um dos mais conceituados, e bem relacionados, jornalistas dos nossos dias, que nos explica com invulgar simplicidade como chegámos aqui e para onde caminhamos.
  
Título: Diário de uma (ainda) Solteira
Subtítulo: As Destemidas Reflexões de Uma Aventureira Romântica de 32 anos e meio
Autor: Alison Taylor
ISBN: 978-972-53-0535-5
Págs.: 288
Preço: Euros 14,15 / 15,00
Romance/Diário

As raparigas solteiras são hoje em dia mais espertas, mais fortes e mais engraçadas, e Alison Taylor é a sábia voz desta nova geração que anda à procura «do tal» mas que não quer fazer uma lobotomia de personalidade pelo caminho. Cobrindo doze meses na vida de uma esperançada (mas não desesperada) romântica, Diário de Uma (Ainda) Solteira revela-nos o que acontece antes de um encontro, durante um encontro e quando não há encontro algum. Deambulando pelos festivais de música, e por várias capitais europeias, acompanhamos esta «doente de amor» cheia de estilo – e os seus amigos – na demanda por divertimento, romance e por alguém que possa amar. Diário de Uma (Ainda) Solteira calará fundo a uma geração de mulheres modernas, educadas e ambiciosas que nem querem acreditar que há tão poucos homens adequados, solteiros e heterossexuais, o que não as impede de procurar e ter esperança, ter esperança e procurar…
(Ainda) Solteira deveria ser um Estado Civil.

Novidade Oficina do Livro

Muitas histórias correram sobre a humilde mulher que, em 1385, numa aldeia perto de Alcobaça, pôs a sua extrema força e valentia ao serviço da causa nacional, ajudando assim a assegurar a independência do reino, então seriamente ameaçada por Castela. É nos seus lendários feitos e peripécias, contados e acrescentados ao longo dos tempos, que se baseia este romance, onde as intrigas da corte e os tímidos passos da rainha-infanta D. Beatriz de Portugal se cruzam  com os caminhos da prodigiosa padeira de Aljubarrota, Brites de Almeida, símbolo máximo da resiliência e bravura de todo um povo.
 Este é o romance nunca feito sobre a maior heroína da nossa história, cruzando a voz de Brites de Almeida com a voz de D. Beatriz de Portugal. Asas e Raízes, imaginação e rigor histórico no período mais conturbado que Portugal viveu na época medieval. 600 anos depois do seu feito heróico, a enorme popularidade da padeira e a sua figura inspiradora permitiram a Maria João Lopo de Carvalho criar um romance com outro ritmo, bem ao jeito do leitor que aprecia as peripécias de uma lutadora e corajosa mulher do povo que marcou a diferença num tempo em que sangue, suor e lágrimas não faltavam por terras de Portugal. E que melhor exemplo de bravura para os portugueses num período de lutas tão complexas como as que travamos todos nós nos dias de hoje?

Maria João Lopo de Carvalho licenciou-se em Línguas e Literaturas Modernas. Foi professora de português e de inglês e trabalhou como copywriter em publicidade. Passou ainda pelas áreas de Educação e Cultura na Câmara Municipal de Lisboa. O seu primeiro bestseller, Virada do Avesso, foi publicado pela Oficina do Livro em 2000. Tem mais de cinquenta títulos editados, entre romances, livros de crónicas, manuais escolares e dezenas de livros infanto-juvenis, a maioria deles no Plano Nacional de Leitura. Em 2011, editou o primeiro romance histórico Marquesa de Alorna que, em pouco tempo, se tornou um bestseller.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Queen's Hunt (Beth Bernobich)

Os seus caminhos dividiram-se, mas o objectivo que os move é ainda o mesmo. Raul Kosenmark deseja a paz para o seu reino, mesmo que tenha de se tornar um traidor para a conseguir. E, afastada do seu amado, também Ilse Zhalina sente o mesmo. Mas, em breve, ambos virão a descobrir que outros inimigos se movimentam e que há mais guerras para travar. Longe um do outro, mas perto do coração, tanto Ilse como Raul terão de interferir no decurso das batalhas por vir.
Uma das coisas mais impressionantes de Passion Play, primeiro livro desta série, foi a história pessoal dos protagonistas, com a forte relação que se desenvolveu entre ambos. Durante grande parte deste livro, Ilse e Raul estão separados e, na sequência do que já se adivinhava no final do primeiro volume, a história tornou-se menos centrada na luta pessoal e mais na intriga entre lordes e reinos. E poderes mágicos. O resultado é que, principalmente na fase inicial do livro, há bastante menos de emoção e mais de intriga.
O que não quer dizer que a história seja menos interessante. Ambos os protagonistas têm um papel importante a desempenhar nos acontecimentos futuros. Têm, também, inimigos influentes que se aproximam perigosamente dos seus segredos, ao mesmo tempo que alguns possíveis aliados cruzam os seus caminhos. Destas mudanças, surge um conjunto de novas – e interessantes – personagens, uma nova perspectiva dos acontecimentos globais e uma linha de acontecimentos muito interessante, que evolui a um ritmo cativante e através de uma série de acontecimentos que mantém viva a curiosidade em saber o que se seguirá.
Além disso, e apesar da ausência inicial do que é o impacto emotivo da relação entre os protagonistas, há, ainda assim, muita emoção presente, quer nos medos do que pode correr mal nos seus planos secretos, quer no longo caminho que tanto eles como os protagonistas têm ainda a percorrer antes do fim das suas histórias.
Relativamente ao universo em que a história decorre, todos os pontos positivos continuam presentes, mas há também novos desenvolvimentos a contribuir para tornar o cenário mais complexo e cativante. A magia tornou-se um elemento crucial, com a busca pelas jóias a dar destaque a questões como as memórias de outras vidas e a vastidão dos mundos para além da realidade. Além disso, a verdadeira dimensão das intrigas traçadas – dentro de uma corte, de um reino ou entre reinos – é um elemento ainda com muito a desenvolver, e cada revelação contribui ainda um pouco mais para tornar as coisas interessantes.
Intrigante e interessante, este é um livro que, mesmo deixando muitas perguntas sem resposta, funciona como uma muito boa transição para a história ainda por contar. Uma boa história, em suma, com personagens carismáticas e alguns momentos especialmente intensos. Recomendo.

Nota: Tive a oportunidade de ler este livro graças à organização dos David Gemmell Legend Awards. Obrigada!

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Novidades Planeta

Tessa Gray devia estar contente, como todas as noivas! Mas, enquanto se prepara para o casamento, uma rede de sombras envolve os Caçadores de Sombras do Instituto de Londres. 
Surge um novo demónio, ligado pelo sangue e secretismo a Mortmain, o homem que tenciona usar um exército de impiedosos autómatos, os Instrumentos Infernais, para destruir os Caçadores de Sombras. Falta apenas um último pormenor para que o plano de Mortmain funcione: Tessa. 
Charlotte Branwell, directora do Instituto, não consegue encontrar Mortmain antes que ele ataque, ao mesmo tempo que Jem e Will, os dois rapazes que disputam o coração de Tessa, farão tudo para a salvar. 
As últimas palavras de um Caçador de Sombras moribundo fornecem a pista que pode levar Tessa e os amigos a Mortmain, mas o pequeno grupo não se aguenta sozinho e o poderoso cônsul não acredita no advento do demónio. 
Sem aliados, os Caçadores de Sombras vêem-se encurralados quando Mortmain consegue o medicamento que mantém Jem vivo. 
Com o seu melhor amigo às portas da morte, Will tem de arriscar tudo para salvar a jovem amada por ambos. 
Para dar tempo a Will, o feiticeiro Magnus Bane junta-se a Henry Branwell para criar um instrumento que pode derrotar Mortmain e enquanto todos tentam salvar Tessa e o futuro dos Caçadores de Sombras, a jovem percebe que a única pessoa que a pode salvar é ela própria, porque percebe que pode ter em si um poder que nunca imaginou. Mas poderá uma rapariga, mesmo capaz de conjurar o poder dos anjos, enfrentar um exército? 

Rosalina conhece Rob desde a infância e tem a certeza de que ela e Rob estão destinados a ficar juntos. Há anos que Rosalina está apaixonada por Rob e espera que ele se declare. Quando por fim a beija o seu mundo fica perfeito. 
Mas, quando tudo corria bem, Julieta regressa à cidade. Julieta, que já foi a melhor amiga de Rosalina, e que agora, inexplicavelmente a odeia. Julieta, é linda, mas procura vingança, e dá mostras de se encontrar pouco equilibrada emocionalmente... e quando sabe que Rosalina está apaixonada por Rob, decide que irá roubá-lo. 
Rose fica de rastos quando Rob a troca pela ex-amiga e sabe que Julieta só o fez por vingança. E quando começam a surgir rumores sobre a instabilidade de Julieta, das suas carências e ameaças de suicídio, Rosalina teme que além de não conseguir recuperar o amor de Rob, começa a ter um imenso receio pela sua vida, devido à insanidade de Julieta. 

Após a morte do pai, o prestigiado empresário alemão Eric Zimmerman decide viajar até Espanha para supervisionar as filiais da empresa Müller.  
Nos escritórios centrais de Madrid conhece Judith, uma jovem inteligente e simpática, por quem se enamora de imediato. 
Judith sucumbe à atracção que o alemão exerce sobre ela e aceita tomar parte nos seus jogos sexuais, repletos de fantasias e erotismo. 
Com ele aprenderá que todos temos dentro um voyeur, e que as pessoas se dividem em submissos e dominantes… 
Mas o tempo passa, a relação intensifica-se e Eric começa a temer que o seu segredo seja descoberto, algo que poderia ditar o princípio do fim de uma relação. 

Um livro diferente de tudo o que já leu sobre o Holocausto e de que poucos têm conhecimento. Pela primeira vez ficamos a saber da existência de livros num campo de extermínio. 
Minuciosamente documentado, e tendo como base o testemunho de Dita Dorachova, a jovem bibliotecária checa do Bloco 31, este livro conta a história inacreditável, mas verídica, de uma jovem de 14 anos que arriscou a vida para manter viva a magia dos livro, ao esconder dos nazis durante anos a sua pequena biblioteca, de apenas oito volumes, no campo de extermínio de Auschwitz. 
Este livro é uma homenagem a Dita, com quem o autor tanto aprendeu, e à memória e valentia de Fredy Hirsh, o infatigável instrutor judeu do Bloco 31 que criou em segredo uma pequena escola e uma ainda mais minúscula biblioteca, apenas com oito livros. 
No meio do horror, Dita dá-nos uma maravilhosa lição de coragem: não se rende e nunca perde a vontade de viver nem de ler porque, mesmo naquele terrível campo de extermínio nazi, «abrir um livro é como entrar para um comboio que nos leva de férias.» 

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Pretérito Perfeito (Raquel Serejo Martins)

Vasco vai morrer. Sabe, porque os médicos lhe disseram que não há esperança e que não lhe restam senão escassos meses de vida. E tudo muda à sua volta, ao mesmo tempo que tudo permanece presente. Todos os que o amam andam agora com uma tristeza nos olhos, uma tristeza que lhe pretendem ocultar e que ecoa como um reflexo da sua raiva, do medo, da tristeza que também sente. Por isso escreve, enquanto percorre o tempo que lhe resta, e nessas palavras considera o que é e o que foi, a ausência que teme e as memórias que o definem. A vida que vai deixar de ser.
Uma das coisas que primeiro surpreende é a intensidade de emoções que, desde as primeiras páginas, se faz sentir. Ao narrar a sua história na primeira pessoa, e como que para si próprio, o protagonista revela-se ao leitor de forma muito gradual, quer a nível de identidade, quer da razão das suas circunstâncias. Mas o conhecimento da morte iminente, e a sua forma de considerar o assunto, cedo evocam o ambiente de melancolia que prevalecerá ao longo do livro e que, nascido, em primeiro lugar, de uma quase imediata compaixão para com o protagonista, se alimenta tanto da beleza da escrita como de um muito bom equilíbrio entre introspecção e memória.
Poder-se-ia dizer que a memória é um dos elementos essenciais deste livro, sendo ele, como é, a história de uma vida na iminência da morte. E as memórias de Vasco são bastante completas, recordando não só as pequenas banalidades  - que, na perspectiva do fim, se tornam muito mais que isso - e os grandes momentos da vida, mas também evocando referências, recordando factos históricos, pequenas histórias contadas. Esta vasta memória, divagativa e um tanto errática, como se escrita ao ritmo do pensamento, torna-se marcante pela presença constante do conhecimento da morte que se aproxima. Tudo o que Vasco faz ou recorda, e também todos os pensamentos que regista, são como um imenso adeus à vida, um olhar sobre o futuro - ou a sua ausência - que comove, simplesmente, por ser o que é.
Este registo introspectivo reflecte-se na escrita, pausada, dando ao protagonista uma voz muito pessoal, e evocando, por vezes, a poesia que resulta de uma certa saudade, da nostalgia face ao que se perdeu ou vai perder. Esta nostalgia está presente em cada palavra, construindo em cada imagem, em cada uma das muitas frases lindíssimas que sobressaem ao longo do texto, a sensação de partida iminente que é, afinal, o centro deste livro. Assim, escrita e enredo conjugam-se em harmonia perfeita e, mesmo nos momentos em que as divagações se tornam longas, mantêm viva a envolvência e a força emocional da narrativa.
História de uma vida em vias de terminar, mas também da memória que resta, Pretérito Perfeito apresenta uma história que, comovente na sua melancólica ternura, marca desde as primeiras páginas e cativa até ao fim. Vale muito a pena ler este livro, portanto, e não posso deixar de o recomendar. Muito bom.

Novidade 5 Sentidos

Título: 80 Dias – A Cor do Prazer 
Autores: Vina Jackson
Série: 80 Dias
Tradução: Eva Miranda
Págs.: 264
PVP: 16,60 €

Summer Zahova, agora uma violinista de renome, regressa a Londres - o lugar onde tudo teve início. Livre, sem compromissos numa cidade onde domina a volúpia, Summer envolve-se em inúmeras aventuras, aproveita as oportunidades excitantes, com que se depara, e viaja pela Europa, cumprindo alguns dos seus sonhos. 
Quando o inestimável violino de Summer é roubado, eis que o carismático Dominik reaparece na sua vida. Nenhum deles consegue reprimir a atracção que ainda sentem um pelo outro, mas o passado deixara marcas, e ambos sabem que o amor e a paixão nem sempre andam de mãos dadas. 
Summer sabe que se brincar com o fogo pode acabar por se queimar, mas, no entanto, há alguns prazeres a que é difícil dizer não...

Vina Jackson é o pseudónimo de dois reconhecidos escritores que escrevem juntos pela primeira vez. Um é um escritor de sucesso, o outro, escritor com obra publicada, é um profissional da City. 

segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Um Comércio Respeitável (Philippa Gregory)

Bristol, 1787. A prosperidade da cidade e do país é sustentada, em grande medida, pelos lucros resultantes do comércio de escravos. E é deste comércio que vive Josiah Cole, pequeno comerciante que ambiciona enriquecer. É com esse futuro em vista que casa com Frances Scott, uma mulher com laços à nobreza, mas cuja situação é delicada. Ambos reconhecem vantagens num casamento de conveniência, mas o futuro que lhes está reservado trará grandes surpresas. É que o plano de Josiah de trazer escravos para Inglaterra para que a esposa os eduque para serem bons criados terá também consequências imprevistas. Com a chegada de Mehuru, nobre e culto no seu país de origem, mas reduzido ao nada da condição de escravo, Frances irá questionar tudo aquilo que a define. E enquanto os riscos ameaçam a prosperidade dos Cole, Frances irá descobrir um sentimento que nunca conheceu.
Envolvente desde as primeiras páginas, e apesar de um início um pouco apressado, Um Comércio Respeitável cativa, em primeiro lugar, pelas grandes questões que aborda. A principal é, sem dúvida, a escravatura, com as condições miseráveis do transporte e do tratamento dos escravos, bem como a própria perda da liberdade, a desempenharem um papel fundamental no rumo dos acontecimentos. Mas há mais. As consequências da ambição desmedida e do risco sem ponderação estão também muito presentes, bem como, ainda, as limitações impostas pelas normas sociais. Tudo isto é considerado ao longo desta história e surge tanto em reflexões como em acções, e isso é parte do que marca neste livro.
Outro ponto muito positivo é o desenvolvimento das personagens. Inicialmente algo distantes, devido à narração algo apressada dos primeiros acontecimentos, quer os protagonistas, quer algumas das personagens secundárias evoluem no sentido de um carácter complexo e interessante. Há uma empatia que cresce gradualmente, principalmente para com Mehuru, e que reforça quer o impacto das suas circunstâncias, quer os traços mais odiosos dos "vilões" - se vilões se lhes pode chamar - do livro.
Quanto à história propriamente dita, o enredo evolui a um ritmo relativamente pausado, mas cativante. Isto deve-se também à fluidez da escrita, mas principalmente ao muito bom equilíbrio emocional que se estabelece, conjugando momentos de uma quase rotina - com traços difíceis de entender, nalguns aspectos, mas adequados ao seu tempo - com situações que até podem ser simples, mas que têm um impacto emocional impressionante e que, de momento em momento, abrem caminho para um final muito forte.
Tendo por base um tema muito relevante, e moldando-o numa história cativante, Um Comércio Respeitável proporciona uma leitura envolvente e agradável, com grandes momentos de emoção e personagens que, pelo que são e pela forma como crescem, acabam por conquistar o leitor. Muito bom.

Novidade Topseller

Max e o seu bando estão destinados a grandes voos. Vivem em condições difíceis e não podem dar muito nas vistas. Afinal, seis miúdos com asas a atravessar os céus não passam despercebidos…
Nesta aventura o grupo vai ter de escapar ao terrível plano genocida criado por cientistas maléficos, os batas-brancas. E como se não bastasse, há um traidor entre eles. A união entre todos os elementos vai ser posta à prova enquanto enfrentam os inimigos mais poderosos de todos os tempos.
Será que um romance insuspeito, um blogue seguido por milhões de fãs e algumas revelações vão contribuir para que a missão de salvar o mundo seja realmente possível? Os leitores de James Patterson não vão descansar enquanto não tiverem a resposta certa. Mas cuidado: estas páginas são completamente viciantes.

James Patterson já criou mais personagens inesquecíveis do que qualquer outro escritor da atualidade. É o autor dos policiais Alex Cross, os mais populares dos últimos 25 anos dentro do seu género. Entre os seus maiores êxitos estão também as coleções bestseller Private: Agência Internacional de Investigação e NYPD Red (ed. Topseller), The Women's Murder Club e Michael Bennett.
James Patterson é o autor que mais livros teve até hoje no topo da lista de bestsellers do New York Times, segundo o Guinness World Records. Desde que o seu primeiro romance venceu o Edgar Award, em 1977, os seus livros já venderam mais de 280 milhões de exemplares. Os seus livros já geraram receitas de mais de 4 mil milhões de dólares e é publicado em 43 países. Mais de 3,7 milhões de fãs seguem James Patterson no Facebook.
O autor escreveu também diversos livros para leitores mais jovens, de grande êxito, entre os quais estão as séries Maximum Ride e Confissões de uma Suspeita de Assassínio (ed. Topseller), Escola e Eu Cómico (ed. Booksmile).

Novidade Porto Editora

A imigração portuguesa no Brasil, no séc. XX, retratada num romance sobre a saga de uma família em busca de um futuro melhor. Ao longo de cem anos acompanhamos as alegrias e tristezas, as discussões e as pazes, as separações e os que são felizes para sempre. 
Aproveite ao máximo. Família é um prato que, quando se acaba, nunca mais se repete. 


Dramaturgo, guionista cinematográfico, poeta e ex-diplomata,Francisco José Alonso Vellozo Azevedo nasceu no Rio de Janeiro em 1951. 
Começou a dedicar-se à literatura em 1967, quando venceu o concurso promovido pela Organização dos Estados Americanos (OEA). 
Além de livros e peças de teatro, Francisco Azevedo já escreveu para mais de 250 produções, incluindo roteiros de longa e curta-metragem, documentários premiados e anúncios para TV

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Scarlet (Marissa Meyer)

Todos falam de Cinder, do baile e de como toda a sua terrível verdade foi revelada - ou talvez não toda. Mas, do outro lado do mundo, Scarlet Benoit tem outros problemas com que se preocupar. Passaram três semanas desde que a avó desapareceu e apenas Scarlet parece preocupada com isso. Mas também a sua situação está prestes a complicar-se. Na sua busca por alguma informação que a leve até à avó, Scarlet cruza-se com Wolf, um lutador de rua que parece ter alguma relação com os responsáveis pelo rapto. Talvez não devesse, mas Scarlet sente-se inclinada a confiar. E cada passo que dá aproxima-a um pouco mais das respostas, mas também do perigo. Porque todos têm segredos e ninguém é o que parece. E o segredo que desconhece pode estar também muito próximo daquele que faz de Cinder a fugitiva mais procurada do planeta.
Dando continuidade aos acontecimentos do primeiro volume, mas partindo de uma nova protagonista, este é um livro que introduz novos pontos fortes sem perder qualquer das qualidades do livro anterior. A escrita continua a ser envolvente e agradável, o mesmo acontecendo com o ritmo do enredo, sempre intrigante e viciante. Também as personagens, quer as novas quer as já conhecidas, são figuras carismáticas e de fácil empatia, havendo ainda novos desenvolvimentos a nível de sistema e contexto global. O resultado de tudo isto é um livro que cativa desde as primeiras páginas e que se cedo se torna impossível de largar.
Uma das vantagens de apresentar uma nova protagonista é o facto de permitir explorar também um outro meio dentro da comunidade terrestre. O mundo de Scarlet é bastante diferente do de Cinder, e isso é bem claro, mas há entre ambas vários pontos em comum. O facto de a história se centrar agora mais em Scarlet, mas sem esquecer Cinder, cujo papel nunca deixa de ser fulcral, permite realçar os contrastes, quer nas experiências e personalidades de ambas, quer nos pontos em que as suas histórias convergem ou se afastam.
Esta mudança de protagonista permite ainda o desenvolvimento de certos elementos de romance e de afectos, que introduzem também uma boa abordagem ao inevitável impacto emocional das situações de confiança e traição. Além disso, o desenvolvimento da história de Scarlet e do seu percurso com Wolf cria uma boa base para as grandes revelações, quer do passado de Cinder, quer da origem da própria Scarlet e sem esquecer ainda os planos e possibilidades da corte Lunar.
Há sempre alguma coisa a acontecer, seja a nível global, seja nas histórias pessoais das personagens. Isto é parte do que torna a leitura cativante. Mas nem só os grandes momentos marcam e o desenvolvimento das experiências pessoais e dos choques emocionais consegue, pela proximidade que cria relativamente às personagens, ser tão marcante como qualquer dos grandes momentos da história.
Intenso e cativante, com um sistema interessante, personagens carismáticas e uma boa história, este é, pois, um livro que corresponde inteiramente às expectativas criadas pelo volume anterior. E que não posso deixar de recomendar. 

Novidade Porto Editora

No primeiro dia de 1917, ano de todas as mudanças na Rússia, o corpo de Rasputine é resgatado das águas geladas do Neva, em São Petersburgo. Horas mais tarde, as duas filhas do Monge Louco são levadas para o palácio e acolhidas pela família imperial, pois a czarina espera que Masha, a mais velha, consiga salvar o filho Alyosha, o enfermiço herdeiro do trono. Masha não tem o misticismo magnético do pai, mas descobre o dom encantatório das suas histórias. E é com elas que, sempre entre a vida e a morte, os dois adolescentes conhecerão o amor e um país imenso, a Rússia, que Alyosha nunca chegará a governar. 
Inspirando-se na vida aventureira da filha de Rasputine, Xerazade russa que viria a ser domadora de leões na América, Kathryn Harrison retrata uma era em que a História se impacienta e o mundo mudaria, com a Revolução Bolchevique e o fim da lendária dinastia dos Romanov. 


Kathryn Harrison nasceu e foi criada pelos avós maternos em Los Angeles, Califórnia, formou-se em Stanford e vive atualmente em Nova Iorque, onde leciona escrita criativa na universidade Hunter College. Escreveu livros de memórias, romances, uma biografia de Santa Teresa de Lisieux e vários ensaios saídos na New Yorker, na Harper’s Magazine e na Vogue, entre outras publicações. Encantamentos, o seu último romance, vendido para quinze países, foi calorosamente recebido pelo público e por escritores como Peter Carey e Jennifer Egan. 

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Verdades e Mentiras de uma Vida Quotidiana (Francisco Garcia)

Um pouco do eu e um pouco do mundo em redor. É este o tema dos pequenos textos que constituem este livro que, num registo sempre pessoal, apresenta momentos de introspecção, mas também de tentativa de análise de certos traços da sociedade. É um livro escrito do ponto de vista do indivíduo e a identidade individual transparece a cada palavra. Mas do desenvolvimento dos temas a partir dessa identidade resultam sentimentos contraditórios.
Se considerarmos cada um dos textos por si só, é possível descobrir várias ideias interessantes, alguns textos cativantes e inclusive, principalmente entre os poemas, algumas peças verdadeiramente marcantes. O melhor deste livro sobressai precisamente no registo mais introspectivo, quando a poesia se sobrepõe às banalidades e é possível sentir pontos de identificação e empatia para com as ideias apresentadas.
A escrita também tem o seu quê de cativante, ainda que relativamente simples. Todos os textos são bastante breves e, nalguns casos, um maior desenvolvimento teria tornado tudo mais interessante, mas, considerando o estilo de escrita, a leitura é, no geral, agradável, já que a simplicidade das palavras introduz uma certa leveza.
No restante, fica a sensação de excessiva superficialidade. Principalmente ao tentar analisar as pessoas e a sociedade, nota-se um evidente excesso de frases feitas, de generalização e de recurso aos estereótipos, o que resulta, por vezes, numa sensação de julgamento apressado que facilmente se torna irritante. Fica a impressão de que as ideias pré-concebidas e os tais julgamentos sem conhecimento de causa - e das pessoas, principalmente - acabam por dominar, sem abrir caminho para que a tal identidade pessoal e a ponderação - que poderia resultar de um aprofundamento da reflexão - se cheguem a manifestar.
A impressão final acaba por ser a de um livro com algumas boas ideias, uns quantos bons textos - principalmente no lado mais introspectivo - mas em que os pontos positivos se perdem pelo impacto negativo das outras ideias. Faltava um pouco mais de profundidade, para cativar um pouco mais.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Novidade Porto Editora

Um ano após o caso Sufia Elmi, o inspetor Kari Vaara regressa a contragosto a Helsínquia, numa tentativa desesperada para conseguir ultrapassar as insónias e os fantasmas que persistem em persegui-lo. 
Ao serviço da Brigada de Homicídios de Helsínquia, Kari terá nas suas mãos os dois casos mais mediáticos do momento: o brutal homicídio da mulher dissoluta de um homem de negócios russo e o estranho envolvimento em crimes de guerra de um herói nacional da Segunda Guerra Mundial, já nonagenário, cujos contornos políticos estão na iminência de provocar um incidente diplomático entre a Finlândia e a Alemanha. 
Assombrado pelo passado, serão as circunstâncias do presente que o farão descobrir a verdade e as respostas que tanto procura. 


James Thompson, nascido e criado no Kentucky, vive na Finlândia há dez anos e reside actualmente em Helsínquia com a mulher. Antes de se tornar escritor a tempo inteiro, estudou Sueco e Finlandês e trabalhou como barman, segurança, operário da construção civil, fotógrafo, negociante de moedas raras e soldado. Do catálogo da Porto Editora consta já o seu romance Anjos na Neve. 

domingo, 6 de outubro de 2013

Transforme-se num Detector de Mentiras (Janine Driver e Mariska Van Aalst)

A verdade é simples: toda a gente mente. Seja com objectivos aparentemente inocentes, seja por haver algo a ganhar ou a perder, em circunstâncias de pouca relevância ou em acontecimentos cruciais, a mentira é sempre um factor a considerar. E, ainda que haja, de facto, mentirosos exímios, a maioria das pessoas denuncia-se, por sinais mais ou menos discretos, quando mente.O objectivo deste livro é analisar esses sinais, desenvolver um método de reconhecimento e aprender a detectar a mentira, de modo a não ceder à influência das mentiras tóxicas.
Um dos aspectos mais interessantes do método da autora, e, portanto, parte do que cativa neste livro, é o cuidado de não apresentar nenhuma situação ou sinal como um indicador absoluto de mentira, analisando antes as situações e os procedimentos de acordo com um conhecimento prévio do comportamento do alvo de análise. Isto é algo que, desde logo, torna as ideias mais fáceis de assimilar, já que cada pessoa tem características e gestos próprios e o facto de a autora reforçar a necessidade de analisar estes gestos típicos da pessoa - antes de os associar a qualquer significado - realça também a necessidade de detectar alterações.
Outro ponto forte deste livro é a forma como está construído, não só na organização dos cinco passos do método, mas a um nível mais global. A autora apresenta as suas ideias de forma clara, recorrendo a exemplos e a situações da sua própria história pessoal, o que torna mais fácil assimilar as ideias que estão a ser apresentadas. Além disso, ao desenvolver passo a passo o seu método, sobressaem também os pormenores importantes de cada passo, numa organização mais fácil de acompanhar e que contribui também para manter um registo agradável para a leitura.
Ainda um outro aspecto a referir é a questão da empatia. Sendo este um ponto essencial no método da autora, é interessante notar que essa mesma empatia transparece na voz da própria autora. Todo o livro é construído quase como num diálogo com o leitor, num registo de quase proximidade em que é fácil reconhecer essa empatia. Isto leva a que a leitura seja não só interessante, mas também muito cativante.
A impressão que fica de tudo isto é, então, a de uma leitura agradável e cativante, a nível do registo, e muito interessante e completa a nível das ideias e métodos que apresenta. Um bom livro para saber mais sobre certas questões da linguagem corporal em geral, e do comportamento associado à mentira, em particular. Muito bom.