sábado, 29 de abril de 2017

Escrito na Água (Paula Hawkins)

Nel tinha uma obsessão pelo Poço das Afogadas e pelos mistérios a ele associados. Estava longe de imaginar que se tornaria também parte do mistério. Mas quando o seu corpo é retirado das águas, as perguntas começam a surgir - e com elas os segredos. Nel podia não ser a pessoa preferida dos habitantes da vila, mas tinha uma boa vida e um projecto que a entusiasmava. Por isso, a hipótese de suicídio não parece ser muito provável. Mas, num meio tão pequeno e onde tantos têm tanto a esconder, as dúvidas e as suspeitas não tardam a manifestar-se - não só na mente de quem investiga a morte, mas também das pessoas mais chegadas a Nel. Afinal, o Poço das Afogadas guarda segredos antigos. E esse tipo de segredos não se revelam sem graves consequências...
Sendo este livro da mesma autora de A Rapariga no Comboio, há, à partida, algumas características que eram expectáveis: a pouca fiabilidade das memórias e declarações das personagens, a teia de segredos e reviravoltas em que cedo se torna claro que ninguém é o que parece, o desvendar de segredos pessoais que implicam consequências perigosas. Tudo isto fazia parte de A Rapariga no Comboio e faz também parte deste novo livro. Mas há um novo elemento - ou talvez uma evolução - que também se torna claro desde muito cedo: o crescendo de complexidade, e ao mesmo tempo de intensidade, que parece definir toda a narrativa deste livro e que, despertando a curiosidade desde muito cedo, não deixa de surpreender até às últimas linhas.
São muitas as personagens que está história acompanha e, assim sendo, muitas as perspectivas para o mistério que lhe serve de base. E, claro, nem tudo o que uma personagem pensa é corroborado pela seguinte, pois cada uma tem interesses próprios a defender. É isto, em parte, que torna a história tão fascinante, pois, não se podendo à partida acreditar no que uma determinada personagem conta ou pensa, o mistério adensa-se, não só quanto ao que realmente aconteceu, mas ao que move cada um dos intervenientes. E, à medida que as respostas vão surgindo, novas perguntas emergem, abrindo caminho a um percurso de descoberta que nunca deixa de fascinar.
Mas, se grande parte da história vive, de facto, do mistério e da surpresa, também na construção das personagens e do ambiente em que se move tem muito de intrigante, não só pelas características mais ou menos peculiares, capazes de despertar empatias e ódios (às vezes, e em diferentes fases, pela mesma personagem), mas também pela forma como as suas motivações lhes moldam os actos. Há todo um conflito de mentalidades latente na base deste mistério e também esse contribui para acrescentar à complexidade do enredo. E, sendo certo que as pessoas talvez não mudem, as possibilidades que estas diferenças representam vêm também tornar tudo mais interessante, fazendo com que, mesmo quando a resposta para o sucedido não é clara, seja possível imaginar a parte que fica por dizer.
E claro, depois há a escrita e a forma como a autora consegue entrar na mente das suas várias personagens, dando a cada uma delas uma voz única e pessoal. Isto é particularmente notório nas partes narradas na primeira pessoa, mas, mesmo nos restantes capítulos, em que a voz não é a da personagem que os protagoniza, há no desvelar dos seus pensamentos uma identidade própria que a distingue de todos os outros. 
Intenso, complexo e cheio de surpresas: assim se pode descrever este Escrito na Água, história de um lugar cheio de mistérios e de gente tão misteriosa como os meandros em que se movem. Intrigante desde as primeiras páginas e surpreendente do início ao fim, um mais que digno sucessor para A Rapariga no Comboio. Muito bom. 

Título: Escrito na Água
Autora: Paula Hawkins
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 28 de abril de 2017

Metanoia (Tiago Moita)

Vidas para além da presente e um passado que parece perpetuar-se nas evocações do sonho. E palavras, palavras que querem ser poema e que parecem moldar-se ao ritmo de um quase misticismo. São estes os elementos base deste conjunto de poemas que, unidos num todo coeso, mas em que cada parte é também ela uma unidade, dão forma a uma viagem através da mente e dos seus labirintos.
Não é fácil falar sobre este livro sem desvendar demasiados dos seus mistérios. Breve no conjunto e nas unidades que o compõem, é um livro onde a simplicidade aparente dá lugar ao que parece ser uma vasta viagem mística pelos meandros dos sonhos. E o mais interessante é que, sem grandes imposições de ritmo ou métrica, quase que deixando as palavras falarem por si mesmas, o autor consegue conferir aos poemas uma fluidez estranhamente cativante. 
Fluidez esta que parece ajustar-se na perfeição às imagens que evoca, como que de um transe onírico em que o mundo se desdobra em múltiplas realidades. E é aqui que entra o misticismo, pois as referências a conceitos esotéricos estão bem presentes em quase todos os poemas. Referências estas que realçam um outro contraste: o da vontade de introduzir estes elementos com a naturalidade com que os apresenta, sem que o poema se torne demasiado rebuscado ou perca a simplicidade natural. 
E tudo isto converge num equilíbrio maior. A simplicidade da forma, a estranheza das imagens evocadas, a forma como tudo parece natural, mesmo quando o cenário é, no mínimo peculiar. E, claro, a forma como parece haver um elo comum entre todos os poemas, sem que, por isso, eles se tornem repetitivos. Como se cada poema fosse um objecto individual e completo, mas todos formassem a trama do estranho mundo a que pertencem. 
No fim, fica uma imagem de contrastes: de um todo feito de múltiplas pequenas partes, em que cada uma evoca um cenário único e intransmissível. De uma viagem por tempos e mundos - interiores e exteriores, presentes, passados e futuros. E, acima de tudo, do equilíbrio entre a vastidão do todo e a simplicidade das pequenas coisas. Um todo em que tudo cativa e nada parece estranho - por mais distantes da realidade quotidiana que estes mundos interiores pareçam estar. Muito bom. 

Título: Metanoia
Autor: Tiago Moita
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Topseller

Um homem atormentado pelo passado…
Uma mulher perante a escolha mais terrível da sua vida.
Aos 19 anos, Gwendolyn Hooper abandona a Escócia para se encontrar com o seu marido, Laurence, em Ceilão, do outro lado do mundo. Recém-casados e apaixonados, eles são a definição do casal aristocrático perfeito: a bela dama britânica e o proprietário de uma das fazendas de chá mais prósperas do império.
Mas, ao chegar à mansão na paradisíaca propriedade Hooper, nada é como Gwen imaginara: os funcionários parecem rancorosos e calados, os vizinhos, traiçoeiros, e o seu marido, apesar de afectuoso, demonstra guardar segredos sombrios. Com Laurence ausente em trabalho, Gwen explora sozinha a plantação. Ao vaguear por locais proibidos, encontra várias portas fechadas e até um pequeno túmulo — pistas de um passado escondido.
Quando descobre estar grávida, a jovem sente-se feliz pela primeira vez desde que chegou a Ceilão. Mas, no dia de dar à luz, algo inesperado se revela. Agora, é ela quem se vê obrigada a manter em sigilo algo terrível, sob o preço de ver a sua família desfeita. Quando chegar o dia de revelar a verdade, será que ela vai ter o perdão daqueles que ama?

Dinah Jefferies nasceu na Malásia e mudou-se para Inglaterra com nove anos. Estudou na Birmingham School of Art e, mais tarde, na Ulster University, onde se formou em Literatura Inglesa. Autora bestseller do Sunday Times, colabora com alguns jornais, entre eles o Guardian.
Depois de ter vivido em Itália e em Espanha, regressou a Inglaterra, onde vive com o seu marido e o seu cão, e passa os dias a escrever e a desfrutar dos tempos livres com os netos.
A Mulher do Plantador de Chá, que a Topseller agora publica, foi bestseller do Sunday Times e seleccionado para o Richard and Judy Book Club.

quinta-feira, 27 de abril de 2017

Divulgação: Novidade Guerra e Paz

Escrever é a paixão de milhares de pessoas. Todos sonham publicar o que escrevem, seja num livro tradicional ou num blogue moderno. Contudo, poucos perdem tempo a melhorar o que verdadeiramente importa num escritor: a escrita. Este é o livro que ensina a transformar a escrita, a frase, em música.
É do senso comum que a escrita, a boa escrita, deve-se a algum tipo de génio inexplicável, que só poucos possuiriam. Nada mais falso! É verdade que ganhar o Nobel não é algo que esteja à mão de semear, mas escrever melhor não tem que ver com génio, antes com trabalho. E com técnica. Ao alcance de todos.
Em Cem Maneiras de Melhorar a Escrita, Gary Provost desvela os segredos, os truques e as estratégias necessários para escrever um texto enxuto e legível. Sabe o que é uma frase tópica? Como ultrapassar bloqueios criativos? O que distingue um texto enfadonho de um empolgante?
Finalmente em português, cem conselhos fundamentais para futuros escritores, num guia incontornável das artes da escrita. Com exemplos adaptados para português por Marco Neves, autor de A Incrível História Secreta da Língua Portuguesa.

Gary Provost. (1944-1995) foi um escritor e professor norte-americano. Após ter terminado o secundário, recusou um trabalho respeitável num banco e andou um ano à boleia, percorrendo a América. Depois decidiu ser escritor. Durante dez anos, publicou sete romances e, ao fim dessa década, dedicou-se à não-ficção. Trabalhou como jornalista freelancer, colaborando com vários jornais e revistas.
Em 1980, lançou o seu primeiro livro sobre escrita, Make Every Word Count, que rapidamente se tornou um sucesso de vendas. Nos anos 80 e 90, continuou a publicar livros, fez conferências e deu cursos, em várias cidades dos EUA, ensinando a arte da escrita e partilhando o saber acumulado ao longo a sua carreira de homem de letras. O livro Cem Maneiras de Melhorar a Escrita, publicado em 1985, converteu-se numa lenda, com sucessivas reedições. Finalmente, é agora publicado em Portugal.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

Imaculada (Paula Lobato de Faria)

1956. A vida na província é pacata, sossegada. O pensamento dominante rege-se por linhas muito claras e ai de quem ousar contrariá-las. E ninguém sente tanto isso como Cristiana Correia que, sob o olhar atento e controlador da mãe, sabe que nunca poderá transgredir. Noiva do melhor amigo do irmão, Cristiana conformou-se ao destino que lhe escolheram, de modo a evitar confrontos cujas consequências não pode prever. Mas há um destino diferente à sua espera e, quando vai passar férias a casa da melhor amiga, Cristiana cruza-se pela primeira vez com um homem capaz de lhe arrebatar o coração. A paixão é forte, arrebatadora, irresistível. Mas numa sociedade de convenções tão rígidas, poderá Cristiana desafiar todas as regras? E, mesmo que esteja, será isso suficiente quando todo o mundo parece opor-se ao seu amor?
História de amores e de convenções questionadas e, ao mesmo tempo, retrato dos pensamentos e costumes de uma época, poder-se-ia dizer que este romance se forma a partir de duas facetas complementares. Por um lado, os amores possíveis e impossíveis, os sentimentos a surgir num mundo de regras muito estritas. Por outro, essas mesmas regras, a forma como toda uma existência é condicionada pelas convenções, pelos bons costumes, pelo que as pessoas vão dizer. E a forma como a autora entrelaça estes dois fios tão complexos é algo de surpreendente e fascinante: primeiro, porque tudo converge num todo harmonioso. Mas principalmente pela forma como conduz o enredo, partindo do que parece ser uma inocente história de amor para algo mais complexo e intrincado, cheio de traições e intrigas maquiavélicas e onde a inocência só parece ter direito a um lugar: o da vítima a ser sacrificada. 
Ainda que o amor de Cristiana seja a base central de grande parte dos acontecimentos, a narrativa acaba por ser muito mais que uma história de amor. Há a história do irmão de Cristiana, a intriga política, a teia de segredos dos Correia, com todas as consequências que poderá vir a trazer. E tudo isto converge num enredo que começa por parecer bastante simples, mas que, à medida que desvenda a sua verdadeira complexidade, ganha uma maior dimensão - e um novo fascínio. Fascínio que se estende também a forma como a autora constrói as suas personagens, revelando-as primeiro no rosto que mostram ao mundo e depois na sua verdadeira natureza, despertando empatias para depois as destroçar e, num cenário onde tanto é falso e moldado à imagem das aparências, reforçando o poderoso impacto do que são as verdadeiras emoções.
E depois de tudo isto - das intrigas, dos pecados escondidos, das transgressões cometidas em nome da moral e dos bons costumes e das traições justificadas por interesses pessoais - há Nils, talvez a personagem mais constante em toda esta história e, por isso mesmo, uma âncora firme neste mundo tão mutável. Carismático e impressionante, consegue ser a alma da história mesmo quando passa para segundo plano. E, tendo em conta a forma como tudo se conclui, deixando tantas provações para trás, mas também várias questões por resolver, a constância de Nils acaba por ser o que mais fica na memória... numa história em que demasiadas personagens parecem dispostas a esquecer.
Retrato de uma sociedade (demasiado) conservadora e história de um amor contra o mundo, trata-se, em suma, de um livro memorável. Pelo enredo, pelas personagens, pela pertinência com que realça as contradições das mentalidades fechadas. E, acima de tudo, pela voz com que dá forma aos momentos mais negros e às mais intensas emoções, sem nunca seguir pelo caminho fácil... mas deixando um pouco de esperança ali tão perto. Marcante, surpreendente e emotivo, um livro que prende do início ao fim. E que, por isso, não posso deixar de recomendar. 

Título: Imaculada
Autora: Paula Lobato de Faria
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 25 de abril de 2017

O Meu Pai é o Melhor do Mundo

Lembram-se de quando eram crianças e, na escola ou em casa, faziam postais e presentes improvisados para oferecer à família nas datas especiais? Era divertido, não era? Bem, a impressão que este livro deixa é um pouco a dessa ideia elevada a um nível mais amplo, desafiando o seu leitor (ou, melhor dizendo, autor) a criar um álbum de momentos especiais para oferecer ao pai. E o tipo de actividades que propõe é bastante diverso, desde o simples preencher de informações essenciais, ao desfiar de memórias e características marcantes (de pai e filho), passando, claro, pelas fotografias que perpetuaram alguns desses momentos mais especiais. A ideia? Dizer, de uma maneira criativa, porque é que o pai é o melhor do mundo. O resultado? Cheio de possibilidades.
Sendo um livro pensado para ser um presente - e um presente elaborado pelos mais novos - há, desde logo, duas características essenciais: primeiro a simplicidade, desafiando a criança a ser criativa, mas sem pedir impossíveis; e segundo, a originalidade, pois o próprio aspecto visual do livro apela a criar coisas novas. É este aspecto, aliás, o que primeiro chama a atenção. Cheio de cor, tem um aspecto cativante e engraçado mesmo antes de se começar a preencher. E isso basta para despertar a imaginação. O resto fica a cargo do leitor - perdão, do autor.
Mas fica também uma outra impressão: ao folheá-lo, e imaginá-lo preenchido, surge logo como que uma ideia do tipo de emoções que um presente destes poderá despertar. Por um lado, preenchê-lo é evocar memórias felizes, pontos comuns, todo o tipo de coisas boas - o que não deixa de ser uma bela forma de reforçar afectos. Por outro, para quem o recebe, recordar esses mesmos momentos e ver-se pelos olhos de quem o preencheu também não deve ter um efeito muito diferente. 
A ideia que fica é, por isso, a de um livro potenciador de ternura. Bonito, criativo e cheio de possibilidades, representa ao mesmo tempo uma bela actividade para os mais novos e um presente bastante terno para os melhores pais do mundo - os dos respectivos autores, naturalmente. Um belo desafio, portanto, e um presente muito promissor a ter em conta para uma ocasião especial.

Título: O Meu Pai é o Melhor do Mundo
Origem: Recebido para crítica

domingo, 23 de abril de 2017

A Maldição do Vencedor (Marie Rutkoski)

Enquanto filha do general, Kestrel sabe que só tem duas opções: alistar-se no exército, e manter a sua independência sob as ordens do pai, ou casar-se e renunciar-lhe por completo. Mas o destino tem outros planos para ela. Tudo começa quando, quase sem saber porquê, decide comprar um escravo por um preço exorbitante. De nome Arin, parece não se submeter de boa vontade ao seu destino, e contudo cumpre imaculadamente as ordens que lhe são dadas. E se a compra em si basta para fazer de Kestrel tema dos mexericos da sociedade, as coisas tornam-se ainda mais complexas à medida que ela começa a fazer-se acompanhar do seu novo escravo. Kestrel, porém, não consegue evitar o fascínio que sente por Arin - e por um passado que ele parece querer esconder o mais longe possível. Mas Arin tem um segredo. E, quando este se revelar, as consequências serão devastadoras... e o mundo de Kestrel poderá nunca mais ser o mesmo.
De todas as qualidades que este livro tem - e, permitam-me dizê-lo, é um livro cheio de qualidades - a que primeiro chama a atenção e também a que mais fica na memória é a capacidade de despertar emoções fortes. Bastam as circunstâncias em que tudo o começa para despertar uma certa empatia para com as personagens - e para sentir que o que se seguirá nunca, mas nunca será fácil. E, a partir deste ponto, a forma como a autora entretece segredos e revelações, aproximações e rupturas, perigos, conflitos e sacrifícios dá forma a um turbilhão de emoções em que, tanto nos grandes momentos como nas pequenas coisas, há toda uma base de sentimento que é muito difícil não admirar. 
Para isto, contribuem também as personagens. Claro que as mais marcantes são os protagonistas, Kestrel e Arin. Kestrel, reflexo da sua educação de filha de conquistador, e porém capaz de questionar, de ponderar, dividida entre lealdades e convicções do que está certo. E Arin, o mistério em forma humana, filho de um povo escravizado, mistura da matéria de que se fazem os heróis e os mártires e também ele dividido entre o que sente e a lealdade que deve ao povo a que pertence. São ambos intrigantes, ambos complexos. E, juntos, formam uma teia de momentos intensos, de verdades difíceis e de um potencial tão vasto que facilmente se quer conhecê-los, desvendá-los... admirá-los.
Mas há ainda um outro ponto a reforçar este equilíbrio delicado. Sim, a história centra-se em grande parte no que sucede com Arin e Kestrel. Mas, em torno deles, há um sistema com um imenso potencial, cheio de segredos e possibilidades. Sistema em que é fácil reconhecer as influências históricas, mas também uma identidade própria que desde muito cedo se afirma, conjugando assim da melhor maneira o novo e o familiar, numa narrativa em que contexto, personagens e enredo parecem conjugar-se num todo quase perfeito.
Trata-se do início de uma trilogia e, assim sendo, são inevitáveis as perguntas sem resposta, guardadas as explicações para o que virá a seguir. Mas é interessante a forma como a autora encerra este primeiro volume, deixando novos caminhos e novas possibilidades para o futuro das personagens (e uma grande declaração, que é também uma grande pergunta sobre o futuro, como conclusão do livro), mas como que encerrando uma fase da vida das personagens. O que vem a seguir será diferente: parece ser essa a promessa deste final. E também isso contribui em muito para despertar curiosidade acerca do que virá.
Com um leque de personagens fortes, um cenário complexo e um enredo à altura das figuras que o habitam, a impressão que fica deste A Maldição do Vencedor é a de um livro intenso, muito emotivo e cheio de surpresas. Enquanto início de série, dificilmente poderia ser mais promissor. E o resto... o resto define-se numa palavra: apaixonante. 

Título: A Maldição do Vencedor
Autora: Marie Rutkoski
Origem: Aquisição pessoal

sábado, 22 de abril de 2017

Hamsters de Biblioteca (Gonçalo Condeixa e Fernando Évora)

Avulsa é uma cidade invulgar. Em vez de dominada por um castelo ou por uma igreja, tem como edifício central uma biblioteca. Biblioteca essa que é também o cerne de toda a vida no local, severamente conduzida pela figura da Velha Bibliotecária, tão rígida e impressionante que até aos pássaros é capaz de impor silêncio. Mas Avulsa é também uma cidade de contrastes e estranhezas, tanto entre os diversos locais que nela existem como entre os próprios habitantes. Boémios, marinheiros que aspiram a ser heróis, filósofos com aspirações estranhas, uma condessa e uma cunicultora... Cada uma destas personagens tem a sua história e, através dela, uma mensagem a transmitir sobre os bons costumes da sociedade de Avulsa. Mas eis que um dia... a bibliotecária parte! Quem tomará o seu lugar? E ficará tudo na mesma... ou trará a nova bibliotecária novos hábitos para modernizar Avulsa?
Peculiar em todos os aspectos e por isso mesmo fascinante, este é um livro que cativa, em primeiro lugar, pelo aspecto visual. Profusamente ilustrado, apresenta para cada pequena história (ou, melhor dizendo, para cada fragmento da grande História de Avulsa) uma ilustração que não só corresponde ao que é narrado no texto, como lhe confere uma perspectiva mais vasta. E, assim, cria-se entre as duas partes um equilíbrio que cativa desde o primeiro olhar e que só sai reforçado após a leitura das histórias.
Também interessante é a tal dualidade das histórias individuais que moldam um todo maior. Cada um dos pequenos textos é, em si, uma unidade completa. Mas é da conjugação de todos e dos múltiplos passos que conformam que se traça o retrato global da história moderna de Avulsa. E essa história torna-se ainda mais fascinante por se construída a partir de uma sucessão de pequenas. No fim, fica-se com uma imagem de evolução - mas de uma evolução que tem o seu preço sobre a vida dos habitantes de Avulsa. Como na realidade, não é? Tudo tem o seu preço. E essa mensagem, tão clara, tão evidente, torna este tão estranho cenário de Avulsa muito mais realista do que à primeira vista poderia parecer.
E depois há a estranheza, a peculiaridade de tudo isto. Aquele tipo de estranheza que se reconhece à primeira vista, mas que porém se desenvolve com tal naturalidade que tudo parece lógico e simples e claro. Não há neste pequeno livro uma única figura que corresponda estritamente aos padrões da normalidade. Mas é precisamente isso que as torna tão intrigantes. E, quando a história se traça através de tão ilustres personagens, um leve toque de bizarria só torna tudo mais interessante. 
Breve, mas com uma complexidade muito sua. Directo, mas cheio de pequenas surpresas escondidas nos detalhes. Cativante, surpreendente e visualmente muito bonito. Tudo isto se aplica na perfeição a este Hamsters de Biblioteca. História de um estranho lugar e das suas estranhas gentes - num mundo que poderia estar bem distante, mas cuja verdade está aqui tão perto. Recomendo.

Título: Hamsters de Biblioteca
Autores: Gonçalo Condeixa e Fernando Évora
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 21 de abril de 2017

Divulgação: Novidade Quinta Essência

As suas vidas eram perfeitas... até se conhecerem um ao outro. Lady Hero Batten, a bela irmã do duque de  Wakefield, pode gabar-se de ter tudo. Até está noiva do cobiçado marquês de Mandeville. Ele pode ser um nadinha enfadonho, e não ter qualquer sentido de humor, mas isso não é nada que a incomode... até ao dia em que conhece o irmão dele... Griffin Remmington, Lorde Reading, está longe de ser perfeito. Leva um estilo de vida debochado e entrega-se a actividades pouco recomendáveis, mas é divertido, e o seu sentido de humor não tem par. No momento em que o conhece – numa posição deveras comprometedora, por sinal  -  Hero percebe que um homem detestável como ele não pode ter lugar na sua vida. Mas a constante batalha de vontades entre os dois não tarda a atear as chamas do desejo....
À medida que se aproxima o dia do casamento de Hero, é preciso colocar tudo na balança. Existirá de facto algum futuro para o casal mais inesperado do mundo?

Elizabeth Hoyt nasceu em Nova Orleães, EUA, onde a família da mãe vive há várias gerações, mas foi criada nos invernos gélidos de St. Paul, no Minnesota. Tem uma licenciatura em Antropologia. Conheceu o marido, arqueólogo, numa escavação num campo de milho, e desde então ambos tentam passar férias que acabem invariavelmente em sítios arqueológicos. A família Hoyt vive no centro do Illinois, com os seus dois filhos, três cães e um jardim que Elizabeth cuida com entusiasmo.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

Rapariga em Guerra (Sara Nović)

Ana tem dez anos e uma vida normal para o seu tempo. Até ao dia em que a guerra chega a Zagreb. A partir daí, as limitações começam a tornar-se maiores, o medo uma constante, a dúvida sobre o que poderá acontecer cada vez mais terrível. E, com uma irmã doente, Ana sabe que a família tem de correr riscos - riscos que podem implicar consequências fatais. Sobreviverá, porém. E, dez anos depois, em Nova Iorque, um reencontro com o medo fá-la questionar todo o passado que tão cuidadosamente escondeu. Sabe, então, que tem de regressar a casa, se é que tem uma casa a que voltar. E, em Zagreb, esperam-na todas as memórias e as verdades mais difíceis de aceitar. É que sobreviver é uma coisa. Viver com isso é outra completamente diferente.
Narrado do ponto de vista da protagonista e oscilando entre diferentes pontos no tempo, este é um livro que cria impressões divergentes. Por um lado, a Ana de dez anos traça o retrato da guerra vista por olhos inocentes - até que a inocência deixa de existir. Por outro, a Ana adulta sabe o que viveu, mas questiona a fiabilidade da memória e as escolhas que deixou para trás. E, assim, o mundo ganha perspectivas diferentes - o mundo em que Ana se move, as mudanças globais que a guerra (e o pós-guerra) despertam, a superação (ou não) dos traumas vividos. A ideia que fica é, pois, a de um enredo multifacetado: história de crescimento, memória de guerra, análise pessoal sobre o trauma e a culpa de sobrevivente.
E todas estas facetas se conjugam num equilíbrio delicado, que a autora vai tecendo ao que parece ser o ritmo das memórias da protagonista. O passado e o presente de Ana, diferentes como parecem ser, estão, apesar de tudo, muito próximos, pois não há como fugir das sombras. E a forma como a autora constrói e reforça esta impressão constante - a de uma personagem em busca de respostas e, ao mesmo tempo, em fuga de si mesma - cria uma estranha proximidade, mesmo quando as escolhas e os pensamentos são difíceis de assimilar.
Há também vários aspectos impressionantes na forma como a autora relata a guerra. Grandes momentos, como a situação da barricada, a Casa Segura, a fuga, e também coisas que se transformam em rotina, como a partilha da bicicleta do gerador. Memórias que se insinuam aos poucos ou que surgem quando menos se espera, com toda a dura crueldade que reflectem, e que impressionam pela sua própria natureza e também pelo duro contraste com a estranha normalidade relativa de tudo o resto.
No fim, fica uma grande questão: e os outros? O que lhes aconteceu? É que toda a história de Ana converge para um ponto de viragem, de maior compreensão, e esse ponto acaba por abrir novas perguntas. Perguntas que nem sempre são respondidas e, ainda que isso faça todo o sentido - pois toda a guerra deixa os seus desaparecidos - fica sempre aquela vaga vontade de saber mais. De ver o futuro das personagens que ficaram para trás, e também o da própria Ana para lá daquele ponto de entendimento.
Não é uma leitura fácil, mas impressiona. E, no seu estranho equilíbrio entre o cruel e o rotineiro, com linhas nem sempre claras, mas marcas que se propagam muito para lá do momento, é um livro cuja relevância parece ser inesgotável. Marcante, complexo, impressionante, talvez não deixe todas as respostas. Mas, neste caso, são mesmo as perguntas o que mais importa. 

Título: Rapariga em Guerra
Autora: Sara Nović
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 18 de abril de 2017

A Menina do Fato Amarelo (Ramona Tudosa)

A menina M. tem uma grande imaginação, muitas memórias e alguns medos. Da vida que conhece, guarda o destroçar da família, as carências, mas também os momentos de magia e as pequenas alegrias. E o tempo que lhe tirou o fato amarelo e a transformou simplesmente em M. Esta é a sua história - ou as suas histórias, contadas em pequenos fragmentos de pequenas memórias. O resto... fica à imaginação. Ou ao muito que se insinua nas emoções.
Basta um olhar a este muito pequeno livro para perceber qual será a sua provável falha: a brevidade. E é-o de facto, não porque o que é contado peca por essa mesma brevidade, mas porque, lidas as suas trinta e poucas páginas, fica a sensação de que muito mais haveria a dizer sobre esta história. Sensação essa que só sai reforçada pelo grande impacto do muito que é dito em tão poucas palavras.
Será, pois, a brevidade o ponto fraco. Mas vamos às forças. E a força maior é a capacidade de emocionar quando tudo o que é dito é tão simples e narrado de forma tão breve. Cada capítulo ou pequeno conto parece ser pouco mais do que um fragmento da memória da protagonista, ficando a impressão de todo um mundo de memórias deixadas por contar. E porém, cada um desses momentos deixa uma marca, pela inocência ou pela desolação, pela tristeza sentida ou pela esperança que o tempo não apagou por completo. E, da mesma forma como cada texto é um fragmento, o que fica são também fragmentos de emoção. Simples, curtos... mas tocantes.
E é curioso como, com tão pouco dito e tanto deixado por dizer, acaba por ficar uma impressão bastante sólida de quem é a menina M. - das suas memórias, da forma como o tempo a moldou, da sua vida depois de ter sido a tal menina do fato amarelo. Ficam perguntas - ficam tantas perguntas! Mas também fica, apesar de tudo, a sensação de que o essencial está lá. E às vezes é no mais simples que estão as coisas mais importantes.
Podia ser uma história muito maior, é certo, e o potencial era vastíssimo. Mas a alma da história, a protagonista, deixa uma imagem mais que clara do seu crescimento. E isso basta para fazer deste muito pequeno livro uma boa leitura.

Título: A Menina do Fato Amarelo
Autora: Ramona Tudosa
Origem: Ganho num passatempo

segunda-feira, 17 de abril de 2017

O Coração de Simon Contra o Mundo (Becky Albertalli)

Simon tem um segredo, inofensivo e natural, mas muito importante para ele. E, sem saber como contar a verdade aos que lhe são mais próximos, encontrou refúgio e amizade na troca de emails com alguém da sua escola. Não sabe quem é o seu correspondente, mas é nas palavras que trocam que encontra a força de que precisa - e guardar esse segredo vale a pena, tendo em conta tudo o que retira da sua amizade virtual. Mas tudo muda no dia em que deixa o email aberto no computador da escola - e alguém descobre o seu segredo. Primeiro, vem a chantagem, depois a revelação. E, obrigado a assumir-se perante todos os que o rodeiam, Simon começa a querer desvendar também o outro segredo - quem é o misterioso Blue. Principalmente, porque o que começou por ser confiança e amizade parece estar a tornar-se algo mais forte...
Relativamente breve e bastante simples tanto na escrita como na história, este é um livro que cativa, em primeiro lugar, pela mensagem positiva. A forma como Simon lida com o facto de ser gay, as dificuldades e as inesperadas reacções positivas que lhe chegam com a revelação da verdade, a forma como este seu grande segredo (ou, pelo menos, a forma reservada com que lida com ele, de início) se entrelaça numa vida muito mais ampla, realçando o facto de haver muito mais na vida e história de Simon além do facto de ser gay... tudo isto se conjuga numa história tão cativante quanto pertinente, em que todos os factores da vida se entrelaçam numa visão muito completa e realista. E este é um dos grandes pontos fortes deste livro - a descoberta dos emails pode ser o ponto de partida para uma grande viragem, mas há muito mais no seu percurso para lá desse segredo.
Também muito interessante é a forma como a autora consegue, apesar de centrar a história na figura de Simon, desenvolver um conjunto mais amplo de personalidades, todas elas com traços mais ou menos marcantes e com um percurso de aprendizagem a percorrer. Há romances a desabrochar, amizades questionadas e reforçadas, pequenas grandes discussões, mudanças de percepção a nível familiar. Ou seja, há sempre algo de interessante a acontecer, seja na relação de Simon com Blue, seja no seu grupo de amigos, seja em casa. E tudo isto é contado de uma forma simples, leve, divertida... mas precisamente com o toque de emoção que a história exige.
Sendo esta também uma história de crescimento, faz todo o sentido que fiquem perguntas em aberto. Aliás, o ponto onde tudo termina para o protagonista dificilmente poderia ser melhor. Há, ainda assim, partes da história que deixam alguma curiosidade insatisfeita - nomeadamente no que diz respeito a Martin. Ainda que talvez haja pequenas pistas para o que poderia ser o passo seguinte, fica sempre em aberto a resolução da situação. E, mesmo não sendo um elemento essencial para o desenrolar do enredo, fica sempre aquela vontade de saber o que poderia ter sido.
Cativante, divertido e positivo - são estes os principais pontos fortes deste O Coração de Simon Contra o Mundo. Uma história de jovens amores e amizades, sem limites nem convenções, em que nem tudo é fácil e muito menos perfeito, mas em que toda a beleza da descoberta está lá. Gostei.  

Autora: Becky Albertalli
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 14 de abril de 2017

A Ilha de Martim Vaz (Jonuel Gonçalves)

Séculos diferentes, vidas divergentes... as mesmas questões. Assim se traçam as linhas deste livro, em que, através das viagens de múltiplos protagonistas, percursos tão incompletos como a memória dos séculos e vivências terríveis ou inebriantes, se traça uma viagem entre tempos e lugares para contemplar a universalidade humana. As histórias são muitas: a da filha de escrava feita revolucionária; a do casal que viajava por terrenos perigosos para adquirir conhecimento; a do marinheiro que quer viver o seu amor. E a de um presente mais próximo, em que um casal quer transpor os registos do passado para a actualidade. Histórias que se entrelaçam, que convergem... e que cativam, acima de tudo, pelas pequenas coisas.
Não é fácil falar sobre este livro. Nem o tempo nem as viagens das várias personagens seguem um trajecto propriamente linear e as relações entre as várias histórias são mais intuitivas que efectivas. Assim, não é fácil traçar um rumo preciso que una todos estes elementos. E, porém, a unidade parece estar lá, não só pelas descobertas que põem em contacto as personagens dos diferentes tempos, mas principalmente pelas questões por elas representadas. A escravatura, o poder dos censores, as leis absurdas que só se contornam com subornos... talvez sejam elementos diferentes, cada um pertencente ao seu período temporal, mas todos representam uma mesma coisa - o poder dos mais fortes sobre os mais fracos.
E é esta a ideia que sobressai deste romance - a de uma viagem através do tempo em que há, afinal, tanto que fica igual. Ainda assim, nem tudo se cinge a esta questão. Há, no percurso das várias personagens uma série de momentos intensos - perigos, barreiras, dificuldades. E, havendo na própria natureza das personagens algo que desperta empatia, torna-se fácil querer saber o que se segue para elas, de que forma ultrapassarão esses obstáculos e que sorte os aguarda no fim do caminho.
O que me leva ao que é, para mim, o ponto talvez um pouco menos bom: a imensa curiosidade insatisfeita que este livro deixa, fruto não só de um final bastante aberto, mas também dos espaços em branco deixados pelo meio. Não deixa de fazer sentido esta forma de contar a história - tendo ela a forma de um congregar de escritos preservados pelo tempo, é inevitável que ficasse em aberto o espaço daqueles que o tempo perdeu. Ainda assim, fica aquela vontade de saber o que aconteceu às personagens no tempo perdido - e o que estaria para acontecer a seguir.
No fim, fica a impressão de uma história que podia, talvez, ter sido um pouco maior - mas que, apesar de tudo, resulta tal como está. Viagem através do tempo e das memórias preservadas, deixa à imaginação do leitor a parte que fica por contar. E o que conta... bem, nisso cativa desde o início e surpreende até ao fim. Gostei.  

Título: A Ilha de Martim Vaz
Autor: Jonuel Gonçalves
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 13 de abril de 2017

A Tua Segunda Vida Começa Quando Percebes que Não Terás Outra (Raphaëlle Giordano)

Camille tem tudo aquilo de que precisa. Um emprego estável, uma família feliz, uma vida sem grandes dificuldades. Então porque é que a vida lhe parece tão pesada? Não sabe. Mas, na noite em que tem um acidente, as emoções reprimidas explodem e Camille dá por si a chorar compulsivamente diante do desconhecido amável que a deixou usar o seu telefone. O que ela ainda não sabe é que o seu bom samaritano é também o mentor de que tanto precisa. Apresentando-se como rotinólogo, Claude propõe-se orientá-la no seu caminho rumo a uma vida melhor, através de um método estrito, mas cheio de passos surpreendentes. E, sem muito a perder, excepto talvez os seus medos mais profundos, Camille acaba por se deixar levar. Céptica ainda, mas pronta para levar a cabo a mudança de que precisa.
Bastam umas poucas páginas deste livro para perceber a sua base essencial. Ainda que conte uma história, a do percurso de Camille, a verdade é que o objectivo deste livro parece ser essencialmente o de funcionar como livro de auto-ajuda em forma romanceada. Basta ver, aliás, as longas explicações de Claude sobre o seu método para reforçar esta primeira impressão. 
Mas, curiosamente, esta forma de explorar as ideias acaba por as tornar mais cativantes. Sim, é claro que há um método subjacente a todo o enredo e, assim sendo, se não se acreditar no método, é inevitável a impressão de que, pelo menos nalguns aspectos, o que em teoria é muito simples, na prática não será bem assim. Ainda assim, ao apresentar as ideias através do exemplo de Camille, fica-se com uma visão mais clara das suas possíveis implicações - tanto nos sucessos, como nos tropeções e fracassos pelo caminho. E isso permite assimilar melhor as ideias.
Ao tentar equilibrar estas duas facetas do livro - o desenvolvimento da história e a transmissão da mensagem - a autora acaba por deixar alguns aspectos para segundo plano. Há partes do percurso de Camille (principalmente, na relação com a família) que poderiam ter sido mais exploradas. Ainda assim, não deixa de ser agradável acompanhar o seu percurso e, aceite-se ou não o método como um todo, há várias ideias positivas a retirar desta história. E isso já basta para que valha a pena descobri-la.
Mistura de romance e de livro de auto-ajuda, a ideia que fica deste livro de tão longo título é, acima de tudo, a de uma história para transmitir uma mensagem. E, sendo a história agradável e a mensagem positiva, a leitura nunca deixa de cativar. Seria, talvez, interessante saber um pouco mais sobre as personagens. Mas o mais importante é que o essencial está lá.  

Título: A Tua Segunda Vida Começa Quando Percebes que Não Terás Outra
Autora: Raphaëlle Giordano
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 12 de abril de 2017

Divulgação: Novidade Bertrand

Jack Reacher não tem para onde ir e, quando chega a uma passagem de nível numa pradaria com o curioso nome de Mother's Rest, parece-lhe o sítio ideal para fazer uma paragem de um dia.
Está à espera de encontrar uma campa abandonada num mar de trigo maduro... mas, em vez disso, encontra uma mulher à espera do colega desaparecido, uma mensagem crítica acerca da morte de duzentas pessoas e uma cidade de gente silenciosa e vigilante.
A paragem de Reacher transforma-se numa missão sem fim... no coração das trevas!

Lee Child nasceu em Inglaterra em 1954. Estudou Direito e trabalhou no teatro e como director de programação televisiva. Foi despedido aos 40 anos, devido a um processo de restruturação. Sempre tinha sido um leitor voraz e decidiu ver nessa reviravolta da sua vida uma oportunidade para fazer algo interessante. Foi assim que escreveu o primeiro livro da série Jack Reacher, que conheceu um êxito estrondoso. Lee divide o seu tempo entre Manhattan e as suas casas de campo em Inglaterra e no sul de França. É casado e tem uma filha.

terça-feira, 11 de abril de 2017

Perdição em Roma (Sylvain Reynard)

Tudo parece precipitar-se para uma catástrofe. Raven e a irmã foram entregues a um destacamento de vampiros com o objectivo de serem entregues à Cúria. O príncipe sobreviveu a um golpe, mas o seu poder está fragilizado. E a única esperança que lhes resta é que, conseguindo o apoio do Romano, William consiga afastar a ameaça da Cúria - pelo menos até que possam recobrar forças. Mas, com inimigos e traidores em todo o lado, é só uma questão de tempo até que o que resta da paz desabe. E William terá de fazer a mais terrível das escolhas: quebrar a promessa que fez a Raven de que estariam sempre juntos ou sacrificar tudo o que alguma vez amou numa luta desesperada. 
Final de uma série onde intriga, romance e mistério se interligam num equilíbrio delicado, este é o livro que contém todas as respostas. Ou... não. Na verdade, desde muito cedo se torna óbvio que nem tudo encontrará respostas, pois há tanto a suceder nas várias frentes que, no que diz respeito às personagens secundárias, contar a sua história daria todo um novo livro. Ainda assim, esta teia de elementos parece alcançar um bom equilíbrio: no centro de tudo, estão Raven e William, como não podia deixar de ser. O resto expande a história, aumenta a dificuldade das suas escolhas... e deixa em aberto outras possibilidades. Afinal, se Gabriel surge nesta série, não será possível que algumas destas personagens não venham a manifestar-se noutros livros?
E é interessante a forma como, numa situação cada vez mais desesperada, o autor consegue encontrar a medida certa para todos os elementos. O romance dos protagonistas, claro, mas também a teia de traições do submundo, as dúvidas e erros dos que, bem intencionados, acabam por fazer mais mal que bem, a intriga constante de uma sociedade que, apesar de todas as regras, parece ter uma inevitável crueldade nas suas raízes. Tudo isto converge numa história sempre intensa, mas que, à medida que o fim se aproxima, ganha um impacto emotivo realmente impressionante. E isso deve-se tanto ao tal equilíbrio entre todos os elementos como ao impacto que tudo parece ter nos protagonistas.
E quanto aos protagonistas... Ah, esses são a melhor parte da história. Raven, vulnerável, mas incrivelmente corajosa. E William, complexo, tão atormentado pela sua natureza como pelas responsabilidades e escolhas que questioná-la lhe trouxe... perdido, às vezes, falível, também vulnerável à sua maneira. E cerne e alma de vários momentos memoráveis ao longo de toda esta história. É fascinante vê-los crescer e descobrir-se. E o fim, esse... é tudo o que esta história prometia. 
Da soma de tudo isto resulta um livro que não desilude. Intenso, emotivo, misterioso, com personagens tão fascinantes como o contexto em que se movem. E a promessa - por mais vaga que seja - nesta história que, no fundo é também de esperança, de um possível regresso ainda por acontecer. Muito bom. 

Autor: Sylvain Reynard
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Guerra e Paz

Mihály, um homem de negócios de Budapeste, vai passar a lua-de- mel em Itália com a mulher, Erzsi. Os problemas começam na primeira paragem, Veneza, mas é em Ravena que um antigo amigo de Mihály perturba o casal com histórias do passado.
Ao perder o comboio para Roma, Mihály foge da mulher e vagueia pelo país, numa viagem de autodescoberta. Dividido entre o desejo e o dever, o que quer e o que os outros esperam de si, a boémia da adolescência e as responsabilidades de adulto, Mihály reencontra os seus fantasmas e questiona o sentido da vida.
Amor e morte cruzam-se neste romance trágicocómico de 1937, uma obra-prima do húngaro Antal Szerb, traduzida em diversos países, e que chega finalmente a Portugal.

Antal Szerb. Uma das principais personalidades da literatura húngara do século xx, nasceu a 1 de Maio de 1901, em Budapeste, numa família de judeus convertidos ao catolicismo.
Com uma apetência para as línguas que desenvolveu desde cedo, rapidamente se notabilizou como escritor, tradutor e historiador da literatura. Estudou Alemão e Inglês na Universidade de Budapeste (actual Universidade Eötvös Loránd), tendo concluído o doutoramento em 1924, com apenas 23 anos.
Viveu em França, Itália e Inglaterra. De regresso, foi eleito presidente da Academia de Literatura Húngara, em 1933. Tornou-se professor de Literatura na Universidade de Szeged em 1937, o mesmo ano em que publicou Viajante à Luz da Lua, a sua obra mais conhecida. Mas perdeu o cargo na universidade na sequência das leis anti-semitas.
Em plena Segunda Guerra Mundial, foi deportado para um campo de concentração em Balf, onde morreu em Janeiro de 1945.

segunda-feira, 10 de abril de 2017

Dead Letters (Caite Dolan-Leach)

Quando a mãe de Ava lhe envia um email a dizer que a irmã gémea morreu num incêndio, Ava dá por si triste e desconfiada ao mesmo tempo. Zelda sempre adorou dramas e as circunstâncias da sua morte parecem demasiado perfeitas. De volta ao local onde cresceu, Ava vê as suas suspeitas subitamente confirmadas. Um email de Zelda dá-lhe a primeira pista para o que parece ser mais um dos jogos da irmã. Mas está viva ou não? Para saber a resposta, Ava terá de seguir as pistas, de A a Z. E, pelo caminho, talvez venha a descobrir algumas verdades desagradáveis que não conhecia ainda.
Um dos aspectos mais impressionantes neste livro é a forma como a autora consegue reunir um grupo de personagens falíveis e, sem parecer criar grande empatia em relação a elas, desenvolver uma história completamente cativante. Apesar de serem gémeas, Ava e Zelda parecem ter vivido numa rivalidade constante, e essa mesma rivalidade estende-se, aparentemente, para além da morte de uma delas. São também o fruto de uma família bastante disfuncional, o que significa que as qualidades das diferentes personagens não são propriamente os seus traços mais evidentes. E, no entanto, a história é intrigante desde o início e cada revelação é um novo passo num crescendo de intensidade que culmina num final completamente surpreendente.
Além disso, não importa realmente que empatia não seja o ponto forte de todas estas personagens. As suas vidas imperfeitas, os pontos em que tudo pareceu correr mal, os segredos, os problemas, as doenças e os vícios… tudo se conjuga num grupo de individualidades bastante interessantes. E sim, os defeitos estão lá, e não há grande redenção a conquistar, mas, ainda assim, há evolução pelo caminho. Uma evolução feita de passos em falso e de espíritos quebrados, mas, ainda assim, algum tipo de progresso. E no fim, tudo parece fazer sentido – mesmo que as respostas nem sempre sejam as mais agradáveis para as personagens principais.
E depois há a escrita, igualmente centrada na acção, no desenvolvimento das personagens, nas emoções e atitudes que desencadearam tudo o que se segue, com uma necessariamente forte componente descritiva, uma vez que as histórias e memórias do passado (lugares, pessoas, acontecimentos) são a base da situação presente. E, contudo, com uma estranha intensidade, não motivada pela acção em si, mas pela aura de mistério que parece envolver até a mais pequena das coisas. Isso faz parte do que desde o início desperta curiosidade… e continua a crescer até ao fim.

Intenso, intrigante… e cheio de surpresas. É esta, pois, a essência deste livro. Uma história cheia de mistérios e de disfuncionalidade – mas também de um estranho tipo de amor fraternal. Muito, muito bom. 

Título: Dead Letters
Autora: Caite Dolan-Leach
Origem: Recebido para crítica

Passatempo O Livro dos Chacras

O blogue As Leituras do Corvo, em parceria com a 4 Estações, tem para oferecer um exemplar do livro O Livro dos Chacras, de Osho. Para participar basta responder à seguinte questão:

1. Que outros títulos deste autor foram publicados pela 4 Estações?

Convidamo-los também a visitar e seguir a página de Facebook bem como o blogue e o site da editora. 

Regras do Passatempo:
- O passatempo decorrerá até às 23:59 do dia 1 de Maio. Respostas posteriores não serão consideradas.
- Para participar deverão enviar as respostas para carianmoonlight@gmail.com, juntamente com os dados pessoais (nome e morada);
- O vencedor será sorteado aleatoriamente entre as participações válidas;
- Os vencedores serão contactados por e-mail e o resultado será anunciado no blogue;
- O blogue não se responsabiliza pelo possível extravio do livro nos correios;
- Só se aceitarão participações de residentes em Portugal e apenas uma por participante e residência.

domingo, 9 de abril de 2017

O Segundo Livro da Selva (Rudyard Kipling)

Mowgli cresceu na selva, aprendeu a sua lei e tornou-se temido e respeitado para todos. Mas a história não acabou com a sua vitória sobre Shere Khan. Antes dela e depois, muitas outras aprendizagens o aguardavam, actos de descoberta de poder e verdades desagradáveis, mas absolutas. São essas histórias que formam este segundo livro, trazendo de volta personagens já conhecidas e outras completamente novas para um novo conjunto de interessantes aventuras.
Tal como em O Livro da Selva, também neste segundo livro as várias histórias que o compõem são no essencial independentes. Algumas delas, aliás, nem estão directamente relacionadas com Mowgli, ainda que faça todo o sentido que pertençam também a este conjunto. A própria linha temporal das várias histórias é tudo linear, sendo que até Shere Khan aparece numa destas histórias. Mas há, ainda assim, ligações evidentes e, nas últimas histórias, um percurso bem definido rumo a uma conclusão inevitável. E, assim, a ideia que fica é a de um livro onde qualquer conto é um todo em si mesmo, mas em que a unidade de todos eles forma uma imagem mais vasta.
Não é propriamente um livro de leitura compulsiva, já que a extensa componente descritiva confere às histórias um ritmo bastante pausado. Mas não deixa nunca de ser cativante, não só pelas histórias vividas pelas várias personagens - e, nalguns casos, as lições por essas personagens aprendidas - mas pelo próprio fascínio que esse cenário tão amplamente descrito acaba por exercer. É como se o mundo de Mowgli e seus companheiros ganhasse uma dimensão diferente face a tantos e tão detalhados elementos captados da sua constituição.
E depois há a própria Lei que rege as várias personagens, influenciando-lhes os passos, ditando escolhas e estratégias e, nalguns casos, despoletando batalhas e vinganças épicas contra aqueles que ousam desafiar a autoridade. Nem sempre é fácil compreender as motivações - o próprio Mowgli nem sempre parece compreender-se. Mas há algo de fascinante na forma como tudo parece assentar numa mesma Lei, podendo, porém, dar origem a resultados tão diferentes. 
E, assim, a imagem que fica é a de um estranho e fascinante regresso a um mundo cheio de sombras e de medos, mas também de verdade e esforço. Um conjunto de aventuras intrigantes e surpreendentes, num cenário tão intrincado como interessante. Vale a pena, portanto, regressar à selva e reencontrar Mowgli e os seus companheiros. 

Autor: Rudyard Kipling
Origem: Recebido para crítica

sábado, 8 de abril de 2017

Divulgação: Novidade 4 Estações

Neste livro, Osho dá-nos uma perspectiva da ciência ocidental dos centros de energia subtil do corpo humano, por vezes conhecidos por "Chacras". Trata-se de uma ciência subjacente à medicina tradicional chinesa, ao Ayuverda indiano e à prática de Yoga Kundalini, entre outras disciplinas que reconhecem a ligação profunda entre a mente e o corpo. Osho mostra ainda como estes mesmos princípios se aplicam ao crescimento psicológico e ao amadurecimento humano, assim como à evolução da consciência.
O Livro dos Chacras coloca a ciência ‘ esotérica’ e o seu entendimento, no contexto do crescimento e transformações pessoais.

“Uma pessoa tem de sentir os chacras, e não saber acerca deles. Só quando sente profundamente os seus chacras, e a sua Kundalini e a passagem dela, é que isso terá algum valor; caso contrário não servirá de nada. Na verdade o conhecimento tem sido muito destrutivo no que diz respeito ao mundo interior. Quanto maior o conhecimento adquirido, menor a possibilidade de sentir as coisas reais, autênticas.”

sexta-feira, 7 de abril de 2017

Filhos do Vento e do Mar (Sandra Carvalho)

Forçada a deixar para trás o único lar que conheceu, e após algumas desventuras inesperadas, Leonor cruza-se com Corvo, o temível pirata sobre o qual ouviu os mais imensos horrores. E, sem alternativa a não ser embarcar no seu navio, a única opção que se lhe afigura é disfarçar-se de rapaz e manter a farsa até conseguir uma hipótese de fugir. Só que, além de não ser parvo nenhum, Corvo também não é o monstro sanguinário das histórias. E, à medida que descobre que as suas hipóteses de fuga são escassas, começa a entender também que fugir não é a melhor opção. A tripulação do Rouxinol é uma família - e, sendo ela filha do Açor, podia muito bem vir a ser a sua. Mas... como reagirá o capitão quando souber que ela lhe mentiu desde o início?
Um dos traços essenciais dos livros desta autora, e uma das suas maiores qualidades, é a capacidade de despertar emoções fortes, não só através de reviravoltas no enredo,mas do próprio crescimento das personagens e da empatia que estas despertam. Este livro não é excepção. Aliás, passando-se grande parte do enredo a bordo do navio de Corvo, a autora coloca a sua protagonista num ambiente fechado,  onde não tem grande alternativa a interagir com aqueles que os rodeiam. E isto tem sobre Leonor um efeito quase que milagroso: se os preconceitos que a movem de início conseguem ser um bocadinho irritantes (e isso reflecte-se, aliás, nas outras personagens) a forma como as suas percepções e sentimentos mudam despertam uma empatia crescente. Além disso, à medida que ela descobre os segredos das outras personagens - e de Corvo, em particular - o impacto emocional das tribulações passadas sai também reforçado.
Mas, se Leonor começa a conquistar simpatia aos poucos, já Corvo é o tipo de personagem que cativa de imediato. Sombrio, atormentado pelo passado, mas evidentemente com o coração e os valores no sítio certo, é o tipo de personagem que equilibra na perfeição os problemas de Leonor. A superioridade moral que Leo julga ter é posta à prova a cada nova revelação sobre o Corvo. E o resultado são vários momentos emotivos, que se expandem também a episódios de ternura e humor quando os outros membros da tripulação se juntam à festa.
Quanto ao enredo, ficam, é claro, muitas perguntas em aberto, ou não estivesse para vir um terceiro volume. Mas, sendo, até certo ponto, um livro de transição entre o passado de Leonor (e, agora, também o de Corvo) e as resoluções que fatalmente virão, cativa, principalmente, porque tudo o que acontece é pertinente, ainda que o objectivo da viagem do Rouxinol possa parecer um aspecto secundário. A missão de Corvo pode não estar directamente relacionada com as grandes vinganças juradas, mas serve um objectivo relevante: por um lado, preparar Leonor para o que tem pela frente; por outro, criar elos de ligação num destino comum. O resto... o resto fica para descobrir no próximo livro.
A imagem que fica é, por isso, a um livro que não desilude. Intenso, emotivo, repleto de momentos marcantes e também com o toque certo de humor, cativa desde as primeiras páginas e nunca deixa de surpreender. E, claro, cria as melhores das expectativas para o que se poderá seguir. Muito, muito bom. 

Título: Filhos do Vento e do Mar
Autora: Sandra Carvalho
Origem: Recebido para crítica

Para mais informações sobre o livro Filhos do Vento e do Mar, clique aqui.

quinta-feira, 6 de abril de 2017

Divulgação: A Origem de Ethosis - A Caixa de Pandora, de Gonçalo F. P. Raposo

Cinco meses após os últimos eventos do I Volume de A Origem de Ethosis, Rachel Luke viaja até Druidmell, em Portugal, para conseguir obter respostas sobre a sua tia, as cinzas flutuantes e, principalmente, sobre ela mesma. As respostas que ela procura ser-lhe-ão fornecidas por um ancião - Arkantus - e mudarão a sua vida por completo. Entretanto, Henry Gaelma é dado como desaparecido. Ao tentarem encontrar o amigo, Philip Thírthar e Emma Fox acabam por desvendar a ponta de um plano maquiavélico que envolve um objecto negro, conhecido em Lohess como: a Caixa de Pandora. Para conseguirem descobrir mais sobre esse objecto, eles terão de embarcar numa viagem até ao reino do elfo, onde irão deparar-se com seres incríveis, lugares magníficos e um grande segredo em torno de Lea Fiennes.
A grande viagem vai agora começar. Sejam bem-vindos ao reino de Lohess, onde, mais que força, é necessária coragem.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Se Eu Fosse Tua (Meredith Russo)

Amanda tem muito de novo a que se adaptar. Acaba de se mudar para casa do pai, para uma escola nova e não conhece praticamente ninguém. Além disso, experiências passadas deixaram-na numa posição em que prefere proteger-se para não sofrer. Mas, num ambiente completamente novo, Amanda precisa de conhecer pessoas, fazer amigos. E isso implica dar-se a conhecer. Mas, quando se traz consigo um segredo tão grande, mostrar-se como é não é fácil. E apaixonar-se – sabendo que, mais cedo ou mais tarde, terá de contar a verdade – é ainda pior…
A melhor palavra para descrever este livro é, sem dúvida alguma, relevante. Na forma como aborda as questões de género, projectando-as para uma fase tão difícil como é a adolescência e, ainda por cima, num cenário de mentalidades difíceis de mudar, esta é, desde logo, uma história com a qual se pode aprender muito. E bastaria o tema – e a forma intensa e realista com que a autora o aborda – para fazer com que valesse a pena descobrir este livro. Mas a verdade é que qualidades não lhe faltam – e o impacto global é bastante impressionante.
Dessas muitas qualidades, sobressai a forma como a autora constrói a história e a personalidade da protagonista e daqueles que a rodeiam. Não há nada de fácil no caminho de Amanda – no presente, tal como no passado que a levou até ali. E, nesse longo percurso de descobertas e de dificuldades, há todo um conjunto de momentos marcantes, num crescendo de intensidade que, partindo da leveza possível, culmina num final muito emotivo.
Destaca-se também a escrita que, aparentemente sem grandes elaborações, se ajusta na perfeição à voz da protagonista. Leve nos momentos descontraídos, evocativa nos picos emocionais, centrada no que está a acontecer, mas sem esquecer os pensamentos, as percepções, as emoções. A voz que narra a história é a voz de Amanda – e ajusta-se na perfeição às suas características.
Ficam questões em aberto? Ficam. Mas, tendo em conta que toda a história de Amanda se passa num momento de viragem, não só na sua adaptação a um novo ambiente, mas também rumo a uma nova percepção do seu valor, faz todo o sentido que tudo acabe como acaba. O resto… bem, fica à imaginação do leitor.
Intenso, emotivo, surpreendente… e muito, muito relevante. É esta a ideia que fica deste tão cativante Se Eu Fosse Tua. Uma história de identidade e de diferença. E, acima de tudo, de aceitação. Recomendo.

Título: Se Eu Fosse Tua
Autora: Meredith Russo
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: A Rapariga de Antes


O livro de que todos falam, já nas livrarias.


terça-feira, 4 de abril de 2017

Divulgação: Novidade Porto Editora

Simon Spier tem 16 anos e os únicos momentos em que se sente ele próprio são vividos atrás do computador. 
Quando Simon se esquece de desligar a sessão no computador da escola e os seus emails pessoais ficam expostos a um dos colegas, este ameaça revelar os seus segredos diante de toda a escola.
Simon vê-se, assim, obrigado a enfrentar as suas emoções e a assumir quem verdadeiramente é perante o mundo inteiro.

Becky Albertalli é uma psicóloga clínica que teve o privilégio de acompanhar como terapeuta dezenas de adolescentes inteligentes, estranhos e irresistíveis. Também prestou serviço por 7 anos enquanto líder adjunta de um grupo de apoio à identificação de género, em Washington DC. Vive com a família em Atlanta.
Este seu primeiro romance obteve várias distinções, incluindo: nomeação para a Carnegie Medal; selecção para o National Book Award; nomeação pelo Goodreads Choice Awards nas categorias de Autor Estreante e Ficção Jovem-adulto; prémio na categoria Melhor Estreia Jovem-adulto, pelo Williams C. Morris Award.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

Mango e Bambang - O Não-Porco (Polly Faber e Clara Vulliamy)

A Mango tem jeito para muitas coisas - e uma delas é resolver problemas. Por isso, quando se depara com um grande engarrafamento, não tarda nada a decidir agir. O que não está à espera é de encontrar uma estranha lomba na passadeira, que não é uma lomba nem, como muitos pensam, um porco mutante, mas sim um tapir muito assustado. A Mango não hesita e, em menos de nada, começa a conversar com o tapir. E assim faz um amigo invulgar que a acompanhará a casa... e em muitas mais aventuras. 
Sendo certo que o conteúdo é sempre o mais importante, uma das primeiras coisas a despertar curiosidade para este livro é o aspecto visual. Porquê? Porque basta um breve folhear para chamar a atenção para um livro em que cada ilustração, cada pequeno detalhe, desperta curiosidade para as aventuras nele contidas. Um livro que cativa ao primeiro olhar e que surpreende a cada novo toque de magia, construindo para essas mesmas aventuras um equilíbrio praticamente perfeito entre texto e imagem.
Este aspecto visual é um bom ponto de partida para um livro que surpreende também noutros aspectos, a começar, desde logo, pela narrativa. Composto por quatro aventuras mais ou menos independentes, mas com uma linha temporal bem definida e pequenas ligações entre elas, este é um livro em que todas as histórias são bastante simples e a escrita corresponde a essa simplicidade. Mas é um livro apenas para o mais novos? Não. E não porque a ternura e o delicioso sentido de humor destas histórias conseguem cativar tanto crianças como leitores mais velhos, e também porque há uma certa magia nas aventuras destas personagens, e a magia, como todos sabemos, não tem limite de idade. 
E por falar em personagens... É precisamente nelas que está a grande fonte de toda essa magia. Peripécias curiosas e perigos inesperados à parte, o que sobressai de todo este livro é uma amizade invulgar, mas fortíssima. E não é a amizade uma das coisas mais importantes da vida? A amizade que aceita a diferença, que supera obstáculos, que faz com que quase tudo seja possível... É essa a amizade que une a Mango e o Bambang. E é ela que faz com que todas as suas aventuras e desventuras - divertidas, arriscadas, intrépidas - tenham, no fim, tanto impacto em quem as lê.
A soma de tudo isto é, claro, um livro bonito em todos os aspectos - na história, nas ilustrações, na mensagem. E é isso que, com toda a simplicidade do mundo, mas também com toda a ternura, faz com que este livro seja uma surpresa das boas. Recomendável a todos os leitores. 

Título: Mango e Bambang - O Não-Porco
Autoras: Polly Faber e Clara Vulliamy
Origem: Recebido para crítica

domingo, 2 de abril de 2017

Leonor (Pedro Sequeira de Carvalho)

Apesar de ter tido uma educação religiosa, Emanuel não se interessa particularmente pelas coisas da igreja. Mas tudo muda quando conhece Leonor, uma rapariga simples, um pouco ingénua e muito religiosa. Decidido a voltar a vê-la, Emanuel dá por si a interessar-se também pelos assuntos da igreja, na esperança de que estes lhe tirem as muitas dúvidas que tem. Mas não sabe que talvez tenha um rival onde menos espera. E Leonor, inocente como parece ser, não compreende que está no centro de demasiadas atracções.
O que mais chama a atenção para este livro - e fá-lo desde muito cedo - é a premissa da história, pois o potencial de um possível romance entre um céptico e uma devota é bastante, não só em termos de diferenças entre personagens, mas também no que toca aos valores subjacentes aos diferentes modos de vida. Além disso, ao longo da história, com outras personagens a revelar potencial, surgem ainda outras questões pertinentes, desde logo relacionadas com o padre e a sua crise sentimental, mas não só. E, assim, a primeira impressão que fica é a de um conjunto de ideias interessantes e a partir dos quais se poderia construir uma grande história.
A história tem os seus bons momentos, é verdade, mas, infelizmente, há na concretização destas ideias algumas falhas difíceis de ignorar. A forma como as personagens se avaliam mutuamente cria, à partida, um ambiente de julgamento excessivo uns dos outros, o que torna difícil criar empatia para com qualquer uma delas. Além disso, as ideias dos vários intervenientes parecem, por vezes, contradizer-se ou não encaixar muito bem na perspectiva global do enredo. E há tantos fios de pensamento a cruzar-se na história que, por um lado, as mudanças de rumo parecem demasiado apressadas e, por outro, as convicções de algumas personagens (como, por exemplo, a de um pai que acha justificada, em certos casos, a violência física para com as mulheres) criam um choque difícil de superar. 
Quanto ao romance entre os protagonistas, é provavelmente o que mais cativa em toda esta história, tão cheia de pensamentos e trocas de argumentos por vezes difíceis de entender. Há, entre Leonor e Emanuel, alguns momentos interessantes, ainda que seja difícil, por vezes, ignorar a forma como ele parece pensar nela. O problema é que, numa história que segue tantas por sendas diferentes (e, por vezes, incoerentes), tudo acaba por ficar um pouco confuso, deixando sem resposta demasiadas perguntas importantes e centrando-se em aspectos que não são assim tão pertinentes.
A imagem que fica é, por isso, a de uma ideia promissora, mas com vários aspectos a melhorar. E, principalmente, a de um contraste algo confuso entre formas de pensamento mais ou menos antiquadas, do qual é possível tirar algumas boas ideias, mas também posições mais difíceis de assimilar. Falta um pouco mais de unidade aos muitos fios deste livro. Que tem os seus bons momentos, ainda assim. 

Título: Leonor
Autor: Pedro Sequeira de Carvalho
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: novo livro de Paula Hawkins chega a 2 de Maio

CUIDADO COM AS ÁGUAS CALMAS. 
NÃO SABEMOS O QUE ESCONDEM NO FUNDO. 

Nel vivia obcecada com as mortes no rio.
O rio que atravessava aquela vila já levara a vida a demasiadas mulheres ao longo dos tempos, incluindo, recentemente, a melhor amiga da sua filha. Desde então, Nel vivia ainda mais determinada a encontrar respostas. 
Agora, é ela que aparece morta.
Sem vestígios de crime, tudo aponta para que Nel se tenha suicidado no rio. Mas poucos dias antes da sua morte, ela deixara uma mensagem à irmã, Jules, num tom de voz urgente e assustado. Estaria Nel a temer pela sua vida?
Que segredos escondem aquelas águas?
Para descobrir a verdade, Jules ver-se-á forçada a enfrentar recordações e medos terríveis há muito submersos naquele rio de águas calmas, que a morte da irmã vem trazer à superfície.

Paula Hawkins foi jornalista na área financeira durante quinze anos, antes de se dedicar inteiramente à escrita de ficção. Nascida e criada no Zimbabué, mudou-se para Londres em 1989, onde vive actualmente.
A Rapariga no Comboio foi o seu primeiro livro e um verdadeiro fenómeno, tendo sido traduzido em mais de 40 línguas, com cerca de 20 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo. Em Portugal, é o livro mais vendido desde 2015 (n.º 1 durante 13 semanas consecutivas), tendo atingido os 125 000 exemplares editados. Do livro resultou um filme de sucesso, protagonizado por Emily Blunt, que alcançou o primeiro lugar das bilheteiras em Portugal (10 semanas em exibição, Top 20 dos filmes mais vistos em 2016, 192.738 mil espectadores, 1 milhão de facturação).
Escrito na Água é o segundo thriller da autora, cujos direitos para filme já foram comprados pela Dreamworks. Paula Hawkins fará parte da produção executiva.