domingo, 31 de maio de 2015

Quando a Desigualdade Põe em Risco o Futuro (Yanis Varoufakis)

Economia. Com a chegada e permanência da crise, foi um tema que ganhou visibilidade, despertando no cidadão comum a vontade de saber mais sobre o assunto. Mas, sendo um tema tão complexo e com tantas variáveis em jogo, a economia é um assunto difícil de entender e, por isso mesmo, difícil de explicar. Ou... será que não? Num registo que pretende ser acessível e esclarecedor, tomando a forma de um conjunto de explicações à filha do autor, Yanis Varoufakis resume de forma sucinta, mas muito clara, as linhas essenciais da evolução, do comportamento e das condicionantes que moldam a economia... e, sim, as crises económicas.
De tudo o que de bom há neste livro, o primeiro aspecto a chamar a atenção é a forma como está escrito, no que parece ser uma simples conversa entre o autor e a filha sobre um dos assuntos inevitáveis da actualidade. E é este registo simples e acessível, em que tudo é explicado da forma mais clara possível e com vários exemplos que faz com que a leitura cedo se torne cativante, despertando a curiosidade em saber mais sobre o tema.
Desta simplicidade emerge também um contraste: é que, se ouvirmos um qualquer comentador ou especialista em economia a falar na televisão, são, muitas vezes, mais que abundantes os termos técnicos e as elaborações complexas sobre o assunto. O que este livro apresenta é precisamente o contrário: uma explicação clara e directa, quase que numa forma de "economia explicada às crianças", simples, mas não simplista, e muito esclarecedora. 
E ainda um outro ponto interessante é o facto de, seja na forma como explica as origens dos mercados ou na sua maneira de ver as causas nas origens das crises, o autor fazer questão de lembrar, mesmo nas explicações em que é o valor (monetário) o factor mais relevante, o aspecto humano. De destacar aqui a forma como refere a questão do desemprego, realçando aspectos como a baixa de salários e a perspectiva de alguns de que a qualquer um seria possível encontrar emprego, desde que estivesse disposto a aceitar um valor suficientemente baixo.
Poder-se-ia então definir este livro como uma boa aula de economia. Uma lição cativante e completa, surpreendente pelos exemplos usados, mas, acima de tudo, pela forma como torna claro o que, por vezes, parece tão nebuloso. Muito interessante, em suma, e muito bom. 

Título: Quando a Desigualdade Põe em Risco o Futuro
Autor: Yanis Varoufakis
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 29 de maio de 2015

O Cavaleiro de Westeros (George R.R. Martin)

A morte do seu mentor deixou Dunk sozinho e sem saber exactamente que rumo seguir. Mas não tarda até se formar uma resposta na sua cabeça: tomar para si o papel de cavaleiro e combater no torneio para onde se dirigia com o seu mestre. Mas o plano não é assim tão simples de concretizar. Primeiro, faltam-lhe os meios. Depois, a perícia. E, para fazer de Dunk um cavaleiro, não lhe basta o rapaz que aceitou como escudeiro por o achar tão parecido consigo. Terá de encontrar uma forma de desempenhar o papel que escolheu como seu. Mas, diante de homens de elevado nascimento, a única coisa que Dunk tem de cavaleiro é a dedicação ao juramento de proteger os mais fracos. E poderá isso ser suficiente?
Sendo esta uma adaptação a banda desenhada de um conto com o mesmo nome, seria de pensar que, para quem não conhecesse previamente a história, poderia, talvez, ser difícil acompanhar o rumo dos acontecimentos. Mas não é assim. O equilíbrio entre texto e imagem é de tal forma que permite assimilar, visualmente ou através das observações do próprio narrador e protagonista, todos os elementos de contexto necessários à compreensão da história. Também não é preciso conhecer a história de A Guerra dos Tronos, pois tudo decorre muito tempo antes dos acontecimentos narrados na série. E assim, a impressão que fica, desde logo, é a de um livro que tanto pode ser um bom ponto de partida para quem não conhece Westeros como uma boa leitura para os fãs das Crónicas de Gelo e Fogo.
E isto porque este livro tem tudo para agradar. Primeiro, sendo muitíssimo bem construído em termos do já referido equilíbrio entre texto e imagem, fica-se com uma visão muito completa do ambiente em que tudo decorre. Mas também, e acima de tudo, pela história e pelas personagens que a povoam. O ponto de partida para a aventura de Dunk, aquele momento em que o encontramos sozinho e sem saber bem o que fazer, basta para, desde logo, despertar empatia e curiosidade. E, com o evoluir dos acontecimentos, essa empatia só aumenta, já que as circunstâncias do protagonista estão longe de ser fáceis.
Mas nem tudo se resume ao protagonista e há todo um conjunto de personagens memoráveis nesta história, seja pelo muito que têm de admirável, seja pelo que têm de odioso. E, como é sabido que o autor não é propriamente misericordioso para com as suas personagens, é de esperar que haja surpresas no seu futuro. E há-as, de facto, em vários momentos.
O que fica, então, desta leitura é, acima de tudo, a impressão de uma história memorável em todos os aspectos. Com um protagonista forte, um mundo vastíssimo (do qual, importa dizer, este livro reflecte apenas uma muito pequena parte) e uma história cativante e surpreendente, eis, pois, um livro que não posso deixar de recomendar. Magnífico. 

Título: O Cavaleiro de Westeros
Autor: George R.R. Martin
Origem: Aquisição pessoal

Divulgação: Novidades Planeta

Baseado na vida de Amedeo Modigliani, o mítico pintor italiano cuja obra é considerada uma das mais importantes do século XX e a vida apesar de inspirar um fenómeno de culto, não é, afinal, tão conhecida quanto se pensa, Cristina Carvalho regressa ao terreno da ficção biográfica com um romance que põe em cena o pintor, contando-nos ele próprio a sua vida sempre difícil, muitas vezes miserável, conduzida pela paixão à arte, amparada por mulheres apaixonadas e alguns raros homens que lhe reconheceram o talento.
Da luta contra a doença desde a infância à luta pelo reconhecimento numa Paris onde o génio borbulhava em todo o tipo de manifestações e a concorrência era muitas vezes impiedosa, mas onde a generosidade e a solidariedade encontravam também terreno fértil, Modi será sempre um príncipe exilado, por quem as mulheres se apaixonam sem apelo, por quem Picasso nutrirá uma antipatia feroz, em quem Amadeo de Souza Cardoso verá o génio artístico que muitos outros se recusam a ver, oferecendo-lhe amizade e exposição no seu atelier .
Numa narrativa a duas vozes em que narradora e personagem alternam e complementam pontos de vista e onde irrompem algumas outras vozes de mulheres – apenas mulheres – das mais fortes que o amaram, Modigliani, o Olhar e a Alma ficará como uma composição literária que observa uma vida em busca das cores e do espírito que a moveram, da tragédia e do génio, da escuridão e da luz.
Alguém comparou a mulher que se viu voar naquela manhã da janela de um quinto andar de Paris a um anjo. Mas não era um anjo, era Jeanne: Jeanne Hébuterne, a menina-viúva, grávida de nove meses, de um dos artistas mais desprezados em vida e mitificados na morte que o século XX viu surgir - Amedeo Modigliani.
Diz-se que no funeral de Modigliani, para além de artistas, amigos e população dos bairros boémios de Paris, abundavam os marchands, fazendo ofertas pelas obras que o pintor, que dependera da bondade de amigos para a sobrevivência básica, nunca conseguira vender. Tinha 35 anos e estava gasto.
Mais um livro de Cristina Carvalho para leitores de todas as idades, que faz dela uma das autoras mais fielmente presentes nas listas do Plano Nacional de Leitura.

O que acontece quando um admirador secreto persistente e intrigante tenta uma senhora virtuosa?
Sophie sabe que não deve sucumbir à tentação, mas quando descobre que o admirador que lhe envia presentes e bilhetes escandalosos é o jovem e delicioso visconde Breton, não pode deixar de se sentir lisonjeada e considera uma ligação. Ninguém saberá, porque essa será a oferta proposta.
Julius Valacourt pode ter má fama, mas a mulher dos seus sonhos é ardilosa e está determinado a mudar a sua maneira de pensar. Quando sente que ela está na dúvida, intensifica a corte e concorda com todos os termos. Tudo parece correr de feição até que Sophie acaba com as suas fantasias.
Um caso secreto, apaixonado, que pode terminar em desastre social ou revelar-se uma extraordinária história de amor...

Livy nunca conheceu um desejo tão absoluto, cativada e seduzida pelo belo Miller Hart, que a adora à sua maneira deliciosamente pecaminosa. Adivinha-lhe os pensamentos mais recônditos e arrasta-a cada vez mais para o fundo no seu mundo perigoso.
Miller está disposto a tudo para garantir a segurança de Livy, mesmo que isso implique arriscar a própria vida. Mas o passado sombrio de Miller não é a única ameaça que paira sobre o futuro de ambos.
À medida que a verdade sobre a família de Livy se vai esclarecendo, vem a lume um paralelismo inquietante entre o passado e o presente.
Com o seu mundo desgovernado, Livy dá por si apanhada entre a exaltação de um amor que tudo absorve e uma obsessão fatal que os ameaça aniquilar.

quinta-feira, 28 de maio de 2015

O Azul dos Teus Olhos (Mary Higgins Clark)

Há cinco anos, o marido de Laurie Moran foi assassinado diante do filho de três anos, a quem foi deixado um recado que prometia que a mãe seria a próxima e depois ele. Durante esses cinco anos, Laurie viveu com o medo de que o Homem dos Olhos Azuis voltasse a aparecer. Mas o tempo passou e o facto de o assassino não se ter manifestado não serviu para a tranquilizar. Agora, Laurie está prestes a entrar numa nova aventura, como produtora de um programa que pretende revisitar casos por resolver. E, se o caso que serve de base ao primeiro episódio é, por si só, um grande mistério, o aparato em torno da recriação da Gala da Formatura pode muito bem ser a oportunidade de que o Homem dos Olhos Azuis precisa para voltar a atacar...
Mais focado no mistério que propriamente nas personagens, como, aliás, parece ser característica dos livros desta autora, este é um livro que surpreende em primeiro lugar pela forma como, em poucas páginas, cativa o leitor para a sua história. Isto deve-se, em primeiro lugar, à escrita, directa quanto baste e em capítulos curtos -  apesar de um ritmo inicialmente mais pausado, devido a alguma contextualização - , mas também ao facto de haver um acontecimento marcante logo nas primeiras páginas. Ora, este acontecimento, além de criar uma sombra que se prolongará por grande parte do livro, cria, desde logo, um pico de intensidade que desperta a curiosidade em saber mais.
Além disso, e ainda que, tal como disse, o mistério (ou mistérios) esteja no cerne do enredo, há, neste livro, um maior desenvolvimento das personagens. Curiosamente, este não se aplica tanto a Laurie, mas aos que a rodeiam, tanto a nível familiar, como (e principalmente) no que diz respeito à Gala da Formatura. É que o caso na base do programa é tão interessante como o do Homem dos Olhos Azuis, e a forma como a autora desenvolve as razões dos vários possíveis suspeitos contribui em muito para fazer com que a história nunca deixe de ser intrigante.
Mas há outro pormenor surpreendente em todo este mistério. É que nem todas as respostas são imprevisíveis, e não há dúvidas de que não há grandes dificuldades em identificar o verdadeiro papel de alguns dos intervenientes. Ainda assim, a forma como a autora conduz a história, insinuando outras possibilidades e reflectindo-as nas dúvidas das personagens, torna o enredo cativante, conduzindo-o num crescendo de intensidade até culminar num final que, não sendo completamente inesperado, tem, ainda assim, um laivo particularmente agradável de justiça poética.
Tudo somado, temos um policial envolvente, com um mistério intrigante e uma linha de acontecimentos que, não sendo inteiramente surpreendente, consegue, apesar disso, ser muito cativante, quer pela teia de possibilidades que apresenta, quer pela forma como essas mesmas possibilidades influenciam as personagens. Uma boa história, portanto, e uma leitura que recomendo. 

Título: O Azul dos Teus Olhos
Autora: Mary Higgins Clark
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Sonhos de uma Rapariga Quase Normal (Rita Redshoes)

Todos sonhamos. E, em sonhos, vamos a sítios que em tempos conhecemos bem, ou a outros que, de tão improváveis, nunca poderiam existir. O que este livro nos apresenta é um conjunto de quarenta sonhos, todos eles com tanto de surreal como de familiar. Os sonhos da autora, que reflectem a sua vida e os seus símbolos. Mas que, apesar de pessoais e intransmissíveis, representam uma viagem divertida... e, por vezes, estranhamente familiar.
Sendo este livro basicamente um conjunto de sonhos, é de esperar, à partida, que tenha bastante de improvável. E tem-no, de facto. Desde um casamento com Passos Coelho num cenário de Ali Babá e os Quarenta Ladrões a uma aula de pilates com António Costa, sem esquecer todo um conjunto de experiências mais ou menos improváveis com figuras mais ou menos familiares, o percurso através dos sonhos de Rita Redshoes é uma viagem através do surreal. Mas a verdade é que é isso mesmo que se espera dos sonhos. E, assim sendo, há uma característica que sobressai destes relatos: a nitidez com que a autora se recorda dos seus sonhos, tanto nos diálogos mais realistas como nas situações mais peculiares.
São histórias de sonhos, mas podiam igualmente ser pequenos contos improváveis, sendo precisamente isso que cativa para a sua leitura. É fácil imaginar uma personagem fictícia a viver estas estranhas aventuras, ao estilo de Alice - ou de Rita - no país das maravilhas. E, por mais estranhos que sejam estes relatos, há também uma fluidez na forma como são contados, uma naturalidade, que os torna quase reais e, por isso, apesar de toda a estranheza, muito envolventes.
Ainda um outro aspecto que sobressai é o conjunto de ilustrações que acompanham o texto, imagens que, não sendo propriamente uma representação directa do sonho, surgem, ainda assim, como um complemento, acrescentando ao relato algo de onírico ao mesmo tempo que, como um todo, contribuem para que o livro tenha um aspecto particularmente apelativo.
O que fica de tudo isto é a impressão de uma estranha viagem. Estranha, mas estranhamente cativante, através de um conjunto de registos com tanto de bizarro como de familiar e em que, nos sonhos de Rita, e no que podem ou não simbolizar, é possível reconhecer os sonhos de todos nós. Recomendo.

Título: Sonhos de uma Rapariga Quase Normal
Autora: Rita Redshoes
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 26 de maio de 2015

O Bizarro Incidente do Tempo Roubado (Rachel Joyce)

Algo correu terrivelmente mal no Verão de 1972. E tudo começou porque dois segundos foram adicionados ao tempo. Foram esses dois segundos que causaram o acidente - e, a partir dele, a sucessão de acontecimentos terríveis que mudou para sempre a vida de Byron Hemmings. Byron, que sempre foi esperto e que parecia ter um futuro promissor pela frente. Mas que, em poucos meses, veria a vida e todos os seus planos mudarem radicalmente. E não para melhor.
A primeira coisa a cativar neste O Bizarro Incidente do Tempo Roubado é, mais que a história propriamente dita, a escrita da autora. Não que a história não tenha também muito de brilhante, porque tem, mas aquilo que primeiro chama a atenção é a forma como a autora narra a história das suas personagens, num registo que, algo introspectivo, mas sem perder de vista a linha dos acontecimentos, reflecte na perfeição tanto os acontecimentos como os sentimentos e pensamentos que estes despertam nas personagens. É isso, essa sensação de proximidade, que primeiro cativa para a história, primeiro pela beleza das palavras, e depois pela forma como estas reflectem a estranha dualidade de tristeza e esperança que está, no fundo, no cerne de toda esta história.
Mas falemos da história, porque também nela há muito de bom para descobrir. Centrada acima de tudo nos dois amigos - Byron e James - e no que aconteceu naquele fatídico Verão, a história oscila entre dois períodos diferentes da vida dos protagonistas, deixando antever as tragédias do futuro, mas sem as revelar por inteiro. Aliás, há uma grande surpresa escondida nesta dualidade, uma revelação que, além de surpreendente por si mesma, está na base do final de grande impacto com que a autora conclui esta história.
Mas, mais que de grandes acontecimentos isolados, e ainda que haja um na base de tudo, a história faz-se também de pequenas coisas. Da vida familiar de Byron, que lentamente vai mudando, da forma como uma nova influência externa altera todas as rotinas que alguma vez conheceu, despoletando um tal caminho de mudanças que nada de familiar poderá alguma vez permanecer, e da forma como algo tão simples como um pequeno mal entendido pode ser a faísca que desperta o caos. Todos os momentos, pequenos e grandes, têm algo de marcante nesta história. E isso acontece não só por todos serem relevantes para o contexto global, mas também porque até a mais pequena situação revela algo de novo sobre a natureza das personagens.
E falta, claro, falar das personagens. Byron e James podem ser as figuras centrais do enredo, mas há todo um conjunto de personagens a condicionar a sua história. Personagens boas e personagens más, mais ou menos normais ou absolutamente estranhas. Mas todas elas relevantes, de uma forma ou de outra, para traçar o caminho que levará Byron - principalmente, mas também James - àquilo que será o seu futuro. Personagens que, na sua crueldade, ou bizarria, ou inocência, ou capacidade de manipulação, revelam tanto de si mesmas como das personagens que elas próprias influenciam. E que convergem num todo complexo, em que pensamento e emoção se revelam como facetas complementares de uma mesma empatia.
Com uma escrita belíssima e uma história repleta de momentos brilhantes, este é, pois, um livro que acaba por se revelar como memorável em todos os aspectos. Na inocência das personagens, e na forma como esta entra em contradição com a vastidão do mundo. Na estranha mistura de intriga e interesse que parece abalar as fundações de uma vida aparentemente perfeita. E, acima de tudo, no difícil percurso de um crescimento em que nada é fácil e nada é seguro. Tudo isto numa narrativa cativante, comovente e surpreendente em todos os momentos certos. Brilhante, em suma. 

Autora: Rachel Joyce
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Elsinore

Descoberto em 2012, A Eterna Demanda é o romance póstumo de uma das mais aclamadas escritoras norte-americanas. Neste trabalho é-nos revelado um dos lados mais pessoais da autora, numa comovente exploração da identidade que forjamos para nós próprios e para os outros. A Eterna demanda é, talvez, o seu trabalho mais pessoal e apaixonado, e cativará, sem dúvida, os milhões de leitores que sempre estimaram as suas obras ao longo de gerações.

Randolph, um jovem norte-americano, parte em viagem pela Europa e pela Ásia numa procura incessante de experiências e sabedoria. Em Paris conhece Stephanie. Filha de pai chinês e mãe norte-americana, também ela percorre o mundo à procura do seu lugar entre duas culturas aparentemente opostas. Ao longo do tempo, numa série de encontros e desencontros, ambos descobrem que se pode conciliar experiência e sabedoria, heranças ocidentais e orientais, mas há um preço a pagar.

Filha de missionários, Pearl S. Buck nasceu nos Estados Unidos, mas mudou-se para a China com poucos meses. A proximidade e respeito pelo povo chinês tornaram-se absolutamente centrais na sua obra. Nos Estados Unidos, consagrou-se como escritora graças ao grande êxito de Terra Abençoada, vencedor do Prémio Pulitzer em 1932. Do romance ao ensaio, assinou mais de 80 obras. Venceu o Prémio Nobel de Literatura em 1938, «pelas suas descrições intensas e verdadeiramente épicas da vida rural na China e pelas suas obras-primas autobiográficas».

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Divulgação: novidade Quetzal

«O romance, nos seus momentos mais inspirados, é um compêndio de epifanias, apartes estarrecedores, episódios pícaros, e História condensada de forma radical. Em cada página é revelado o horror, o medonho fedor da morte em massa, e desafiada a resistência da imaginação do leitor para acreditar no “interesse amoroso” de Thomsen por Hannah Doll.»
Joyce Carol Oates, The New Yorker

«Tour de force do mais apurado virtuosismo verbal, um romance brilhante e magnificamente perturbador, inspirado em nada menos do que uma profunda curiosidade moral pelo ser humano. Assombroso.» 
Richard Ford

«Encarar a cabeça de Medusa de Auschwitz teve um efeito salutar na escrita de Amis – o rigor ético do tema libertou-a do superficial, do não-essencial.»
The Guardian

O que acontece quando descobrimos quem verdadeiramente somos? E como é que lidamos com essa revelação? Poderosa e original, A Zona de Interesse é uma obscura história de amor que se desenrola num cenário do mais puro mal – o campo de extermínio de Auschwitz. E uma viagem às mais negras profundezas e contradições da alma humana.

Martin Amis é um dos autores britânicos mais importantes da actualidade. Nasceu no País de Gales e é filho de Kingsley Amis. 
A matéria-prima dos seus romances radica no absurdo da condição pós-moderna e nos excessos do capitalismo tardio das sociedades ocidentais; o seu inconfundível estilo é compulsivo e terrivelmente vívido. Saul Bellow, Vladimir Nabokov e James Joyce são as suas grandes referências literárias. Por seu turno, influenciou uma nova geração de romancistas, como Will Self ou Zadie Smith. 
Depois de A Viúva Grávida, Os Papéis de Rachel, O Segundo Avião, A Informação, Dinheiro e Lionel Asbo, a Quetzal dá continuidade à publicação das obras de Martin Amis com o seu romance mais recente.

domingo, 24 de maio de 2015

Homeopatia (Anne Clover)

Definida como o tratamento de semelhantes com semelhantes, a homeopatia é um método de medicina alternativa com mais de duzentos e que desperta tanto cepticismo como curiosidade. Neste breve livro, Anne Clover apresenta, de forma sucinta, os fundamentos da homeopatia, bem como a base das suas origens e as linhas essenciais de como funciona. E fá-lo de forma interessante quanto baste, ainda que deixando algumas perguntas por esclarecer.
O lado mais interessante deste livro é que, para quem não tiver qualquer conhecimento prévio sobre a homeopatia (como é o meu caso), pode ficar com uma ideia bastante clara de quais são as bases do sistema. Desde a preparação dos medicamentos homeopáticos, às ideias e experiências na base do desenvolvimento da homeopatia, sem esquecer as possíveis formas de aplicação, isoladamente ou em colaboração com a medicina convencional, o que a autora apresenta é um resumo bastante completo das linhas essenciais do sistema, ainda que, principalmente no que diz respeito às preparações, se possa tornar um pouco confuso.
E é desta confusão que emerge uma das principais fragilidades. É que, entre ideias que são repetidas mais vezes que o essencial e explicações que, por vezes, se tornam maçadoras, o livro torna-se, por vezes, demasiado denso. Para isso contribui também o estilo de escrita, que, centrado, acima de tudo, na exposição dos elementos, acaba por ser, por vezes, um pouco monótono.
Há também aspectos que teria sido interessante ver mais desenvolvidos, principalmente no que diz respeito às bases científicas e à relativa oposição entre medicina convencional e medicinas complementares ou alternativas. São factos que a autora refere, é certo, mas apenas de forma muito superficial, o que inevitavelmente deixa algumas questões em aberto.
A impressão que fica é, portanto, a de um interessante ponto de partida para ficar a saber o básico sobre a homeopatia. Ficam alguns aspectos por explorar, e talvez seja por isso que algum do cepticismo permanece. Mas não deixa de ser, ainda assim, uma leitura interessante.

Título: Homeopatia
Autora: Anne Clover
Origem: Recebido para crítica

sábado, 23 de maio de 2015

Quando as Folhas Caem, Por Vezes Voam (Rodrigues dos Reis)

O mundo através dos seus mistérios, numa viagem ao interior da alma que passa por várias facetas, das referências literárias às crenças individuais ou globais. Assim se poderia definir o ponto de vista que transparece deste pequeno, mas muitíssimo cativante conjunto de poemas, em que, em poucos versos, mas com todos os elementos conjugados nas medidas certas, se expressa, por vezes, todo um mundo.
Composto maioritariamente por poemas breves (salvo raras excepções) e escritos num estilo bastante livre, este é um livro difícil de descrever. Em parte porque cada poema é um todo em si mesmo, mas também por dar voz a um conjunto de impressões e emoções dificilmente definíveis em palavras. É fácil reconhecer algo de familiar em cada poema - seja um cenário, uma ideia ou estado de alma - mas há algo de tão particular na forma como esses elementos são transmitidos que a ideia que fica é mais a de uma imagem mental do que propriamente algo de descritível.
É esta estranha impressão, aliás, que torna tão cativante a poesia do autor. É que, mesmo sem saber como explicar o que se está a ler, fica sempre algo de memorável, seja uma emoção, um laivo de sentimento ou simplesmente a impressão de alguma coisa. E se isso acontece com cada poema, acontece também com o todo, que, surgindo como uma unidade comum, com um estado de alma contemplativo a servir de elo de união, evoca também essa mesma impressão: a de algo de etéreo que está mesmo ali, ao alcance dos dedos, mesmo que seja difícil de definir.
Ora, este equilíbrio entre a unidade e a totalidade associa-se a um conjunto de referências para reforçar o que acaba por ser uma identidade própria, em que todas as referências são assumidas, mas em que há algo de pessoal a emergir do conjunto. E assim, do equilíbrio entre as evocações de outros autores e um ponto de vista que é, apesar de tudo, pessoal e intransmissível, há como que o assumir de um estilo próprio e pessoal, mas que não se fecha ao mundo em redor.
O que fica, então, desta leitura é a impressão de uma poesia muito própria, em que palavras aparentemente simples dão voz a uma vastidão de ideias, num conjunto que, em simultâneo invulgar e familiar, facilmente se torna memorável. Uma boa surpresa, em suma, e um livro que recomendo. 

sexta-feira, 22 de maio de 2015

A Ironia e Sabedoria de Tyrion Lannister (George R.R. Martin)

Para aqueles que seguem as Crónicas de Gelo e Fogo, ou simplesmente a série Game of Thrones,Tyrion Lannister está longe de ser um desconhecido. Peculiar em muitos aspectos, desde as questões físicas à sua invulgar posição no mundo, Tyrion pode ser diferente em todos os seus traços, mas o que mais sobressai é uma muito mordaz e certeira expressão de sensatez. E prova disso são as frases coligidas neste breve, mas muito interessante livro.
Sendo basicamente uma compilação das frases mais marcantes de Tyrion - e é preciso que se diga que são muitas - este é um livro que, à partida, não trará nada de muito novo a quem já leu os vários volumes da série. Mas, e este é um dos aspectos mais interessantes do livro, a verdade é que nada se perde pelo facto de serem frases já conhecidas. Pelo contrário. Ao juntá-las todas num mesmo livro, fica-se com uma ideia muito mais completa do verdadeiro brilhantismo da personagem. Além disso, é sempre bom recordar um pouco dessa tão grande - e ainda inacabada - aventura, pelo que todos os regressos são bem-vindos, e este livro não é excepção.
Também a organização as ilustrações contribuem para fazer com que, apesar do texto já conhecido, a leitura deste livro acabe por ser uma experiência nova. É que, com uma muito adequada ilustração a abrir cada um dos temas, e também a dar forma às frases mais inspiradas, cria-se um equilíbrio que confere ao texto algo de novo. São apenas citações retiradas de um contexto mais vasto. É verdade. Mas há, ainda assim, um muito cativante equilíbrio entre texto e imagem, e também este reforça a imagem global com que se fica do "autor" das frases.
E é assim que, regressando a um texto e uma personagem já conhecidos, este pequeno livro proporciona um agradável regresso e, ao mesmo tempo, uma experiência nova, numa leitura leve e cativante, em que, pela voz de uma carismática personagem de ficção, são ditas algumas verdades incontornáveis. O resultado é, claro, um belo livro. 

quinta-feira, 21 de maio de 2015

As Crónicas dos Tugas (Miguel Correia)

Feito em grande medida de insólitos mais ou menos visíveis na comunicação social, e da perspectiva pessoal que o autor tem sobre o assunto, este é um livro que, num conjunto de crónicas sucintas e de leitura agradável, reúne o que de mais peculiar se vê no nosso país. E, se é certo que muitos dos episódios narrados nestas crónicas poderiam igualmente passar-se com gente de qualquer outra nacionalidade, há, ainda assim, um retrato que sobressai de um conjunto. E que, não sendo propriamente o mais agradável, é, apesar de algum exagero, bastante plausível.
Sendo grande parte destas crónicas centradas num ou noutro acontecimento específico, há inevitavelmente um certo contexto a considerar. Claro que todo o conjunto se define por um cenário global - de crise, como não podia deixar de ser - mas a cada uma das crónicas corresponde um caso concreto. Disto resulta que cada texto é completamente independente dos restantes, permitindo uma leitura sequencial ou uma visita aleatória aos diferentes episódios. Junte-se a isto o registo bastante sucinto e o especialmente agradável toque de ironia, e o resultado é uma leitura leve e bastante cativante.
Também importa referir que, mais que o caso na base de cada um dos textos, é o que o autor dele retira a base de cada uma das crónicas. E, neste sentido, sobressai uma perspectiva muito própria. Naturalmente que, dependendo do assunto, se pode concordar ou discordar e, de facto, é isso que acontece. Com alguns dos textos, é mais fácil sentir um certo reconhecimento, enquanto que outros despertam talvez uma instintiva discordância. Ainda assim, e sempre tendo em vista o conjunto como sendo, acima de tudo, reflexo dos pontos de vista do autor, há algo de cativante na forma como o autor expõe a sua perspectiva, num tom leve, mas crítico quanto baste, das circunstâncias que expõe.
E, por falar nas circunstâncias, fica, por vezes, principalmente nas crónicas que se referem a casos menos mediáticos, a impressão de que mais poderia ser dito acerca dos factos. Claro que o objectivo do texto não é uma exposição exaustiva, mas, ainda assim, fica, de alguns dos textos, a ideia de que um maior conhecimento dos factos poderia permitir uma apreciação mais completa.
A soma de tudo isto é uma leitura leve e agradável, com um retrato um pouco exagerado, por vezes, mas bastante certeiro, de algumas das peculiaridades do nosso país, e com um ponto de vista que, nunca deixando de se demarcar como pessoal e intransmissível, consegue, muitas vezes, evocar uma agradável impressão de familiaridade. Um livro interessante, portanto. 

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Separação (Lauren DeStefano)

De volta ao lugar onde tudo começou, ainda que agora com novos aliados, Rhine não sabe o que pode fazer para contrariar a vontade de Vaughn, mas sabe que não pode ficar ali. E, surpreendentemente, Linden está disposto a ajudá-la a partir, para que possa ir em busca do seu irmão e das respostas por que tanto anseia. Mas não é assim tão fácil resistir aos intentos de Vaughn. Mesmo que consiga virar costas a todos os laços que criou enquanto esposa de Linden e irmã-esposa de Cecily, o caminho nunca poderá ser fácil. E as respostas podem não ser as que deseja. 
Último volume de uma história com muitas perguntas por responder, é neste livro que mais se notam as limitações da narração do ponto de vista de Rhine. É que, se o seu percurso tem, por si só, muito de interessante, e tem-no, de facto, há todo um conjunto de explicações sobre o vírus, a cura e os possíveis processos de investigação que, vistos apenas pelos olhos da protagonista, acabam por não ser assim tão desenvolvidos. Claro que a informação é suficiente para levar a uma conclusão satisfatória, e que há até nestes desenvolvimentos um aspecto especialmente cativante, mas, apesar disso, teria sido interessante saber um pouco mais.
Mas, como disse, e apesar das inevitáveis limitações, há, ainda assim, muito de interessante na fase final desta história. A começar, desde logo, pelas mudanças nas relações entre as personagens, que se fortalecem ou distanciam consoante as descobertas que vão fazendo. Neste aspecto, destaca-se Linden, é claro, com a sua nova percepção do que se passa à sua volta. Mas também Cecily, no que descobre através das novas personagens - e na forma como os acontecimentos a levam a uma tomada de posição no mínimo inesperada. E, mais surpreendente ainda, o papel de Vaughn em toda a situação, que, com as revelações que surgem sobre as pesquisas e possíveis descobertas sobre uma cura para o vírus, surge retratado a uma nova luz, sem deixar de desempenhar o papel que lhe compete, mas tornando-se, apesar disso, mais humano, mais complexo... e, por isso, mais interessante.
Quanto ao enredo propriamente dito, sobressaem os momentos de maior tensão e as situações mais emotivas, em que as relações entre as personagens mais ficam em evidência. Fica, é certo, a impressão de que muito mais poderia ser dito sobre o mundo e as circunstâncias em que os protagonistas vivem as suas vidas. Ainda assim, a forma como a autora desenvolve o percurso de Rhine, e como o termina, acaba por proporcionar uma viagem cativante, que culmina numa conclusão bastante adequada.
Trata-se, portanto, de uma conclusão que não dá todas as respostas, principalmente no que ao contexto diz respeito, mas que, ainda assim, consegue cativar e surpreender nos momentos certos. Agradável e envolvente, uma boa leitura.

Novidade Marcador

No último paraíso do Planeta, a meio caminho entre o Velho e o Novo Mundo, as ventanias preparam a sua ofensiva. Ardem vulcões e terramotos, e é contra a morte que o povo dos Açores festeja, eufórico, como se em todo o caso o fim estivesse próximo. De regresso às ilhas após trinta e cinco anos de ausência, José Artur Drumonde colecciona afectos e perplexidades.
Há Elias Mão-de-Ferro, um velho endurecido pela vida no mato e pela culpa. Há Maria Rosa, uma pequena maria-rapaz, loira como só aos oito anos, conhecedora das raças de vaca e da natureza humana. Há Cabrinha, taberneiro e manipulador da consciência colectiva; há La Salete, a sua filha cozinheira e sábia; há Luísa Bretão, mulher de beleza e silêncios, a quem o regressado demorará tempo de mais a declarar-se.
A sua viagem não é a de um vencedor. Com a carreira na universidade onde ensina em risco, José Artur voltou em busca de vestígios da Atlântida, a utopia há tanto procurada por arqueólogos e historiadores, e provavelmente também da memória de José Guilherme, o avô de cuja vida de adulto a sua própria existência fora, décadas antes, uma reprodução em ponto pequeno.
A terra não treme sob os seus pés: nem o maior o terramoto o seu corpo será capaz detectar, no que constituirá o mais evidente sinal da incompletude da sua pessoa. Na autenticidade da vida do campo, na repetição dos gestos dos seus antepassados – aí se encontrará, talvez, a redenção.
Mas as entranhas da velha casa familiar escondem um segredo: os ossos de Elisabete, a criança desprovida de um braço e dotada de força sobre-humana cujo desaparecimento, quase quarenta anos antes, coincidira com o fim da sua própria infância.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

A Rapariga no Comboio (Paula Hawkins)

Todos os dias, à mesma hora, Rachel entra no comboio. Faz parte da sua rotina. E, todos os dias, ao passar pela zona onde fica uma casa que lhe diz muito, observa o que julga ser o casal perfeito. Na sua imaginação, idealiza-lhes uma vida de felicidade e de genuíno afecto, tudo aquilo com que um dia sonhou. Até que um dia vê algo de diferente, algo que a leva a questionar o que realmente sabe sobre aquelas pessoas. E, quando pouco tempo depois, descobre que aquilo que viu pode dar respostas a um acontecimento perturbador, Rachel sente-se obrigada a contar tudo à polícia. O problema é que Rachel não é propriamente uma testemunha fiável. E o que sabe - ou pensa saber - pode não ser inteiramente real.
Narrado a partir dos pontos de vista de três das personagens mais importantes da história, este é um livro que cativa em primeiro lugar pela sua aura de mistério. Tanto na forma como as personagens se referem às suas vidas como no que vêem e conhecem da situação global, há, para cada revelação feita, um novo conjunto de possibilidades insinuadas, que abrem caminho a um novo conjunto de perguntas. É isso que, em primeiro lugar, desperta a curiosidade em saber mais e que, ao mesmo tempo, cria para o enredo um crescendo de intensidade que, com o conhecimento gradual das personagens - com tudo o que têm de contraditório e disfuncional - , facilmente se torna viciante. 
Também especialmente interessante é o facto de grande parte da história girar em torno de um acontecimento central, mas, ainda assim, haver todo um conjunto de elementos complementares a expandir a complexidade do enredo. A história de Rachel mistura-se com as de Megan e Anna, com todos os pontos e pessoas comuns nas suas vidas, mas também com o que têm de próprio e de divergente. Neste sentido, aliás, importa ainda realçar uma outra característica que sobressai. É que, sendo os capítulos narrados pela voz destas três personagens, e apesar das notórias semelhanças entre elas, cada uma delas tem uma voz própria, que transparece não só das suas circunstâncias, mas principalmente da forma como estas são narradas.
E se tanto as personagens como a forma como a sua história é narrada têm, por si mesmas, muito de intrigante, a forma como tudo converge para dar forma à história torna o enredo ainda mais intenso. É que, de descoberta em descoberta, a autora conduz personagens e leitor num percurso cheio de reviravoltas, muitas delas completamente inesperadas e, mesmo as que não o são, bastante interessantes. Tudo numa história de ritmo envolvente, com personagens tão complexas como fascinantes, e que culmina num final particularmente marcante.
Ora, a impressão que fica de tudo isto não podia deixar de ser muito positiva. E, assim sendo, o que fica deste A Rapariga no Comboio é a ideia de uma história surpreendente, viciante e em que o mistério está tanto nos acontecimentos como nas personagens que os protagonizam. Recomendo, portanto.

Novidade Esfera dos Livros

A História costuma recordar os imperadores, senadores, poetas e historiadores que construíram Roma, mas relega para segundo plano as mulheres que, frequentemente na sombra, também desempenharam um papel decisivo. Reia Sílvia, depois de ter sido violada, deu à luz os gémeos Rómulo e Remo, fundadores de Roma. Agripina, mãe do imperador Nero, ficou para a História como assassina impiedosa e, paradoxalmente, como uma mãe com um amor incondicional pelo filho. Já Valéria Messalina, terceira mulher do imperador Cláudio, consta que fugia da residência imperial para se prostituir, tal era a sua avidez por sexo. Helena de Constantinopla teve um papel crucial no Cristianismo, tanto mais que, reza a lenda, foi ela que descobriu a cruz onde Cristo foi crucificado. Estas são algumas das mulheres que Carla Hilário Quevedo apresenta num livro que nos traz 14 curtas histórias biográficas de mulheres célebres e influentes na construção de Roma e do seu império. Destacando diferentes características, explicações e interpretações para histórias clássicas que tendemos a considerar demasiado longínquas para a nossa compreensão moderna, a autora mostra-nos estas mulheres a partir de uma nova perspectiva. Mas as histórias revelam mais: o que os romanos esperavam das suas mulheres ou qual era afinal o seu papel num mundo em que apenas os homens podiam falar em público. Um livro essencial para perceber as mulheres de Roma e a forma como temas como o adultério, a maternidade ou o casamento eram vistos na sociedade romana.
                                                                              
Carla Hilário Quevedo viveu em tempos em Atenas. É mestre em Estudos Clássicos pela Faculdade de Letras de Lisboa. Colabora regularmente na imprensa portuguesa desde 1998, tendo escrito para O Independente, Diário de Notícias, Expresso, Atlântico, Metro, entre outros. É colunista do SOL e do i. Tem um blogue chamado Bomba Inteligente. É casada e vive em Lisboa.

Novidades Planeta

Desde que em 2008 a crise financeira começou a afectar o mundo, a economia tornou-se o foco das nossas preocupações e das nossas conversas. 
É por isso que, mais do que nunca, é necessário uma «economia sem gravata», longe da linguagem técnica e formal, para explicar questões tão fundamentais como a razão para a existência de riqueza e pobreza, quando se geraram as desigualdades, qual é a relação entre poder e dinheiro, ou por que é que a dívida gera a fortuna de outros. 
O seu estilo despojado, sempre de sorriso aberto e sem gravata fá-lo destacar-se num contexto tradicionalmente formal e «cinzento». 
O livro faz um retrato claro do estado da Europa, em particular, e da Economia, em geral. 
Crítico de keynesianos e neoliberais, Varoufakis colabora como analista económico em vários meios de comunicação, como BBC, CNN e Sky News, sendo igualmente conhecido pelo seu blog (yanisvaroufakis.eu), em que analisa a actualidade política e económica de uma perspectiva pessoal.

Os mandalas ocupam um lugar especial nas representações iconográficas do budismo. 
Um mandala é um sistema gráfico que contém um espaço mental sagrado, um diagrama cosmológico e energético capaz de purificar a mente e reconciliar as nossas energias dispersas. 
Mandala é uma palavra do Sânscrito que significa círculo, roda e totalidade. 
Neste livro encontrará uma série de mandalas e outros desenhos para colorir, concebidos especialmente para poder usufruir da serenidade e relaxamento proporcionados pelo focalizar a atenção numa actividade criativa. 
Colorir é uma terapia muito eficaz para combater a apatia, a tristeza ou o stress. O facto de escolher a figura que vai pintar permite equilibrar a mente e recuperar a energia. 
Atreva-se a explorar a dimensão de cor e atenção que lhe proporcionará uma sensação de serenidade incomparável.

Novidade Porto Editora

Istambul, 1839. O sultão Mahmud II morreu e o seu sucessor, o jovem Abdülmecid, é o novo governante da Sublime Porta. Que representará esta conjuntura de mudança para Yashim Togalu, o brilhante detective eunuco, encarregado de investigar a curiosa morte de um espião russo, cujo cadáver foi descoberto no poço de um mosteiro grego ortodoxo numa das ilhas dos Príncipes? De que forma estará este acontecimento relacionado com o inexplicável caos e violência que reinam no novo harém do sultão? Até que ponto estará o paxá Kapudan Fevzi Ahmed, comandante da armada otomana do antigo sultão, envolvido na trama? Sobreviverá a valida, refugiada no Palácio de Topkapi, às elaboradas maquinações contra a sua vida? 
Conseguirá o grão-vizir manter a união de um império tentacular, ameaçado por inimigos externos e internos? E a que custo?
Neste quarto volume da série protagonizada pelo detective Yashim Togalu, Jason Goodwin oferece-nos um autêntico cocktail de história e mistério, retratando com enorme mestria o esplendor do Império Otomano e oferecendo aos leitores um retrato único da vida num harém.

Jason Goodwin interessou-se por Istambul quando estudou História Bizantina na Universidade de Cambridge. Depois do sucesso do seu primeiro livro, The Gunpowder Gardens, decidiu fazer uma peregrinação a pé da Polónia até Istambul, e o relato dessa viagem, On Foot to the Golden Horn, valeu-lhe o Mail on Sunday Prize, que lhe foi atribuído em 1993. Atraído pela influência do Império Otomano na Europa de Leste, e depois de uma investigação exaustiva, publicou o livro de referência Lord of the Horizons: A History of the Ottoman Empire. O Fogo de Istambul, primeiro livro desta série, alcançou o reconhecimento da crítica e do público internacional, foi galardoado com o Edgar Award for Best Novel e traduzido para trinta e oito línguas.

sábado, 16 de maio de 2015

O Mistério do Quadro de Bellini (Jason Goodwin)

Convocado para uma audiência com o jovem sultão, Yashim, o detective eunuco, recebe uma missão delicada. Deverá viajar até Veneza, e adquirir o quadro de Bellini que retrata Mehmed, o Conquistador. Mas a missão é mais delicada do que parece. Uma importante figura do governo faz saber que vê com maus olhos a viagem de Yashim a Veneza e que lhe seria conveniente ignorar a ordem do sultão. Entre ordens contraditórias, Yashim encontra no seu amigo, o conde Palewski, a solução dos seus problemas e alguém para enviar no seu lugar. Mas o que o espera em Veneza é muito mais do que a simples aquisição de um quadro. Há um assassino à solta e todas as pistas convergem para o quadro de Bellini e a sua possível proprietária. Resolver o mistério será difícil. E também perigoso...
Tal como nos livros anteriores, o grande ponto forte de O Mistério do Quadro de Bellini é a capacidade do autor de desenvolver cenários, hábitos e informações de contexto de forma hábil e esclarecedora. Grande parte da acção deste livro acontece em Veneza, o que, além de dar ao autor um novo cenário a desenvolver, permite a criação de paralelismos e similaridades entre as duas principais cidades das personagens. Assim, entre Veneza e Istambul, o autor realça contrastes, põe em evidência às semelhanças e apresenta todo um conjunto de descrições e informações que tornam o ambiente particularmente envolvente. E isto, por si só, é mais que suficiente para transportar o leitor para dentro da história.
Quanto às personagens, não há, à partida, nada de muito novo na forma como são caracterizadas. Mais uma vez, e em parte devido à forte componente descritiva, mas também à natureza essencialmente racional de Yashim, os momentos mais emotivos ou de maior empatia são apenas pontuais, ainda que haja um ou outro que se destaca pela intensidade. É o mistério que domina e, por isso, são as pistas para o resolver o cerne do enredo. O resultado é uma história que, por vezes, se torna demasiado distante, mas que, na sua curiosa mistura de intriga e mistério, com pontuais momentos de emoção e um muito agradável equilíbrio entre grandes episódios de acção e laivos de um quotidiano peculiar, nunca deixa de cativar.
E, ainda sobre o mistério e as respostas que para ele são dadas, importa realçar o facto de, ainda que nem tudo seja surpreendente, as respostas essenciais o serem. A verdade na base de todos os acontecimentos surge apenas nos últimos capítulos - e o que ela revela tem, independentemente de todas as pistas, muito de inesperado. Também isso contribui para que, apesar dos momentos mais distantes e de algumas situações de estranheza, o final acabe por surpreender pela sua especial intensidade.
Tudo isto resulta numa história cativante, ainda que de ritmo pausado, e em que o desenvolvimento das personagens e do mistério se conjuga com uma detalhada apresentação do contexto e do cenário, num enredo que, por vezes distante, mas sempre interessante, consegue surpreender em todos os momentos certos. Agradável e envolvente, uma boa leitura.

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Novidade Topseller

Corre o ano de 1947, e o nonagenário Sherlock Holmes vive em Inglaterra, numa casa de campo perto da costa. Holmes vive com a sua caseira e o filho desta, o jovem Roger, a quem o desconhecimento da diferença entre abelhas e vespas se revelará fatal.
 A rotina decorre entre a solidão pacífica do seu escritório e as abelhas — as «criaturas metódicas» que habitam o seu colmeal —, enquanto tenta lutar diariamente contra os efeitos da idade sobre a sua prodigiosa mente e o receio da perda irreversível das memórias de casos passados.
 Eis que surge então um manuscrito inacabado, sobre um caso de há 50 anos que o detective nunca solucionou e que agora se sente determinado a concluir: Londres, uma mulher bonita com um comportamento instável, um marido irado, um misterioso jardim e uma morte súbita. Holmes embrenha-se na difícil tarefa de reavivar a memória e assim terminar o manuscrito.

Novidade Quetzal

Um Cabrera Infante mais directo, mais melancólico, menos dado a elocubrações verbais, mas com o mesmo sentido crítico que caracteriza toda a sua obra e a mesma mestria literária com que descreve o factor humano por detrás de qualquer processo revolucionário.
Mapa Desenhado por um Espião é a versão inicial de um livro que Cabrera Infante – por razões que se tornarão compreensíveis depois da leitura – nunca chegou a publicar.
Crónica amarga de uma decepção, cartografia íntima de uma despedida, fragmento autobiográfico romanceado, ou exorcismo de um passado a que o autor nunca mais quis regressar.
Quando se preparava para regressar à Bélgica, depois da sua última estada em Havana – para o enterro da mãe –, Cabrera Infante foi interceptado no aeroporto e mandado apresentar-se ao Ministro do Exterior no dia seguinte. Após este facto insólito, o autor ficou retido na ilha durante quatro longos meses, durante os quais assistiu ao declínio do regime nascido da revolução. Este livro é um relato romanesco desses dias que antecederam o caminho definitivo para o exílio.

Guillermo Cabrera Infante nasceu em Gibara, Cuba, em 1929, e morreu em Londres, em 2005. Estudou jornalismo e, em 1954, começou a escrever crítica de cinema, na revista Carteles, sob o pseudónimo G. Caín. Fundador e director do magazine literário Lunes de la Revolución, até ao seu encerramento em 1961, mudou-se, em 1962, para a Bélgica, onde trabalhou como adido cultural. 
Regressou a Cuba, em 1965, para o funeral da mãe, após o que renunciou à carreira diplomática, exilando-se definitivamente na Europa. Viveu em Londres, a partir de 1966. É autor de uma obra vasta que se desenvolve em muitos géneros: ensaios, crónicas, guiões, romances, de entre os quais o muito célebre Três Tristes Tigres. Considerado uma das vozes mais brilhantes e pessoais da literatura de língua espanhola, foi galardoado com o Prémio Cervantes, em 1997.

Novidade Guerra e Paz

Nascido numa geração pós 25 de Abril, Ricardo S. é um consultor que trabalha numa multinacional de tecnologias de informação. 
Insatisfeito com a vida profissional e pessoal, viciado nas salas de chat e nas redes sociais, na droga, no consumismo desenfreado, nos speed datings, no trabalho em excesso, vê-se preso numa vida high-tech, onde tudo é reciclável e efémero: os empregos, os casamentos, as relações, as amizades, as ideologias, os cursos superiores, os bens materiais. 
Toma consciência de que não está a viver a sua própria vida. Está, sim, a viver uma vida ilusória, pensada e projectada por outros. Vai transformar-se num dissidente. Quer purificar-se de toda a contaminação cultural e tecnológica. Quer recuperar o tempo perdido e encontrar-se a si próprio. Mas ele sabe que a liberdade tem um preço. E o preço é sempre elevado.

Mário Santos: Nasceu em Lisboa, em 1969. Terminado o ensino secundário, trabalhou em diversos sectores de actividade: da construção civil à indústria naval, passando pela hotelaria, vendas ao domicílio, clubes de vídeo e restaurantes de fast food. Vindo de Humanísticas, mas apaixonado pelas novas tecnologias, ingressou num curso superior de Engenharia Multimédia. Desiludido com o que não estava a aprender, abandonou as aulas após o primeiro ano. 
Depois de longos anos a exercer a actividade de analista/programador em diversas software houses nacionais e estrangeiras, desempregou-se, entrando num período sabático, e escreveu o seu primeiro romance, este A Máquina não Gosta de Gatos.

Novidades Bizâncio

Título: Que Esperam os Macacos
Autor: Yasmina Khadra
Págs.: 272
Colecção: Montanha Mágica
Romance

Uma jovem estudante é encontrada assassinada na floresta de Baïnem, perto de Argel. Uma mulher, Nora Bilal, é encarregada de conduzir a investigação, longe de pensar que a sua rectidão é um perigo mortal num país entregue aos tubarões de águas turvas.
Que Esperam os Macacos é uma viagem pela Argélia de hoje onde o Mal e o Bem se sentem constrangidos no meio dos malefícios naturais dos homens.

Título: O Pacífico de Lés-a-Lés
Autor: Michael Palin
Págs.: 384
Fora de Colecção
Literatura de Viagens

Michael Palin viajou por dezoito países do Pacífico, o maior oceano do mundo. Desde caçadores de cabeças em Bornéu até uma refeição de gusanos no México, o seu itinerário leva-o a alguns dos locais politicamente mais instáveis e fisicamente mais exigentes que existem à face da Terra. Escala uma das Montanhas Sagradas da China, navega entre icebergues no Chile e comove-se nas margens do Amazonas, nesta espectacular viagem de contrastes, dramatismo e beleza.

Eve e as Trevas (Sylvia Day)

Passaram dez anos desde a noite que passou com Alec Caim e as consequências desse momento só agora se fazem sentir. E tudo começa com o que devia ser uma perfeitamente normal entrevista de emprego, mas que acaba por ser um breve episódio escaldante nas escadas do edifício, do qual decorre a recepção da Marca de Caim. Ora, Eve nem sequer é crente e está longe de imaginar o que a espera. É que, escolhida para dar caça aos demónios no seio de um sistema meticulosamente organizado, Eve não só acaba de perder a vida tal como a conhecia, mas também de se tornar no centro de um triângulo amoroso de proporções bíblicas.
A primeira coisa a chamar a atenção para este livro é, inevitavelmente, a premissa. Sendo sobejamente conhecida a história bíblica da rivalidade entre Caim e Abel, a ideia de um triângulo amoroso envolvendo estas duas personagens, ao mesmo tempo que as suas ligações e... aversões... são contadas de uma perspectiva diferente não pode deixar de ser um bom ponto de partida. E é-o, de facto, e tão mais interessante por colocar os dois irmãos num cenário bastante peculiar, em que a caça aos infernais é feita num sistema empresarial e em que o papel de ambos em toda a situação não é tão claro como seria de esperar. 
É este o ponto de partida para uma história em que acção e sensualidade são elementos igualmente dominantes. A relação passada de Eve com Caim, e a forma como tudo começa no seu contacto com Abel, implicam uma elevada medida de erotismo na forma como certas ligações se desenvolvem, mas, apesar disso, continua a haver missões a desempenhar e e inimigos a combater, o que faz com que, aos elementos de sensualidade - e, sim, aos ocasionais laivos de romantismo - se junte uma boa medida de acção e intriga que em muito contribui para tornar as coisas mais interessantes. Claro que nem tudo fica esclarecido, ou não fosse este apenas o primeiro volume da série. Ainda assim, o que é revelado é mais que o suficiente para manter viva a curiosidade em saber mais.
Quanto ao desenvolvimento das personagens, ficam, em certos aspectos, sentimentos ambíguos, já que há muito da história dos dois irmãos antes de Eve que permanece envolta em mistério. Ainda assim, apesar do ocasional episódio mais exagerado e das perguntas que ficam ainda por esclarecer, há na relação entre os dois irmãos e Eve uma estranha impressão de proximidade, já que, para cada momento mais brusco ou menos empático, há uma situação mais emotiva ou enternecedora que compensa o afastamento dos episódios anteriores. Além disso, entre as personagens sumamente detestáveis e as absolutamente adoráveis, há toda uma vastidão de possibilidades a explorar e uma discreta, mas relevante, base para ponderação sobre a questão das escolhas e das suas consequências.
O que fica, portanto, deste Eve e as Trevas é a impressão de um início muito promissor, com uma premissa interessante, personagens carismáticas e uma história que, leve quanto baste, mas com muito potencial, cativa desde o início e promete muito de bom para o que se seguirá. Uma boa leitura, em suma. 

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Novidades Porto Editora

Richard e Kahlan conseguiram finalmente vencer o poderoso Darken Rahl. Contra todas as probabilidades, encontram também uma forma de viver algo que julgavam impossível: o seu amor. No entanto, o que parecia ser o início de um longo idílio é bruscamente interrompido: o véu para o mundo inferior foi rasgado. 
Darken Rahl, agora no reino dos mortos, é colocado ao serviço de um poder ainda mais sinistro, pior do que qualquer outro: o Guardião do mundo inferior pretende governar também os vivos, aprisionando-os num limbo eterno. O único capaz de o deter é Richard, o homem que nasceu para a verdade e que foi marcado pela morte.
Guerra, sofrimento, tortura e mentiras envolvem nas suas teias o seeker e a Madre Confessora. Um destino de morte violenta – ou uma existência condenada ao calvário perpétuo – parece certo, a menos que a sua coragem e fé, e um pouco de sorte, os conduzam à chave que pode circunscrever o poder do Guardião: a Pedra das Lágrimas.

Terry Goodkind nasceu em 1948 em Omaha, no Nebrasca. Em 1994 publicou o primeiro livro da série de fantasia épica A Espada da Verdade, que viria a ter um sucesso retumbante, com mais de 26 milhões de exemplares vendidos e traduções em mais de 20 línguas.

Em 1972, foram adicionados ao tempo dois segundos para compensar o movimento de rotação da Terra. Byron Hemmings está fascinado por este fenómeno. Nesse mesmo ano, envolve-se num acidente de consequências devastadoras. Byron e James Lowe, o seu melhor amigo, estão convencidos de que a culpa foi daqueles dois segundos. Assim, decidem iniciar uma investigação para apurar as verdadeiras razões de tal acidente. Mas desafiar o destino pode ser perigoso...

Rachel Joyce vive numa quinta do Gloucestershire, em Inglaterra. Durante vinte anos escreveu argumentos para rádio, televisão e teatro. Também passou pelo palco, experiência que lhe valeu alguns prémios. A improvável viagem de Harold Fry foi o seu primeiro romance. Este livro recebeu o National Book Award para primeira obra e foi considerado em vários meios de comunicação um dos melhores livros de 2012. Foi também finalista do Man Booker Prize desse ano.

Primeiras páginas em http://recursos.portoeditora.pt/recurso?id=10208463

domingo, 10 de maio de 2015

A Noiva do Tradutor (João Reis)

A noiva partiu e, subitamente, o mundo transformou-se numa lixeira aos olhos do tradutor. Parece que já nada faz sentido e, ainda assim, é preciso que a vida continue. Em gestos tão inúteis como as conversas bajuladoras com a senhoria avarenta, os contactos com os editores que, em tempos, lhe deram trabalho, e agora só dão problemas, e as deambulações por lugares onde tudo parece podre, o tradutor alimenta apenas uma esperança, a de poder comprar a casa que trará de volta a sua noiva. Mas o mundo é sombrio, tão sombrio como ele o vê. E por mais que procure respostas, mesmo que apenas as mais simples, não sabe se não estará condenado a encontrar apenas um grande nada... E nesse nada a única resposta possível. 
De todas as palavras possíveis para descrever este livro, a primeira que vem ao pensamento é, inevitavelmente, diferente, principalmente se já se conhecerem outros trabalhos do autor. É que, para quem já leu O Falhado ou Os Quatro Pontos Corporais, este livro dificilmente podia ser mais diferente. Mais sério, mais sombrio, mais elaborado... E, contudo, aquela identidade muito particular continua bem presente, na ironia com que o protagonista contempla a sua própria vida e o mundo em que se move, descrita num registo mais subtil, talvez, mas igualmente preciso. 
Também o estilo de escrita é diferente, mais trabalhado e mais divagativo, o que, de certa forma, se adapta na perfeição ao que deve ser a voz do protagonista. E, estranhamente, acaba por ser esta diferença de registos que faz com que também este livro seja uma surpresa, já que, na verdade, há muito em comum entre este tradutor e algumas personagens dos outros livros, mas, excluídas essas semelhanças, tudo é diferente. Tudo é novo. E, por isso mesmo, tudo é fascinante.
Mas falando do tradutor e da sua história. Há mais no caminho deste jovem tradutor do que simplesmente um percurso pessoal. Há um caminho de enganos, de esperanças desenganadas, de interacções sociais desejadas e menos que desejáveis. E, na soma de tudo isto, há todo um olhar sobre o mundo, um olhar sombrio, é certo, em que são as características negativas as que mais se destacam, mas que não deixa, por isso, de ser menos verdadeiro. E que pode não ser a mais bela visão da sociedade, mas que faz certamente pensar. 
Por último, e partindo ainda desta visão global da sociedade, sobressai um contraste, já que o tradutor observa o mundo de dentro, mas como se não lhe pertencesse, na verdade. E, assim sendo, a sua figura é a de alguém infinitamente sozinho. De alguém que todos deixaram para trás, incluindo ele próprio. Cria-se, assim, uma estranha melancolia, que, também ela estranhamente cativante, acaba por despertar empatia num mundo onde ela não parece ter lugar. 
E chegados ao fim, fica a impressão de uma boa surpresa. De uma leitura completamente diferente, mas em que se reconhecem todos os traços de uma escrita muito própria e de uma visão do mundo também ela bastante vincada. E de um livro em que, porque o que acontece é tão importante como o que é deixado por fazer, tudo cativa e tudo surpreende. Muito bom, em suma.

sábado, 9 de maio de 2015

O Escriba (A.M. Dean)

Emily Wess comprou recentemente um manuscrito para a sua universidade. Não foi particularmente caro e nem parece ser de especial importância, já que há indícios de que possa ser, na verdade, uma falsificação. Mas, graças a esse manuscrito, uma mudança irreversível está prestes a acontecer na sua vida. Quando a sua casa é assaltada a meio da noite, e o primo morre a tentar defendê-la, Emily apercebe-se de que é o manuscrito aquilo que procuram e que há muito mais que um simples acaso por detrás daquele assalto. Não está, por isso, disposta a deixar o assunto às autoridades. Mas a viagem que a espera está repleta de perigos e Emily está longe de imaginar que aquilo que procura pode muito bem ser tudo o que separa o mundo de uma tragédia...
Tal como em O Bibliotecário, um dos primeiros aspectos a contribuir para manter a envolvência deste livro é a forma como está escrito. Capítulos curtos, numa escrita directa, ainda que descritiva quanto baste, e alternando entre diferentes pontos de vista, mantêm uma aura de mistério ao mesmo tempo que permitem ter uma visão mais vasta da posição das diferentes personagens no enredo, o que, além de despertar curiosidade para os planos de cada um, vai dando pistas que, nem sempre sendo verdadeiras, abrem caminho a algumas surpresas. Além disso, os breves recuos ao passado põem em causa algumas acções do presente, o que faz com que seja mais fácil questionar as motivações das personagens e, assim, ver as suas acções de uma forma diferente.
Mas falando de acção, que é um dos pontos fulcrais do livro. Grande parte da história gira em torno de um manuscrito antigo, e de um percurso de subsequentes revelações. Assim sendo, o caminho dos protagonistas leva-os de pista em pista - e de perigo em perigo - , sendo por isso certo que há sempre alguma coisa a acontecer. Também isto contribui para tornar a leitura cativante, já que, não havendo, no geral (salvo ocasionais excepções) grande envolvimento emocional, há, ainda assim, muito de interessante para descobrir, seja nas circunstâncias delicadas das personagens, seja nos obstáculos que têm de ultrapassar e que abrem caminho para um final que, não sendo completamente surpreendente, acaba, ainda assim, por marcar pela intensidade.
Na base da acção, há um conjunto de elementos históricos que justificam as motivações de algumas personagens ao mesmo tempo que constituem as pistas para as necessárias descobertas que vão surgindo ao longo do enredo. E, neste aspecto, o que mais cativa é a exposição acessível, mas não simplista, destes elementos, introduzidos de forma relativamente gradual, para que sejam mais facilmente assimiláveis. E vistos de diferentes perspectivas, o que, inevitavelmente, levanta a questão de como a interpretação de um elemento pode ser diferente de acordo com as motivações de quem a faz.
Trata-se, pois, de uma leitura cativante e agradável, com uma base histórica interessante e uma boa conjugação de acção e contexto. Uma boa história, de ritmo envolvente e com alguns momentos especialmente bem conseguidos. Vale a pena ler, portanto.

sexta-feira, 8 de maio de 2015

Erebos (Ursula Poznanski)

O que primeiro lhe chama a atenção é o comportamento de um amigo. Mas Nick Dunmore está bem longe de imaginar que não vai demorar muito até ele próprio se comportar como Colin e todos os outros que, com o seu comportamento misterioso e aspecto exausto, vão passando DVD de uns para os outros. O conteúdo é um jogo, o jogo mais viciante que alguma vez se viu. Mas, como Nick está prestes a descobrir, é muito mais que uma inconsequente aventura num outro mundo. As missões do Erebos são levadas a cabo no mundo real. E se também elas parecem, à partida, bastante inocentes, ainda que inexplicáveis, com a progressão no jogo, as coisas que é preciso fazer tornam-se bem mais perigosas. E um objectivo começa a ganhar forma...
O que primeiro chama a atenção neste livro e, em última análise, também o que acaba por ser o aspecto mais marcante, é o conceito por detrás do Erebos. A ideia de um jogo que interage de forma tão próxima e realista com o jogador não pode deixar de ser apelativa, principalmente para os apreciadores de videojogos. E se, no início, as características do Erebos são desenvolvidas num delicado equilíbrio entre o misterioso e familiar, com a evolução do enredo há complexidades inesperadas a surgir. É certo que, no que toca às origens e à concepção, ficam, ainda assim, algumas perguntas sem resposta, mas não há dúvidas de que o essencial está lá. E esse é muito, muito interessante.
Também interessantes são os paralelismos entre as vidas das personagens no jogo e na realidade. Claro que, neste aspecto, é Nick que se destaca, até por ser o seu jogo aquele que é acompanhado mais de perto. Mas também aqui há uma evolução interessante, de uma fase inicial mais descritiva, em que o acontece no jogo parece ser o aspecto mais relevante, e num percurso de intensidade crescente em que o perigo se vai tornando mais claro e que culmina num final intenso e surpreendente.
Todos estes elementos, desde o jogo e a história que lhe serviu de base à interacção das personagens com o Erebos e suas consequências na vida real, é narrado de forma cativante e agradável, com a considerável componente descritiva da fase inicial a dar à leitura um ritmo mais pausado, mas sem nunca se perder a envolvência e a curiosidade em saber mais. Além disso, com o desenrolar dos acontecimentos, surgem também mais situações de tensão, que, além de conferirem à história uma nova intensidade, fazem sobressair o impacto de alguns momentos que, surpreendentemente emotivos ou com um delicioso toque de humor, tornam mais próximas as personagens - mais uma vez, tanto no jogo como fora dele.
A soma de tudo isto é uma história envolvente, com uma premissa muitíssimo interessante e um ritmo de desenvolvimento que começa por cativar pelo conceito do jogo, expandindo-se depois para as personagens que o habitam e para aquilo que vivem, virtualmente e na realidade. Interessante e surpreendente, uma boa leitura.

Para mais informações sobre o livro Erebos, clique aqui.