sexta-feira, 29 de outubro de 2010

Sonho Febril (George R.R. Martin)

Quando Abner Marsh é abordado por um estranho que lhe propõe comprar metade da sua companhia de barcos a vapor (companhia essa que está praticamente falida) e ainda financiar a construção do barco dos seus sonhos, as estranhas exigências de Joshua York parecem ínfimas ante as possibilidades que o estranho tem para oferecer. Mas, à medida que a viagem do Fevre Dream prossegue, os estranhos comportamentos de York despertam rumores e perplexidade e a dúvida instala-se na mente de Abner Marsh. Quem é, afinal, o seu sócio? E que relação tem ele com as estranhas mortes que vão aparecendo nos jornais?
É difícil não partir para a leitura de um livro como este com expectativas elevadas. Por muito diferente que seja este livro relativamente às conhecidas Crónicas de Gelo e Fogo, Martin é um autor de quem nunca esperaria senão uma grande obra. E as minhas expectativas não saíram, de todo, defraudadas.
Sonho Febril é um livro onde descrições completas e detalhadas, que praticamente permitem visualizar o barco em todos os seus aspectos, tal é a precisão dos pormenores, se conjugam com um enredo que, ainda que não seja de leitura compulsiva, é envolvente pela forma como personagens interessantes e algo misteriosas, bem como situações e acções surpreendentes, são apresentadas, sem perder de vista a caracterização detalhada de aspectos como o pensamento e o sistema da época.
Um dos aspectos mais intrigantes deste livro está, como não poderia deixar de ser, na caracterização e nas relações construídas entre os vampiros. Criaturas que de inocente (ou até de benévolo) têm muito pouco, não deixam, ainda assim, de apresentar uma certa diversidade, e isto é particularmente marcante na estranha relação de antagonismo entre Damon Julian e Joshua York. Nos seus conflitos e jogos de controlo, acabam por representar uma interessante dualidade entre o vampiro cruel e quase monstruoso e a figura do vampiro humanizado, ainda que nenhum deles seja, na visão total que deles é oferecida, totalmente linear.
Abner Marsh surge como um protagonista bastante invulgar. Não sendo um indivíduo que prime pela beleza - muito pelo contrário - acaba por conquistar o leitor de uma forma mais lenta, mas igualmente intensa, pelas suas atitudes, pela lealdade que, apesar de vacilante e posta à prova por várias vezes, acaba por se revelar impressionante. Já York exerce uma forma diferente de fascínio, marcando principalmente pelo idealismo dos seus planos, mas que, apesar disso, revela a sua imperfeição na passividade que, por vezes, se revela em certos actos.
Uma última referência para a importância da poesia ao longo desta narrativa. São, em parte, como pistas para futuras revelações os poemas de Byron que são citados ao longo do livro, e a escolha dos poemas, encaixando na perfeição com a situação narrativa em que se enquadram, cria na leitura uma harmonia bastante impressionante, quase como se o poema tivesse surgido propositadamente para aquele contexto.
Envolvente, com uma escrita soberba, personagens fascinantes e um enredo intenso e marcante, um livro que, apesar de muito diferente do que conhecia do autor, surpreende em cada acção e em cada cenário... e que fica na memória, bem depois de terminada a leitura.

1 comentário:

  1. Agora tenho de comprar este livro, lol. Ainda não o tinha comprado porque ficção histórica (mesmo que misturada com fantasia) passada na América nunca me puxou muito... mas depois desta crítica, fiquei cheia de curiosidade! :/

    ResponderEliminar