quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Divulgação: Novidade Guerra e Paz

Esqueça tudo o que aprendeu sobre a História de Portugal. O melhor da nossa História está na «sabedoria» e na imaginação louca dos nossos estudantes. Afinal, dizem eles, «a Pré-História é a evolução do macaco até ao homem» e «as pessoas eram macacos e, a partir de então, foram-se desenvolvendo, dando origem a novos macacos».
É com citações como estas, rigorosamente recolhidas nos testes de História dos nossos alunos, que se faz esta novíssima História de Portugal em Disparates, livro essencial para professores e alunos, historiadores e ratos de biblioteca, políticos e deputados, ministros da Educação e presidentes da República.
É que a História só se tornou possível como disciplina científica «por intermédio da Pré-História» e «através das bíblias que contavam o passado dos reis e das ruínas dos povos antigos» até hoje. Uma obra para rir, mas também para pensar sobre a educação em Portugal.

Luís Gaivão. É escritor, investigador sobre África, particularmente Angola, agente cultural, humorista.
Nasceu em Luanda, Angola, em 1948, onde viveu até 1960. Em Portugal, fez os estudos secundários, como interno, em colégios da Ordem dos Jesuítas. É licenciado em Filosofia e Humanidades, mestre em Lusofonia e Relações Internacionais e doutorado em Sociologia: Pós-colonialismos e Cidadania Global.
Fez o serviço militar no Comando Territorial de Macau, como alferes de Cavalaria, de 1973 a 1975. Foi professor de Língua Portuguesa e História de Portugal, assessor pedagógico no gabinete do ministro da Educação, cooperante na educação de adultos em Cabo Verde e em projectos de educação
multicultural. Foi adido cultural nas embaixadas de Portugal em Luanda, Luxemburgo e Bruxelas.
É autor de uma dúzia de livros, entre os quais o bestseller História de Portugal em Disparates, agora publicado em versão totalmente renovada e ampliada, e Um Adido Cultural no Luxemburgo (Guerra e Paz, 2011).

Divulgação: Novidade Clube do Autor

Século XVI. Os conflitos pelo poder nos Estados Italianos crescem ao mesmo tempo que as artes prosperam. A Igreja e famílias como os Médici e os Sforza detêm o domínio do território e das riquezas. Savonarola ganha seguidores. Verrocchio, Botticelli, Miguel Ângelo e Rafael são artistas respeitados.
Florença é casa dos Médici e berço desta ebulição cultural. O criativo e genial Leonardo da Vinci finalmente começa a criar nome, tem o seu próprio ateliê e clientes e liberdade para desenvolver a sua arte e as suas invenções. Mas uma acusação anónima de sodomia obriga-o a abandonar os seus planos e a cidade das artes.
Invejas e medos, ignorância e corrupção, sofrimento e perseguição. Quando Leonardo percebe que nada do que parece ser é e que os inimigos podem estar em qualquer lugar, debate-se entre a vontade de triunfar e o desejo de vingança, entre o homem pecador e o génio inventivo, entre o passado e o futuro.
Este é um romance histórico com uma extensa pesquisa por trás, em que as descrições e os grandes nomes da época criam o ambiente perfeito para conhecermos melhor o homem por trás de toda a genialidade.

Christian Gálvez nasceu em Madrid, em 1980. Licenciado em Filologia Inglesa, é um dos rostos da televisão espanhola, onde conduz com êxito um concurso cultural. É também director de uma produtora direcionada para potenciar o talento de jovens promessas. 
Desde 2009, divide-se entre o trabalho em televisão e a investigação sobre Leonardo da Vinci, vivendo entre Madrid e a Toscana. É um dos mais conhecidos especialistas internacionais do artista. Além deste livro, é igualmente autor de Rezar por Miguel Ángel, Leonardo da Vinci: cara a cara, entre outros.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Divulgação: Novidade Presença

Stephanie Garber
Colecção: Via Láctea no 141
Tema: Infantis-Juvenis
Título Original: Caraval
Tradução: Maria José Figueiredo
ISBN: 978-972-23-6167-5 
Páginas: 376

Scarlett Dragna nunca saiu da pequena ilha onde ela e a irmã, Tella, vivem sob a vigilância do seu poderoso e cruel pai. Scarlett sempre teve o desejo de assistir aos jogos anuais de Caraval. Caraval é magia, mistério, aventura. E, tanto para Scarlett como para Tella, representa uma forma de fugirem de casa do pai. Quando surge o convite para assistir aos jogos, parece que o desejo de Scarlett se torna realidade. No entanto, assim que chegam a Caraval, nada acontece como esperavam. Legend, o Mestre de Caraval, sequestra Tella, e Scarlett vê-se obrigada a entrar num perigoso jogo de amor, sonhos, meias-verdades e magia, em que nada é o que parece. Realidade ou não, ela dispõe apenas de cinco noites para decifrar todas as pistas que conduzem até à irmã, ou Tella desaparecerá para sempre... 

Para além de ser escritora, Stephanie Garber dá aulas de escrita criativa numa escola privada na Carolina do Norte. Para pagar a universidade, Stephanie trabalhou num bar, num restaurante, numa empresa de consultoria e foi ainda vendedora. Foi também conselheira de jovens e professora de crianças com deficiência auditiva, no México. No entanto, escrever para jovens adultos é o seu trabalho preferido. Caraval, cujos direitos estão vendidos para publicação em 32 países, marca a sua estreia como escritora.

Para mais informações consulte o site da Editorial Presença aqui.

Poemas Perdidos (José António Pinto)

Da amizade, mais viva ou mais esbatida. Da vida, da morte e de tudo o que as separa. Do mundo como um todo e dos mundos dentro de cada um. De tudo - de nada - de todos. De tudo isto e da poesia em si são feitos estes poemas que, num ritmo sem grandes regras para além da naturalidade, traçam, com aparente simplicidade, mas com uma visão muito certeira, um conjunto de retratos da vida. E é essa, afinal, a alma deste livro: a imagem directa e sem elaborações que mostra, em traços simples, as coisas complexas.
Sendo certo que o conteúdo é sempre mais importante que a forma, uma das primeiras coisas a chamar a atenção neste conjunto de poemas é precisamente a forma. Porquê? Porque não segue regras estritas, sejam de rima ou de métrica, deixando que as palavras formem o seu próprio ritmo e fluam com a naturalidade do pensamento. Palavras que, sem grandes elaborações e com relativa brevidade, conseguem fazer com que, em cada poema, sobressaia o que tem de mais essencial e deixando o resto à imaginação de quem os lê.
Ora, esta aparente simplicidade esconde uma complexidade mais vasta: é que, quando se abordam temas tão amplos como a amizade, o amor, a morte e a poesia, cada leitor tem, naturalmente, uma perspectiva diferente daquilo que está a ler - e, muito provavelmente, diferente da do autor. Daqui, surge um interessante equilíbrio, já que é fácil reconhecer a visão do autor, mas uma visão que não se impõe às muitas possíveis interpretações. É fácil também, por isso, retirar das palavras algo que nos soa próximo - e ver, na diferença, também o muito que há em comum.
É um livro breve, sim, como são breves os poemas que o constituem. Mas a impressão que fica é a de que tudo tem precisamente a medida certa para abrir as portas de uma visão única - e, a partir dela, a de muitas outras possibilidades. Simples, mas belo e de uma vastidão secreta, vale muito a pena ler este conjunto de poemas. 

Título: Poemas Perdidos
Autor: José António Pinto
Origem: Recebido para crítica

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

Carry On - A História de Simon Snow (Rainbow Rowell)

Simon Snow é o pior Escolhido de todos os tempos. Além de não conseguir controlar a sua magia, apesar de ser, alegadamente, o mago mais poderoso de sempre, a sua vida pessoal também não está propriamente mais controlada. O Mago, o seu mentor, não parece muito interessado em falar com ele. A namorada... bem, a última vez que a viu estava de mãos dadas com o seu inimigo. E quanto a esse inimigo, parece ter desaparecido misteriosamente e Simon não consegue parar de pensar nisso. Simon precisa de respostas, mas o Mundo dos Mágicos é um turbilhão de intrigas. E, quando recebe a visita do fantasma da mãe de Baz, as coisas tornam-se ainda mais complicadas: pois esta deixou-lhe uma mensagem para o filho e essa mensagem traz consigo uma missão.
Quem leu o livro Fangirl já conhece Simon Snow, personagem predilecta e fonte de inspiração da protagonista. Mas, se já havia muito de Simon em Fangirl, este livro vem responder à muita curiosidade que ficou sobre a sua história, abrindo as portas de Watford e de todas as intrigas do Mundo dos Mágicos ao mesmo tempo que tece finalmente uma conclusão para a já conhecida história de Simon e Baz. Ora, esta ligação entre os dois livros torna a história menos imprevisível, é verdade, pois há certas reviravoltas que são muito fáceis de antecipar. Mas a verdade é que há tanto de cativante nesta aventura que saber o que se segue (mas não como) nada retira à evolvência do enredo.
O grande ponto forte da história vem, na verdade, disso mesmo. É incrivelmente fácil entrar neste mundo já conhecido, reconhecer as personagens e depois ficá-las a conhecer melhor. E, assim, é também fácil criar empatia e proximidade, principalmente porque a história começa quando o Mundo dos Mágicos está já numa situação bastante delicada e, por isso, há sempre algo a acontecer ou algo que é preciso planear. Além disso, a forma como a autora desenvolve as personagens, salientando-lhes tanto as forças como as vulnerabilidades, torna tudo bastante mais intenso, e há alguns momentos verdadeiramente marcantes.
Em Fangirl, a história de Simon Snow tem oito livros - e este é só um. Por isso, fica a sensação de que mais haveria para explorar, principalmente na fase final, em que há revelações que são feitas ao leitor, mas não às personagens, deixando possíveis confrontos por desenvolver. Ainda assim, e apesar desta sensação de que mais haveria para contar, fica também a impressão de um final adequado - em que os problemas do passado se resolvem e o futuro está logo ali à espera. Faz sentido, num mundo tão amplo, mas do qual só vemos uma parte, que assim seja. E quanto a Simon e Baz... bem, não se podia pedir um melhor fim.
Intenso, cativante e repleto de momentos emotivos, trata-se, portanto, do livro ideal para quem se deixou cativar por Simon e companhia durante a leitura de Fangirl. E de uma bela leitura para todos os que gostam de fantasia e de histórias de amor. 

Autora: Rainbow Rowell
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Coolbooks

Luís, jornalista, viaja para Florença para investigar um homicídio com 10 anos. Salvatore Savelli, professor universitário e escritor conceituado, fora encontrado morto num apartamento da cidade, com um golpe na cabeça. A polícia aponta para um crime passional, mas sem grandes pistas que o sustentem.
Para Luís, o regresso a Florença é agridoce. Viveu uma espécie de lua de mel na cidade, mas o resultado dessa maravilhosa semana foi perder o amor da sua vida. Agora, três anos depois, vê Sara em cada canto da cidade, até ao momento em que conhece Letizia, que num instante dá alento a um coração adormecido. Surge entre ambos uma paixão intensa, que exploram sem saberem se conseguirão ficar juntos.
À medida que se envolvem e o sentimento aumenta, Luís começa a juntar peças que a polícia não relacionou e pensa se quererá realmente descobrir o que aconteceu a Salvatore Savelli. Será que o coração nunca se engana? Ou, pelo contrário, tolda-nos o raciocínio?

André Curvelo Campos nasceu na cidade da Beira, Moçambique, em 1973.
Autor de vários livros infantis (argumento e desenhos), teve o seu primeiro romance publicado em 2010, Estórias Limbidinosas, em coautoria com Nuno Ferrão. Letizia foi, no entanto, o seu romance de estreia, agora publicado, 16 anos depois de escrito.
Jornalista desde 1995, reside actualmente em Bruxelas, onde é correspondente da Agência Lusa.

domingo, 25 de fevereiro de 2018

Ensaio sobre o Dever (Rute Simões Ribeiro)

Ninguém sabe como foi possível que a mensagem se manifestasse da forma como apareceu, não só nos meios de comunicação habituais, mas também em rótulos, bulas e até apontamentos manuscritos. Mas uma coisa é certa: a mensagem existe e o que anuncia está prestes a acontecer. Dentro de muito pouco tempo, os cidadãos de todo o mundo terão de escolher apenas um sentido e será com esse - e apenas esse - que ficarão. Ora, isso mudará a forma como o mundo funciona e, por isso, as entidades governativas não tardam a encontrar a solução ideal - será o governo a decidir com que sentido cada pessoa fica. Para bem da nação, naturalmente. Só que nem todas as pessoas estão dispostas a resignar-se a isso e há uma grande diferença entre uma escolha imposta e uma escolha voluntária. Há quem se oponha. Quem aceite. Mas, quando tudo acontecer, nada será exactamente como se espera...
Bastam algumas páginas deste livro para vir ao pensamento uma associação evidente ao Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago. Não que seja uma imitação, não, mas são os pontos em comum o primeiro aspecto a sobressair e é, aliás, o contraste entre o comum e o diferente o que mais cativa nesta leitura. E que pontos comuns são estes? Bem, a ideia da perda de um sentido (ou, neste caso, vários) e da forma como isso se repercute na sociedade, bem como um olhar que, mais do que a história de uma personagem, toma como protagonista a sociedade como um todo. Além disso, também a autora tem um estilo de escrita muito próprio (ainda que, claro, de especificidades distintas) e isso realça a mesma unicidade que caracteriza tanto este livro como o Ensaio sobre a Cegueira.
Mas passando especificamente a este livro, que é o que aqui mais importa. Não é tanto um mistério (ainda que o mistério esteja presente) como uma história de consequências e, por isso, as explicações ficam muitas vezes para segundo plano. E, assim sendo, é claro que fica uma certa curiosidade insatisfeita, pois há motivos e origens que nunca chegam a ser explicados. Também é verdade, no entanto, que os motivos são um aspecto secundário da narrativa, que, centrada na forma como as pessoas - governo, juristas, cidadãos comuns - lidam com a perda dos sentidos, vive mais de acontecimentos (e das consequências destes acontecimentos) do que propriamente de explicações.
E é talvez também por isso que é estranhamente fácil entrar no ritmo do texto, já que a escrita tem um ritmo peculiar em que, apesar de não haver uma linha precisa (até porque a narrativa segue várias personagens) parece haver uma impressão de movimento constante. Há sempre algo a acontecer ou uma questão importante a ponderar. E as figuras centrais desta história realçam essas questões importantes, pois, da sombra de uma mudança imprevisível, surge um olhar bastante preciso sobre vários temas pertinentes da vida em sociedade.
A impressão que fica é, por isso, a de uma história que não dá todas as respostas, mas que, das que dá e das que deixa ao pensamento do leitor, consegue formar um retrato diferente, mas muito consistente, de uma sociedade possível. Intrigante, surpreendente e com uma fluidez muito cativante, uma boa surpresa. 

Título: Ensaio sobre o Dever
Autora: Rute Simões Ribeiro
Origem: Recebido para crítica

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Potter's Field - O Cemitério dos Esquecidos (Mark Waid e Paul Azaceta)

Na ilha de Hart, há um cemitério onde vão parar os que morreram sem nome nem forma de serem identificados. Mas há quem não se conforme com esse duro facto. Quem é ele realmente, ninguém parece saber, mas responde pelo nome de John Doe e, sob a capa do anonimato, recrutou um grupo de colaboradores para o ajudarem a identificar os mortos daquele vasto cemitério. Só a questão nunca é tão simples como parece e muitos dos mortos foram vítimas de algum tipo de violência. E há quem não queira que essa verdade seja descoberta - principalmente por alguém com métodos tão pouco ortodoxos como os de John Doe.
Com um ambiente sombrio que transparece tanto da imagem como dos próprios diálogos e uma história que é toda ela feita de mistérios, a primeira coisa a cativar neste livro é, inevitavelmente, a sensação quase imediata de se estar a entrar num romance policial. Tudo é mistério: os casos anónimos, a forma de actuar do protagonista, as relações e segredos que, nunca sendo propriamente desvendados, parecem ser a força motriz por trás de tudo o que acontece. E, sendo certo que, no fim, ficam inúmeras perguntas sem resposta, como se houvesse toda uma continuidade possível, também o é que esta ambiguidade de motivos se adequa na perfeição ao ambiente de mistério que define todo o livro. 
Para esta aura intrigante contribui também o delicado e fascinante equilíbrio entre a imagem e os diálogos. Os tons escuros ajustam-se ao teor sombrio da missão de John Doe - e à sua própria natureza enigmática. Além disso, acção e diálogo atingem também um muito bom equilíbrio, deixando que os actos falem por si, quando necessário, mas revelando (também conforme a necessidade) as vulnerabilidades humanas que tornam tudo mais intenso.
Também não falta acção neste percurso, ou não fossem todas as personagens algo perigosas. E isso, associado à omnipresente aura de mistério e à sensação de haver um lado humano e falível por trás de todos os enigmas, confere à leitura uma intensidade deliciosa que culmina na tal sensação de querer saber muito mais, mas também na impressão de um final adequado. 
Somadas as partes, fica a imagem de uma leitura intensa, intrigante e muito, muito misteriosa. Vale a pena, pois, conhecer John Doe e os seus associados. Vale muito a pena. 

Título: Potter's Field - O Cemitério dos Esquecidos
Autores: Mark Waid e Paul Azaceta
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Topseller

James Whitehouse é um bom pai, um marido dedicado e uma figura pública carismática e bem-sucedida. Um dia, é acusado de violação por uma colaboradora próxima. Sophie, a sua esposa, está convencida de que ele é inocente e procura desesperadamente proteger a sua família das mentiras que ameaçam arruinar-lhes a vida.
Kate Woodcroft é a advogada de acusação. Ela sabe que no tribunal vence quem apresentar os melhores argumentos, e não necessariamente quem é inocente. Ainda assim, está certa de que James é culpado e tudo fará para o condenar.
Será James vítima de um infeliz mal-entendido ou o autor de um sórdido crime? E estará a razão do lado de Sophie ou de Kate? Este escândalo — que irá forçar Sophie a reavaliar o seu casamento e Kate a enfrentar os seus demónios — deixará marcas na vida de todos eles.

Estudou Inglês na Universidade de Oxford. Estagiou na Press Association, agência noticiosa do Reino Unido e da Irlanda, e trabalhou durante 11 anos no jornal The Guardian como jornalista e correspondente nas áreas da saúde e da política. Deixou o diário britânico para se dedicar ao jornalismo como freelancer, altura em que começou a escrever ficção.
Anatomia de um Escândalo é o seu terceiro romance e já foi traduzido para 17 línguas. Além de escrever, Sarah adora ler, nadar e cozinhar. Actualmente, vive perto de Cambridge com o marido e os dois filhos. Está presentemente a escrever o seu próximo livro.

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Voltar a Ti (José Rodrigues)

A vida de Constança divide-se entre dois mundos: a cidade do Porto, onde tem o seu trabalho numa grande empresa de informática e o namorado com quem vive há vários anos, e a aldeia de Cabeceiro onde tem os pais, o irmão e o lugar a que sempre adora regressar. E, embora o irmão esteja a passar por uma fase difícil, que necessariamente traz perturbações a todos, a vida de Constança define-se por uma relativa tranquilidade. Mas tudo muda quando o trabalho a leva a passar alguns meses no Algarve. Aí, no hotel onde passará algum tempo a trabalhar, fará novos amigos e conhecerá pessoas importantes para si. Mas descobrirá também que o coração não é tão firme quanto julga. E posta à prova nas suas escolhas sentimentais, Constança terá de escolher entre o que conhece e o futuro possível - ou de deixar para trás uma parte de si.
Provavelmente o grande ponto forte deste livro é a escrita que, num registo bastante intimista, pese embora a grande componente descritiva, consegue realçar rotinas e divergências sem nunca perder de vista a humanidade das personagens que apresenta. Nem sempre é fácil compreender as personagens e algumas das decisões de Constança não são propriamente as mais fáceis de compreender. Ainda assim, a forma como o autor dá voz à história consegue atenuar estes sentimentos de distância progressiva, mantendo sempre acesa a vontade de conhecer melhor as personagens e o mundo que habitam.
Também bastante interessante é a forma como as personagens conseguem surpreender. Ainda que seja Constança a protagonista, está longe de ser a figura mais cativante e, embora a sua história seja o centro de tudo o resto, são os outros quem mais marca neste caminho. Ora, isto tem dois aspectos a realçar: primeiro, o facto de haver gente marcante na história, mesmo que nem sempre se goste lá muito da protagonista. E segundo, o facto de ninguém - nem Constança nem os outros - ser perfeito. É, aliás, nas vulnerabilidades que se revela o mais marcante das personagens, o que acaba por deixar uma estranhamente agradável sensação de intimidade relativamente a elas.
É uma história de amor, ainda que não de um romance arrebatador. E talvez por isso é o aspecto romântico que acaba por impressionar menos. A forma como a relação de João e Constança evolui não é propriamente algo de imprevisível. Mas há mais para lá do romance - a vida familiar, o quotidiano da aldeia em contraste com a vida na cidade, os problemas de um desgosto capaz de apagar a vontade de viver e a forma como isto se repercute nos outros - e são estes aspectos aparentemente secundários que, associados ao percurso da protagonista, tornam toda a jornada memorável. E depois há ainda o complemento das fotografias que, na sua aparente simplicidade, acrescentam mais vida à narrativa.
A impressão que fica é, por isso, a de um livro que, apesar do ritmo relativamente pausado, consegue cativar pela forma como conta as coisas e, principalmente, pelo entrelaçar das diferentes facetas das suas personagens. Envolvente, bem escrito e com vários momentos memoráveis, uma boa leitura. 

Título: Voltar a Ti
Autor: José Rodrigues
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

Louca (Chloé Esposito)

Alvina Knightly está num ponto delicado da sua vida. Sem grandes objectivos e, no entanto, a levar uma vida de excessos (alcoólicos, principalmente), não se pode dizer que se encaminhe para grandes coisas. Mas tudo muda quando a sua gémea lhe pede que a vá visitar a Itália, onde leva uma vida de luxo na companhia do marido. Alvie sempre teve inveja de Beth e, tendo acabado de perder o emprego, aquela é a sua oportunidade de viver por algum tempo no luxo que sempre julgou merecer. Mas basta chegar a Taormina, na Sicília, para perceber que algo se passa. Beth quer pedir-lhe um favor - e esse favor é o princípio de grandes mudanças, pois o que devia ser uma fuga acaba com Beth morta na piscina e Alvie a assumir a sua identidade. Só que, por dentro, elas não são assim tão parecidas - e Beth também não era o anjo que parecia ser. 
Com uma protagonista que é tudo menos previsível e um enredo repleto de reviravoltas, este é um livro que tem como maior qualidade a capacidade de surpreender. E em todos os aspectos, desde o contraste entre as irmãs à sucessão de acontecimentos inesperados, passando pelas memórias do passado e as revelações que dão a tudo uma perspectiva diferente. É fácil, por isso, entrar no ritmo da história - até porque se há coisa que não lhe falta é intensidade.
Também bastante surpreendente é o facto de não haver nenhuma personagem propriamente "boa". Alvie... bem, é Alvie. Estranha, louca, com uma bússola moral nitidamente avariada. Mas até as personagens que parecem, de início, ser pessoas melhores revelam lados desconhecidos, facetas inesperadamente maquiavélicas, ao ponto de o único verdadeiramente inocente ser... enfim, um bebé. Claro que isto tem um lado negativo: não é propriamente fácil sentir empatia para com as personagens, principalmente quando a protagonista mostra um tão intenso entusiasmo face à perspectiva de mentir, roubar, matar e outras actividades moralmente censuráveis. Mas há também algo de cativante em tudo isto, pois não é todos os dias que se encontra uma história em que (quase) todos são maus, mas em que, mesmo assim, é difícil resistir à vontade de saber o que acontece a seguir. 
E, claro, chega-se ao fim com várias perguntas sem resposta, ou não fosse este apenas o primeiro volume de uma trilogia. Mas a verdade é que são tantas as reviravoltas, tantos os momentos inesperados e tantas as interligações entre diferentes tempos e diferentes personagens que, mais do que curiosidade insatisfeita, fica a vontade de saber o que se segue... e descobrir talvez se o futuro de Alvina lhe trará o que lhe é devido.
Intenso, inesperado e com uma estranhamente cativante mistura de leveza e de escuridão, trata-se, portanto, de um livro que desperta sentimentos ambíguos, mas que, com o muito que tem de diferente e a ambiguidade moral das personagens que o povoam, consegue proporcionar uma experiência de leitura intrigante e surpreendente. Há mais para descobrir, com certeza. Mas, afinal, este é apenas o início... e um início muito promissor. 

Título: Louca
Autora: Chloé Esposito
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

The Stolen Child (Sanjida Kay)

Quando decidiram adoptar Evie, Zoe e Ollie nem sequer sabiam se ela ia sobreviver. Filha de uma toxicodependente, teve de lutar com todas as suas forças só para sobreviver na incubadora, mas conseguiu. Agora, sete anos depois, Zoe e Ollie têm o seu próprio filho, Ben, mas o seu amor por Evie não diminuiu, ainda que a vida familiar nem sempre seja perfeita. Mas a sua relativa paz é subitamente abalada quando o alegado pai biológico de Evie começa a mandar-lhe cartas. A filha foi-lhe roubada e ele quere-a de volta. E nem toda a atenção de Zoe aos seus presentes inesperados poderá impedi-lo de agir quando chegar a altura certa…
Uma das coisas mais impressionantes neste livro – que é bastante impressionante, no geral – é quão fácil é entrar na mente de Zoe, entender os seus medos e frustrações e, mesmo assim, ver os outros lados da história. A sua relação com Ollie não é perfeita, Zoe está longe de ser perfeita e as coisas mudaram com o tempo. Claro que ninguém é perfeito nesta história e é precisamente isso que a torna tão intensa. Porque, quando as grandes reviravoltas acontecem, qualquer das personagens pode ser o responsável. Todas as explicações são plausíveis.
A escrita é também bastante cativante, realçando o mistério em todas as coisas, mas também as características intrigantes e inesperadas que marcam as diferentes personagens. Zoe e Evie são as figuras mais importantes, sim, como seria de esperar. Mas as pessoas que as rodeiam? Bem, toda a gente tem segredos e as formas como esses segredos são revelados – sempre no momento em que mais importam – tornam a história muito mais intensa e surpreendente.
É principalmente um mistério, portanto – do pai biológico de uma criança que quer a filha de volta e do que acontece quando ele põe os seus planos em prática. Mas é também mais do que isso. É uma história sobre a vida familiar, e como nunca nada é tão perfeito como imaginamos. Sobre os instintos maternais e a necessidade de proteger aqueles que amamos. Sobre o que acontece na mente de uma pessoa quando a tensão e o medo são avassaladores – e como tudo, desde preconceitos a cenários assustadores e julgamentos precipitados, se torna natural quando tudo o que importa é encontrar a criança desaparecida. Há muitas questões importantes neste livro e a forma como a autora consegue abordá-las ao mesmo tempo que conta uma história cheia de mistério e de intriga e de reviravoltas inesperadas é também algo bastante impressionante.
Impressionante será então uma boa palavra para descrever este livro: uma história em que ninguém é exactamente o que parece e tudo pode mudar num piscar de olhos. Intenso, intrigante e muito viciante, uma leitura impressionante e um livro que decididamente recomendo.

Título: The Stolen Child
Autora: Sanjida Kay
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidades Bizâncio

Uma história de resistência e de determinação sobre a irresistível e duradoura natureza do amor e a fragilidade da vida.
Frank Gold, um refugiado de guerra vindo da Hungria para a Austrália, é apanhado pelo surto de poliomielite que atingiu aquele país em 1954.
Como tantas outras crianças é acolhido na casa de recuperação «Golden Age», onde reaprendem a andar. É aí que encontra Sullivan, que lhe revela a poesia, e mais tarde Elsa.
Resiste ao abandono e ao isolamento daquele lugar através da poesia e do laço de paixão que o liga a Elsa.
Nesta casa parada no tempo, as crianças estão sujeitas a regras próprias que fazem de «Golden Age» um outro país, um terceiro país, onde todos descobrem que estão sós, numa luta de recuperação muito própria.

Porque é que os lobos uivam à lua?
É verdade que as hienas riem? 
Porque é que os hipopótamos gostam tanto de lama? 

Na mesma linha editorial do «O Grande livro dos Insetos», este álbum, a cores e de grande formato, incentiva as crianças à leitura, na procura de respostas a estas e muitas outras perguntas incríveis.
Aqui, iremos encontrar toda a espécie de animais selvagens do mundo, barulhentos, peludos, ferozes e maravilhosos, como se alimentam, caçam, sobrevivem e se reproduzem, contribuindo para um melhor conhecimento e uma melhor compreensão do mundo animal. 

Divulgação: Novidades Topseller

Para Toni, Evie é a coisa mais importante do mundo.
Quando perdeu o marido na guerra, Toni tomou medidas para começar tudo de novo e dar à filha, Evie, uma vida melhor. Mudou-se para uma cidade diferente, arranjou um novo emprego e mudou a filha para outra escola.
Mas há coisas más que não param de acontecer.
O recomeço está a ser difícil. Evie não gosta da escola, os vizinhos têm antecedentes criminais e a nova chefe é terrível. Para conseguir lidar com tudo isto, Toni começa a abusar de sedativos.
Quando fecha os olhos, as horas desaparecem e o descanso torna-se possível. É quando algo terrível acontece.
E agora Evie desapareceu.
Ninguém sabe onde Evie está e não há pistas, nem suspeitos. Toda a gente culpa Toni, que rapidamente é vista pela opinião pública como uma mãe irresponsável e toxicodependente. Mas ela tem a certeza de não ter feito nada de errado. Ou será que fez?

K.L. Slater é uma nova voz do thriller psicológico que em poucos meses viu o seu romance de estreia, A Salvo Comigo (ed. Topseller, 2017), alcançar o topo das tabelas de vendas internacionais.
Também escreve livros de ficção Young Adult, multipremiados, com o nome Kim Slater.
Mora em Nottingham, no Reino Unido, com o marido e os três filhos.

E se a tua vida não passasse de uma grande mentira?
Aquele parecia ser um dia normal, como tantos outros na vida da jovem Ella Black. Mas, subitamente, Ella é surpreendida no liceu pelos próprios pais. Sem aviso nem explicações, levam-na e os três partem de Londres para o Rio de Janeiro, numa viagem inesperada e misteriosa.
Confusa e sem respostas convincentes, Ella pergunta-se de que coisas terríveis estarão os pais a fugir. O que os terá levado a deixar tudo para trás?
Longe dos amigos e da vida que sempre conheceu, sente-se ainda mais perdida quando se depara com uma revelação impensável: Ella é adoptada e os pais adoptivos levaram-na para o Brasil para fugir da mãe biológica.
Desesperada com esta nova realidade e em busca de explicações, foge de casa, iniciando uma perigosa jornada pelas ruas e favelas da cidade.
Mas que outras revelações virão do seu passado?
Estará Ella preparada para enfrentar a verdade?
Uma aventura de busca de identidade, passada num ambiente exótico e perigoso, com que o público jovem adulto facilmente se identificará.

Emily Barr estudou História da Arte, foi investigadora e, enquanto jornalista, teve uma coluna regular no Guardian e outra no Observer. A sua paixão pela escrita e pelos livros levou-a a abandonar tudo para apostar na sua carreira de escritora.
Nos últimos 15 anos, Emily publicou mais de uma dezena de livros. A Única Memória da Flora Banks é o seu primeiro livro para jovens adultos e já está publicado em 23 países.
Adora viajar e é apaixonada por música, sobretudo pelas canções de Leonard Cohen. Vive na Cornualha, Reino Unido, com o companheiro e os filhos.

Tudo o que eles querem é evitar um escândalo.
Numa noite de outono, Charlotte Highwood encontra-se na biblioteca da família Parkhurst com Piers Brandon, o Marquês de Granville, quando ambos presenciam um tórrido encontro. Está escuro e nenhum deles é capaz de identificar os amantes. Mas mais alguém na mansão testemunha o acontecimento, e começam a correr rumores de que foi Charlotte, que tem fama de se envolver em escândalos, uma das figuras implicadas.
Um plano parece ser a solução.
Para que Charlotte não seja  associada a um novo escândalo, nem Piers forçado a revelar o verdadeiro motivo por que se encontrava na biblioteca, ele decide confessar que estava a fazer-lhe uma proposta de casamento. Charlotte considera tudo um absurdo e resolve-se a descobrir a identidade dos verdadeiros amantes para provar a sua inocência. Põe então em prática um plano para desvendar o mistério.
Mas a aproximação de ambos pode deitar tudo a perder.
O plano aproxima Charlotte de Piers, que prova ser um homem cheio de segredos, mas também de encantos, a que é difícil resistir. Charlotte vê-se, então, num impasse. Deverá ela arriscar tudo para provar a sua inocência? Ou render-se a um homem que se revela incapaz de amar?

Tessa Dare é uma autora norte-americana, bestseller do New York Times e do USA Today. Os seus livros foram alvo de inúmeros elogios e prémios, incluindo o Prémio RITA para Melhor Romance Histórico, atribuído pela Associação Americana de Escritores de Romance, e prémios da revista RT Book Reviews.
A Topseller deu a conhecer esta talentosa autora aos leitores portugueses com Romance com o Duque, A Noiva do Marquês e A Prometida do Capitão (série Castles Ever After), e Uma Noite para Se Render, Sete Dias para Se Apaixonar, Romance ao Anoitecer e Uma Duquesa Im(Perfeita) (série Spindle Cove).
Bibliotecária de formação e amante de livros, Tessa Dare vive na Califórnia com o marido, os dois filhos e dois gatos.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

The Wicked + The Divine: O Acto de Fausto (Kieron Gillen, Jamie McKelvie, Matt Wilson e Clayton Cowles)

A cada noventa anos, doze deuses tomam forma humana e tornam-se celebridades do seu tempo. Os seus espectáculos inspiram multidões, atraem fãs incondicionais e despertam ódios inexplicáveis. A sua vida traz milagres e inspiração - e termina passados apenas dois anos, para que mais tarde o ciclo volte a repetir-se. Mas os tempos mudaram. Os novos deuses não são apenas fonte de inspiração - há quem questione a veracidade da sua história e quem queira livrar-se deles. E, quando um incidente faz com que os poderes de um dos deuses se revelem, as coisas ganham uma nova dimensão. Pois é preciso preservar o ciclo - seja qual for o preço a pagar.
Não há nada para dizer sobre este livro que não seja elogioso, mas é necessariamente preciso começar pelo conceito. A ideia de deuses que encarnam quase como estrelas pop desperta, desde logo, várias questões pertinentes, desde a efemeridade da glória em contraste com a importância que lhe é dada à forma como a fama desperta igualmente paixões e ódios, passando ainda por questões tão amplas como o equilíbrio entre poder e responsabilidade e a existência ou não de limites quando, em teoria, quase tudo é permitido. Tudo isto está presente neste livro e com um potencial que apenas parece ter começado a revelar-se. O resultado é um fascínio quase imediato e uma vontade irresistível de saber mais.
Claro que é preciso também falar do elemento visual que é, afinal, o que dá vida e cor a um mundo tão cheio de fascínio como de possibilidades. A cor, o traço, a imagem surpreendente que é dada às várias personagens e a expressividade que tanto as caracteriza são, no fundo, a alma de uma história em que o diálogo é apenas um dos vários elementos de um todo muito mais vasto. E a intensidade da acção, o impulso de desvendar os mistérios, até mesmo os laivos de emoção que parecem surgir precisamente nos momentos certos emergem tanto dos actos - e, portanto, da imagem - como das palavras.
Mas voltando às personagens e ao mundo em que se movem. Este é apenas o primeiro volume de uma série bastante mais extensa e, por isso, escusado será dizer que é apenas o início de algo que promete ser muito mais vasto. Mas há já tanto para descobrir, nas personagens e no sistema em que parecem enquadrar-se, que, mais do que qualquer curiosidade insatisfeita, fica simplesmente isto: a sensação de uma primeira etapa muitíssimo bem conseguida e a vontade de descobrir o que se segue o mais rapidamente possível. Claro que também a forma como tudo termina contribui para esta impressão, pois aquele ponto de equilíbrio entre o fim de uma fase e a ideia de que muito mais estará para vir desperta precisamente esse agradável misto de curiosidade e satisfação.
Intenso, fascinante, com um mundo tão complexo como a natureza das personagens que o povoam e uma exploração meticulosa do muito potencial contido em tudo isto, a soma das partes é, pois, um início brilhante, que prende desde a primeira página e não deixa de fascinar até ao fim. Brilhante, surpreendente, belíssimo. Mal posso esperar para ler o próximo. 

Título: The Wicked + The Divine: O Acto de Fausto
Autores: Kieron Gillen, Jamie McKelvie, Matt Wilson e Clayton Cowles
Origem: Recebido para crítica

Divulgação: Novidade Clube do Autor

Falar e escrever bem é muito mais do que fazer-se entender. Expressar-se correctamente é importante para estabelecer uma boa comunicação – oral ou escrita – mas a escolha das palavras certas é na verdade o mais relevante. Na Ponta da Língua é um livro indispensável para quem quer melhorar o discurso escrito ou falado, para quem pretende fazê-lo com mais rigor ou para quem quer aumentar o seu vocabulário.
Mais de 200 palavras, algumas com séculos de História, são aqui apresentadas, devidamente contextualizadas e interligadas. Algumas fazem parte do nosso discurso diário, mas gostaríamos de as dominar melhor; outras já ouvimos, embora não as utilizemos; e outras podemos nem conhecer, embora tornem a nossa linguagem mais precisa e culta.
Fetiche, maquiavélico ou estóico são palavras recorrentes no nosso léxico, mas entendemos bem o seu sentido? Sentimo-nos à vontade para usar termos como alvíssaras, gentrificação ou distopia? E conhecemos vocábulos como heurística, misantropo e gongórico para nos explicarmos de forma mais precisa?
Para todos os leitores que desejam falar e escrever melhor, fazendo-o com mais rigor e sucesso, este livro é fundamental. Com uma selecção enriquecedora de mais de 200 vocábulos com histórias curiosas, significados surpreendentes e utilizações inesperadas, este é o livro que nos ajudará a ter sempre a palavra certa na ponta da língua.

Divulgação: Novidade Topseller

Há algo de irresistível num homem de fato e com uma mente atrevida… mais ainda se for o teu professor.

"Quando Caine West me conheceu, não foi um dos meus melhores momentos — eu tinha bebido demais, confundi-o com outra pessoa e ele devorava-me com os olhos, o suficiente para me tirar do sério.
Só depois, ao encontrá-lo na universidade, descobri: o sensual Caine West, com o seu sorrisinho presunçoso, viria a ser o meu novo professor. Melhor ainda: eu trabalharia para ele como sua assistente. Eu, Rachel, que o tratara como um imbecil e atacara os seus enormes… atributos.
Bela maneira de te apresentares ao teu prof!
Não me faltam ideias sobre como poderíamos passar algum tempo sozinhos na sala de aulas!
Tentei desculpar-me, e ele fez questão de me relembrar da hierarquia da sala de aula. Desde então, tento ser profissional, mas o magnetismo dele é inegável. Com rosto (e corpo!) de deus grego e uma voz grave e aveludada, não me admira que as alunas suspirem à sua passagem. Só não contava ficar também eu hipnotizada pelo charme do meu professor… E pela forma como a camisa lhe assenta nos braços bem definidos ou como as suas mãos parecem saber sempre o que fazer…
Bolas, Rachel, no que é que te estás a meter?"

Vi Keeland é autora bestseller do New York Times, com mais de um milhão de livros vendidos. Os seus livros estão actualmente traduzidos em 8 idiomas e apareceram em mais de 60 tops de vendas.
Mora em Nova Iorque com o seu marido, com quem é feliz desde os oito anos de idade, e os seus três filhos.
Saiba mais sobre a autora em: www.vikeeland.com

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Traição (Aleatha Romig)

Alexandria Collins cresceu numa prisão dourada, mas, assim que teve oportunidade, partiu e foi atrás dos seus sonhos. Agora, acabada de se formar em Stanford e tendo pela frente mais três anos em Columbia, após os quais espera tornar-se uma advogada de sucesso, o passado que tanto se esforçou por deixar para trás ameaça dominá-la. A mãe e o padrasto querem-na de volta a casa e têm grandes planos para ela. Mas Alex não está disposta a renunciar a tudo tão facilmente. E, para lhe alimentar as forças, tem as memórias de uma semana passada sem apelidos e sem passado, na companhia de um elegante desconhecido que lhe arrebatou o coração. Nox - é por esse nome que o conhece - invadiu a sua vida e gravou-se-lhe na memória de uma forma indelével. Mas também ele é um homem de grandes voos e de regras estritas. E o que nasceu naquela semana não pode acabar...
Primeiro volume de uma série mais extensa - e, a julgar por este início, de grande potencial - este é um livro que cativa, em primeiro lugar, por ser bastante mais do que um romance erótico. Aliás, neste primeiro volume, o erotismo não é sequer o ponto dominante. Sim, há uma atracção que se transforma em algo mais, há momentos de grande sensualidade e há um equilíbrio de atracção e controlo entre os protagonistas. Mas estes elementos são apenas uma parte da história e a forma como são descritos é até, por vezes, relativamente breve. Há toda uma história familiar para Alex, todo um conjunto de intrigas tecidas à sua volta e um novo mundo à espera de ser descoberto, cujos contornos apenas começam a vislumbrar-se na fase final.
Este é, aliás, talvez o único ponto que deixa sentimentos ambíguos. É que tudo termina num grande ponto de viragem, deixando muitas perguntas sem resposta e quase tudo em aberto para o que se seguirá. Fica, por isso, inevitavelmente, uma certa curiosidade insatisfeita, mas principalmente a vontade de ler o volume seguinte o mais rapidamente possível. Até porque, além do muito que fica por dizer, há também muito de intrigante e de cativante na parte da história que foi já contada. Nox, com as suas regras estritas e o contraste entre afecto e autoritarismo. Alex, querendo ser tudo o que a sua prisão dourada lhe negou. Os Montague, com os seus esquemas e intrigas para manter as aparências e perpetuar o nome. E, claro, Cy e Patrick, que apenas começam a revelar-se, mas que demonstram já um estranho e fascinante carisma.
E, sim, é um primeiro volume, e um primeiro volume não muito extenso, mas nada parece ser demasiado apressado. Tudo surge na medida certa, sejam os momentos de erotismo, sejam os ocasionais momentos divertidos ou os episódios mais dramáticos e emocionais. Há espaço para tudo e tudo se desenrola com naturalidade. Talvez seja até esta forma relativamente sucinta, mas certeira, de descrever as coisas a fazer com que os grandes momentos ganhem um tão grande impacto - pois, no que diz respeito à família de Alex, há muitas emoções fortes, tanto de empatia como de aversão, à espera ao longo do caminho.
Pode, pois, ser um livro que deixa muito sem resposta - mas este início de caminho tem já muito de bom para descobrir. Pois, com as suas personagens fortes, mas vulneráveis, a intensidade dos momentos sensuais e o delicado equilíbrio entre intriga, humor e emoção, abre da melhor forma o enredo de uma série que promete ainda muito mais. Um início promissor, portanto, e uma história a acompanhar. 

Título: Traição
Autora: Aleatha Romig
Origem: Recebido para crítica

sábado, 17 de fevereiro de 2018

Verão em Edenbrooke (Julianne Donaldson)

Marianne Daventry está farta da vida em Bath. Por isso, quando a irmã a convida a passar o Verão em Edenbrooke, propriedade da família de uma amiga - e do cavalheiro abastado com quem pretende casar - Marianne fica encantada. Mas o seu ideal de perfeição não tarda a complicar-se, primeiro com o ataque de um salteador durante a viagem, seguido de um misterioso resgate, e depois com a estranha relação de afecto e embaraço que começa a criar-se entre ela e o seu anfitrião. Philip é encantador, ainda que tire um prazer especial das suas tentativas de a fazer corar. Mas, com a lealdade dividida entre o coração e a irmã, e sem saber se aquilo que sente é, afinal, mais que amizade, Marianne começa a suspeitar de que o paraíso por que tanto anseia é, afinal, algo que nunca poderá ter...
Uma das primeiras coisas a surpreender neste livro - e, muito provavelmente, a sua principal força - é a forma como a autora constrói, a partir de um percurso à partida previsível, uma história cativante, divertida e surpreendente. Há algo de encantador na forma como Marianne e Philip se conhecem, na relação que se desenvolve entre eles e nos muitos momentos partilhados, momentos estes que variam entre o embaraçosamente divertido e o profundamente comovente. E tudo isto acontece com uma deliciosa naturalidade que, associada a uma inocência que não é comum neste tipo de romances - o amor nasce mais de um afecto genuíno do que de qualquer atracção, digamos, mais tórrida - , faz com que a leitura se torne absurdamente viciante. 
Claro que, sendo acima de tudo uma história de amor, a personalidade e os sentimentos dos protagonistas desempenham um papel crucial e tanto Philip como Marianne são personagens brilhantes. Philip, com a sua dedicação a ser um verdadeiro cavalheiro, contrasta com Marianne, e a sua necessidade de não ser mais do que apenas o que se espera de uma menina da sociedade. E a forma como as forças de ambos se conjugam ganha um encanto especial, não só por as suas personalidades se conjugarem tão bem, mas também porque o mundo que os rodeia parece mudar um pouco em função deles.
Mas há mais para além do romance. Há as relações familiares de Marianne, o segredo que a avó lhe confiou e que será motivo de alguns momentos intensos e os pequenos mistérios da vida de Philip que Marianne precisa de descobrir. Há as mágoas passadas, a ausência do pai, a difícil lealdade para com a irmã, as dificuldades em enquadrar-se no convencional. E, em tudo isto, há emoção, humor, intensidade, força - sem nunca perder de vista a tal inocência que é tão própria deste romance.
Com um duo brilhante como protagonistas e uma história deliciosamente encantadora, eis, pois, um romance que parte da (aparentemente) mais simples das histórias para a tornar em algo diferente, surpreendente e a que é muito difícil resistir. Leve, divertido e cheio de momentos marcantes, uma história para devorar de uma assentada... e para guardar na memória com carinho. Muito bom.

Título: Verão em Edenbrooke
Autora: Julianne Donaldson
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

A Magia do Silêncio (Kankyo Tannier)

Vivemos num mundo em que o ruído domina. A correria do quotidiano, as exigências do mundo digital e uma vida onde não parece haver tempo para nada fazem com que pareça difícil encontrar tempo para parar e apreciar o silêncio. E, no entanto, o silêncio pode ser libertador e não é preciso levar uma vida de eremita para desfrutar dos seus benefícios. É isso que a autora deste livro nos propõe: uma vida que leve em atenção a necessidade de silêncio, sem por isso renunciar a nada de verdadeiramente importante. Um silêncio que é muito mais do que simplesmente ficar calado - é uma forma de descoberta interior.
Complementando um olhar diferente sobre o mundo com uma série de exercícios práticos de fácil execução, este é um livro que, mais do que um guia estrito, é uma mistura entre conselhos e experiência pessoal. A autora fala da sua vida enquanto monja, mas sem nunca perder de vista o ritmo apressado do mundo moderno, e a sua perspectiva de alguém que encontrou uma forma de tranquilidade, mas sem se desligar totalmente desse mundo, abre uma perspectiva interessante, pois desfaz a ideia de que, para uma vida de silêncio e de meditação, é preciso deixar o mundo para trás.
É também um livro bastante completo, pese embora a relativa brevidade. Completo no sentido em que analisa as diferentes vertentes em que o silêncio pode ser benéfico, ao mesmo tempo que se debruça sobre as várias facetas da vida quotidiana e de que forma podem ser melhoradas. Claro que há uma grande componente espiritual e, nalguns aspectos, uma perspectiva de vida bastante vincada. Mas o mais interessante neste aspecto é que é possível retirar boas ideias deste livro, independentemente da perspectiva global. Podemos ou não concordar com tudo - e aprender algo de relevante, seja qual for o caso. 
Sendo, naturalmente, o conteúdo o mais importante, também a escrita contribui em muito para cativar para a leitura - e para reter as ideias principais. A autora escreve num registo leve, descontraído, divertido, até, por vezes, realçando os pontos que considera serem mais importantes, mas sem nunca tornar as coisas demasiado sérias. Também isto contribui para o tal desfazer do mito, pois a tendência para imaginar a vida dos monges como de um ascetismo austero e isolado do mundo é aqui amplamente revertida. Além disso, este registo mais leve e com muitas referências a elementos do quotidiano reforça também a impressão de que é possível aproveitar os benefícios do silêncio sem que isso implique um afastamento do mundo tal como ele é.
Interessante, pertinente e muito agradável de ler, trata-se, pois, de um bom ponto de partida para olhar o mundo e os seus ruídos de uma forma diferente. Um livro de onde é possível retirar muito ou pouco, consoante o potencial de ajustamento da vida de quem o lê, mas que tem, sem dúvida alguma, bastante de relevante para ensinar. Vale a pena lê-lo, portanto.

Título: A Magia do Silêncio
Autora: Kankyo Tannier
Origem: Recebido para crítica

quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

A Vida de uma Porquinha-da-Índia no Escritório (Paulien Cornelisse)

Cobaia é a porquinha-da-índia do departamento de comunicação da empresa. Mas não é uma mascote. Não, pertence mesmo ao grupo de trabalhadores do escritório e o facto de ser, bem, uma porquinha-da-índia não representa qualquer limitação para ela. Faz café, escreve newsletters, atende telefonemas, pesquisa sintomas de doenças no Google... e vai passando pela vida, a ver as coisas acontecer. Mas há mudanças em curso no escritório. Fala-se em cortes, em novas estratégias, em reuniões e colaborações com a sede. E, como se não bastasse, o ex-namorado de Cobaia quer reestabelecer o contacto. Tudo muda e, às vezes, a Cobaia sente-se perdida. Mas talvez o que a espera no futuro esteja lá para lhe provar que a mudança é boa...
Uma boa palavra para começar a descrever este livro será, talvez, peculiar. Afinal, basta a premissa para ficar com essa impressão. Cobaia, uma porquinha-da-índia, a trabalhar num escritório. Mas há algo que rapidamente se associa a esta particularidade e que acabará por se revelar o aspecto mais cativante deste romance: é que, apesar da inevitável estranheza, tudo parece fluir com uma interessante naturalidade, como se o lugar de Cobaia fosse precisamente aquele, o ponto de partida ideal para as descobertas que terá de fazer.
Ora, esta peculiaridade confere também à história uma certa e intrigante leveza, pois, se analisarmos os temas subjacentes a vida no escritório, há algumas verdades difíceis sob a capa da aparente descontracção. E este contraste serve para fazer pensar, pois a facilidade com que a equipa do escritório fala em cortes, em despedimentos, em esgotamentos e doenças, não deixa de ter um certo efeito de choque, como que lembrando a importância que essas coisas efectivamente têm. Ao fazê-lo sem nunca perder de vista a leveza e o sentido de humor que definem o percurso da Cobaia, a autora consegue falar de coisas sérias a brincar, mas sem lhes retirar a devida relevância. 
É uma história de mudança, ou melhor, uma história da vida enquanto constante mudança. E, assim sendo, faz sentido o movimento de pessoas que partem para que outras possam chegar e também o facto de muito ser deixado em aberto. É inevitável, sim, a sensação de curiosidade insatisfeita, principalmente numa história em que há tantas vidas a mudar. Ainda assim, não deixa de ser adequada a forma como tudo termina, abrindo novos caminhos que são deixados à imaginação do leitor.
Termino, por isso, como comecei: com a impressão de uma leitura peculiar, em que o primeiro impacto é de estranheza, mas que rapidamente cativa pela abordagem descontraída, mas não simplista, a várias questões pertinentes do mundo do trabalho. Cativante e surpreendente, uma boa história e uma muito agradável surpresa. 

Título: A Vida de uma Porquinha-da-Índia no Escritório
Autora: Paulien Cornelisse
Origem: Recebido para crítica

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Pensa Lá Bem (Anna Vivarelli e Pedro Aires Pinto)

É bem possível que a primeira coisa que nos vem à cabeça quando pensamos em filosofia sejam nomes, mais especificamente os nomes dos filósofos. Sócrates, Platão, Aristóteles... Mas, se pensarmos bem no que é realmente a filosofia, se olharmos para lá das mentes que a moldaram e nos centramos nas ideias, então o que surge é infinitamente mais vasto... mas, ao mesmo tempo, bastante mais simples de ponderar. Porque quais são, afinal, as grandes questões da filosofia, senão as da vida, da morte, do conhecimento e do comportamento? E é precisamente sobre estas questões que este pequeno livro se debruça.
Pensado, tal como a capa indica, para mentes jovens, este é um livro que, mais do que uma exposição exaustiva de correntes ou de ideais filosóficos, pretende traçar uma visão geral dos seus aspectos mais importantes. E fá-lo bem: cativante, simples e sucinto, consegue resumir ao essencial um mundo bastante mais vasto, sem com isso se tornar demasiadamente simplista ou redutor. Além disso, ao explorar de forma organizada os vários grandes temas (e personalidades, claro) da filosofia, consegue traçar uma linha mais clara do que é, afinal, também uma evolução do conhecimento ao longo dos tempos.
É também um bom ponto de partida para despertar a vontade de saber mais, pois, se a informação básica está bem desenvolvida neste livro, a verdade é que o mundo da filosofia é muitíssimo mais amplo. Mas, claro, é preciso começar por algum lado e também aqui a organização do livro é importante, pois, ao associar nomes aos temas, consegue, além de apresentar uma visão clara das bases e de alimentar a vontade de aprofundar conhecimentos, apontar a direcção certa aos leitores que tiverem curiosidade em saber mais.
E depois do conteúdo, a forma. É um livro que simplifica conteúdos e também a escrita se ajusta a essa simplicidade, proporcionando uma leitura agradável e de fácil compreensão. Além disso, as ilustrações acrescentam ao texto um também agradável toque de descontracção, reforçando ainda um pouco mais o muito que o conteúdo - e a forma como é exposto - têm de cativante.
Filosofia para jovens mentes - é essa a base essencial deste livro. E, com o seu registo descontraído e a simplicidade de um texto que se concentra no essencial sem perder de vista o muito mais que há para descobrir, a impressão que fica não pode ser senão esta: a de um belo ponto de partida para descobrir o amor pela sabedoria. 

Título: Pensa Lá Bem
Autores: Anna Vivarelli e Pedro Aires Pinto
Origem: Recebido para crítica

terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Um Amor Português (José Jorge Letria)

Começa como um segredo, mas rapidamente se transforma em escândalo. D. João de Mascarenhas e D. Maria da Penha de França de Mendonça e Almada, nobres, casados (com outras pessoas) e com um papel de relevo na corte estão a viver um caso amoroso. E, embora estejam muito longe de ser os únicos, são, porém, os únicos que se recusam a esconder-se sob a capa das aparências e do moralismo. É demasiado grande o amor para se esconder. E assim, entre cartas e encontros, a relação vai-se, aos poucos, aprofundando. Mas, com todos os olhos da corte postos neles, só há um fim possível para o romance...
Bastante breve e contado sobre a forma de cartas trocadas principalmente (mas não só) entre os dois amantes, este é um romance que se centra mais no sentimento e no percurso dos protagonistas do que propriamente no contexto em que se movem. E, porém, o contexto está bem presente, ainda que maioritariamente implícito nas escolhas e pensamentos dos protagonistas. É fácil reconhecer o contraste entre a hipocrisia das aparências e o mundo de relações ocultas que se vão tecendo na corte. É também fácil, principalmente através das cartas dos outros intervenientes, reconhecer o contexto político e de Estado que motiva, em parte, a forma como tudo termina. E assim, embora fique uma certa curiosidade em saber mais sobre o mundo em volta - e, na fase final, a forma como tudo se processa - a informação essencial está lá e o resto... bem, o resto é secundário.
Trata-se, acima de tudo, de uma história de amor e é, por isso, essencialmente de amor que vivem as cartas que dão forma a este romance. E é neste aspecto que sobressai a escrita, pois há um muito delicado equilíbrio entre as inevitáveis facetas práticas do que é, efectivamente, um amor proibido e o amor intenso e exaltado múltiplas vezes professado pelas personagens. O resultado é, ao mesmo tempo, um conjunto de cartas de amor que, contrariamente ao que dizia o poeta, não são nada ridículas, e a percepção gradual de um avanço rumo a uma paixão que é simultaneamente mais forte e de consequências cada vez mais inevitáveis. 
Haveria mais a dizer sobre esta história? Provavelmente, ou não fosse o contexto histórico também tão interessante. Mas, ao centrar-se principalmente nos protagonistas e no que têm a dizer um ao outro, este livro consegue criar uma perspectiva diferente: a de um amor em nome do qual quase tudo é possível e os únicos arrependimentos são do que fica por fazer. Faz sentido, pois, que, numa história em que o amor se eleva acima dos compromissos pessoais e das razões de estado, que seja ele a ocupar o lugar de destaque, deixando o resto a outras histórias... ou à imaginação.
Simples, mas equilibrada e com uma voz que facilmente gera empatia entre as personagens e o leitor, eis, pois, uma história de amor que se lê num instante, mas que fica na memória durante muito mais tempo. Breve, mas cativante e com uma intensidade emocional surpreendente, uma boa leitura. 

Título: Um Amor Português
Autor: José Jorge Letria
Origem: Recebido para crítica

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

O Evangelho do Alquimista (Tiago Moita)

Tudo começa quando Samuel, um caixeiro-viajante, dá boleia a um desconhecido no Grande Deserto. Depois, o reconhecimento não tarda a manifestar-se e, com ele, a certeza de que algo de mais vasto está em marcha. A esta primeira aparente coincidência seguem-se outras e não tarda a que a sua viagem solitária rumo a Distopia, a grande cidade do planeta, se transforme numa grande peregrinação. Pois há uma profecia prestes a concretizar-se: está iminente a chegada do Alquimista, aquele que acabará com o mundo tal como ele é nesse momento, e é esse mesmo Alquimista que viaja ao lado de Samuel. Há um destino a cumprir no fim da viagem. E cumprir-se-á, inevitavelmente, tal como foi profetizado. Mas talvez não da forma que aparenta ter...
Bastante extenso e com uma forte componente espiritual, não se pode dizer que este seja um livro de leitura rápida. Há longas descrições, longos momentos explicativos e isso faz com que o ritmo da narrativa se torne um pouco pausado. Além disso, ao oscilar entre diferentes personagens (com a necessária caracterização dos mundos em que se movem) a história torna-se mais ampla e o ambiente mais complexo, o que exige mais tempo para assimilar.
O percurso é longo e, por vezes, as mensagens do Alquimista e as suas explicações implicam uma certa dose de crença espiritual, o que significa que, para os mais cépticos, este elemento dominante poderá despertar sentimentos ambíguos. Ainda assim, há um aspecto particularmente interessante nesta faceta do enredo. É fácil reconhecer os paralelismos entre o percurso do Alquimista e a narrativa dos evangelhos, o que, associado às também muito claras diferenças, cria um contraste interessante: por um lado, não é difícil adivinhar de que forma terminará o caminho do Alquimista. Por outro, fica a sensação de que há algo de universal subjacente às diferenças.
E depois há os picos de intensidade que, embora estejam relacionados com uma narrativa familiar (afinal, os paralelismos são evidentes), conseguem, ainda assim, tornar-se memoráveis e destacar-se numa história em que o pensamento é tão ou mais importante que a acção. Pois a mensagem importa, claro, mas, é quando tudo converge para uma fase final tão inesperadamente intensa, que a longa caminhada rumo à mudança acaba por se gravar na memória.
Ficam alguns sentimentos ambíguos quanto a alguns pontos de vista, mas o balanço acaba por ser claramente positivo. E assim, o que fica desta leitura é a impressão de uma história que exige o seu tempo - e uma certa medida de fé - mas da qual é possível retirar várias ideias positivas ao mesmo tempo que se acompanha uma jornada cativante. Valeu a pena, portanto. 

Título: O Evangelho do Alquimista
Autor: Tiago Moita
Origem: Recebido para crítica

domingo, 11 de fevereiro de 2018

Semente de Bruxa (Margaret Atwood)

Felix encontrou no seu trabalho no teatro a paixão de uma vida - e o refúgio possível depois de uma grande perda. Mas nem todos aqueles em quem confia são dignos dessa confiança e eis que, quando se preparava para levar ao palco a sua grande obra, a encenação de A Tempestade que podia dar nova vida à sua filha perdida, o seu homem de confiança faz com que Felix perca o seu trabalho. Derrotado, resta-lhe uma única opção: retirar-se da vida que tinha e encontrar uma forma de levar a cabo os seus dois únicos objectivos: encenar a sua versão de A Tempestade e vingar-se daqueles que o destruíram. A oportunidade surge-lhe da mais inesperada das formas: levando Shakespeare e as suas grandes lições para dentro dos muros de uma prisão. Mas não estará o próprio Felix também preso à sua vingança?
Sendo este livro a recriação de uma das peças de Shakespeare (como é, aliás, a premissa desta colecção) são apenas expectáveis os paralelismos, os pontos comuns entre peça e romance. Mas Margaret Atwood eleva esta recriação a um outro nível: a história é uma reconstrução da peça, mas contém também a peça no seu interior e também as suas personagens constroem a sua própria recriação. Aqui, Shakespeare é mais que a inspiração: está em toda a parte. E a forma como a autora consegue equilibrar estas múltiplas perspectivas - Felix enquanto novo Próspero, Felix como encenador de uma versão sua da peça, as várias adaptações por parte dos reclusos - é algo de simplesmente brilhante.
E, sendo embora uma recriação de A Tempestade, não é preciso ter lido a peça para entender tudo. Primeiro, porque o livro inclui um breve mas esclarecedor resumo do enredo original. Mas principalmente porque, através dos planos de Felix e dos preparativos para a encenação da peça, os pontos comuns tornam-se fáceis de assimilar e tudo flui como uma estranha e deliciosa simbiose. Não haveria vida neste livro sem Shakespeare - mas há mais vida para além dele.
Mas deixemos, por um instante, a sombra do bardo. Por mais dominante que seja a sua presença, esta não é uma história sobre Shakespeare. Nem sobre Próspero, aliás. É a história de Felix, da sua Miranda, de uma vida destruída e movida à vingança, mas também com um imenso potencial de redenção. E a forma como a autora conta esta história, realçando ao mesmo tempo forças e vulnerabilidades, num ritmo intenso, mas que nunca perde de vista os estados de espírito mais sombrios e melancólicos, é algo de fascinante. É incrivelmente fácil entrar nesta história, criar laços com as personagens, torcer para que tudo corra como deve correr e... e, bem, chegar ao fim com a sensação de que tudo acabou precisamente como devia.
E é, talvez, isto o melhor que se pode dizer deste livro: tudo é exactamente como deve ser. Desde a escrita às personagens e ao desenvolvimento do enredo, passando pela forma como as várias facetas da história se interligam num misterioso e delicado equilíbrio e pelas pequenas e discretas presenças que, afinal de contas, tudo mudam, tudo tem o seu lugar e preenche-o com toda a mestria. E é isso, acima de tudo, que molda beleza e fascínio e magia neste livro. E assim o torna perfeito... naturalmente. 

Título: Semente de Bruxa
Autora: Margaret Atwood
Origem: Recebido para crítica

sábado, 10 de fevereiro de 2018

O Sangue dos Elfos (Andrzej Sapkowski)

Vivem-se tempos conturbados. A guerra com os nilfgaardianos despertou uma nova inimizade entre os humanos e as restantes raças e, mais uma vez, parece inevitável um conflito devastador. Movem-se, pois, as diferentes forças e não apenas em combate. Espiões, feiticeiros, os reis e as suas cortes - todos parecem estar dispostos a tudo para defender os seus interesses. E, no meio de tudo, há um mistério: o da Leoazinha de Cintra, que poucos sabem ao certo se vive ou não, mas que está predestinada a um destino maior. Por isso todos querem saber onde está e fazer dela o que mais lhes convier. Só Geralt - e os poucos aliados que lhe restam - poderá proteger essa criança. Mas a que preço?
Deixada para trás a estrutura de várias histórias interligadas, a primeira impressão a destacar-se deste terceiro livro da série é, acima de tudo, a de um estranho contraste. Por um lado, há uma linha mais definida que forma o enredo central e que parece ser a base de todo o livro. Mas, apesar disso, a história está longe de ser linear, acompanhando diferentes personagens e diferentes momentos da história ao mesmo que mantém outros aspectos num persistente mistério. A impressão é como que a de acompanhar as primeiras jogadas de um jogo de xadrez, em que os vários elementos entram em jogo e fazem os seus devidos movimentos - mas em que há muito nas motivações e na estratégia futura que é ainda deixado por revelar.
Ora, isto tem um efeito ambíguo, já que fica a sensação de que este terceiro livro funciona, em grande medida, como um volume de transição. Há avanços, é certo, e avanços muito interessantes, mas, no fim, o que fica na memória são mais as perguntas, os porquês para o que aconteceu e o grande mistério do que poderá vir a seguir. Fica, pois, alguma curiosidade insatisfeita, bem como a vontade de descobrir o que estará para acontecer nos próximos livros.
Isto retira envolvência ao enredo? Não, não propriamente, até porque as coisas que, de facto, acontecem têm um grande impacto. É fácil ficar-se encantado pela estranhamente cativante personalidade de Ciri, pelo seu percurso de aprendizagem e pelos seus estranhos protectores. É fascinante sentir a rede de intrigas apertar-se e, ao mesmo tempo, ver de que forma os protagonistas lidam com isso. E, acima de tudo, é fascinante a forma como Geralt, Yennefer e Jaskier revelam, a cada momento, a verdadeira complexidade das suas naturezas, mostrando-se muito acima das suas respectivas lendas.
No fim, fica a tal mistura de sentimentos face às muitas perguntas que ficaram sem resposta e à vontade de descobrir essas respostas. Mas, principalmente, fica a impressão de um muito intrigante e envolvente avanço numa narrativa que tem ainda muito para revelar. Uma boa leitura, portanto, e uma série para continuar a seguir. 

Autor: Andrzej Sapkowski
Origem: Recebido para crítica

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

Vencedora do passatempo Louca

E chegámos ao fim de mais um passatempo. Resta-me, pois, como sempre, agradecer a todos os que participaram e anunciar quem vai receber um exemplar do livro Louca.

E o vencedor é...

48. Susana Henriques (Lisboa)

Parabéns e boa leitura!

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

Há um Monstro no teu Livro (Tom Fletcher)

Há um monstro neste livro! E é preciso expulsá-lo... ou será que não? Seja como for, o monstro está bem onde está e não quer sair, a não ser que insistam com ele. Mas e depois? Para onde vai o monstro? E o que fazer a seguir? A resposta está nestas muito breves e encantadoras páginas.
Não são precisas muitas palavras para descrever este livro. Na verdade, basta uma: adorável. E adorável, em primeiro lugar, pelo aspecto, já que o habitante principal deste livro tem um ar muito pouco... monstruoso, mas também pela forma como esta pequena história é construída. O monstro é giro, diga-se de passagem. Mas, mais do que isso, as aventuras necessárias para... bem, lidar com a presença dele no livro... também têm todo o potencial para resultar em algo de encantador.
Porquê? Ah, claro. Porque o livro é todo ele uma curiosa actividade. Aliás, se, como eu, já deixaram a infância para trás há uns tempos, imaginem-se a ler esta história com uma criança (ou a lê-la em criança) e a fazer o que o livro sugere. Voltas, sacudidelas, gestos, palavras... imaginem-se a interagir com o livro. Porque é isto que o torna diferente e é esta diferença que é encantadora: basta um voltar de páginas e meia dúzia de indicações e o livro torna-se uma base de interacção com o seu... mais uma vez... curioso habitante. 
E há ainda um outro aspecto. Bem, o monstro é um monstro, não é? E ter medo dos monstros é natural na infância. Mas conhecer e interagir com a pequena e fofa criatura que vive nas páginas deste livro acaba também por contribuir para esbater um pouco esses receios. Afinal, e embora digam que os monstros não existem, acreditar nisso pode não ser tão fácil como parece. Mas descobrir um monstro inofensivo e divertido... bem, isso já é mais interessante. 
No fim, fica-se com um sorriso nos lábios, seja ao recordar a infância ou a imaginar esta história contada a um pequeno leitor. E a impressão de um livro que é tão encantador pelo conteúdo como pela forma peculiar que lhe dá vida. Muito bom. 

Título: Há Um Monstro no teu Livro
Autor: Tom Fletcher
Origem: Recebido para crítica

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

O Silêncio das Filhas (Jennie Melamed)

Depois da calamidade que deixou mergulhadas num fogo eterno as terras devastadas, foram poucos os que sobreviveram - e esses criaram na ilha uma comunidade fechada e com leis muito estritas. Pelo menos, foi nisto que as raparigas da ilha foram ensinadas a acreditar. Mas há algo que não bate certo naquele mundo em que os pais têm todos os poderes, as mulheres devem apenas obediência e fertilidades e as filhas têm de dar aos pais tudo o que eles lhes pedem. E, quando algumas raparigas começam a questionar, há verdades terríveis muito perto da superfície... e o que parecia quase uma lei divina revela-se uma estranha prisão.
Não é propriamente fácil falar por este livro, mas, tendo de escolher um ponto de partida, direi que é um livro de contrastes vincados. E isto aplica-se não só à história em si, mas à própria experiência de leitura. Por um lado, há uma beleza quase poética nas palavras, mas o que estas descrevem é profundamente perturbador. Há um estranho fascínio que leva a querer quase que desesperadamente uma solução - e, no entanto, esta não é uma história de revoluções. Há verdades tão duras que facilmente tornam a história angustiante, mas, ainda assim, é quase impossível parar de ler. E, no fim, o que fica é esta mistura de fascínio por uma história que não dá nem perto de todas as respostas, mas em que tudo parece ser quase perfeito.
Também não se pode dizer que seja apenas um livro que desperta questões relevantes - todo ele é um ninho de questões relevantes. A manipulação através da fé, a mentira que leva a comportamentos inadmissíveis, o poder ilimitado que leva a decisões incontestadas, a sociedade isolada que permite que alguns tudo possam e outros não possam nada. Tudo isto está presente e de uma forma devastadora. E, por outro lado, surge mais uma vez o contraste: as protagonistas desta história são maioritariamente crianças e, pese embora a crueza do mundo em que vivem, têm ainda assim uma inocência que apenas faz com que sobressaia mais a crueldade do mundo que as rodeia.
Mas volto atrás: não é uma história de revoluções nem um mecanismo de viragem que fará com que tudo mude. Muda, talvez, no máximo a consciência de alguns. E, claro, isto deixa sentimentos ambíguos, até porque ficam muitas perguntas em aberto. Mas a verdade é que faz sentido que assim seja, pois é tal o rumo dos acontecimentos (e tal a cegueira de alguns dos envolvidos) que uma mudança global teria de implicar uma história diferente. Esta é uma história de crescimento - cruel, mas de crescimento, ainda assim - e, sendo esse o percurso inevitável das protagonistas, faz apenas sentido que o resto acabe por passar para segundo plano.
Não, não é fácil falar sobre este livro, até porque a marca que deixa é, acima de tudo, emocional. Mas basta provavelmente dizer isto: pode rasgar-nos o coração pelo caminho, causar angústia, revolta, perturbação. Mas, no fim, fica-se melhor por o ter lido. E isso faz com que tudo valha a pena. Recomendo. 

Título: O Silêncio das Filhas
Autora: Jennie Melamed
Origem: Recebido para crítica