segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

A Queda de Artur (J.R.R. Tolkien)

Única incursão de Tolkien no mito arturiano, este é mais um dos seus trabalhos inacabados e, como o filho refere, um dos mais lamentáveis entre os seus abandonos. Escrito na chamada poesia aliterativa, A Queda de Artur percorre os elementos essenciais do mito, aproximando-se em muitos aspectos das fontes antigas, mas conferindo-lhe uma identidade particular. E é, como foi dito, um poema inacabado. Mas, apesar de incompleta, a obra construída é muito interessante.
Apesar de haver neste livro bastante mais material, basta considerar o poema propriamente dito para encontrar os aspectos mais interessantes da leitura. Até porque é o poema em si o foco de tudo o resto. E falando do poema, nos cinco cantos que o compõem, tudo nele é interessante, desde o ritmo e a métrica, à construção dos elementos do mito que nele são abordados. As figuras que nele surgem são, claro, sobejamente conhecidas. Não é tanto o papel que aqui lhes é atribuído. Mas é precisamente desta conjugação entre o expectável e o inesperado, associadas a uma forma de escrita cativante e cuidada ao extremo, que deixa a fascinante impressão de um regresso à origem fundido com uma nova perspectiva, da qual só fica mesmo a pena de que tenha sido um trabalho deixado por terminar.
Mas o poema acaba por ser apenas uma parte do livro, já que outros ensaios se lhe seguem. Nestes ensaios, Christopher Tolkien explica a evolução da sua descoberta do poema, das fases de criação que lhe atribui. Desenvolve também as possíveis fontes para esta abordagem ao mito, terminando ainda com uma interessante explicação sobre este tipo de poesia. Ora, tudo isto acrescenta uma nova perspectiva à leitura do poema, já que permite não só uma mais clara contextualização, mas também algumas ideias sobre o rumo da história que ficou por contar. Não são propriamente textos de leitura fácil, é certo. Mas, interessantes e esclarecedores, são, ainda assim, um bom complemento à leitura do poema.
Considerando tudo isto, o que este livro proporciona é, em suma, uma leitura que, não sendo exactamente fácil, apresenta, ainda assim, muito de interessante e um trabalho que, mesmo incompleto, não deixa de ser belíssimo. Vale a pena ler, pois.

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