Durante o dia, levam vidas o mais normais possíveis, ainda que, nalguns casos, ligadas ao entretenimento e até ao ilusionismo. Mas escondem outro tipo de magia. São feiticeiros, e têm como missão proteger a humanidade das ameaças sobrenaturais e garantir que o mundo continua a ser essencialmente de ciência e lógica. O inimigo está, porém, mais perto do que nunca. Ressentimentos antigos e perdas insuperáveis fizeram com que um grupo de elementos da ordem se separasse para levar uma vida diferente. E agora anda alguém a matar os feiticeiros - e é bastante óbvio quem são os principais suspeitos. A guerra tornou-se inevitável. E o que sempre foi protegido terá finalmente de ser posto em acção.
Provavelmente um dos aspectos mais marcantes neste livro é a forma como parte de um conjunto de elementos relativamente comuns nas histórias de magia (feiticeiros, magia proibida, varinhas mágicas, uma ordem secreta que protege os seres humanos "normais") para fazer deles algo de diferente e único. Sim, tem elementos em comum com muitas outras histórias de feiticeiros, mas tem também uma identidade próxima, que resulta não só das personalidades singulares das várias personagens, mas também da forma como as acções mais drásticas parecem brotar das mais simples e humanas coisas. Grandes perdas, mas também rancores que perduram, fazem com que estes feiticeiros sejam tão falíveis e ambíguos como qualquer outro ser humano.
Mais impressionante ainda é o aspecto visual, com a fascinante vastidão dos castelos e a expressividade dos rostos (sobretudo nos momentos mais vulneráveis) a contrastar com a intensidade com que os momentos de acção quase parecem sair da página. Além disso, há um ligeiro lado introspectivo - ligeiro porque há sempre algo de mais intenso a acontecer - no percurso das personagens, e é algo que se reflecte tanto nas expressões do rosto como nos diálogos dos momentos de maior emoção.
E, por falar em emoção... Tendo em conta a quantidade de coisas que acontecem neste livro, seja nos ataques do início, seja no grande confronto da fase final, seria de esperar que a emotividade passasse para segundo plano, pelo menos às vezes. Bem... não. Há sempre emoção na história, seja nas imperfeições de Cordelia, nas escolhas de Gabriel, no ressentimento de Albany e até na aparente fobia do tio Edgar. Há humanidade - e vulnerabilidade, portanto - nestas personagens. E, mais até do que a acção, é isso que fica na memória.
Intenso e surpreendente, visualmente deslumbrante e emocionalmente devastador, eis, pois, um livro que é muito mais do que apenas mais uma história de feiticeiros. É uma história de conflito, de perda, de intriga, de traição... e da redenção possível face ao insuperável. Empolgante, viciante e inesperadamente emotivo, um livro que não posso deixar de recomendar.
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