Passou um ano, e ninguém poderia ter imagino que a tranquila Notre-Dame-des-Lacs ia sofrer tantas mudanças em tão pouco tempo - no espaço, nos costumes e até na mentalidade. E as mudanças ainda não acabaram. Agora, com um novo inverno à porta, e tendo os homens voltado a partir, as mulheres veem-se a braços com novas questões. A alegria das mais novas despertou em todas as outras uma mistura de nostalgia e de dúvida capaz de as levar a novos caminhos. Marie está grávida, não sabe quem é o pai... e, ainda assim, espera aceitação, porque a vida é sua e de mais ninguém. Já o padre, em plena crise de fé, tem muito mais para dar do que apenas apoio espiritual. E a aldeia vai mudando. As pessoas vão mudando. E o mundo... o mundo cresce.
Sendo este o último volume da série, é naturalmente de esperar que seja também o das resoluções finais, aquele em que tudo converge e em que o pano desce sobre uma história encerrada. Bem, mas se nos lembrarmos dos volumes anteriores, também sabemos que esta não é uma história que viva apenas de grandes momentos. É, aliás, nas pequenas coisas que está a sua alma. E assim, este volume final confronta-nos com uma certa ambiguidade, em que há resoluções perfeitas e outras que ficam pela sugestão, em que há soluções que parecem, talvez, demasiado simples, mas em que tudo se ajusta à serenidade global. E assim, pode não ser um final estrondoso, mas é um final enternecedor, e reforçado ainda mais pelo delicioso álbum de fotografias no final... que dá um bocadinho da história depois da história.
Importa também referir, naturalmente, que se mantêm todas as qualidades que vinham de trás, com destaque para a ternura e para a expressividade. Toda esta série é visualmente belíssima, mas é na expressividade - e numa expressividade que não se cinge às personagens humanas - que está o fulcro de maior intensidade, independentemente das belas paisagens e do movimento transbordante da dança (que também dão ampla vida a estes livros). Mas é a expressividade, acima de tudo, porque é a expressividade que reflete a ternura. E é a ternura avassaladora desta história que a mantém sempre memorável - mesmo quando os conflitos geram tensões desagradáveis, mesmo quando há decisões difíceis de assimilar, mesmo quando a perda se abate. Há ternura e união e comunidade... e isso é maravilhoso.
Não será, talvez, o livro mais marcante da série, sobretudo devido às já referidas ambiguidades. Mas não deixa de estar à altura da longa viagem e de ser um final perfeitamente adequado. Porquê? Porque, entre o que resolve, o que sugere... o que quase nem insinua... deixa um reflexo perfeito da vida como ela é no mundo real. Nem tudo tem respostas. Nem tudo tem soluções perfeitas. E a vida é feita de pequenas coisas, em Notre-Dame-des-Lacs como noutro sítio qualquer.
É essa a maior beleza desta série - a de como reflete realidades e, ao mesmo tempo, aspirações mais nobres. A de como traça os conflitos do dia a dia e lembra, ao mesmo tempo, o que realmente importa. A de como nos mostra gente perfeitamente normal... e nos faz sonhar com a união dessas pessoas. Vale a pena fazer esta viagem? Vale muito a pena. Só é mesmo pena que fique por aqui.
Sem comentários:
Enviar um comentário