sábado, 20 de fevereiro de 2010

Cordilheira (Daniel Galera)

Anita é uma escritora brasileira que deixou de se reconhecer no seu romance e que quer esquecer a literatura para viver um outro sonho: o de ter um filho. Quando viaja até Buenos Aires, contudo, para apresentar o seu livro, não imagina que depois do seu plano de viver sem literatura, será esta a entrar na sua vida de uma forma completamente inesperada.
Este foi o meu primeiro contacto com a obra de Daniel Galera e devo desde já dizer que quero ler mais. Com uma escrita elaborada, mas sem exageros, em que o ponto forte se concentra na capacidade de descrever cenários com uma precisão que os projecta na nossa mente, o autor apresenta-nos uma história envolvente e perturbadora, com uma intrigante aura de mistério e uma forte reflexão sobre o ponto em que realidade e ficção se cruzam.
Com personagens bastante carismáticas, sendo que aqui se destaca a enigmática figura de Holden, somos convidados a cruzar um caminho em que a ficção acaba por se entranhar no mundo real, em que os autores se tornam personagens das suas próprias histórias. E, no meio de tudo isto, temos a visão de Anita, incapaz de partilhar da visão do grupo que conhece em Buenos Aires, mas ao mesmo tempo incapaz de se afastar do fascínio que exercem sobre ela.
Sem subterfúgios e com uma clareza surpreendente, o autor transporta-nos para o interior da mente de Anita, guiando-nos não só através dos seus pensamentos, mas também das ligações emocionais: repulsa, atracção, empatia... E todo este conjunto de aspectos intrigantes tornaeste livro, ainda que não seja uma leitura fácil, numa obra capaz de exercer um estranho fascínio. Muito bom.

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