Filho de um serial killer, o detective Thomas DelVecchio, Jr. sempre se questionou sobre a sua verdadeira natureza. Por isso, ao encontrar-se diante do corpo agonizante de um outro serial killer, sem se lembrar do que aconteceu ou do que faz ali, a sua primeira reacção é considerar-se responsável. Mas as provas parecem apontar noutro sentido e Sophia Reilly, a agente dos Assuntos Internos responsável pelo caso, não está disposta a tirar conclusões precipitadas. O resultado é uma parceria mais ou menos forçada que cedo se transforma em algo mais forte. Mas, com o demónio por perto e um conjunto de crimes ainda por resolver, os caminhos de Reilly e Veck podem estar à beira de uma encruzilhada difícil de ultrapassar. E a única ajuda possível está nas mãos de um enigmático - e aparentemente inexistente - suposto agente... e na própria consciência de Veck.
Parte do que torna este livro - e esta série, em geral - interessante é o cruzamento entre a história de um casal protagonista e o enquadramento num contexto mais vasto. Veck é, no fundo, o centro de um novo confronto entre o bem e o mal e, por isso, a sua própria história - romance e descoberta de si mesmo, incluídos - funde-se com a de um conflito de regras flexíveis e em que, basicamente, quase tudo é permitido. Assim, a autora acompanha, por um lado, a história de Veck e dos seus demónios interiores, numa faceta do enredo em que romance e tensão se misturam com emoção e um toque de humor, e conjuga-a com os novos desenvolvimentos na história de Jim Heron e companhia, história essa que tem também vários desenvolvimentos inesperados. O resultado é uma história que, no percurso essencial, tem princípio, meio e fim, mas em que o enquadramento mais vasto levanta interessantes questões relativamente ao que se poderá seguir.
Outro aspecto interessante deste cenário de batalha entre o bem e o mal é o ambiente sombrio que se cria em torno de toda a situação, com o lado tenebroso das acções de Devina a contrastar com o romance e a sensualidade da relação entre o casal protagonista. E, ao juntar a isto o lado sombrio do próprio Veck, quase como que numa luta contra a sua própria natureza, a autora torna mais complexo o panorama emocional em que as personagens se movem. Isto aplica-se, aliás, também ao próprio Jim, cujas ligações emocionais criam conflitos interiores relativamente ao papel que tem a desempenhar.
Mas, apesar de todas estas tribulações internas, o enredo nunca se torna nem pausado nem introspectivo. A verdade é que há sempre alguma coisa a acontecer, seja no aspecto romântico, seja no desvendar do mistério ou no conflito pela alma de Veck. E, num crescendo de intensidade, mas também de emoção, é inevitável que a leitura se torne mais e mais viciante, principalmente a partir do momento em que o objectivo final se torna visível.
Romance e redenção, numa história em que o bem e o mal se cruzam de formas inesperadas, fazem, pois, deste Inveja uma leitura intensa e surpreendente, com leveza e sensualidade nas medidas certas, mas também com o equilíbrio ideal entre acção, emoção e humor. A soma de tudo isto é um livro viciante, com a promessa de muito de bom para descobrir nos que se seguirão. Muito bom, em suma.
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