sábado, 10 de janeiro de 2015

A Oeste Nada de Novo (Erich Maria Remarque)

Em 1914, o discurso exaltado de um professor leva os seus alunos a alistar-se para a guerra, que fará deles, a "juventude de ferro", verdadeiros heróis. Inspirados, movidos pelo entusiasmo, atravessam as dificuldades da recruta e, logo aí, começam a descobrir que a realidade da guerra é algo bem diferente do que lhes foi contado. O medo, o perigo e a morte convivem lado a lado com as rotinas que preservam a sanidade dos combatentes. E, de toda a tragédia, do quotidiano miserável em que cada dia poderá ser o último, emergem amizades feitas num companheirismo sem reservas. Mas que não é, nem ele, imune à morte.
Narrado na primeira pessoa por um desses entusiásticos alunos que se deixaram atrair para a guerra, este é um livro que conjuga a experiência pessoal com a desumanização necessária à sobrevivência num ambiente de guerra. Assim, a voz de Paul Bäumer  - assim se chama o protagonista - tanto reflecte a distância para com um cenário em que a morte e o horror se tornaram quase normais como o choque ante a crueldade que tudo envolve, o medo incontrolável, a aproximação à loucura, a dor da percepção que, mesmo sobrevivendo, nenhum deles voltará a ser quem era.
E assim, este é um livro de contrastes, ora distante na narração das movimentações na frente de combate, ora perturbador na forma como Paul e os seus companheiros reagem às situações em que se encontram. É a história deles, acima de tudo, mas também a de tantos outros na mesma situação. E, por isso, é também uma história da guerra, não nos planos e das estatísticas das grandes batalhas, mas do medo, da dor e da morte. No fim, é isso que mais marca neste livro, mesmo quando os pormenores práticos se tornam menos interessantes. É que a morte está sempre lá e Paul, Kat, Kropp e todos os outros são mais do que simplesmente números.
Nunca será, por isso, uma leitura fácil. Além de haver muitos detalhes a assimilar, todo o ambiente é inevitavelmente cruel e sombrio. Há uma história a percorrer com os protagonistas, mas há também uma percepção sobre o que é, no fim de contas, a guerra. E essa percepção, que culmina num capítulo final muito breve, mas de grande intensidade, é algo que apela à uma reflexão profunda.
História de jovens soldados ou de uma juventude destruída, este é, em suma, um livro sobre o sofrimento. E, por isso, um livro que perturba, ao mesmo tempo que apela ao pensamento. Lúcido na sua visão das coisas e, ainda assim, impressionante, pode ser uma leitura exigente, mas é certo que fica na memória.

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