O Japão em todas as suas particularidades, visto não pelos olhos de um turista, mas pelos de um residente, ainda que temporário. Num registo que, sem pretender ser um guia exaustivo - ou sequer um guia - percorre, de uma forma pessoal, mas ao mesmo tempo objectiva, os passos de uma viagem de descoberta, tanto de lugares, como de hábitos e pessoas. Assim se define este Caderno de Tóquio, espécie de diário de viagem, que, complementado com muitas - e boas - fotografias, permite conhecer um pouco melhor o Japão, ao mesmo tempo que reflecte um pouco dos pontos de vista do viajante.
Um dos aspectos que mais sobressaem neste livro, e também aquele que mais contribui para proporcionar uma leitura agradável e envolvente, é a forma como está estruturado. Sendo essencialmente um registo pessoal da viagem do autor, faz todo o sentido que esteja dividido em entradas datadas, como um diário, centrando-se, acima de tudo, nas experiências vividas e nas ideias que estas despertam. Além disso, o equilíbrio entre o registo destas entradas, geralmente sucintas, mas esclarecedoras, e as imagens que complementam a informação, permite combinar as duas formas de percepção, deixando uma ideia global bastante clara. Assim, é a experiência do autor que se destaca, mas abrindo espaço para que o leitor crie as suas próprias impressões.
Claro que, sendo uma narrativa pessoal, não é - nem pretende ser - um roteiro completo. Mas também isso acaba por se revelar cativante, já que, ao acompanhar o percurso do autor, tanto a nível de descobertas surpreendentes como de rotinas de um quotidiano diferente, se fica com uma ideia bastante diferente da que se retiraria de um guia turístico. Acima de tudo, o que este Caderno de Tóquio pretende ser é um reflexo da viagem o autor, não um guia para viajantes. E, na transmissão das impressões dessa viagem em particular, dificilmente se poderia pedir um registo mais esclarecedor.
Por último, ainda uma nota para o lado introspectivo que, ocasionalmente, acaba por sobressair. É que, ainda que o centro deste livro seja, de facto, a viagem, as percepções do autor são, na verdade, a base fundamental. E há aspectos - culturais, religiosos e até, por vezes, de âmbito profissional - que requerem uma explicação mais abrangente. No que a isto diz respeito, sobressai também a capacidade de apresentar uma explicação sucinta, mas muito clara, e que, apesar de, por vezes, se afastar do tema central, em nada quebra o ritmo da leitura.
A soma de tudo isto não é um guia de viagens, mas o relato de uma viagem. E um relato cativante e surpreendente, em que a viagem propriamente dita pode pertencer exclusivamente ao autor, mas em que quem o lê se sente transportado para lá. Uma boa leitura, portanto.
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