Ante a ameaça dos franceses de tomarem para si as terras pouco povoadas do Brasil, o rei de Portugal decide, finalmente, investir na colonização das há muito menosprezadas terras de Santa Cruz. Para tal, decide nomear um governador geral da sua confiança - ou da de um dos seus mais influentes conselheiros - e a escolha recai sobre Tomé de Sousa. Bastardo e filho de padre, o novo governador está habituado a enfrentar dificuldades. Mas está longe de imaginar como será grandioso o seu papel na fundação de São Salvador - e no início de um importante conjunto de mudanças.
Centrado tanto na história pessoal do seu protagonista como no desenvolvimento do contexto da época, este é um livro que surpreende, em primeiro lugar, pelo registo leve e envolvente com que narra os acontecimentos sem deixar de apresentar todos os elementos importantes na contextualização tanto do cenário como das mentalidades da época. Para isso contribui, em grande parte, a estrutura do livro, organizado em capítulos curtos, que percorrem tanto o papel de Tomé de Sousa como governador como as suas mais ou menos peculiares experiências pessoais.
Também o equilíbrio entre estas duas facetas faz parte do que cativa para esta leitura. Enquanto governador, Tomé de Sousa tem de tomar decisões difíceis, resolver conflitos, cultivar uma reputação e atender aos pedidos dos seus subordinados. Enquanto homem, descobre-se fascinado por uma gentia, conquista grandes amizades e alguns rivais, faz escolhas erradas e tenta, tanto quanto possível, redimir-se, e encontra-se, ao mesmo tempo, na ânsia de voltar ao reino e desejoso de ali ficar para sempre. Estas duas facetas - o homem e o governador - estão ambas muito bem retratadas, conjugando-se numa imagem complexa - e completa - de uma personagem carismática e cativante.
Mas nem só de Tomé de Sousa vive a história. Há, além dele, muitas outras personagens marcantes, quer pelo papel que desempenham na vida do protagonista, quer por aquilo que elas próprias são. Figuras como a do sempre fiel - mas ambicioso - Garcia ou do extravagante Caramuru acrescentam ao enredo um brilho diferente, abrindo, ao mesmo tempo, novos caminhos que em muito contribuem para tornar a história mais complexa e intrigante.
E de todos estes caminhos cruzados ficam algumas perguntas sem resposta. É neste aspecto, talvez, que haveria um pouco mais a dizer. Perguntas sobre o destino de Tristeza e a conquista - ou não - dos objectivos do padre Nóbrega são deixadas, no final, sem resposta, ficando a impressão de que partes da história são deixadas por contar. Partes secundárias, é certo, porque, quanto a Tomé de Sousa, a conclusão não podia ser mais adequada, encerrando o livro com chave de ouro.
A soma de tudo isto é um livro em que contexto histórico e percurso pessoal das personagens se equilibram da melhor forma, numa história leve, cativante e com momentos de surpreendente intensidade. Uma boa história, em suma, e um livro que vale a pena ler.
Título: O Fundador
Autor: Aydano Roriz
Origem: Recebido para crítica
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