Tudo muda na vida. Há sonhos que se transformam em memórias, afectos que se desfazem na distância, imagens que se revelam enquanto outras se esbatem. E ideias, que, num cenário de permanente mudança, se moldam, talvez, numa nova identidade, mantendo-se ainda assim fiéis à sua natureza. De tudo isto - imagens, afectos, ideias, impressões - vive este breve conjunto de poemas.
Se há algo que, desde muito cedo, sobressai neste livro é a forma como, em cada poema, se assume desde logo uma voz própria. Não há grandes imposições à nível de estrutura ou de rima (ainda que esta surja, ocasionalmente) mas antes uma liberdade total de pensamentos. É como se cada poema fosse, acima de tudo, um conjunto de imagens e impressões que, conjugadas, se moldam num todo mais vasto. E é isto, aliás, que torna tudo tão interessante: a possibilidade de reconhecer uma identidade única numa fluidez em que quase tudo é permitido.
Ora, desta liberdade total, emerge ainda uma outra característica: o equilíbrio entre o que é a identidade individual do sujeito poético e o que de vasto e universal emerge da sua voz. É fácil reconhecer a unicidade das imagens projectadas no poema, algumas dela tão surpreendentes que se tornam, simplesmente, memoráveis. Mas é também fácil reconhecer os sentimentos por detrás das imagens. E esses, por mais peculiar que seja a forma de os exprimir, são, muitas vezes comuns, a autor e leitor. O que torna muito mais intensa a leitura destes poemas.
Ainda um outro aspecto que importa referir é o equilíbrio entre o texto e as ilustrações. É verdade que cada poema é completo em si mesmo e não precisa de mais nada para se fazer entender. Mas a presença das ilustrações ao longo do livro, simples quanto baste, mas perfeitamente ajustadas ao texto, acrescenta algo mais à experiência da leitura. Primeiro, porque torna o livro mais apelativo a nível visual. E depois porque acrescenta, até certo ponto, uma nova perspectiva aos poemas.
Com muito de bom para descobrir, apesar da brevidade, a ideia que fica deste pequeno livro é, por isso, a de uma viagem à mente de um poeta - para nela descobrir tanto a diferença como os pontos em comum. E é, pois, isto que fica na memória: um muito cativante equilíbrio entre o único e o universal. Entre o que muda... e o que permanece. Muito bom.
Título: Permanência
Autor: Alexandre Sete
Origem: Recebido para crítica
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