domingo, 13 de dezembro de 2015

O Espião Português (Nuno Nepomuceno)

Com um cargo de responsabilidade no Ministério dos Negócios Estrangeiros e uma boa relação com o ministro, André Marques-Smith é uma estrela em ascensão. Tem também uma vida secreta. Enquanto agente de uma organização semigovernamental de espionagem, André está habituado à mentira e ao perigo, mas isso não é um problema. Trabalha com os melhores e também aí é eficaz no que lhe compete fazer. Mas aproxima-se a missão que vai dar a volta à sua vida. Tudo começa com a recuperação de um conjunto de documentos pertencentes ao antigo projecto de um investigador russo. O que se segue é a descoberta de que nada - ou quase - é aquilo que julgava ser.
Deixem-me começar por resumir de forma muito simples o que este livro tem de bom: tudo. Da escrita ao enredo, passando pela construção das personagens e à forma como o autor nos transporta para dentro dos acontecimentos, há em tudo isto tanto de brilhante e um equilíbrio tão bem construído que bastam algumas páginas para impressionar. O livro prende - e prende depressa - e não larga até às últimas linhas. Tudo é interessante. Tudo é surpreendente. E, mais uma vez, tudo é bom.
Mas vamos por partes. E de tudo o que este livro tem de marcante, há algo que se destaca acima de tudo o resto: a construção do protagonista. André Marques-Smith é um indivíduo fascinante. Capaz e competente em ambas as vertentes profissionais da sua vida, mas longe de ser perfeito, é uma personagem capaz de despertar, em partes iguais, fascínio e empatia. Enquanto espião, mostra capacidades consideráveis, mas também a falibilidade que o torna humano. Enquanto indivíduo, revela toda a sua complexidade. Forte, mas vulnerável, em certos aspectos. Com o coração e os valores nos sítios certos, não hesita em fazer o que tem de fazer, mas reconhece-lhe e assume as consequências. Constante no seu papel, mas consumido pelas marcas do passado, demonstra tanto as forças como as fragilidades.
E, deste delicado equilíbrio entre as várias facetas da vida - e da personalidade - de André emerge outra das grandes forças deste livro. Trata-se, no essencial, de uma história de espiões, com todas as situações de acção e perigo - e muito bem construídas, diga-se de passagem - que se esperam de um livro deste género. Mas é muito mais do que isso. Na história de André, são tão importantes as missões como a vida para lá da agência. A vida familiar e as desilusões do passado revelam o homem por detrás do espião, o que, além de dar forma a um enredo muito mais completo, dá um novo impacto a alguns dos momentos vividos em missão. A história ganha profundidade com este equilíbrio entre as duas partes da vida de André. E ganha também uma maior intensidade.
Mas falemos de surpresas, porque surpresas são algo que não falta neste livro. Numa história em que quase todos têm um segredo escondido ou um ponto de viragem à sua espera, é quase inevitável que haja algo de inesperado para acontecer. E a verdade é que, tanto nas missões de André como na sua vida particular, há todo um conjunto de surpresas - vindas do passado ou do presente - que conferem à história um maior impacto. Junte-se a isto a questão dos documentos - e toda a missão a eles associada - e o resultado é simplesmente viciante.
Repleto de acção, mas com momentos de uma emotividade impressionante, com um protagonista memorável e uma história à sua altura, equilibrado em todos os aspectos, e por isso mesmo fascinante, eis, portanto, um livro que não posso deixar de recomendar. Intenso, surpreendente e viciante do início ao fim, uma estreia brilhante. 

Título: O Espião Português
Autor: Nuno Nepomuceno
Origem: Recebido para crítica

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